segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Uma aldeia natalícia

 


Chama-se Quintandona, fica no concelho de Penafiel, distrito do Porto, e vale a pena visitar.
Em família, foi o que fizemos ontem, em tarde cheia de sol, ainda que um pouca fria.
A aldeia tem sido restaurada e encontram-se, aqui e ali, muitos elementos decorativos, feitos pelos habitantes, e aproveitando produtos naturais, como troncos de árvore, cabaças, pinhas, etc.
Numa loja, ampla e moderna, a que chamam Feirinha, vendem mel, compotas, chás, casinhas e presépios de xisto, etc. Não resisti.
Tive pena de estarem esgotadas as tigelinhas de barro onde servem café da púcara ou as tigelas maiores onde se come o caldo da aldeia, feito em panela de ferro. No meio de um terreiro, as chamas iam cozinhando a sopa e aconchegando os visitantes, mesmo ao lado de um restaurante, que também tem dinamizado muito a aldeia.
Ah, e há pelo menos um trilho para caminhadas, através da floresta bem próxima. Não tive coragem para tal, mas fiquei a saborear o momento e a olhar as laranjeiras, as árvores já despidas de inverno, as casas e muros reconstruídos, os arranjos manuais a embelezar a aldeia natalícia que soube bem visitar, em vésperas de Ano Novo. 
Talvez muitas aldeias também o façam. Oxalá haja apoios para tal e pessoas que as visitem. E que comprem alguns dos produtos da aldeia. E olhem e sorriam para quem lá mora, não como seres decorativos, mas como pessoas que vivem dando vida à terra onde vivem. E se há criatividade, como acontece em Quintandona, ainda melhor.














sábado, 28 de dezembro de 2024

O elogio mora ao lado?

Não sei se é perceção (palavra usadíssima nos últimos meses) minha, mas acho que muitos rostos traduzem a falta de elogios. E outros o contrário: o sorriso mais seguro de quem nasceu e viveu com muitos elogios e poucas críticas.

De uma maneira geral, elogiamos pouco, diria eu, e criticamos muito. E há quem elogie muito fora de casa e se esqueça de o fazer dentro de portas. Às vezes, ouve-se que não é preciso, mas, sim, é cada vez mais necessário. Em todas as idades. Quem não precisa de uma palavra ou olhar de reconhecimento? Se a comida está boa, porque não dizê-lo? Se se está feliz pela presença de alguém mais próximo, porque não demonstrá-lo? Se o que foi feito é útil, porque não parar um bocadinho e ver com mais atenção?

Quase todos conhecemos pessoas que sorriem mais às pessoas de fora, elogiando aspetos que parecem invisíveis dentro de casa. Como o ano velhinho está quase a despedir-se e o novo está a chegar, poderá ser um motivo para alterar algumas práticas. Nem que seja devagarinho para não parecer nem ser forçado ou postiço. Se assim fosse, seria pior a emenda do que o soneto. Às vezes, basta não criticar tanto tantas pequenas coisas.

Em tempo de tantas perceções, também as tenho, é claro: muitas pessoas precisam de sorrir mais e de sentir que o que dizem e fazem também é importante. Um elogio dado e recebido pode ser meio caminho andado.

FELIZ ANO NOVO!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O que dizer a poucos dias do Ano Novo?

 

Todos dizemos, ou ouvimos dizer, nos finais de dezembro: Boas entradas, Entra com o pé direito, Bom Ano Novo, Que vá embora o ano velho e venha o ano novo… E muitas outras expressões que desconheço ou das quais não me lembro.

E há quase sempre uma esperança no ar quando se contam as uvas passas ou se levanta a taça de champanhe ao Novo Ano.

Não sou muito de festejar o que pode acontecer, a mais ou menos longo prazo, sobretudo se as perspectivas políticas que condicionam o mundo são más ou muito más. A tomada de poder de Trump e a manutenção de Putin no poder, por si só, não auguram nada de bom. A não ser para eles próprios.

