quarta-feira, 29 de agosto de 2012
terça-feira, 28 de agosto de 2012
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
domingo, 26 de agosto de 2012
Ela quer ser minha amiga?
Vivia sozinha e mudou-se para um andar. Uma vizinha, que estava quase sempre só durante o dia, reparou nela e nos hábitos que parecia ter. A nova residente regressava do trabalho ao fim da tarde e saía de novo para andar a pé.
Não raras vezes era seguida pelo olhar da vizinha que começou a pensar que seria uma boa companhia para as suas caminhadas. Poderiam falar de tudo e mais alguma coisa. Seria uma oportunidade de conhecer algo mais da vida de alguns vizinhos.
Um dia, viu-a sair do salão de cabeleireiro que havia no prédio. Nem mais. Quando chegou a casa, marcou o número e lá veio o habitual: Salão Sandra Martins, boa tarde. Depois de saber se Sandra estava melhor da entorse, de falar do tempo dos últimos dois dias, perguntou se já conhecia a nova vizinha do prédio. Como ouviu que sim, disse: Ó Sandrinha, pode então fazer-me um favor? Quando ela for arranjar o cabelo, pergunte-lhe se ela quer ser minha amiga.
Sandra quase deixava cair o secador. Nenhuma delas tinha facebook.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
La poule du bonheur
Comprei, há muitos anos, numa loja de produtos da América do sul, perto do Louvre, em Paris, uma pequena galinha de loiça.
Sempre que olho para aquele objeto, lembro-me da pronúncia da vendedora: la pula du bonharrrre.
Eu estava com a minha irmã e ambas ficámos seduzidas pela pronúncia e pelo modo carinhoso de vender. Parecia que se trouxéssemos aquela pequena galinha branca de crista vermelha e cauda em leque, também traríamos felicidade naquele embrulhinho bem seguro para que em viagem nada se partisse.
A galinha continua intacta. O que vai mudando é o conceito de felicidade. Muitos objetos são importantes mas, por si só, não conseguem resgatá-la, embora convoquem momentos felizes, o que é muito importante. Como la poule du bonheur.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Nas ondas da praia...
Hoje a manhã cheirava a hortelã
Levantou-se cedo. Queria tratar das plantas. Havia neblina fresca que sentia nos braços nus.
Começou a podar uns ramos, a cortar outros, a mudar uns vasos para que as flores sentissem mais aconchego e o olhar também.
Ia passando no cantinho das aromáticas e o aroma fazia-se sentir. Sobretudo a hortelã.
Não sei se era da hortelã se era da paz tranquila da manhã-
Alexandre e os seus amigos do deserto
Alexandre
vivia numa casinha de adobe à beira da estrada perdida no meio do
deserto. Ao lado, havia um poço e uma hélice movida a vento. Alexandre e
o seu único companheiro, um burrico, dispunham assim de toda a água de
que precisavam. Naquele lugar afastado do mundo, Alexandre acolhia de
boa vontade quem ali parasse para se refrescar. Mas os visitantes eram
raros e iam-se logo embora.
Alexandre
sentia-se muito só. Para ocupar os momentos de solidão, decidiu fazer
um jardim. Semeou cenouras, feijões e grandes cebolas roxas, tomates e
milho, melões, abóboras e pimentos vermelhos. Logo de manhã cedo e
durante horas, Alexandre trabalhava no seu jardim. Gostava sobretudo de
o ver crescer, antes do calor do deserto apertar e o obrigar a
refugiar-se em casa.
Os
dias passavam lentamente, sem qualquer novidade, até que uma bela
manhã foi surpreendido pela chegada de um visitante. Um esquilo surgiu
do silêncio e avançou, lentamente, pé ante pé. Ao vê-lo aproximar-se do
jardim, Alex ficou imóvel. O esquilo escapou-se para um rego onde
matou a sede e depois desapareceu. Nesse instante, Alexandre deu-se
conta de que tinha esquecido a sua solidão, e passou a ficar à espera
que o esquilo regressasse.
O
esquilo voltou muitas mais vezes e sempre com novos companheiros:
ratos de pescoço branco, os geomis da montanha, grandes lebres, ratos
cangurus do Texas e ratinhos de bolsa de Bailey. Também vieram muitos
pássaros visitar o jardim de Alex: os cucos corredores da Califórnia,
os picanços de Gila e os tordos dos remedos de bico curvo. Os
trogloditas de cabeça castanha, os pardais de artemísia, de olhos
orlados de branco, as pombas da Carolina e ainda muitos mais, que
pousavam nos ramos da alfarrobeira, ou descansavam nos catos sanguaro,
antes de saciaram rapidamente a sua sede, ao cair da noite. Por vezes,
até uma velha tartaruga atravessava lentamente o jardim.
Alex
sentia que, assim, o tempo passava mais depressa, porque a cada
instante se distraía com um novo visitante. Já não estava só, mas
interrogava-se se isso seria de facto o mais importante.
