quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Dezembro: mês de renascimento e também do seu contrário

 

A cerimónia foi às 9.15 de hoje. Às 10 e às 11 haveria mais dois funerais.

Ouvia-se a chuva cair fora da igreja. As pessoas davam os sentimentos, louvavam-lhe as virtudes e a vida de bons 96 anos. E as flores, como gostava delas. E como havia tantas.  Muitas rosas, como o seu nome. Rosas cor-de-rosa, rosas brancas... em raminhos que lhe cobriam uma parte do corpo. As mãos geladas e brancas, com um dos muitos terços que lhe ofereciam, pousadas no fato preto de que gostava tanto. Sempre bonito, dizia. Por isso, o escovava e punha a arejar antes de ser guardado. Na cabeça, o habitual turbante. Mesmo que houvesse vento, não havia despenteio. Sempre tinha gostado de se vestir a apresentar bem.

Teria gostava de ver as flores, de saber que veio família, que vieram amigos, que vieram vizinhos. Só ficaria com pena de não poder perguntar se queriam um cafezinho e um biscoito. Talvez tivessem falado demasiado uns com os outros. No espaço sagrado, tem de haver silêncio e recato. Podiam ter rezado o terço. Faltou a D. Celeste que tomou a iniciativa no dia anterior, embora houvesse ainda pouca gente no velório. Mas, pensando bem, compreendia a vozearia porque algumas pessoas só se encontram em funerais. Claro que gostaria de ver filhos e netos a comungar de mais religiosidade. E não foi por não lhes ter falado. E não foi por não lhes ter pedido. E não foi por não lhes ter repetido que Deus faz falta e que, por isso, O procurava sempre. Por ela e por eles.

Terminada a missa, as pessoas foram em cortejo para o cemitério. Antes dos degraus até à última morada, fez-se uma paragem e foi tirada a tampa de madeira. Para a despedida. A chuva caía miúda sem ruído. Como a emoção que se quer conter mas não se esconde.

Abeirei-me dela, afaguei-lhe a cabeça e disse-lhe como sempre lhe dizia: Minha mãe! E acrescentei: Descanse em paz!


12 comentários:

  1. Um momento tão doloroso que não se explica...apenas se sente! Nossa mãe deixou-nos a 20 de Dezembro há 8 anos e o Natal nunca mais foi o mesmo!!!🎇

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Então, Gracinha, vivemos a experiência da morte das nossas mães em data semelhante. É muito triste este corte com as nossas raízes e talvez ainda mais nesta altura do ano.
      Um abraço

      Eliminar
  2. Respostas
    1. Obrigada, Joaquim, Deus queira que sim e acho que tal acontecerá, porque foi uma longa vida que deixou muito boas memórias.

      Eliminar
  3. .
    .
    Adorei a publicação que muito gostei de ver, e ler. Mas hoje quero apenas deixar votos de um FELIZ E SANTO NATAL, extensivo à sua família e amigos
    .
    Poema de Natal: “” Jesus, é a luz, o caminho “”
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos

    ResponderEliminar
  4. Muito bom .))
    .
    Desejo que todos tenhamos saúde e paz. Que nunca nos falte a alegria de viver, o bom senso, a humildade, a solidariedade, a compreensão e a união, etc..
    .
    É outra vez Natal ...
    .
    Um beijo/abraço fraterno a quem de direito. Sejam muito felizes hoje e sempre. Um 2023 cheio de positividade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, Cidália. Feliz Natal para si e para a sua família.
      Um beijinho

      Eliminar
  5. Respostas
    1. Obrigada, Vítor, pelo teu abraço. Felizmente, podemos dá-lo em circunstâncias também mais felizes.
      Outro abraço

      Eliminar