Em julho último, quando estive em Londres, como já contei, fui operada de urgência ao apêndice. A minha intenção era ajudar cá em casa e acabei por ter de ser ajudada. A vida é assim.
Desta vez, tenho podido, felizmente, colaborar no que é preciso. Até já brindámos pela estadia estar a correr bem melhor do que a do verão.
Pois bem, durante esta semana, já senti muita emoção a assistir a um concerto de piano, em que a minha neta interveio com saber e muito foco (como agora se diz); fui a Kew Gardens, um belíssimo parque de múltiplas cores, atividades, cuidados e ensinamentos práticos sobre a natureza; entrei quase diariamente no supermercado e na escola primária, onde espero, tal como muitos pais (mais mães) e avós que o portão se abra à hora certa e nós possamos ir buscar as nossas crianças, já li As primas de Aurora Venturini quase todo e tenho andado muito a pé porque não há carro.
E já conheço bastante bem o perímetro, não muito alargado, onde vou circulando no meu dia a dia, bem diferente das minhas ruas natais.
Tenho passado, caminhando, pelas ruas sossegadas cheias de folhas húmidas e amareladas das árvores. E pelo carteiro que diz bom dia e empurra um carrinho com vários sacos vermelhos. E pelo distribuidor da Amazon com a carrinha cheia de pacotes. E por vendedores risonhos de promessas de vida para eles mais justa na terra e mais feliz no céu. E por velhos a passear os cães dando-lhes tempo e calma para que nem nas necessidades não precisem de pressas. E por jovens de passo rápido e de fones nos ouvidos. E por mães a empurrarem carrinhos de bebé segurando o telemóvel falador. E por pessoas a passarem rápidas como o tempo. E por Idosas simpáticas a varrerem as folhas dos canteiros antes de irem andar de bicicleta. E por muitas crianças a dar a mão a familiares, a falar e a sorrir.
…
E por ruas mais frenéticas de trânsito e comércio sem árvores nem canteiros, onde há pessoas que vivem na rua, que falam alto na rua, que se inclinam para a rua pela magreza e desnorte como o cigarro que quase lhes cai das mãos magras, que falam sozinhas em desatino, uma mulher de olheiras e boca escura em busca de alguém que a oiça e fale inglês, homens velhos de garrafa de vinho ou cerveja na mão e que caminham como se só soubessem caminhar na contra-mão…
Por lojas aonde só entra gente chique e por lojas onde se pode comprar tudo que faz falta em casas que nunca serão chiques e nas que sempre foram chiques.
Sinto uma grande simpatia por esta cidade tão multicultural também nos sabores, mas não gosto de ver pessoas que de sobra só têm pobreza e solidão. O meu conhecimento da cidade é superficial, porque aqui só venho de vez em quando, e para conhecer é preciso viver e permanecer. Porém, ver, por exemplo, uma escola primária pública com muito bons resultados e cheia de crianças vindas dos diversos continentes é um sinal animador e uma boa lição que é dada sem ser de propósito ou lida em qualquer púlpito mediático.
Está quase a terminar, desta vez, a minha estada nesta cidade tão cosmopolita. Se assim não fosse, talvez a minha filha não a tivesse escolhido para estudar e trabalhar, há já longos anos. Como tantos e tantos e tantos.
Acho que não irei a essa cidade. Mas parece-me agradável o que dela já vi em fotos. E gosto de a ler, é como ouvi-la falar de outro país com outros costumes. Conheço portugueses que querem sair dela e voltar onde nasceram; e outros que não a trocam por nada. Em geral, os que têm melhor nível de vida preferem permanecer; os outros, pensam voltar na reforma. É tudo vida, Maria Dolores. Porque haverá de certeza outras variáveis a considerar.
ResponderEliminarQue a viagem de regresso corra bem e não estranhe a mudança. Tem sido um tempo bom para curtir a neta:).
Bom dia, Bea, obrigada.
EliminarJulgo que a minha filha está no grupo dos que não pensam voltar, apesar de continuar ligada à família e à terra onde nasceu.
Aconteceu-lhe o mesmo que a muitos jovens: ter lá um trabalho que dificilmente teria cá (apesar de ter sido sempre uma ótima aluna) e constituir família com um companheiro de língua inglesa.
Sim, Bea, foi maravilhoso estar todos esses os dias com a minha neta e ir buscá-la à escola, vindo a falar pelo caminho, a cantar, a comer um biscoito que comprávamos numa confeitaria grega, etc.
Quando regressei, nem sei se me ri ou se me vieram as lágrimas aos olhos ao ouvi-la no seu português inglesado: 'Avó, eu não querro que tu vai'.
Bom domingo, Bea, com sorrisos bons.
Ahhh. É ótimo a gente viver tantas experiências assim. Obrigado por compartilhar.
ResponderEliminarBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Sim, é bom, ainda que as minhas experiências sejam simples e quotidianas.
EliminarAté breve. Bom domingo.