domingo, 28 de abril de 2019
quarta-feira, 24 de abril de 2019
25 de Abril
'A Forma Justa
Sei que seria possível construir o mundo justoAs cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo'
Sophia de Mello Breyner
E não há plano B. Vale a pena ver, ler e agir.
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terça-feira, 23 de abril de 2019
Conversa numa livraria para crianças
- O livro está muito bonito, mas não vende em livrarias.
- Porquê?
- Como a capa não é grossa, as pessoas não compram.
- Mas assim fica até mais barato e as crianças poderão ler mais.
- Cada vez mais as pessoas compram livros apenas para oferecer e não para as crianças lerem em casa. Como são um presente, preferem capas duras.
- A sério?
- A realidade é esta: as crianças leem cada vez menos e os adultos compram cada vez menos livros também. As provas de aferição e os exames vieram matar muita leitura por gosto.
- É pena. Há livros maravilhosos para crianças, tanto pelo texto como pela ilustração. Com eles, podem aprender tanto!
- Sim, é uma área fascinante, mas muito pouco rentável.
- Talvez os professores do ensino básico devessem interessar-se mais pela leitura.
- Muitos preferem outras áreas de ensino e não lhes faltam constrangimentos.
- Pois, as Clarinhas, as Marias, os Josés, as Matildes... vão vivendo tantas histórias para contar. Mesmo assim, o melhor é não deixar de as escrever e ilustrar...
- Para que o mundo não fique com uma capa ainda mais dura!!!
segunda-feira, 22 de abril de 2019
No Dia da Terra
A Terra
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Miguel Torga
quinta-feira, 18 de abril de 2019
quarta-feira, 17 de abril de 2019
terça-feira, 16 de abril de 2019
Nossa Senhora!
Na primeira vez que fui a Paris, há muitos anos, um dos objetivos principais era visitar Notre Dame e ver os vitrais. Apreciá-los de dentro da igreja faz(ia) calar as palavras e demorar o olhar nos desenhos cheios de luz.
Neste momento, talvez estejam estilhaçados e caídos no chão.
Ontem, as imagens do incêndio da catedral assemelhavam-se ao ruir brusco e rude de muitos sonhos que pareciam não ter fim. Era o tombar do que parecia erguido para nunca ser derrubado.
Nossa Senhora!
As notícias dizem que muitas pessoas, que estavam por perto, choravam. E não foram só elas.
Notre Dame chamava multidões, mostrando-lhes, com beleza e generosidade, a arte de que todos os seres humanos precisam. E amor. E espiritualidade. E história(s). E recreio. E harmonia. E força. E tanta coisa que cada um procura.
Ainda que não exclamasse: Nossa Senhora!
domingo, 14 de abril de 2019
Ficam sempre bem
Quando eu era pequena, a minha mãe fazia, para mim e para a minha irmã, uns raminhos para serem benzidos na missa do domingo de Ramos.
Para além de raminhos de oliveira e de alecrim, punha flores. Lembro-me sobretudo dos goivos cor-de-rosa e muito perfumados.
No adro da igreja, eram inúmeros os ramos que iam chegando. De todos os tamanhos. Havia lavradores com ramos de oliveira tão grandes e pesados que tinham de os levar ao ombro.
Nunca tive uma oliveira no meu quintal, mas acho que um dia destes vou plantar uma. Não para a cortar, mas para vê-la crescer. Tenho, porém, alecrim que me cheira a dias festivos da infância.
Estas recordações chegaram-me pelas imagens da televisão e pelo raminho que estava a fazer. Não para ser benzido, mas para ser oferecido. E, num caso ou no outro, as flores ficam sempre bem.
sábado, 13 de abril de 2019
Livros ao pé da porta
- Ontem, apresentei um trabalho com mais duas colegas num Encontro de Professores de Português, em Leiria.
- Correu bem?
- Sim, correu. Falámos sobre o concurso "Vamos contar um conto", que realizámos na escola durante seis anos consecutivos e que levou à publicação de seis livros.
- O vosso trabalho era pago?
- Achas? A adesão de bastantes alunos, professores e outros elementos da Comunidade era o melhor prémio.
- Já em férias escolares, havia muitos professores a fazer formação?
