sábado, 21 de dezembro de 2024

Porque em breve será Natal!

Se não lesse, treslia

Apesar de ter tido uma infância e juventude em que nem um tostão era esbanjado, sempre convivi com livros e jornais. Todos os dias, chegava à nossa casa O primeiro de Janeiro; na Feira do Livro do Porto, o meu pai comprava romances de Camilo Castelo Branco e de outros autores  clássicos. Para nós, filhos, trazia quase sempre livros de histórias, em que a raposa e o lobo eram os protagonistas. Como tínhamos bastantes livros em casa, eu e a minha irmã liamos alguns e também alguns às escondidas - aventura ‘picante’ que qualquer jovem agora estranha ou desconhece. Íamos à estante e tirávamos um desses livros, quando podíamos, como O crime do Padre Amaro de Eça de Queirós, A Curva da Estrada de Ferreira de Castro, etc. Este ano, junto da árvore de Natal, tenho livros para os meus netos. Eles gostam de livros, felizmente. E fico contente porque, se não lesse, eu treslia, apesar de a vida ter outras necessárias belezas.


Os caracóis do Menino Jesus

Ainda hoje, acho que foi verdade. Há muitos, muitos anos, depois da ceia de Natal, pusemos o sapatinho - julgo que, no meu caso, foi uma bota do par comprado naquele inverno e para durar toda a estação. Estava na hora de ir dormir e, de manhã cedinho,  viríamos a correr à cozinha ver o presente que o Menino Jesus nos tinha trazido. Mesmo com a alegre e infantil ansiedade, veio o sono enfeitadinho de sonhos que me chamaram à cozinha ainda a manhã não tinha acordado. E lá estava ele, o menino Jesus, de cabelinho aos caracóis, a pôr o presente na botinha: um molhinho de chocolates pequeninos, atado por uma fitinha, e um guarda-chuvinha também de chocolate. Já não me lembro das cores, mas do Menino Jesus e dos seus caracóis, sim. Hoje, passados tantos e tantos Natais, ainda acho que foi verdade!

FELIZ NATAL!


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O mistério e a chaminé


Esta pequena história foi igualmente publicada na coletânea Lugares e Palavras do Natal, 
Editora Lugar da Palavra.

Para a escrever, inspirei-me no meu neto que, desde o Natal passado, espreita, de vez em quando, para dentro da chaminé.


 Era quase Natal e Pedrinho, entusiasmado, via vezes sem conta o Pai Natal. Encontrava-o na escolinha, nas ruas, nas lojas… e sempre diferente. Às vezes, era gordo; outras, magrinho; outras, assim-assim, mas sempre com barbas brancas, óculos pequeninos e ar sorridente.

Um dia, numa festinha, onde estava com os pais, ouviu alguém dizer que o Pai Natal não traz presentes para todos os meninos. Ficou pensativo e perguntou porquê, mas a pessoa mudou logo de assunto.

Mistério! - Pensou Pedrinho, que tinha aprendido essa palavra há pouco tempo. E logo perguntou à mãe se era verdade que nem todos os meninos recebem prendas do Pai Natal, mas a mãe pediu-lhe silêncio porque um grupo ia tocar violino.

Quando terminou o momento musical, saíram apressados para a casa da avó, onde toda a família ia passar o Natal.

- E a Clarinha também vem? - Perguntou o menino.

- Sim, claro, e podes brincar mais tempo com ela.

Pedrinho ficou muito feliz com a vinda da prima, que morava num país distante, e pensou que podia então pôr-lhe aquela pergunta, porque ela era mais velha, sabia muitas coisas e tinha mais tempo que os adultos.

Ao chegarem à sala da casa da avó, aproveitou para lembrar à mãe o carro de bombeiros que tinha pedido ao Pai Natal.

- Vamos ver, disse a mãe, se o Pai Natal e o presente cabem na chaminé.

Uns dias antes do Natal, chegou a Clarinha, que tinha escrito uma carta ao Pai Natal, sem esquecer de lhe agradecer o presente que esperava.

Nessa tarde, enquanto brincavam, Clarinha contou ao primo que gostava de ter pedido ao Pai Natal presentes para todos os meninos, mas o papel da carta não chegava para escrever tudo. Foi então que Pedrinho se lembrou da pergunta que tinha ficado sem resposta. E Clarinha disse com os olhinhos azuis a brilhar:

- Vamos então escrever outra carta ao Pai Natal para lhe pedir presentes para todos as crianças, porque eu também já sei que muitas não recebem nada. Eu escrevo e tu fazes os desenhos.

À noite, na véspera de Natal, Pedrinho e Clarinha puseram um banquinho para o Pai Natal descansar quando descesse da chaminé - que estava limpa e apagadinha. Numa mesa pequena mesmo ao lado, ficou um pratinho com bolachas, uma cenoura e um copo de leite.  Ah! E a carta de ambos, com letra redondinha e desenhos bonitos.

Ao acordar, os dois meninos, ainda em pijama, foram a correr ver os presentes e ficaram muito contentes. Para mais, o Pai Natal tinha levado a carta e comido o lanchinho, para recuperar forças.

E, para surpresa da Clarinha, a primeira coisa que Pedrinho fez foi pôr a sua cabecinha ruiva dentro da chaminé - que estava limpa e apagada, como já vos disse - vendo-o a olhar para cima até onde podia, com ar misterioso. Sorriu-lhe como menina mais velha e compreensiva de mistérios que também sentia.

A partir desse dia, quando  Pedrinho estava a brincar junto da lareira da avó, espreitava de vez em quando, sempre curioso. E pensava:  Mistério! Tanto mistério!

 

domingo, 15 de dezembro de 2024

Viagem até ao Natal



Esta história, quase toda real, foi publicada, este ano, 
no livro Lugares e Palavras de Natal, Editora Lugar da Palavra


Dezembro estava a correr, tal como novembro e outubro haviam corrido. Com vários outonos a interligar-se, surgiu uma viagem inesperada, a fazer o mais recatadamente possível, com duração prevista de três meses. Apesar de longa, aceitou-a de bom grado e foi dando os passos necessários para que os percursos fossem amenos, para ela e para quem com ela viajava.