Depressa
percebeu que os visitantes não vinham procurar um amigo, mas vinham
simplesmente à procura de água. E Alex pensou em todos os outros
animais do deserto… o coiote e a raposa cinzenta, os linces ruivos, as
mofetas, os texugos, os pecaris (os porcos monteses da América do Sul),
os veados, a corça e os cabritos monteses. Encontrar água para todos
não era problema. Com o dínamo e o poço, Alex podia fornecer muita
água. Mas tinha de descobrir um meio de todos poderem usufruir dela.
Alex
resolveu fazer um reservatório. Sem perder tempo, começou a escavar.
Foi uma tarefa cansativa, que durou vários dias, sob um sol escaldante.
Mas encheu-se de coragem ao pensar que podia ajudar tantos hóspedes
sequiosos. Restava agora esperar pela chegada dos animais corpulentos.
Alex andava de um lado para o outro, como era costume, dava de comer ao
burrico, tratava do jardim… Os dias passavam e nada de novo acontecia.
Alex tinha esperança, mas passavam semanas e semanas e tudo continuava
calmo. Porque é que os animais não vinham? Alguma coisa devia estar
errada!
Depressa
se desvendou o mistério. Uma manhã, uma mofeta aventurou-se a chegar
perto da poça de água. Mas, mal viu Alex, fugiu para o silvado. Como é
que ele não tinha pensado nisso? Era preciso mudar a poça de água de
lugar o mais depressa possível. Alex começou a cavar num lugar mais
afastado, escondido atrás de um silvado. Acabada a obra, escondeu-se
ali perto e esperou. Será que viriam? E desta vez não ficou desiludido!
Uns
atrás dos outros, tímida e furtivamente, os animais saíram do deserto.
Como a nova poça ficava um pouco afastada da casa e da estrada, os
animais não tinham medo. Alex tinha muitas provas disso: a chilreada
dos pássaros ao cair da tarde, o sussurro da alfarrobeira na calada da
noite, traindo a presença de um coiote, de um texugo ou talvez de uma
raposa cinzenta, o passo leve de um veado, os grunhidos dos pecaris.
E,
durante as horas passadas a ouvir calmamente todos os ruídos dos seus
novos companheiros, Alex pensou que era essa a sua melhor recompensa… O
presente que lhes oferecera, a poça de água, nada era, comparado com o
que ele recebera em troca: a presença cúmplice e amiga dos animais.
Richard E. Albert
Alexandro et ses amis du désert
Paris, Éditions Autrement, 1997
(Tradução e adaptação)
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Flowers to Scott Mckenzie
http://www.youtube.com/watch?v=bch1_Ep5M1s
San Francisco
If you're going to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair
If you're going to San Francisco
You're gonna meet some gentle people there
For those who come to San Francisco
Summertime will be a love-in there
In the streets of San Francisco
Gentle people with flowers in their hair
All across the nation such a strange vibration
People in motion
There's a whole generation with a new explanation
People in motion people in motion
For those who come to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair
If you come to San Francisco
Summertime will be a love-in there
If you come to San Francisco
Summertime will be a love-in there
O prazer do fim do dia
Conceição Ruivo
As quatro colegas de repartição, durante o almoço, falavam do que lhes dava prazer ao fim do dia de trabalho, quando regressavam a casa.
Uma delas dizia que era ter o jantar pronto, embora tivesse, depois, de arrumar a loiça.
A uma outra o que dava prazer era o silêncio da casa e poder gerir o serão a seu jeito.
A mais nova suspirava por chegar a casa e estar com o seu bebé.
A mais nova suspirava por chegar a casa e estar com o seu bebé.
Luísa, chegando à sua vez, disse que o que lhe dava mais prazer, no final do dia, era beber um copo de bom vinho tinto ao jantar.
As amigas riram-se pelo inesperado da situação.
- Apenas isso?
E Luísa justificava a sua preferência, nada de somenos importância, saboreando as palavras como gostava de saborear, aos poucos, o vinho que sempre bebia do copo alto de pé.
E cada uma ia sorrindo à luz da tarde, pensando no prazer do fim do dia.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
A menina que cortava o cabelo às bonecas para o ver crescer
Para a A.S.
Era uma vez uma menina que cortou
o cabelo a uma boneca para o ver crescer.
Todos os dias, enquanto brincava,
esticava, com as mãos pequeninas, os cabelos
da boneca mas ficava muito triste porque não cresciam.
E veio um dia, e outro, e depois
outro mas o cabelo da boneca mantinha-se igual, isto é, sem crescer.
A menina aproximava-se, então, do
espelho e ia comparando o tamanho do seu próprio cabelo desde a última
vez que o tinha cortado. Não tinha crescido muito, mas já lhe caía nos ombros e,
quando foi ao cabeleireiro, lembrava-se que ficava um pouco mais acima.
Um dia, perguntou à mãe se havia um
champô que fizesse crescer o cabelo. A mãe pensava que era para a menina e
disse que deixasse o cabelo sossegado e a crescer ao seu ritmo.
