sábado, 15 de novembro de 2025

Vai embora, Cláudia!


Conheço várias Cláudias

Mas como esta é que não 

Ataca de dia e de noite

E não tem contemplação!


E com ela vem a chuva

E a temida trovoada

Faz crescer rios e ribeiros

Torna a terra encharcada!


E enfuna-se de vento

Que despeja enraivecida

Derruba muros e telhados

E às árvores tira vida


Mas o que é bem pior

É haver mortos e feridos

E custa ver tantos bens

Tão depressa destruídos


Ó Cláudia, vai-te embora

Com teus repentes enigmáticos

E uma coisa já sabemos

Que combater todos temos

Os maus  efeitos climáticos!


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O outono pode ser belo, apesar dos temporais!


Ele estava contente. E tinha razão!

 

Como combinado, hoje de manhã, ele tocou-me à porta. Vinha receber de uns pequenos trabalhos de trolha. Trazia um boné e vestia um casaco que usa nas corridas e maratonas. Quando lhe abri a porta, tirou o boné, coisa que já vai saindo de uso, mas não da cabeça. 

Está quase nos setenta, mas que ninguém lhe tire as corridas de longo curso. Diz que a mulher também o acompanha, embora corra menos por causa das dores nos joelhos, que vão melhorando porque ela também faz Pilatos (não é só ele que fala do segundo nome de Pôncio, dos Evangelhos, em vez de Pilates).

Falar com ele é engraçado, mas demora tempo. Gagueja, faz muitos gestos e não deixa para trás nenhum pormenor. Explica e justifica todos os trabalhos que faz. Quase que já aprendi como se fazem pequenos serviços de trolha. Isto na teoria, é claro.

Ele hoje estava contente porque me via contente com o trabalho que terminou. E disse-me, mais uma vez, que fica contente quando vê o trabalho bem feito e as pessoas também ficam contentes com o trabalho dele. E que, quando eu precisasse, ele vinha, porque agora só faz pequenos trabalhos. E que a mulher também o ajuda de vez em quando e que, assim, ela sai de casa e conversa, porque gosta muito de conversar.

- E agora, vou buscá-la ao Pilatos, disse ele. Só espero é que a senhora tenha ficado contente com o meu trabalho. 

- Fiquei, obrigada. Ficou tudo muito bem. Realmente, ter as coisas a funcionar em casa dá mais qualidade de vida.

-  Com as coisas bem feitas, todos ficamos contentes, disse ele com um sorriso de satisfação. 

E dei-lhe razão. E logo me veio à cabeça o título de um podcast de que gosto muito. «A beleza das pequenas coisas».


«Maré» em dias de tempestade!





domingo, 9 de novembro de 2025

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Encontrei hoje numa pasta qualquer

 

O silêncio da casa

Deixo coisas por fazer

para que a casa continue assim

em silêncio

não sei se exala passado

ou sobretudo o agora

mas o momento é sereno

e não quero desperdiçar nada

do silêncio da casa de hoje

a cama está por fazer

a cozinha por arrumar

a roupa por passar a ferro

mas nada disso importa

não posso perturbar

 o silêncio da casa

olho a tua fotografia

e não te digo nada

volto a olhar

volto a nada dizer

não é preciso

conheces o meu amor

pelo silêncio

- Mas com arrumação!

pressinto que vás acrescentar.

 

15.09.2020

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Andamos nervosos ou é de mim?

 

Conheço um casal de brasileiros que vive em Portugal há uns anos. Ela diz que só soube o que era andar na rua sem medo aqui em Portugal. Com um brilhozinho nos olhos, fala da segurança que agora sente e, apesar de ter saudades do Brasil, diz que não quer voltar. Só se for para visitar a família e os amigos. Estão legalizados, trabalham, pagam impostos e têm um filho.

Quando ela me fala da maravilha que é andar fora de casa e a qualquer hora sem medo, eu lembro-lhe que aqui também há assaltos, roubos, etc. Ela sorri e diz: Nada a ver!