Nos anos anteriores, e antes que chegasse dezembro, já costumava ter prontos os presentes para a família (mesmo havendo o divertido ‘amigo secreto’) e para amigos.  Há muito que deixara de gostar de ir às lojas em alturas do Natal. Se lá entrasse várias semanas antes das Festas, nem saberia o que escolher pela profusão de coisas nas prateleiras; se fosse quase nas vésperas, o frenesim de pessoas a vasculhar o que restava tirava-lhe a motivação. Fazendo ela própria os presentes, podia também ir ao encontro de quem os iria receber.

Contudo, neste Natal, tudo seria diferente pela viagem em curso. No entanto, as ideias para os presentes continuavam-lhe na cabeça, mas, feito, visto e palpável, permanecia apenas o início de uns trabalhos em tecido e em crochet, na cestinha, que se mantinha sossegada e onde se misturavam os novelos, as agulhas, a tesoura… Ah, e também lá estava o livro que andava a ler. Até a leitura não tinha avançado, como bem mostrava o marcador que parecia colado às mesmas páginas. E tal não acontecia por falta de tempo, mas por serem cansativos bastantes dias da viagem.

E pensava como eram bons os Natais na velha casa de A-Ver-O-Rio em que a família sempre se reunia. Como todos juntos eram numerosos, as panelas para a ceia tinham de ser grandes. Para a canja, para as batatas, para o bacalhau, para as hortaliças, para o molho de Natal - prevendo-se sempre o saboroso farrapo velho do dia seguinte.

Numa mesa ao canto da sala, as sobremesas exalavam o perfume consolador e natalício da canela, vindo de iguarias que cada um ia trazendo: rabanadas, aletria, bolinhos de abóbora, bolo-rei…

Mas era na cozinha que reinava a peça capital: o fogão a lenha, que o patriarca da casa antigamente mandou instalar para aquecer a alma e o coração da amada matriarca, cujos gostos gostava de satisfazer.

Como o fogão era aceso quase só pelo Natal, às vezes, parecia adormecido por alguma inabilidade ou falta de lenha ou por esta ter sido guardada ainda húmida; noutras ocasiões, parecia um dragão ardentemente enfurecido, fazendo saltar água a ferver pela boca das panelas…  Eram momentos de algum embaraço e aflição, mas que passavam a peripécia contada com graça, quando já estavam todos sentados para a ceia e as travessas a fumegar sobre a mesa farta, alegre e ruidosa. E ainda mais pela festiva vozearia das crianças, ansiosas pela brincadeira e pela abertura das prendas.

Fazia-lhe falta o Natal em família, apesar da trabalheira desses dias. Vivê-lo-ia, este ano, à distância daquele espaço familiar bonançoso, mas fechado por causa do frio, do vento e da chuva. Estaria próxima só em pensamento, porque não poderia interromper a viagem até ao desejado bom porto, que esperava encontrar logo a seguir ao Natal, para, em 2025, poder estar de novo à volta do fogão de lenha e à mesa com toda a família.

E, até lá, revigorada e com tempo, concluiria os presentes que tinha apenas começado. E terminaria a leitura do livro. E leria mais. E escreveria mais. E sorriria mais. E viveria mais.

Olhou o relógio. Estava na hora. Tomou banho, lavou o cabelo - que continuava forte, mas que se tornara mais fino - hidratou bem o corpo, vestiu o seu vestido preferido, pôs os brincos com a pedra a condizer, usou o perfume de que mais gostava, bebeu um copo de água, viu-se ao espelho e sorriu à imagem que via.

Estava próximo o final previsto da viagem, iniciada três meses antes. E saiu, com alegre e firme esperança, para o seu último tratamento.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Solarengo ou soalheiro? Eis a questão.


É muito frequente ouvir-se que o dia está solarengo. Apesar de sol estar na palavra, também lá está solar e que lhe dá o significado.

Portanto, a palavra solarengo diz respeito a solar ou casa senhorial. Por exemplo: 

A casa deve ser muito cara pelo seu aspeto luxuoso e solarengo.

No Douro, não faltam casas antigas e solarengas.

Ora, se falamos do sol, a palavra é outra: soalheiro. Por exemplo:

O dia de hoje não deve ser soalheiro como os anteriores: prevê-se chuva.

Gosto dos dias soalheiros de outono, sobretudo da luz do sol ao fim da tarde.


Aproveitemos, então, os dias soalheiros desta época natalícia e que o sol nos  ilumine a todos, dentro e fora das nossas casas.

Há pessoas com dinheiro que passam o Natal em belas casas solarengas que se transformaram em turismo de habitação.

Concluindo: que as nossas casas, mesmo não sendo solarengas, sejam alegres e soalheiras




quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Frio ou o calor bom da Esperança?

 

Os dias têm ido frios. E turbulentos. E desconfiados. E inseguros. Na politica, no futebol… Parece nada escapar no mundo. Mesmo assim, continuamos a festejar o Natal, a alindar as nossas casas, a querer trocar presentes, porque o desejo de paz e harmonia faz parte do ser humano e a esperança não lhe é indiferente. Hoje as notícias referem uma menina de onze anos que se salvou no Mediterrâneo quando o barco naufragou e todos os outros refugiados morreram. Será um sinal de esperança para tantas crianças que morrem nas guerras que a ambição desenfreada provoca?


Fazer um tratamento prolongado para vencer uma doença pode ser assustador, mas também uma boa tábua de salvação. Graças aos avanços da ciência, à formação de técnicos e especialistas, há muitos casos de sucesso. Felizmente. Há tempos, uma médica disse para uma doente que passou os setenta anos e tinha tido um tumor maligno: Está tudo bem, mas, durante cinco anos, terá de fazer exames regularmente. A doente, que, segundo a especialista era agora ex-doente, respondeu bem humorada: Então, depois, posso morrer saudável! Riram-se ambas, o que também é sinal de esperança.


