Tínhamos vivido há pouco o 25 de Abril de 74. Numa semana, o país começara a respirar novos ares. Os meios de comunicação social mostravam ex-exilados, ex-presos políticos, ex-PIDES, ex-soldados da guerra colonial; diferentes “ex” de um país que, de repente, antevia janelas para o seu fechado e longo casulo.
Tu e eu fomos ao Porto, a um comício na Avenida dos Aliados.
Nunca tal cenário existira diante dos nossos olhos: uma praça aberta ao sol e à multidão. E às bandeiras e aos cravos e às canções e às palavras de ordem de “Fascismo nunca mais", " O povo unido nunca mais será vencido" e muitos mais.
Nunca tal cenário existira diante dos nossos olhos: uma praça aberta ao sol e à multidão. E às bandeiras e aos cravos e às canções e às palavras de ordem de “Fascismo nunca mais", " O povo unido nunca mais será vencido" e muitos mais.
Saboreava-se
a surpresa retemperadora de poder falar sem medo. De não ter de baixar a voz ou de olhar com desconfiança. De cantar sem medo. De participar
num comício sem medo. De ouvir vozes revolucionárias sem medo. De pronunciar palavras como liberdade, democracia, direitos, luta...
E surgiam, no
íntimo, muitas perguntas:
Como foi
possível calar tantas vozes durante quase cinco décadas? Como foi possível
silenciar os anseios dos que só podiam agora expor-se?
Alguns, porém, tinham ousado fazê-lo. Sem medo dos riscos que corriam.
Conhecer mais a fundo a política do Estado Novo cabia sobretudo a quem tinha contactos com realidades mais livres e abertas, ou o seu meio envolvente revelava consciência e reflexão políticas.
Dos cidadãos comuns, dos quais eu e tu fazíamos parte, tanta coisa se escondia à conta de um triste “Orgulhosamente sós” que ia plantando profundas formas de solidão.
Conhecer mais a fundo a política do Estado Novo cabia sobretudo a quem tinha contactos com realidades mais livres e abertas, ou o seu meio envolvente revelava consciência e reflexão políticas.
Dos cidadãos comuns, dos quais eu e tu fazíamos parte, tanta coisa se escondia à conta de um triste “Orgulhosamente sós” que ia plantando profundas formas de solidão.
Não mais
esquecerei esse primeiro 1ª de Maio, no Porto, festejado em Liberdade.
Não sei se
voltei a algum comício. Não me recordo. Se calhar, porque não houve mais nenhum
1º de Maio como o que, sendo o primeiro, tão livremente floriu.
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