- Muitos, embora menos do que em anos anteriores.
- Não vi notícia nenhuma.
- Estas coisas não se escrevem na televisão.
- Correu bem?
- Sim, correu. Falámos sobre o concurso "Vamos contar um conto", que realizámos na escola durante seis anos consecutivos e que levou à publicação de seis livros.
- O vosso trabalho era pago?
- Achas? A adesão de bastantes alunos, professores e outros elementos da Comunidade era o melhor prémio.
- Já em férias escolares, havia muitos professores a fazer formação?
- Muitos, embora menos do que em anos anteriores.
- Não vi notícia nenhuma.
- Estas coisas não se escrevem na televisão.
quarta-feira, 10 de abril de 2019
Conversa ao pé da porta
- Hoje vi numa praceta um cartaz que dizia: "Elogiem-se".
- Ótimo. Há pessoas que vivem tristes porque nunca têm um elogio.
- Concordo. Isso vê-se melhor do que um cartaz.
- Isso o quê?
- Olha-se para alguém e vê-se logo se tem o hábito de ouvir elogios.
- E vê-se como?
- Por tanta coisa dita ou calada; por tanta coisa que se esconde ou se grita...
- Ótimo. Há pessoas que vivem tristes porque nunca têm um elogio.
- Concordo. Isso vê-se melhor do que um cartaz.
- Isso o quê?
- Olha-se para alguém e vê-se logo se tem o hábito de ouvir elogios.
- E vê-se como?
- Por tanta coisa dita ou calada; por tanta coisa que se esconde ou se grita...
terça-feira, 9 de abril de 2019
Conversa ao pé da porta
- Acho que sempre viveu infeliz.
- E parecia ter tanta coisa.
- Queria a felicidade absoluta. Havia sempre um mas...
- Assim, realmente é complicado.
- O mal é a gente não dar valor aos bons momentos do dia a dia.
- E parecia ter tanta coisa.
- Queria a felicidade absoluta. Havia sempre um mas...
- Assim, realmente é complicado.
- O mal é a gente não dar valor aos bons momentos do dia a dia.
sábado, 6 de abril de 2019
Tudo contou boas histórias!
Algumas das palavras que eu disse sábado, dia 30 de março,
na apresentação das Histórias da Clarinha,
seguida de um workshop de expressão plástica para crianças, a convite da BMG, e realizado pela ilustradora do livro, Cristina Pinto.
"Bom dia a todos. Obrigada por terem vindo.
Estou
muito contente por estar na Biblioteca Municipal de Gondomar, de ter aqui a minha família e tantos amigos.
Obrigada a todos e um miminho especial à minha neta e às minhas
filhas por acharem sempre que sou capaz.
Também
agradeço à Editora Lugar da Palavra, à Biblioteca Municipal de Gondomar, à
professora Glória Varão, pela bela leitura que fez do livro.
Obrigada também, amigos mais próximos, tão importantes na minha vida.
E
um agradecimento muito especial à ilustradora, Cristina Pinto, por todo o
talento, trabalho e dedicação. Estou profundamente reconhecida pela obra
produzida e muito feliz por ver tantas crianças, porque o livro foi feito a
pensar nelas, embora tenha nascido há três anos, quando nasceu a minha neta. E com ela cresceu (...).
Também estou muito grata por todo o trabalho que a Cristina Pinto pensou e realizou para o workshop que se vai seguir".
Mais uma vez, obrigada, Cristina. Melhor era impossível.
No workshop, as crianças, sentadas à volta da mesa, dispunham de "clarinhas", desenhadas pela ilustradora do livro, para recortar, pintar, vestir a partir de pequenos moldes disponíveis.
Foi muito bom ver as crianças, acompanhadas pelos adultos, a desenhar, a pintar, a mostrar, felizes, o seu marcador que levaram para casa.
Também o workshop contou boas histórias.
De facto, melhor era impossível.
Foi muito bom ver as crianças, acompanhadas pelos adultos, a desenhar, a pintar, a mostrar, felizes, o seu marcador que levaram para casa.
Também o workshop contou boas histórias.
De facto, melhor era impossível.
O teu marcador ficou muito bonito, Inês |
Fiquei com vontade de escrever mais!