Está frio. O Natal aproxima-se. A casa vai encher-se e os netos serão os nossos meninos Jesus. E sou daquelas pessoas que gostam que tudo esteja preparado e nada falte, embora falte sempre alguma coisa à última hora. E chamei um trolha para pintar um teto. Ai, meu Deus, que trabalheira tirar tudo, cobrir tudo, limpar tudo, voltar a arrumar tudo! Foi da maneira que me despojei de algumas coisas que aqui só ocupavam espaço e que a outras pessoas podem ser úteis. Felizmente tenho tido forças porque estou  também retratada no texto anterior. E recuperar a saúde é um sinal maravilhoso de esperança.

Bom tempo de Natal para todos. Com Saúde, Paz e Alegrias. E que não falte o calor bom da Esperança!


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Por falar em pequenas coisas, mas (que acho) bonitas!


… fiz esta almofada e bonequinhas com fuxicos. É fácil, exige paciência qb, dá para aproveitar bocadinhos de tecido e é bom vê-los nascer das nossas mãos quando, à noite, apetece o sofá. Para quem gosta, é claro! Eu por acaso gosto






Tanta coisa bonita!

 

Ontem, passei por uma escola do primeiro ciclo em cujas grades estavam pendurados muitos Pais Natais, feitos, criativamente, com garrafões de água vazios e outros materiais reutilizados e que ganharam uma vida diferente. Desta forma mais artística, também não foram para o lixo, tantas vezes sem o cuidado da separação.

Ora, o gosto de mostrar à comunidade muitos trabalhos feitos pelas crianças e jovens é bonito e motivador. E um bom exemplo para esta quadra natalícia em que o amor pelos outros assume maior relevo, mas também pelo ambiente e natureza.

E, nesta época, vêm ao de cima talentos e habilidades de imensas pessoas de todas as idades na elaboração de objetos, por exemplo, para presentes. Nas feirinhas de Natal, o artesanato tem um lugar de destaque. E são pessoas anónimas que, quase sempre, fazem esses trabalhos, embelezando o mundo e alegrando os que estão próximos com o que as suas mãos produzem e as ideias vão ditando.

Numa época em que a cada passo surgem problemas e conflitos, deparamos com imensos e diversos objetos cuja beleza e simplicidade saltam aos nossos olhos. Não fazem esquecer as agruras do mundo em que vivemos, mas ajudam a acreditar num mundo melhor e mais solidário, em que cada um, amorosamente, mostra e partilha um pouco do que sabe.


A beleza de todas as cores

 




domingo, 8 de dezembro de 2024

Que a beleza nunca se acabe!

 


sábado, 30 de novembro de 2024

Bom sábado!

 



quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Um tema mesmo importante!

Vale a pena ouvir. Há rigor, sensatez e trabalho experiente e informado de ajuda!


 ‘Expresso da manhã

Paulo Baldaia

 https://podcasts.apple.com/pt/podcast/expresso-da-manh%C3%A3/id1536782080 ‘


domingo, 24 de novembro de 2024

Já se ouve o vento!

 Um dia, ao falar com uma vizinha, que agora raramente vejo porque a velhice desafortunada não a deixa descer nem subir escadas e só lhe permite espreitar cá para fora, eu disse-lhe que tinha medo da trovoada. Logo ela retorquiu: Eu só tenho medo do vento.

Pois bem, se habitualmente está recolhida dentro de casa, hoje mais estará com as previsões de muita chuva e rajadas de vento para a região do Porto.

Parece que se chama Bert a tempestade que se aproxima. Se o nome tivesse mais um ‘o’, seria como o do dono da mercearia perto de minha casa e que, simpaticamente, me traz as coisas de que preciso cá a casa e que sempre me diz: Se precisar de alguma coisa, diga; nem que seja só uma, eu venho cá trazer.

O pior é que, em vez de um pacote de feijão, põe dois; em vez de dois lombinhos de bacalhau, põe três!!!! 

Voltando a Bert, o vento continua a soprar e, pelos vistos, ao fim da tarde, chega em força. Ou será que se desvia ou perde vigor? Nunca se sabe. Oxalá que sim, porque me assustam radicalismos, até no tempo que faz.

Seja como for, hoje não abro as janelas e vou carregar o telemóvel, não vá falhar a luz e a beleza de domingo também se apagar. 

E beleza também encontro no podcast ‘A beleza das pequenas coisas’, o mais antigo do Expresso, de Bernardo Mendonça. 

Se falhar a luz, espero poder ouvir, a menos que a chuva e o vento me façam parar tudo o resto. Espero que não, porque precisamos de quem nos lembre o valor da beleza com verdade e sem cinismo.

Bom domingo e que os Céus não escondam a sua beleza, sob forma de tempestade!

sábado, 23 de novembro de 2024

As tranças


Tenho poucas fotografias minhas da minha infância. Tenho pena, mas nas que tenho lá está o cabelo preto, liso, risco ao meio e duas tranças grossas que logo se desfaziam se não fossem presas por elástico. O cabelo, ao contrário de mim, era quase indomável.

E agora vejo como deviam ser bonitas as tranças, que sempre achava que não, porque as das outras raparigas ou eram mais finas ou eram mais claras ou tinham caracóis. Como as da minha irmã. 

Porque será que só valorizamos as coisas passado algum ou muito tempo?! Ou quando já não as temos?

Chegada a adolescência, o grande desejo era cortar as tranças. Davam muito trabalho. Eram coisa de criança. Não condiziam com meias de vidro nem com sapatos de tacão fininho.

O pior era permissão para cortar o cabelo. Nem pensar! E não havia meio de convencer a mãe para a mãe convencer o pai.

Como solução, esperada como provisória, o risco do cabelo passou para o lado e o cabelo das duas tranças uniu-se numa só. Era bonita, mas, naquela altura, não sabia.

