Ainda não eram nove horas da manhã quando saí de casa para ir votar.
Como são também as festas do concelho, haveria muito mais gente e o estacionamento muito mais reduzido. Era um bom motivo para ir a pé. Menos de trinta minutos para ir e outros tantos para regressar.
Pelo caminho, olhei para os campos com os diferentes tons de verde das hortaliças e da erva, reparei nas banquinhas já prontas com as tigelas e garrafas de vinho doce. Faltava o essencial: os clientes e a sopa de nabos.
Mais à frente, as barracas cheias de doces (de amor, da Teixeira, etc), de nozes, de castanhas, de nabos, de vinho doce, de farturas... E também de brinquedos a darem corda até à infância em que tudo era diferente, mas nem sempre melhor.
E os carrosséis e diversões para todas as idades e ousadias também já se faziam ouvir.
Cheguei à assembleia de voto, depois de consultar o quadro com os números e respetivas mesas. Fui para a mesa 2 e a fila estava bastante comprida.
Enquanto esperava, ia olhando à minha volta. Na mesa ao lado, o presidente pedia um pouco mais de silêncio e dizia que não era o sítio para se conversar tão alto. Um munícipe pedia um novo boletim porque, sem querer, o tinha rasgado. Dizia-o perante o ar incrédulo do responsável pela urna. Outro munícipe à minha frente comentava que tal não aconteceria se fosse uma nota de cinco euros.
Chegou a minha vez. O presidente da mesa recomendou-me para, depois de votar, dobrar os três boletins separadamente, enquanto lambia a ponta do dedo para os agarrar melhor antes de mos entregar.
Dirigi-me ao espaço para o efeito e pus a cruzinha, com a caneta presa por um fio do norte, na quadrícula desejada no desejo de ver a autarquia a evoluir cada vez mais.
Ao dirigir-me à porta de saída, vi que as filas tinham aumentado, o que é um bom sinal de democracia, vontade de participar e crença na importância do gesto de cada um.
Talvez por ser cedo, a grande maioria dos votantes eram pessoas de uma certa idade. Os mais novos ainda estariam a dormir.
Ou a correr, ou a praticar desporto, ou com amigos, etc.
Oxalá não deixem de ir.
E oxalá alguém tenha, por exemplo, um dedal de plástico para os presidentes das mesas não terem de lamber o dedo para agarrar melhor os boletins e entregá-los aos munícipes.
Estes pequenos gestos também podem melhorar a festa dos concelhos.