Há uns anos, em dias de mais cansaço, pensava na reforma e, em conversas de intervalo para café, comunicava-o às vezes a colegas. Eram minutos em que, embora um bocadinho a correr, se falava das nossas vidas como gostos e desejos, estados da saúde (sem muitos pormenores, senão lá ia o intervalo todo), idas aqui ou ali, coisas de etc.
Num dia em que falei do assunto, uma colega, de quem sou amiga, disse-me: 'enquanto puderes, não te reformes. Dizem logo que temos todo o tempo do mundo e pedem-nos tudo e mais alguma coisa'.
Apesar de já ter passado bastante tempo, lembro-me bem da conversa e, em muitos casos, sei que é assim, mas não devia ser, na minha opinião. Quem se reforma, depois de longos anos de trabalho, tem toda a legitimidade de ter tempo para se dedicar a coisas que lhe dão prazer, como passear, ler, ir ao cinema, jardinar, aprender outras coisas, dedicar-se a outras causas, etc. sem nunca ouvir: 'podes porque não tens nada para fazer'.
Isto faz-me lembrar uma peripécia contada por uma das minhas tias, que sempre viveram numa casa de lavoura: um dia, um homem que lá trabalhava estava na hora do descanso, a seguir ao almoço, já depois de ter trabalhado longas horas. Um outro homem, que descarregava um carro de bois, voltou-se para ele e disse-lhe: enquanto descansas, anda-me ajudar!
Ora, não ponho em dúvida a ajuda a família, o que, para mim, é inquestionável. E às vezes a gestão não é fácil porque muitos de nós, que já não estão no ativo, temos filhos, netos e pais. Daí chamarem-nos a geração sanduíche.
Se às vezes é difícil gerir tudo, também é um privilégio sentir que ajudamos e aliviamos um bocadinho aqueles que amamos. Gosto muito de o fazer, mas também gosto muito de ter algum tempo por minha conta. E tenho-o, felizmente. Oxalá todos e todas pudessem dizer a mesma coisa. Com alegria e sem culpabilidade.
Bom dia
ResponderEliminarEntrei na pré reforma há poucos meses, porque depois de ter estado com baixa médica durante alguns meses, quando voltei ao trabalho,o meu posto estava já ocupado, pois era um trabalho que exige diálogo com as pessoas quase todo o dia. Ora como eu vi que a pessoa que me substitui estava a fazer um bom trabalho,e precisava do mesmo resolvi entrar em acordo com a entidade patronal e pedir a reforma.
Quero com isto dizer que tenho mais tempo livre para fazer algumas coisas que não tinha oportunidade enquanto trabalhava .
É verdade que por vezes sinto a falta da convivência com as pessoas, pois adoro essa forma de viver, mas em contrapartida posso realizar algo que me faça mais feliz e que não podia.
Também acho que devemos disfrutar da reforma enquanto pudermos, pois foi para isso que ela foi implantada.
Bom dia minha querida amiga. Espero que você tome a melhor decisão e que traga muita paz ao seu coração. Um excelente sábado.
ResponderEliminarO que essa minha amiga me disse já foi há uns anos. Agora já não estou no ativo. Felizmente sinto essa paz, embora haja dias e dias, tal como acontece quando se trabalha fora.
EliminarUm grande abraço, Luiz
Parece então satisfeito com a oportunidade que acabou por dar ao seu colega. E, nestas coisas, às vezes custa reconhecer as capacidades.
ResponderEliminarPois, Joaquim, no ativo ou não, há sempre faltas. E quando se está reformado, às vezes pesa a falta de contacto humano, mas se faz coisas que o satisfazem, também deve superar essa lacuna, com certeza. Oxalá que sim.
Bom fim de semana com as cores bonitas de outono.
O activo perecendo que não dá outra vitalidade às pessoas. A Não ser que o aposento seja muito bem vivido e aproveitado!
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Traçando os caminhos sombrios
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Beijos, e excelente fim de semana.
Um domingo feliz e com vitalidade, Cidália.
EliminarUm beijinho
Eu não tive tempo para saber se me ia arrepender de me reformar com 53 de idade e 35 anos de professora de 1.o ciclo pois fui cuidar da minha mãe que tinha caído e partido o fémur, troquei o Porto pela minha aldeia natal e passei a ser cuidadora e mulher do campo descobrindo a magia da vida na aldeia!
ResponderEliminarForam 11 anos! Agora regressei ao Porto e ao encontrar ex_alunos, volto a recordar que leccionei nesta bela cidade!
A nossa vida é incrível 💞... Bj
Bom dia, Gracinha
ResponderEliminarTenho várias amigas que deixaram de dar aulas com essa idade. Agora é quase impensável a reforma tão cedo.
Sim, a vida dá muita volta e os nossos cuidados são muito necessários, embora às vezes também precisemos deles.
Também gosto de reencontrar ex-alunos e que nos reconheçamos ainda.
Um beijinho e um dia bom no nosso Porto - hoje bastante cinzento.
Julgo que a reforma seja um tempo necessário à maioria das pessoas. Mas também conheço quem não queira reformar-se e acredito que esses poucos devem continuar enquanto considerem ser úteis e estejam na posse das suas faculdades, sobretudo as que a profissão exige. Por outro lado, há quem se reforme para fazer outras coisas e trabalhe tanto ou mais na reforma do que quando estava no activo. Na vida é preciso cortar caminhos e inflectir em sentidos que mais se enquadrem na idade que temos. A reforma é também isso. O fim de um tempo e o início de outro. Supostamente mais sereno e vagaroso.
ResponderEliminarMas, para a maioria das pessoas, embora seja descanso profissional merecido, fica a memória do tempo que foi e, levados pela voragem, perdem-se muitos contactos. Ganha-se em livros lidos, filmes, séries, cuidados familiares e actividades antes impensáveis. Tudo tem prós e contras e não se luta contra o tempo e seus efeitos práticos. Seria -é - inglória luta.
Bom domingo, Maria.
Também acho, Bea, que, tal como em muitas áreas da vida, a reforma não implica só regras pré-definidas. Depende do trabalho que se tem. Conheço pessoas que continuam a trabalhar porque sentem-se capazes, são úteis e não tiram o lugar a ninguém porque a área de atividade não implica limite de idade. O meu avô, que era ourives, teve um grande desgosto quando foi aconselhado a parar aos oitenta e tal anos. Lembro-me de o ver chorar.
ResponderEliminarE, quando não se tem tantos horários a cumprir, há atividades de lazer e cultura que podem preencher e alegrar muitas horas dos dias. Como seria bom que todos tivessem acesso a eles.
Um bom domingo, Bea, bem preenchido e também descansado.