Porém, a insistência em cortar o cabelo continuou até que palavras desejadas se fizeram ouvir. Mas só em parte.

- Pronto, podes cortar, mas só um pouco para continuares a fazer a trança. 

Como o desejo era grande e a trança também, sucedeu-se a insistência e o resultado foi de novo:

- Pronto, podes cortar o cabelo, mas só um bocado. 

Passados alguns meses e alguns cortes, já não havia comprimento de cabelo que desse para a trança. Tinha valido a pena!

E o sorriso (vejo agora que era bonito) adolescente abria-se ao espelho que mostrava o escovar do cabelo tão negro que me perguntavam se o pintava. Eu ficava incrédula com a pergunta e encontrava consolo em histórias que falavam de ‘cabelo de ébano’ de uma personagem.

Se calhar, agora não achava piada a essas histórias, mas gosto muito de tranças, tenha o cabelo a cor que tiver.

 Pode ser que as faça à minha neta quando cá vier pelo Natal. Quando lhe contei que, na idade dela, tinha cabelo longo, muito preto e duas tranças grossas, ela sorriu, ajustando a bandolete que ajuda a prender o cabelo forte e castanho-claro. Um lindo cabelo que não gosta de cortar.



quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Bonanza no Café Paris ou o relax de sábado à noite

 

Quando eu era muito nova, os dias da semana eram cheios de trabalho. O meu pai trabalhava arduamente na oficina ao lado da nossa casa e a minha mãe ajudava-o no que podia ser feito dentro de casa. A vida doméstica era gerida por ela e levada a cabo, em grande parte, por mim e pela minha irmã. 

Chegado o fim de semana, o afã semanal diminuía e, ao sábado à noite, ouvíamos o Serão para Trabalhadores. Julgo que era este o nome do programa de rádio da então Emissora Nacional. O meu pai era o mais entusiasta quando ouvia as canções que lhe tocavam o coração. Tornava-se um ser mais leve e feliz do que o trabalhador frenético dos dias da semana. O aparelho que tínhamos era Nordmend, se não me engano, e julgo que ainda existe. Vejo agora que era um bonito exemplar, como são muitos rádios antigos.

Entretanto, chegou a televisão. Podia-se, magicamente, ver a imagem e não apenas ouvir o som da rádio. Não se falava de outra coisa, mas poucos a traziam para casa. Nós só a tivemos mais tarde. Era um luxo e a vida não estava para luxos. Julgo que o meu pai gostaria de ver os artistas que apenas ouvíamos na rádio e que tanto lhe alegravam e amenizavam a expressão. Também a minha mãe gostaria de a ter para ver as cerimónias de Fátima no 13 de Maio. Eu e os meus irmãos também, mas a vontade dos mais novos ainda não tinha entrado no calendário.

Pois bem, muito se falava do Bonanza, da família desta série, das aventuras, dos saloons, do Joe, das diferenças entre os irmãos… Então, também queríamos ver. E, andando talvez um quilómetro, lá íamos nós ao sábado à noite com o meu pai ao café Paris ver o Bonanza. Chegávamos mais cedo, sentávamo-nos à mesa e esperávamos pelo episódio, como se fosse um filme premiado com muitos óscares. Ou o momento imperdível da semana para atenuar a dureza dos dias de trabalho.

Quando a música do genérico se fazia ouvir, tudo o resto se calava. Durante o filme, os olhares estavam todos postos no écran e as reações ao desenrolar da história eram emotivas e ruidosas como num jogo de futebol. Eu e a minha irmã mais presas ao televisor ficávamos quando aparecia o belo e simpático Joe. Quando o episódio terminava, regressávamos a casa, talvez a pensar já no sábado seguinte.

Passado algum tempo, os meus pais compraram um televisor. Podíamos, finalmente, ver o Bonanza em casa e também  teatro e programas de variedades com o Jorge Alves, etc. Tudo tantas vezes entrecortado por um chafariz a atirar água em tempo interminável, com a legenda ‘O programa segue dentro de momentos’. E como era canal único, ficávamos à espera, mas bem diferente de quando aguardávamos mais um episódio do Bonanza no café Paris.


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

As crianças

 

Ontem, vi o começo de uma notícia sobre a criança cuja ama foi filmada a dar-lhe banho de água fria. Pelos vistos, batia-lhe no rabo ao mesmo tempo. Quando ouvi o choro aflito e sem defesa do bebé, logo mudei de canal. Confesso que aquele choro me perturbou, ficou-me na cabeça e entristeceu-me a noite. 

Haver coragem para filmar uma cena assim? Seria por vingança ou posterior acusação? Ter coragem para assistir a tal cenário, sabendo que um ser indefeso estava em sofrimento não justifica o ato, na minha opinião. Mais justo seria retirar de imediato a criança das mãos da mulher que a maltratava. 

Por toda a parte, há crianças que sofrem. E que sofrem muito. E não devia ser assim.

São crianças quase andrajosas de Gaza cujas imagens nos entram em casa no dia a dia. E todas aquelas que não vemos, mas que sabemos que existem e que sofrem.

São as crianças que chegam em barcos cheios e periclitantes sobre as ondas e, como já aconteceu, morrem na praia.

São as que sofrem violações e outras formas tremendas de violência, expostas a situações de terror e morte perante a indiferença, tantas vezes, de governantes poderosos do mundo que, com todas as armas e bagagens, não se desviam nem um milímetro da ambição de salvar apenas a sua própria pele.

Felizmente, há crianças felizes, apesar do caos que vai grassando em muitas frentes, mas não podemos esquecer as que têm fome, sede e que vivem sem conhecer o direito mais que devido de ir à escola, de brincar, de viver em paz e sem bombas a rebentar-lhes a vida e a dos familiares que as deixam sós.

Fernando Pessoa disse que ‘o melhor do mundo são as crianças ‘. O pior é que milhões delas conhecem sobretudo o que o mundo tem de pior para lhes dar.


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Idade: 100 anos; Filhos: 5; Ordem para visitar!


