Dr MST, leio, habitualmente, as suas crónicas no Expresso.
A minha opinião em nada lhe poderá interessar, mas, mesmo assim, quero dizer-lhe que aprecio as suas crónicas e os seus comentários na televisão. Também li dois dos seus
livros: Equador e No teu deserto. Gostei muito.
No que diz respeito aos professores,
acho que você (desculpe não dizer DR, mas você utiliza muito esta forma de tratamento e se a usa é porque está correta) deve ter um problema muito mal resolvido. Claro que todos têm
coisas mal resolvidas, mas quando digo “todos” refiro-me aos comuns mortais,
coisa demasiado pequenina para quem tão grande ego tem.
Na crónica “Os novos tempos”, do Expresso de 15 de
junho 2013, você elogia a sua professora primária, a D. Constança, e boas
razões tem para tal:
“Éramos uns 80 alunos, da 1ª à 4ª classe, todos
juntos na mesma e única sala de aula da escola”;
“A escola não tinha um vigilante, um porteiro, uma
secretária administrativa. Ninguém mais do que a D. Constança…”
E não era preguiçosa nem mariquinhas:
“Se porventura adoecesse, ou se na aldeia houvesse,
que não havia, um médico disposto a passar-lhe uma baixa psicológica ou outra
qualquer quando não lhe apetecesse ir trabalhar, as 80 crianças da aldeia em
idade escolar ficavam sem escola”.
Dr MST, não duvido das suas palavras, mas estariam
realmente as 80 crianças na mesma sala? Ou então eram todas tão magrinhas,
devido à miséria da época, que ocupavam pouco espaço. Não me diga que você
tinha um lugar melhor, como acontecia nesse tempo! Se assim foi, então não vale!
Não duvido de nenhuma palavra sua, nem mesmo quando
confundiu filatelia com filantropia, num dos comentários da SIC. Nem sei até se dessa vez os editores foram logo a
correr mudar os dicionários, porque da sua boca e da sua mão só saem verdades.
Peço-lhe desculpa de voltar atrás, mas, se calhar, a
história dos 80 alunos na mesma sala não foi bem assim. Quem sou eu para não
acreditar, mas você, na mesma coluna do jornal também diz: “não me lembro se tinha ou não casas de banho,
mas sei que não tinha qualquer espécie de aquecimento contra o frio granítico,
de Novembro a Março…”
Se não se lembra de umas coisas também pode
esquecer ou confundir outras, não acha? Quanto ao frio, realmente não havia
necessidade de aquecimento. Então, com 80 crianças todas juntas numa sala há
lá frio que resista? A menos que os meninos faltassem à escola ou fossem trabalhar para os campos, como também era frequente.
Não sei se o Ministério vai até aproveitar a sua
ideia e pôr 80 alunos por sala. A poupança será colossal. E se os professores
disserem que não aguentam e as salas também não, você dirá do seu
pedestal ou a conduzir o seu jeep rumo a exótico destino: “Ai aguentam,
aguentam”! E você tem a prova: a D. Constança aguentou.
Mas confesso que sinto uma certa ternura pela D.
Constança. E sabe porquê? Porque ainda há muitas donas constanças, no masculino e no feminino, que você não conhece, porque vai quando quer para o Deserto e nem se apercebe que há muitos
oásis dos quais ninguém fala nem escreve.
Gostava de o ver com trinta e tal alunos (não digo 80 porque não sou vingativa como parece estar na moda) numa sala
de aula. E olhe que eu sempre me dediquei aos meus alunos!
Sobre a greve aos exames, você recomenda aos
professores: “… tenham pudor”. E como explica sempre tudo muito bem, cumpre a regra de juntar exemplos aos argumentos: “um cirurgião não resolve entrar em
greve quando recebe um doente já anestesiado”…
Mais uma vez, você confundiu ou então estava com
pressa e nervoso por não poder fumar um cigarro e comparou alhos com bugalhos
para despachar. Tenha pudor, digo eu. Não tome a árvore pela floresta, nem um pedaço de
areia por todo o deserto.
Quando assim é, você parece um clown, a sad
clown.