segunda-feira, 3 de julho de 2023

À espera de vez no hospital

 

- Parece ter saúde.

- Graças a Deus. E vou fazer setenta anos.

- Mas toma medicamentos, com certeza.

- Uuuuui! Muitos, mas nada de especial, a não ser um que tenho de tomar.

- A gente toma todos os medicamentos porque tem de tomar.

- Uns mais do que outros. Falo de um que tomo para a ansiedade, mas não é por mim.

- Então?

- É por causa do meu neto.

- O rapaz é difícil?

- Uuuuui! Eu digo neto, mas até me custa dizer porque para ser avô de um neto assim, eu preferia não ser.

- Imagino o seu problema. 

- Não imagina, não, só quem sabe ou passa por elas.

Adeus e muita saúde. Já vou à minha vida. A minha mulher vem aí da consulta e se me ouve a falar disto, diz-me logo que eu não devo falar destas coisas. 

Agora diga-me se sou ou não sou obrigado a tomar o remédio da ansiedade!

 

8 comentários:

  1. Mas não chegamos a saber se o velhote é apenas ansioso ou o neto lhe dá mesmo dores de cabeça das grandes:). Talvez ele seja ansioso por natureza, tão pronto está a falar do assunto com qualquer. Também não se percebe a razão de só a toma de um comprimido o preocupar, quando admite tomar muitos. Talvez se preocupe mais com o neto do que com ele mesmo.
    Tudo são suposições, a concretização não pertence ao texto.
    Boa semana, Maria Dolores

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    1. Sim, o homem parecia ansioso e a vontade dele era falar sobre um assunto que o preocupava, que queria deitar cá para fora e do qual não poderia falar em casa. Ora, saber que tinha ouvinte era ocasião que não podia desperdiçar.
      Boa semana, Bea, sempre com coisas boas para dizer.

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  2. Coitado, para além do problema do neto, também vive condicionado pela mulher, mas estes casos não aparecem nas televisões, nem nos jornais, nem contam para as estatísticas.
    Uma boa tarde Maria Dolores, estes seus flagrantes da vida real dão pano para mangas e cada um pega por onde quer.

    PS - O senhor tem a vitamina D em baixo, tem de apanhar mais sol - disse-me o médico.
    Mais ainda? Corro uma vez por semana durante uma hora com cabeça, braços e pernas ao sol - respondi.
    É pouco, devia fazer isso três vezes por semana. Anda muita gente assim.
    Vim embora a pensar que já há seis meses me tinha dito que andava com o ácido fólico em baixo e que também andava muita gente assim. Deve ser efeito do covid ou das vacinas. Não disseram que estas não tiveram tempo suficiente para serem testadas? O que vale é que hoje em dia há suplementos para tudo.

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    1. Sim, infelizmente, Joaquim, há muitas pessoas que vivem condicionadas em casa. Talvez pelos afazeres, pelos problemas e muita coisa mais há muito pouco tempo para ouvir os outros ou, então, é um modo de não querer avolumar o problema. Não se falando, é como se não existisse.
      Se alguém sente que não é ouvido ou é desvalorizado no que diz ou pensa cresce a solidão ou os desabafos saltam-lhe em qualquer altura.
      Obrigada pelo que diz sobre a falta da vitamina D.
      Estou a tomar um químico para isso e a tentar aproveitar, sempre que posso e em horas amenas, o nosso belo sol.
      Desejo-lhe que a sua semana seja luminosa.

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  3. Deus me livre de ter este tipo de ansiedade 😊
    Bom fim-de-semana Mariana

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    1. Que bom não ser ansiosa, Gracinha, eu sou um pouco, mas não a este ponto. Felizmente.

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  4. Há conversas incríveis nas salas de espera.
    E há mulheres que não gostam que os maridos falem...
    E há avós que não sabem lidar com os netos.
    Gostei de ler, senti-me nessa sala de espera.
    Boa semana, cara amiga Maria Dolores.
    Um abraço.

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  5. Bom dia, Jaime
    As conversas nas salas de espera, por mais curtas que sejam, retratam muitas vidas. E algumas bem complicadas.
    Desejo- lhe uma semana plena de belas imagens poéticas.

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