Há muito tempo viúva, reza que do marido não terá tido muitas saudades, porque dele não ouvia nunca  palavras cor-de-rosa; para si, ficavam as mais cinzentas ou agrestes. Ou geladas como ventos de inverno.

Não assistiu, portanto, ao centenário da mulher, mas a festa fez-se a preceito. Como ela sempre desejara e programara. Queria os filhos, as noras, os genros, os netos e os bisnetos perto de si. Haveria um bolo bonito e grande e mais uns miminhos doces que lhe tinham oferecido e que queria que todos saboreassem. E, no meio da mesa, uma jarra com flores do jardim. Não as queria compradas porque são caras e vêm de outros países quando as tinha em casa bonitas e mais naturais.

Não haveria refeição completa. Não queria a casa em desalinho nem vê-los a lavar e a arrumar a loiça. Fazia 100 anos e o lugar deles era perto de si. Com tempo e livres de outros afazeres. Se Deus continuava a dar-lhe o dom de falar, de ver e de ouvir, tinha que desfrutar dessas dádivas que, desde pequena, tinha  aprendido a amar e a respeitar.

Estava feliz com todos os que tanto amava à sua volta. Sorria, fazia perguntas, contava peripécias do passado, queria saber projetos de futuro…

Sentia-se uma árvore criadora de fortes e maravilhosos ramos que lhe davam segurança, alegria e a faziam acreditar no futuro. E um pedido irrompeu, em modo decidido de ordem:

- A partir de agora, quero que vocês, meus filhos, me venham visitar todos os dias. 

- Temos de vir todos, mãe, mesmo ao sábado e ao domingo?

 - Porque não? Estão todos reformados, por isso não têm horários a cumprir. E organizem-se para não virem todos ao mesmo tempo. Quero poder falar à vontade com cada um.

- E nós  também temos de vir, perguntou, timidamente, um bisneto.

- Claro que não! Acham que eu não conheço o mundo? Vocês, os novos, têm o tempo muito preenchido e ainda bem que assim é. Estão a construir o vosso futuro.


E o pedido/ordem foi cumprido, depois de feito um pequeno calendário de visitas para não haver coincidências. Agora, que a matriarca está prestes a fazer 101 anos, ninguém sabe se novo pedido surgirá. Talvez se fique pela confirmação da visita diária dos filhos. Uma das noras, habitualmente bem humorada, já disse: uma coisa é certa; continua a ordem para visitar!


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Não tenho paciência!


Tenho cada vez mais paciência para algumas coisas, mas, para outras, tenho cada vez menos. O tempo em que ficava, paciente e silenciosamente, à espera que a minha mãe terminasse a sesta para me ajudar a fazer roupinha para as bonecas já desapareceu no emaranhado dos tempos.

Pois bem, não tenho paciência para quem fala, fala, fala e exibe muitas certezas, só elas espertas e certeiras, tipo descoberta da pólvora. Na certeza de que os outros pouco sabem e andam, coitadinhos, de olhos tapados.

Não tenho paciência para descrições minuciosas, como as da experiência da vida militar, quase sempre em discurso direto ou indireto, que se prolonga por muitos pormenores que se cruzam e dos quais vou desligando, embora permaneça no lugar. O olhar é que se vai perdendo. O que vale é que não o vejo!

Não tenho paciência para textos manuscritos com letra incompreensível. Há muitos muitos anos, no tempo da terrível guerra colonial, uma jovem deixou de ler as cartas do namorado, porque eram longas e quase ilegíveis. Passou a escrever-lhe, ignorando, portanto, o que ele lhe dizia em letra que nunca quis melhorar. Não faltou muito para o namoro acabar. 

Não tenho paciência para quem gere o tempo apenas consoante a sua disponibilidade, sem pensar que os outros podem ter o seu tempo contado.

Não tenho paciência para quem faz longas descrições dos problemas do dia a dia e, quando termina e o interlocutor quer também intervir, logo olha para o relógio, diz que é tarde e vai-se embora. A menos que lhe ocorra outra coisa que passa a desenvolver, como se o tempo tivesse parado.

Não tenho paciência para quem encontra justificação para tudo o que diz e faz e se ofende à mínima palavra que logo julga ofensiva.

E tenho muito mais impaciências. Tantas vezes contidas, embora gostasse de, corajosamente, as revelar mais nalgumas circunstâncias. Trava-me, com certeza, esta ideia: quem nunca mói a paciência dos outros que atire a primeira pedra! Eu não sou de certeza.


terça-feira, 12 de novembro de 2024

Olhando as camélias

 






A propósito de comunicação

 

Tem-se falado bastante das dificuldades de comunicação de duas ministras, atualmente no governo: Margarida Blasco e Ana Paula Martins. As notícias dizem que foi contratada uma empresa de comunicação para as ajudar. E não deve ficar nada barato! Digo eu, que faço contas, mas não entro nestas contas.

A primeira tem optado, em sessões públicas, por ler um texto previamente escrito para não dizer nada que a comprometa ou logo possa ser desmentido,  e a segunda quase nem aparece nem se pronuncia sobre casos, alegadamente de incúria, do seu ministério, como é a mais de uma dezena de mortes, alegadamente também, por atrasos do INEM.

Pois bem, como as coisas da vida - as mais simples e as mais complexas - são como as cerejas, lembrei-me de uma aluna que tive há bastantes anos. Era estudiosa, atenta, assídua, responsável, mas entrava em grande stress se tinha de apresentar trabalhos para a turma. Tinha extrema dificuldade em colocar-se à frente dos colegas, olhá-los e expor as suas ideias. Ficava coradíssima, desviava o olhar, as palavras fugiam-lhe e quase causava dor ver a dor que sentia por falar em público, mesmo quando o público era bem conhecido e restrito.

Terminou o ensino secundário e deixei de a ver. Passados uns anos, encontrei-a já não sei onde, talvez num supermercado. Logo trocámos sorrisos e aproximações. Ela mantinha o seu ar de menina, de cabelos longos e claros.

