terça-feira, 18 de junho de 2013

Dr MST, are you a clown?



Dr MST, leio, habitualmente, as suas crónicas no Expresso. A minha opinião em nada lhe poderá interessar, mas, mesmo assim, quero dizer-lhe que aprecio as suas crónicas e os seus comentários na televisão. Também li dois dos seus livros: Equador e No teu deserto. Gostei muito.

No que diz respeito aos professores, acho que você (desculpe não dizer DR, mas você utiliza muito esta forma de tratamento e se a usa é porque está correta) deve ter um problema muito mal resolvido. Claro que todos têm coisas mal resolvidas, mas quando digo “todos” refiro-me aos comuns mortais, coisa demasiado pequenina para quem tão grande ego tem.

Na crónica “Os novos tempos”, do Expresso de 15 de junho 2013, você elogia a sua professora primária, a D. Constança, e boas razões tem para tal:

“Éramos uns 80 alunos, da 1ª à 4ª classe, todos juntos na mesma e única sala de aula da escola”;

“A escola não tinha um vigilante, um porteiro, uma secretária administrativa. Ninguém mais do que a D. Constança…”

E não era preguiçosa nem mariquinhas:

“Se porventura adoecesse, ou se na aldeia houvesse, que não havia, um médico disposto a passar-lhe uma baixa psicológica ou outra qualquer quando não lhe apetecesse ir trabalhar, as 80 crianças da aldeia em idade escolar ficavam sem escola”.

Dr MST, não duvido das suas palavras, mas estariam realmente as 80 crianças na mesma sala? Ou então eram todas tão magrinhas, devido à miséria da época, que ocupavam pouco espaço. Não me diga que você tinha um lugar melhor, como acontecia nesse tempo! Se assim foi, então não vale!

Não duvido de nenhuma palavra sua, nem mesmo quando confundiu filatelia com filantropia, num dos comentários da SIC. Nem sei até se dessa vez os editores foram logo a correr mudar os dicionários, porque da sua boca e da sua mão só saem verdades.

Peço-lhe desculpa de voltar atrás, mas, se calhar, a história dos 80 alunos na mesma sala não foi bem assim. Quem sou eu para não acreditar, mas você, na mesma coluna do jornal também diz:  “não me lembro se tinha ou não casas de banho, mas sei que não tinha qualquer espécie de aquecimento contra o frio granítico, de Novembro a Março…”

Se não se lembra de umas coisas também pode esquecer ou confundir outras, não acha? Quanto ao frio, realmente não havia necessidade de aquecimento. Então, com 80 crianças todas juntas numa sala há lá frio que resista? A menos que os meninos faltassem à escola ou fossem trabalhar para os campos, como também era frequente.

Não sei se o Ministério vai até aproveitar a sua ideia e pôr 80 alunos por sala. A poupança será colossal. E se os professores disserem que não aguentam e as salas também não, você dirá do seu pedestal ou a conduzir o seu jeep rumo a exótico destino: “Ai aguentam, aguentam”! E você tem a prova: a D. Constança aguentou.

Mas confesso que sinto uma certa ternura pela D. Constança. E sabe porquê? Porque ainda há muitas donas constanças, no masculino e no feminino, que você não conhece, porque vai quando quer para o Deserto e nem se apercebe que há muitos oásis dos quais ninguém fala nem escreve.

Gostava de o ver com trinta e tal alunos (não digo 80 porque não sou vingativa como parece estar na moda) numa sala de aula. E olhe que eu sempre me dediquei aos meus alunos!

Sobre a greve aos exames, você recomenda aos professores: “… tenham pudor”. E como explica sempre tudo muito bem, cumpre a regra de juntar exemplos aos argumentos: “um cirurgião não resolve entrar em greve quando recebe um doente já anestesiado”…

Mais uma vez, você confundiu ou então estava com pressa e nervoso por não poder fumar um cigarro e comparou alhos com bugalhos para despachar. Tenha pudor, digo eu. Não tome a árvore pela floresta, nem um pedaço de areia por todo o deserto.

      Quando assim é, você parece um clown, a sad clown.




