segunda-feira, 28 de março de 2016

Diário de Mariana




Família, Compasso, Versos da minha Avó...
Daí a nada, a mesa estava sem louça suja. Só ficaram bolos e amêndoas. O meu tio abriu a porta toda e um grupo de homens entrou. Um trazia uma cruz, outro tinha um saquinho para as ofertas, outro vinha com umas folhas e imagens e os outros já não sei porque começaram todos a falar e eu distraí-me. 


Toda a gente se conhecia e um deles perguntou quem lia a oração. Todos se viraram para a minha tia brasileira. Um depois disse assim: Muito bem; assim, a leitura é em língua mais doce.
A gente gosta tanto de ouvir os brasileiros a falar. Não sei é por que é que eles não nos entendem muitas vezes. Uma vez, a minha irmã mais velha foi ao Rio de Janeiro, falou português e responderam-lhe em italiano. E falavam todos a mesma língua. Que esquisito.
Antes de saírem, a minha tia perguntou se queriam amêndoas. Eles disseram que não porque agora não há crianças na rua, como antigamente.
Depois, fomos ao Monte Crasto, porque a minha avó tinha saudades de lá ir.
A minha avó tem quase noventa anos e sabe muitos versos. Começa a dizer os poemas sem nunca se enganar nem se esquecer. Então, quando estávamos todos sentados, o meu avô disse todo orgulhoso: ó mulher, diz os versos que sabes sobre o Monte Crasto. E ela disse-os logo. E ainda antes contou: Um dia, quando eu era pequena, a minha tia Ana chegou a casa com uns versos de uma amiga dela de Quintela, aqui em Gondomar. Era uma senhora muito sábia, que gostava muito de ler e de fazer versos. Perguntou quem queria ficar com a folhinha. Eu quero, tia, disse eu.
E disse os versos que tinha aprendido há mais de oitenta anos.
Eu acho que vou aprender nem que seja algumas quadras, porque não sei versos de cor. Não vou conseguir é saber tantos como a minha avó.
Um abracinho, querido diário
Mariana



2 comentários:

  1. Olá, Mariana!

    estou a ver que te esqueceste de escrever alguns dos versos, será?
    Bjs
    Tia ci

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  2. Obrigada, tia Ci. Não, não me esqueci, mas estamos com família e a minha mãe está sempre: Mariana para aqui, Mariana, para acolá. Mesmo pra mandar uma mensagem ao Gi tem de ser quase às escondidas. A minha mãe diz-me muitas vezes: Mariana, tu nãa existes! Se eu não existisse, queria ver!!
    Um abracinho
    Mariana

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