Então, como estás? E a professora? Continua na escola? E o que fazes?

Então, veio a resposta que, anos antes, eu acharia improvável: tinha seguido a tropa e dava instrução a muitos militares.

E disse-o com firmeza, entusiasmo e sem corar. Eu, que não costumo corar, acho que corei e disse coisas do género: Que maravilha! E gostas? Então, fico muito contente.

E algum tempo depois despedimo-nos. Então, felicidades. Para si, também, professora.

E fiquei a pensar na transformação daquela ex-aluna, que parecia ter vencido a enorme timidez de adolescente. Não sei se teve ajudas, mas desconfio que não. Parecia frágil, mas foi encontrando força que muitos julgavam quase impossível.  Continuará a ser quase anónima, nunca será ministra nem secretária de estado, mas até podia dar uma ajuda. Só que ninguém estaria interessado.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Não sei o que se celebra hoje, mas há sempre o dia para celebrar!

 

Hoje, acordei e levantei-me cedo. Quando tenho empregada, despacho-me mais cedo, para organizar as coisas que quero que ela faça. Por isso, já fui ao quintal apanhar couves e espinafres para sopa e empadão de bacalhau. A Mariana, que é brasileira, chama escondidinho ao empadão. Acho engraçado e sugestivo o  termo e agora uso-o de vez em quando. Ela também já aprendeu muitas palavras do português de Portugal que ela desconhecia. São boas estas trocas num mundo globalizado, embora, infelizmente, alguns líderes mundiais o queiram limitar.

Ah! E que bom é o chá de limão e gengibre que ela faz. Que bom estar gostoso - diz ela, pronunciando as sílabas com gosto e vagar, muito ao jeito brasileiro. 

E hoje, a passear em vai-vem no meu quintal, vi que os dióspiros-maçã estou quase no fim. Apanhei um, porque me sabe bem assim fresco e pouco maduro. E olhei as árvores que, em breve, têm de ser podadas. E a horta que, em muito pouco tempo foi invadida por trevos e mais trevos, amanhã vai ser preparada para receber outras hortaliças. Felizmente tenho quem o faça. Chama-se Alexandre, é simpático e generoso. E precisa de ganhar dinheiro.

Agora, ao meu lado, tenho crónicas do Expresso que quero ler. E um pouco mais do Diário Incontinuo, de Mário Cláudio, que comecei a ler há uns tempos.

Os meus dias vão sendo tranquilos e caseiros. Estou (confio que sim) a recuperar da doença que me surgiu no verão. Ao contrário de muitos amores de verão que depressa acabam, isto demora mais. Mas não faz mal se a vida continua e pode ser celebrada, ainda que as vivências sejam simples. Sem deixarem de ser quentinhas e boas. Como as saborosas castanhas deste outono.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Hoje celebra-se a preguiça!


Ainda muito pequena, ouvia maldizer a preguiça, um dos sete pecados mortais, que a minha mãe enumerava de cor muitas vezes para que o trabalho doméstico, que era obrigatoriamente partilhado pelas filhas (o filho, como era rapaz, não era contemplado!) fosse realizado na hora certa. E o que é certo é que havia o exemplo.
Pois bem, mesmo assim, a preguiça nunca me abandonou, embora qb, acho eu. Agora que estou reformada (reformulada, como digo às vezes por graça) ainda o sinto mais. Raramente estou sem fazer nada, mas aprecio os bocadinhos em que, no sossego da casa, sossego o corpo e o espírito. Costumo acordar cedo, mas não me levanto logo, ficando a desfrutar do bom quentinho que custa abandonar. Também não gosto de pressas nem pressões.
Será isto preguiça? E outros pecadilhos, como não fazer a cama em condições ‘para ficar a arejar’, deixar algumas coisas, que podiam ser feitas hoje, mas que ficam para amanhã, etc, etc, etc.
‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’ e o que eram apenas deveres agora também são direitos. E com conta, peso e medida ajudam a equilibrar o corpo e a mente, na tentativa de harmonia cada vez mais necessária nos dias conturbados que correm. 
Ouvir técnicos a falar do assunto e a validar momentos de preguiça reduz culpabilidades que ficam incrustadas e que demoram a libertar.
De uma coisa não posso abdicar: caminhar mais. Para já, vou ao meu quintal, que é estreito mas comprido, apanho ar e caminho um pouco. ‘Isso é pouco’ - ouvirei eu na próxima consulta no hospital. 
O melhor é vencer então a preguiça e começar hoje a alargar o espaço de caminhada. Bora lá! E assim não oiço esse raspanete que, ao contrário da preguiça, nunca (me) sabe bem.



quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Imaginem quem vai governar!

 

Nesta noite de leitura dos resultados das eleições, as televisões estavam ao rubro, patente que estava o mapa das votações nos Estados Unidos. A maioria dos votos ia caindo  no partido republicano, pintando o quadro a  vermelho.

O azul democrata era tímido e quase marginal.

No início, o candidato republicano falou de fraude, mas logo deixou de o dizer quando viu que era ele o favorito nas urnas. O seu ego, mais alto do que a sua torre em Nova York, subia altíssimo, o que evitava qualquer invenção de queixa.

Conhecidos eram os insultos, mentiras, falcatruas, subornos, misoginia, fuga ao fisco, centralidade em si para resolver os seus problemas com a justiça,  arrogância, ganância pelo poder,  desrespeito… tanta coisa que causa estranheza ao ver tanta gente a votar em pessoa com estes comportamentos.

A candidata Kamala foi recorrentemente ridicularizada por ele. Muitos desses insultos caíam no saco roto da normalização.

Hoje ouvi uma ex-emigrante nos Estados Unidos, durante longos anos, a dizer uma coisa interessante: Muitos eleitores de Trump não leem, rejeitam o contraditório e apenas ouvem o que o seu partido lhes grita e que é apenas o que conhecem.

Oxalá o envelhecimento do candidato vencedor lhe traga maior compostura e menos postura de reality show, que tanto exibe.