Casa-Museu Aquilino Ribeiro


A Casa-Museu fica em Soutosa, Moimenta da Beira e mostra uma grande parte do espólio deixado por Aquilino Ribeiro, um Homem Resistente.
Este verão, vou tentar ler, pelo menos, O Malhadinhas e o Romance da Raposa.

Maravilhas de "Terras do Demo"

Igreja de Ariz

domingo, 16 de junho de 2013

O cuidador das flores



Toda a gente que passava pela aldeia de Ariz parava junto a uma casa que se destacava pela profusão de flores. Quase sempre eram forasteiros que vinham em visita às “Terras do Demo”, tão presentes nos livros de Aquilino Ribeiro.

Todos os dias, o dono da casa florida passava umas boas horas no café vizinho, depois do almoço. Em dias de sol, sentava-se a uma das mesas exteriores e convidava sempre alguém a sentar-se numa das cadeiras que estava livre. Era uma maneira de falar e de ouvir os outros.

Quem chegava ia comentando a beleza da casa cheia de flores a escorrerem das varandas, a elevarem-se dos canteiros. Olha que rosas bonitas e perfumadas. E as sardinheiras tão coloridas! Quem morará aqui?

O dono da casa ouvia muitas vezes conversas semelhantes, mesmo junto de si, porque não o conheciam. Às vezes, apetecia-lhe dizer que era ele o dono da casa, que vivia sozinho e das flores era só ele que tratava. E se isso acontecia, também dizia que tinha a casa sempre limpa e arrumada. 
Tudo estava no lugar como acontecia antes da morte da mulher. E desabafava: pois, como estou sozinho e reformado, tenho tempo. E gosto, se gosto, de cuidar das flores. Rego-as todos os dias. Vejo-as nascer, viver, morrer e muitas vezes são o meu relógio e o meu calendário. Se não as tivesse, então é que me sentia só. Nem quero pensar. 
Quando as pessoas se despediam, desejava-lhes boa viagem. E, mesmo sem olhar, sentia que as flores também estavam contentes. Mas só ele entenderia.

(Obrigada, Etelvina e Vítor, pela fotografia!)



Porque...



 Emerenciano
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não. 


Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner

Felizmente (ainda) há flores


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Je ferai des miracles


On m’a déjà posé la question cent fois
Toi plus tard tu veux faire quoi ?
Je réponds plombier, pilote, pompier
Parce que je ne le sais pas en vrai
Mais aujourd’hui par ce beau matin
Je suis ce qui me plairait enfin
 

Chaque jour à l’heure de mon réveil
Je veux faire lever le soleil
Agiter les vagues de la mer
Et écouter leur beau concert
 

Je veux guérir tous les malades
Avec un verre de limonade
Et faire revivre tous les morts
Pour qu’ils fassent encore du sport
 

J’essaierai de pardonner
À tous les méchants qui m’ont fâché
Je ferai bien travailler la police
Pour qu’il n’y ait plus jamais d’injustice
 

Je veux arrêter les guerres
Et la pluie des pierres
Je veux faire la paix
Et ceux qui sont contre au piquet
Les rapporteurs seront punis
Je les mettrai au cagibi


Je voudrais bien sûr faire des miracles
Être le magicien du plus grand spectacle
 

Je voudrais connaître tous les secrets
Et empêcher tous les regrets
 

Je mettrai au four un gigantesque pain
Pour en donner à tous ceux qui ont faim
 

Je coudrai de fabuleuses tenues
Pour les pauvres enfants qui sont tout nus
 

J’éteindrai la colère et les feux
J’arrêterai les déluges là où ils ont lieu
J’allongerai les journées et même la vie
J’effacerai les malheurs et les soucis


Je remplirai le monde de sagesse

Je tiendrai toutes mes promesses

Mais je suppose, il me semble… c’est-à-dire…

Ce serait bien d’abord que j’apprenne à lire.

Susie Morgenstern ; Jiang Hong Chen
Je ferai des miracles
Paris, Éd. de La Martinière, 2006
(Adaptation)

fc@histoiresafairerever.com