sábado, 30 de outubro de 2021

Três dias no 818

 

Ir passar três dias fora descansava-lhe a mente. E seria completamente diferente desta vez.  Provavelmente não sairia do hotel. Chegara até ali não para visitar a cidade, mas para ser babysitter do seu menino mais pequenino.

Quando chegaram, souberam o número do quarto: 818. 

Era grande, com vista, ao longe, para uma infinitude de automóveis em movimento em estradas e redondas encruzilhadas, para um mar de bairros e para um casario imenso de todos os tamanhos e alturas, porque Braga é uma cidade em grande expansão. Felizmente via-se muito, mas não se ouvia quase nada.

Depois de comer, o bebé adormeceu. Ela fechou um pouco mais a cortina e ficou a olhá-lo. Dormiria, com certeza, um  soninho tranquilo até a mamã voltar.

Ela ia-se apercebendo do evoluir da tarde pela cor do céu que se ia carregando.

Pegou no telemóvel e esboçou um post. Viria a apagá-lo no dia seguinte. Era lamechas para o seu gosto. Acontecia-lhe muito. Começava a escrever e as palavras escorriam com fartura. No dia seguinte, era mais o que modificava ou apagava do que o que aproveitava. E ainda bem, pensava. Salvo as devidas distâncias, se Marcelo não agisse enquanto pensa, às vezes seria bem melhor.

E assim passaram três dias. Diferentes e bons. À volta de fraldas, papinhas, brinquedos e sorrisos e mimos. 

Quando a filha chegava, feliz, podiam conversar e fazer o ponto de situação. Mãe, para ti é seca? Sei que gostas de ter o teu tempo. Claro que não, respondia ela, com sinceridade. Gostava de ser útil e podia estar todo o tempo com o seu menino.

E um dia, quando vieram almoçar, o átrio do hotel estava cheio de luz e ainda sem ninguém. Ela pensou que podia ser cenário para uma história, mas não sabia se iria concretizar. Talvez por incapacidade imaginativa, preferia as histórias vividas ou conhecidas.

O que sabia era que estava a gostar daqueles três dias num hotel, a maior parte do tempo passado no quarto. Daí três dias no 818.


 

10 comentários:

  1. É interessante Maria Dolores o que faz a gente sentir-se bem. Às vezes com pequenas coisas, direi mesmo insignificantes, pequenos gestos, alguns momentos... como este de a ler e lhe comentar.

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    1. Que bom, Joaquim. Fico muito contente. Eu chego à conclusão que falo quase sempre de pequenas coisas, mas que me dão prazer, lá isso dão.
      Obrigada e bom sábado.

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  2. Nunca experimentei escrever um post por telemóvel, prefiro a largueza do portátil. Mas, seja o que for, é vulgar apagar bastante no que escrevi de véspera ao correr da pena (se acaso não publico de imediato que é o que sucede quase sempre).
    Não tenho assim um menino de fraldas a entreter-me as horas. Mas, com um dos meus meninos grandes mantenho simbiose que ambos preservamos. Rodeia-me das pequenas atenções do amor e é o que importa. Ali, sinto-me em férias, aquele tempo de diferença é o meu 818.
    A Maria aprecia esse cuidar de sossego e nem dá pelas horas, julgo que por serem apenas uns dias. As crianças suscitam inesgotáveis fontes de ternura. Enjoy.

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    1. Eu também prefiro a largueza do computador. Até para estacionar gosto de largueza, apesar de o meu carro não ser grande. Mas quando não há computador, é como diz o ditado, quando não há cão, caça-se com gato!!!
      Imagino como será boa essa simbiose, Bea. De uma maneira ou de outra, todos (agora tenho de acrescentar e todas) deveriam ter direito a um tempo de vez em quando em modo de 818 com troca de mimos. É que passa tudo tão depressa. Fique, pelo menos, a imensa e tão próxima ternura.
      Enjoy too

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  3. Estórias de vida quem as não tem?.
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    Votos de um bom fim de semana.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  4. E há tantas e tão boas, ainda que simples!
    Obrigada, Ricardo, e bom fim de semana também

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  5. Boa tarde
    O que por vezes nos parecem pequenas insignificancias, acabavam por fazer uma grande diferença

    JR

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    1. Obrigada, Joaquim, também acho, embora não queira dizer que seja o caso.
      Bom domingo

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  6. É sem dúvida uma história de vida bem contada! Bj e eu há muito que não uso o PC!!!

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    1. Obrigada, Gracinha. Coisa simples, mas importante para quem a vive.
      Quanto ao PC, já não digo a mesma coisa. Preciso da 'largueza do écran', como diz a Bea.
      Beijinho

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