Contentes estarão os trumpzinhos que o vão imitando logo que haja palco, como em Portugal também já existe.

Descontentes estarão muito jovens que votaram em Trump. Só que o descontentamento vai demorar algum tempo a chegar. A menos que a normalização de atitudes e linguagem rude e boçal não os traiam ainda mais.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

domingo, 3 de novembro de 2024

O milho da eira

 

Em tardes de outono cheias de sol, como a de hoje, lembra-se da antiga eira da casa das tias, coberta de milho a secar. Ela era uma menina de longas e negras tranças que adorava ‘virar’ o milho, fazendo reguinhos com os pés, trazendo para cima a camada de milho que precisava de mais sol para secar.

Nunca mais esqueceu a sensação do milho quente debaixo dos pés descalços que iam deslizando naquele mar macio sob a luz doce e amarelada de outono.

Agora, da junção das pedras da eira crescem ervas daninhas e os campos de milho deram lugar a outras utilidades mais urbanas.

Mas, na sua memória, a menina, então de longas tranças e batinha costurada pela mãe para não sujar o vestido, continua ainda a voar sobre o milho da eira pintada de tons amarelos.

Esse quadro antigo daria um belo quadro, fosse quem fosse a criança feliz com os pés descalços a abrir pequenos sulcos sobre o milho.

Porém, nunca ninguém o pintou, nem sequer nele reparou, mas todos os anos o outono faz questão de o lembrar.


O Isolino

 

Era um homem discreto, afável, falava pouco e o sorriso era sereno. Sempre o vi junto ao fogão da cozinha de grandes dimensões. Ao centro, havia uma mesa também grande, onde a Comunidade Emaús, então sediada na rua do Almada, no Porto, tinha as refeições. 

A Comunidade era, e continua a ser, constituída por pessoas sem abrigo - designados companheiros - por voluntários e um pequeno grupo de dirigentes.

Ora, o Isolino era voluntário e cozinheiro e administrador da cozinha que sempre mantinha limpa e organizada. A comida que fazia era boa e saborosa. Quando os tachos, ainda a fumegar, estavam prontos para ir à mesa, sorria sem alarde e depois ficava contente se via que a sua comida estava a saber bem.

Isolino fez este trabalho durante longos anos, dedicando o seu tempo livre à Instituição.

Soube há pouco do falecimento deste homem pacato, persistente, solidário, sábio confecionador de sabores e alimentos. 

Apesar da sábia dedicação, Isolino nunca abriu nem abrirá telejornais, mas deixa a sua marca.  Para muitos também um porto de abrigo.


sábado, 2 de novembro de 2024

Nova (a)normalidade?


Se o pouco que digo sobre mim puder ser útil a alguém, melhor.

Desculpem a ausência durante todos estes dias. Tenho estado doente e, como acontece muitas vezes, fragilidade chama outras fragilidades do nosso corpo. No entanto, espero em breve poder dizer que estou bem e que o que lá vai lá vai! 
Quando fiquei doente, o médico, muito competente e simpático, do SNS, disse-me: ‘ocupe a sua cabeça’. Embora tenha lido pouco e escrito ainda menos, tenho ouvido e visto programas que me interessam, escutado podcasts com os quais aprendo muito e tenho feito alguns trabalhos de mãos para o Natal. E os dias, no geral, têm sido tranquilos. Felizmente!

Vamos agora ao que interessa e que puxei para título?
Todos nós recordamos o ‘Novo normal’, resultante da pandemia da covid 19, isto é, das novas práticas que fomos adotando porque a nossa vida muda com a mudança da realidade.
Pois bem, outro  ‘novo normal’ parece estar a impor-se e, desta vez, pelos insultos de políticos e que estão a ser adotados por imitadores populistas, aos quais Portugal não escapa.
É estranho não se estranhar quando se ouvem insultos como burro, imbecil, etc., vindos de alguém, por exemplo, que quer governar um país  dos mais importantes do mundo e que tem tantos apoiantes indiferentes às palavras insultuosas que são proferidas em comícios, etc. como se fosse tudo natural.
E o pior é que o chorrilho de insultos está a ser normalizado, o que é muito mau, sobretudo para as novas gerações que passam a não ter balizas nem referências. Vai-se espalhando a ideia de que liberdade é dizer e fazer tudo o que vem à cabeça.
Continuo a achar que a Vida é Bela, mas há quem a estrague cada vez mais, sobretudo  por ganância de poder.
É caso para dizer: Isto não é normal!

sábado, 19 de outubro de 2024

Em busca do documento perdido

 

Embora esteja quase tudo informatizado, muitas vezes precisamos de documentos em papel. É o que me está a acontecer por estes dias. Preciso de um documento que não encontro.

Não sou muito organizada, mas o suficiente para, habitualmente, saber onde estão as coisas, porque costumo pô-las em sítio certo. (Nem sempre, é claro). Pois bem, não encontro o documento de que preciso. Tiro as pastas da gaveta, abro as pastas, folheio a papelada, vejo o tema das folhas, separo as que foram lá parar mas deviam estar noutras capas, encontro tudo e mais alguma coisa, mas o documento que procuro é que não.

E logo me lembro da minha mãe que andava muitas vezes à procura ou do porta-moedas, ou do bilhete de identidade, ou de uma folhinha da vida de um santo que venerava… e a minha mãe sofria com isso, dizendo que estava a ficar sem memória. Tentávamos consolá-la dizendo que acontece a toda a gente e uma neta chegou a dar-lhe algumas instruções para que tal não acontecesse. Se bem me lembro foi que devia sempre pôr as coisas no sítio certo e não as deixar noutros lugares.

Porém, o documento que procuro estará no sítio certo, apesar de não o encontrar. Ou será que não está? Já duvido.

Apetece-me pensar que haverá uma solução e que o documento, apesar de ser importante para mim, não é caso de vida ou de morte, mas não vou desistir de procurar o fugitivo no meio das papeladas. Lamentarei o tempo que vou perder, mas será ganho se o encontrar, embora duvide que haja o desejado encontro.