Para além desta grande dose de paz e segurança, que muitos querem contrariar,   sinto que muitos portugueses andam tristes. Para além da tristeza, existe  solidão e descrença em políticos e em instituições. Não se sabe se o que dizem é verdade, meia verdade, mentira ou jogo político só para caçar votos e continuar no poder. Por isso, desconfia-se cada vez mais de tudo e de todos.

Assistir, por exemplo, a uma sessão na Assembleia da República revolta, dececiona e cria um grande vazio. Todo aquele barulho, o ver quem arrasa mais o outro, o riso de escárnio, o insulto, as palavras indecentes, o desrespeito, as falácias, fazem com que o comum dos mortais se sinta confuso e cada vez mais só.

Andamos nervosos. E desconfiados. E desiludidos. E acabrunhados. Se for só de mim, é melhor.

Para muitos imigrantes somos, de facto, um oásis. Não pelas mentiras que os extremistas inventam, como a história dos subsídios a torto e a direito,  mas pelo que encontram que é bem melhor do que a realidade dos seus países.

Também muitos portugueses emigram em busca de uma vida melhor e de mais reconhecimento. Nos países que os acolhem, trabalham, pagam impostos, constituem família  e não querem voltar.

Mas disto não se fala porque não dá jeito.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Bom dia! O que li hoje no EXPRESSO curto, com texto de Isabel Leiria

 

«Os primeiros cartazes do Chega a apoiar a campanha de André Ventura para as presidenciais foram colocados em concelhos da margem Sul com mensagens que os procuradores do Ministério Público (MP) deverão avaliar se configuram algum tipo de crime ou um mero exercício de liberdade de expressão, como advoga o próprio candidato a Presidente da República.


“Isto não é o Bangladesh”, lê-se num deles, “Os ciganos têm de cumprir a lei”, escreveram noutro e os “Imigrantes não podem viver de subsídios”, num terceiro. Se a ideia do primeiro é insinuar que Portugal foi ‘invadido’ por hordas de imigrantes oriundos daquele país, nada como apresentar os números para mostrar como se afastam da realidade vivida no país. Dos 1.543.697 cidadãos estrangeiros que residiam em Portugal a 31 de dezembro de 2024, pouco mais de 55 mil são originários do Bangladesh. É a sétima nacionalidade mais representada, muito longe dos 485 mil cidadãos brasileiros, que estão no topo da lista. A mensagem, a fazer lembrar slogans racistas e xenófobos do passado (e, lamentavelmente, do presente) mereceu já o repúdio de várias dirigentes. “Este racismo não existia em Portugal. Os portugueses não são assim”, declarava há dias o porta-voz da comunidade do Bangladesh em Portugal, Rana Taslim Uddin.

Sobre os ciganos terem de cumprir a lei, não se percebe outro alcance da mensagem que não a estigmatização gratuita de um grupo. Pessoas de outras origens étnicas, raciais ou culturais, tal como os militantes do Chega a braços com a Justiça, não têm de cumprir a lei? Um grupo de associações ciganas já disse que ia apresentar queixa junto do MP.»

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

As histórias que faziam mal ao cérebro


Quando a Clarinha era mais pequena, gostava muito de histórias de princesas, de brinquedos de princesas, jogos de princesas, adereços de princesas, de vídeos de princesas...

Lá por casa, não faltavam princesas em papel, em cartão, em livros, em adereços de princesa como tiaras, etc,

Quando havia qualquer data festiva, lá vinha a pergunta:

-  Clarinha, o que queres para presente?

E a resposta não se fazia esperar:

- Um vestido de princesa! Ou um livro de histórias de princesas. Ou um livro de princesas para colorir...

Um dia, perante tanta princesa por todo o lado, o pai disse a Clarinha:

- Tantas histórias de princesas fazem mal ao cérebro!

A Clarinha ficou a olhar para ele muito séria, mas que ninguém lhe tirasse o mundo mágico das suas princesas.

Ou por aquilo que lhe disse o pai ou porque o tempo também vai dizendo muita coisa, ao amor pelo mundo das princesas seguiu-se o amor pelo Panda e depois o grande amor pelo Harry Potter. Que ainda continua.

Daqui a algum tempo, não sei o que virá. Mas todas estas diferenças de gosto só podem fazer... bem ao cérebro.