Mas quem não sossegava era a menina porque o cabelo da boneca não crescia. Numa
tarde quente de verão, pôs-se a olhar tão fixamente a cabecinha da boneca para ver se o cabelo crescia que acabou por adormecer. Sonhou, então, com uma longa cabeleira negra que crescia e quase tapava a boneca.
Quando acordou, contou o sonho à
mãe que logo lhe disse:
- Só em sonhos é que o
cabelo das bonecas pode crescer. Não vês que são apenas brinquedos?
No dia seguinte, a menina, a correr pelo quintal fora, descobria que nem tudo ganha vida, apesar de querermos muito.
O rapazito da praia
Julião Sarmento
Conheço-o há muitos
anos. Aliás quase toda a gente que frequenta a praia de Mindelo, em Vila
do Conde, também o conhece.
No verão, com as suas calças bambas, senta-se no
muro que separa o passeio da praia e fica ali horas a olhar para quem passa,
para quem chega ou parte, para quem se senta por perto a conversar...
Nunca o vi falar com
ninguém porque também ninguém se lhe dirige. Muito magro, com um rosto pequenino, moreno e
fechado, parece encerrado no seu mundo. No entanto, todos os dias sai de casa para vir até à praia.
Pela fragilidade física, constante ensimesmamento e por estar sempre igual de verão para verão é sempre o rapazito da praia. Contudo, já deve ter quase cinquenta anos, vestidos num corpo franzino de rapaz.
Assistiu a muitas modificações da praia sem nada dizer. E não passou um dia de verão sem vir até lá.
Ele, como os demais seres humanos, sempre à procura da sua praia.
Ele, como os demais seres humanos, sempre à procura da sua praia.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Riquezas doces de Ovar
Catálogo com a casa onde Júlio Dinis viveu pouco antes
da sua morte, em 1871, aos 32 anos, de tuberculose
Jardim em frente à Casa de Júlio Dinis
Marcadores e boneca de artesã local, representando uma das personagens
(Margarida) do romance As pupilas do Senhor Reitor
Folheto de uma exposição "Os Mares de Sophia", na Biblioteca de Ovar, do artista plástico Fernando Andrade, baseada na obra de Sophia de Mello Breyner, sobretudo na Menina do Mar
Uma das antigas confeitarias especializadas no pão de ló de Ovar (delicioso - só é pena engordar!)
E em Ovar, muito mais há para ver: o museu, as casas antigas revestidas de azulejos (tive pena de não poder fotografar algumas, mas a bateria terminou), a estação do comboio, o Largo da Câmara, as ruas com casas baixas e com memória...
E também um grupo de homens velhos a jogar dominó num café sossegado, uma menina a pedir à avó para regressar de camioneta ao Furadouro, uma mulher de avental muito limpo a correr para apanhar o circuito (camioneta), uma senhora de preto e já velha a descansar de uma vida a fazer doces regionais saboreados em diferentes partes do mundo, um homem nostálgico de bicicleta com o camuflado de guerra bem conservado, a funcionária da Biblioteca a mostrar, sem sucesso, o preçário das belas peças expostas (seres marítimos que vivem para sempre nos livros de Sophia)...
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Dá-me asas!
Júlio Rezende
Ontem fui para o jardim e desenhei um anjo.
— Obrigado — disse-me ele quando me preparava para lhe desenhar as asas. — Está muito bonito. Mas não me desenhes essas asas. Sabes, aquelas em que estás a pensar agora, com as grandes penas brancas.
— Porque não?
— Essas incomodam um pouco. Estão
sempre a atrapalhar, a prenderem-se nos ramos, nos fios da
electricidade, e, como sou um tanto distraído, bato com elas em todo o
lado. Ah! E sujam-se imenso! Gostava de ter uma coisa nova. Pensa em
algo de diferente. Dá-me asas...
Desenhei-lhe
então asas de ondas de mar, depois, asas de erva e asas de vidro
reluzente. Tentei também com uma fita de luz, com um raio de sol, com
ramos em flor, com um turbilhão de neve e até com uma centelha de
alegria. Experimentei asas de algodão, asas de vento e até mesmo asas de
imaginação!
Desenhei-lhe asas de letras e asas de papel branco.
Observei-o atentamente e dei-lhe umas asas com sardas.
— Obrigado — disse o anjo quando acabou de experimentar todas as minhas asas. — Gostei muito de tudo o que me deste. Mas agora é a tua vez!
Fechei os olhos. De repente, senti que tudo estava a ficar leve. Tive a impressão de perder o meu corpo e de ficar só com os meus contornos.
— Desta vez vamos dar só um passeio pequenino — disse o anjo. — Para que em tua casa ninguém fique preocupado com a demora.
E voámos por três vezes em volta da velha nogueira do meu jardim.
Heinz Janisch
Schenk mir Flügel
St. Pölten, NP Buchverlag, 2003
(Tradução e adaptação)
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
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