Mãe, como a compreendo. Desculpe de só agora o dizer desta maneira.


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Belas cores de outono em Kew Gardens - Londres

 





quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Vou mudar, sim, quero mudar!

 

Sempre que posso, acompanho as noticias do dia, isto é, dos dias, porque se repetem e prolongam até à exaustão. E muito se tem falado ultimamente  de corrupção no BES que tanta gente lesou; de corrupção no Futebol em proveito de alguns dos dirigentes; de mentiras na política...

E só me refiro a dentro de portas.

Às vezes, oiço políticos e comentadores sobre esses assuntos e satisfaz-me haver, quase sempre, mas nem sempre, contraditório, o que é um bom sinal de democracia. No entanto, há líderes políticos que se refugiam no silêncio, recusando responder a perguntas, ou que preferem o retrógrado pensamento único ou que tiram sempre mentiras da cartola.

Seguindo as notícias que se repetem e pouco se alteram ao longo do dia, as horas escoam-se facilmente, as irritações vêm à flor da pele, e a tristeza aumenta por faltarem exemplos bons e estimulantes a seguir. Pode até vir a pergunta: o que aproveitei com este diálogo tantas vezes de surdos ou de palavras sobrepostas que perturbam o entendimento do discurso?

Quando hoje abri as janelas e vi o sol a espreitar por entre nuvens, pensei que tenho de mudar o modo como passo bastante tempo. Tenho livros importantes que quero ler, podcasts de que gosto muito de ouvir e com os quais posso aprender, plantas que esperam que as mime e ajude a crescer...

Interrogo-me como persistem comportamentos de figuras públicas que entristecem tanta gente. Nem chego a perceber se o fazem sabendo bem o que fazem sem se importarem nada com isso, ou se a ambição de poder é tanta que julgam navegar acima de tudo e de todos. Para não dizer que consideram talvez que os cidadãos anónimos são parvos.

Hoje comecei a impor-me mais disciplina neste âmbito: apaguei a televisão, li as primeiras páginas de um livro que uma amiga me emprestou, vou agora ao meu quintal apanhar ar e colher dióspiros... O resto virá, como veio esta vontade de prestar mais atenção ao que existe e não exige comando. E já não é sem tempo.

E que bom seria se valesse a pena! E que houvesse motivos para acreditarmos mais e para confirmarmos mais. Mas, por este andar, a procissão ainda está muito longe.


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

‘Lugares e Palavras de Natal: convite’

 Partilho aqui o regulamento para a escrita de um conto de Natal - enviado pela Editora Lugar da Palavra.

Boas escritas!

‘LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME XIII

Coletânea de poemas e contos 2024
 
Este Natal chegamos ao Volume 13! E continuamos a contar consigo! Participe na maior antologia de textos de Natal de língua portuguesa!
 
REGULAMENTO
1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 30 de outubro de 2024.
2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos paraeditora@lugardapalavra.pt
3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).
4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).
5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.
6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.
7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.
8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.
9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, emwww.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.
10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.
11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.
12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo-lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.
13. Será constituído um Conselho Editorial.
14. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.
15. Os casos omissos serão resolvidos pela organização.’

domingo, 13 de outubro de 2024

Como será este domingo?

 

Bom dia, desde já, e bom domingo.

Mas como será o dia, podemos perguntar, embora as respostas se embrulhem sempre no mistério que se vai desvendando, enquanto as horas passam. Às vezes, com doçura, outras com agrura. Mas a vida é mesmo assim e, mesmo assim, pode ser - e ótimo seria que fosse para todos - incomparavelmente bela.

Mas há tantas questões que surgem como, por exemplo:

Haverá mais acusações de mentiras a soprar-nos aos ouvidos e a entristecer os nossos olhos?

Continuarão a impor-se as imagens das guerras em que as pessoas que sobrevivem desesperam indefesas? Em que os lugares de legitimo e necessário abrigo são amontoados de destroços?

Veremos mais tempestades a impor-se na fúria de tanto desmazelo ambiental?

E não ficariam por aqui as questões. Mesmo por ser domingo.

Sejamos felizes no que pudermos. Pode ser que outros também o sejam e, embora em círculo pequeno, é sempre bom quando o dia fica melhor.

Mais uma vez, bom domingo!


sábado, 12 de outubro de 2024

Já pensando no Natal

 



A bonequinha foi feita de fuchicos, feitos com pedacinhos de tecido - que, às vezes, temos em casa.



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

É quase inverno, mas ainda falo de verão

 

Escrevi estes versos, no verão do ano passado, após um breve internamento de  urgência num hospital de Londres. 

Tinha lá ido visitar a família e festejar os meus anos.


 

Parabéns!

 

- Feliz aniversário, Maria!

- Ah! Então, como souberam?

- Vimos a data na ficha

E colegas nos disseram.

 

- Eu nunca nunca pensei

Vir hoje ao hospital;

Foi preciosa a vossa ajuda

Neste meu súbito mal.

 

- Sob estas nuvens de Londres,

Nós queremos trabalhar,

Pra todos serem felizes,

Com saúde e bem-estar.

 

- Vim do meu país de sol,

Pequeno mas com beleza,

Pra visitar minha neta

Que, juntamente com meu neto,

São minha grande riqueza.

 

- Noutros países nascemos,

Terras de eterno verão,

De cores várias e dimensão,

Mas grande pobreza lá temos.

 

 

- Também portugueses emigram

Para a vida melhorar;

Tantas vezes o esquecemos

Em vez de sempre o lembrar.

 

- Muito difícil é viver

Com a pele de cor diferente;

Ter coragem de partir

Enobrece a forte gente.

 

- Obrigada pelo bolo

Com velinha e doçura;

Para vós, mil parabéns

Pelo saber e ternura!

 

O texto juntou-se a outros mais da coletânia Mimos de...,
publicada pela Editora Lugar da Palavra.