Tantas palavras
que gostei de ouvir sábado passado, na apresentação do livro Histórias da Clarinha, feita por Glória Varão.
Tantas histórias que gostei de ouvir ler.
Tantas histórias que gostei de ouvir ler.
Aqui transcrevo algumas.
Obrigada, Glória.
"(...) É um livro cheio de ternura e carinho que, se
por um lado, nos faz olhar para os nossos filhos, os nossos netos, por outro
lado, faz-nos voltar atrás no tempo e lembrar muitas das coisas por que
passamos na nossa infância.
Penso, por exemplo, no poema o moranguinho (...):
E até ri com emoção,
Vendo o suminho a escorrer,
Dando beijinhos na mão!
Sendo este um livro infantil, encontramos nele muitos dos
elementos favoritos das crianças (...):
No meio das florzinhas,
Vive um grande e verde
sapo,
Um porquinho, cogumelos
E, de vez em quando, um
gato.
(...)
As brincadeiras ajudam a crescer, a aprender, a conhecer e, por
que não dizê-lo, a criar o mundo (...):
Com a ajuda de forminhas,
Que se ajustam aos
dedinhos,
Faz bolas, gatos e cães
E também outros
bichinhos.
(...)
Sabemos que todas as crianças criam um mundo próprio que é reflexo
do mundo real. Se tudo tem um nome, os brinquedos também o têm:
Os brinquedos da Clarinha
Têm nomes engraçados,
Todos, todos diferentes,
Têm nomes engraçados,
Todos, todos diferentes,
Todos muito apreciados!
É a boneca-carrapito,
O peixe de boca aberta,
O boneco narigudo,
A bonequinha-risota,
O panda que é sortudo
E o cãozinho sem casota.
No mundo das crianças tudo serve para brincar! Mas umas galochas e, ainda por cima vermelhas, é o que de melhor pode acontecer. Qual é a criança que não gosta de fazer tchap, tchap nas poças de água?
Fazer tchap tchap na
água
É pois muito natural;
Se a Clarinha quer
brincar,
E se as galochas voaram,
Quero até perguntar:
- Como não saltar
pocinhas
Se saltaram sobre o mar?
Sim, porque as galochas
vieram do outro lado do mar, de outro continente (...).
A família é outra constante nesta obra.
É a avó, os primos, os pais (...)... Todos, à sua maneira, são
fundamentais para o desenvolvimento e crescimento harmonioso da Clarinha.
- Eu gosto tanto de ti,
Tia Ana tão querida,
Ensinas-me tanta coisa
Importante para a vida.
(...) Os pais, claro,
surgem também como essenciais para esta aprendizagem. São eles que, com o seu
exemplo, transmitem não só conhecimentos, mas também hábitos, nomeadamente
hábitos de leitura.(...)
(...)
A família diz: - Clarinha,
Livros não são de roer.
As histórias são tão lindas;
É melhor ouvi-las ler!
E começa a perguntar,
Pouco sabendo dizer:
- Se os papás devoram livros,
Por que não os posso comer?!
As histórias são tão lindas;
É melhor ouvi-las ler!
E começa a perguntar,
Pouco sabendo dizer:
- Se os papás devoram livros,
Por que não os posso comer?!
A leitura e as
histórias educam o coração de uma criança (...).
Todas as histórias são
de encantamento.(...).
Estas minhas
afirmações estão, na minha opinião, presentes neste livro.
Afinal, todos os poemas
são histórias, como nos diz a autora.
(...)
E desafia os leitores a inventar, a contar as suas próprias
histórias.
(...)
Dando pistas, dicas:
Olha bem à tua volta:
Tanto para ver e contar!
Sobre um gato ou um cão,
Um passeio ou canção,
Uma pessoa gentil,
- E olha que há muitas
mil -,
Uma qualquer
descoberta...
E com a janela aberta...
E termino exatamente com o poema que dá início a este livro (...):
Quando eu disser
Clarinha,
Podes o nome trocar;
E em vez dele pôr o teu,
De irmãos ou de
amiguinhos,
De primos ou de vizinhos
E até mudar a ação,
Pra todos assim caberem
No teu e no meu coração."
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