O que vale é que existe ‘a beleza das pequenas coisas’ que nos agarra à vida e nos traz alegrias. Que, pelo menos essas, não nos abandonem para que nos olhemos e olhemos os outros, com um sorriso, desejando, com alegre convicção: Bom Ano Novo, por estas ou outras palavras!


quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Já passou o Natal?

Muito se pensa, muito se faz, muito se diz, muito se escreve para um ou dois dias do Natal. É bom que assim seja, porque também é bom que haja marcos na nossa vida para nos lembrarmos mais dos outros, mostrando que são muito importantes para nós. Contudo, há alguns exageros (quem pode, é claro!) no que se come, no que se bebe, na quantidade de brinquedos que muitas crianças recebem. Mas também gosto de dar e de ver os olhinhos a brilhar de quem recebe, ainda que seja só por instantes. E gosto também de ver mesas bonitas de Natal, ainda que simples. E pratos natalícios com doces mimos da época. E que nos fazem lembrar outros natais e outras pessoas que fazem parte de nós. E de outros mimos: não há aletria como a da minha mãe!

Conheço pessoas que passaram o Natal sozinhas e, de forma calma e sorridente, não aceitaram o convite para se sentarem a outras mesas. Há quem diga que é um dia como os outros. Pessoas há também que gostavam de ser convidadas, mas não tiveram essa alegria. E muitos não o celebram, porque a sua religião impõe outras datas e comemorações.

Gosto do Natal, mas não das pressões e freimas (esta palavra é muito utilizada na zona onde nasci e vivo). Nem das correrias. Nem das enchentes em centros comerciais. Que me desculpem os lojistas que precisam de ganhar dinheiro e de pagar contas e ordenados, mas não fui a nenhuma loja para presentes de Natal. Fiz alguns presentes; comprei umas peças de artesanato a quem as faz com arte, amor e carinho; fiz pedidos de livros pela net, o que também  ajuda na economia. Grão a grão…

E ontem, Dia de Natal, foi um dia que lembrava um pouco o tempo da pandemia. Tudo o que era loja, café, supermercado ou grande superfície estava fechado. Era o descanso merecido, a pausa necessária depois de dias tão trabalhosos. Contraste para juntar a tantos outros da época natalícia.

Com um abraço, desejo a todos Muito Boas Festas!


P.S. Enquanto tomávamos o pequeno almoço, li este post, antes de o publicar. Uma das minhas filhas disse: Gosto, mas acho bastante didático. 

Desculpem, se pensam o mesmo, mas não era essa a minha intenção!

Porém, reforço  o desejo de Muito Boas Festas! E acrescento: Uma boa quinta-feira!


sábado, 21 de dezembro de 2024

Porque em breve será Natal!

Se não lesse, treslia

Apesar de ter tido uma infância e juventude em que nem um tostão era esbanjado, sempre convivi com livros e jornais. Todos os dias, chegava à nossa casa O primeiro de Janeiro; na Feira do Livro do Porto, o meu pai comprava romances de Camilo Castelo Branco e de outros autores  clássicos. Para nós, filhos, trazia quase sempre livros de histórias, em que a raposa e o lobo eram os protagonistas. Como tínhamos bastantes livros em casa, eu e a minha irmã liamos alguns e também alguns às escondidas - aventura ‘picante’ que qualquer jovem agora estranha ou desconhece. Íamos à estante e tirávamos um desses livros, quando podíamos, como O crime do Padre Amaro de Eça de Queirós, A Curva da Estrada de Ferreira de Castro, etc. Este ano, junto da árvore de Natal, tenho livros para os meus netos. Eles gostam de livros, felizmente. E fico contente porque, se não lesse, eu treslia, apesar de a vida ter outras necessárias belezas.


Os caracóis do Menino Jesus

Ainda hoje, acho que foi verdade. Há muitos, muitos anos, depois da ceia de Natal, pusemos o sapatinho - julgo que, no meu caso, foi uma bota do par comprado naquele inverno e para durar toda a estação. Estava na hora de ir dormir e, de manhã cedinho,  viríamos a correr à cozinha ver o presente que o Menino Jesus nos tinha trazido. Mesmo com a alegre e infantil ansiedade, veio o sono enfeitadinho de sonhos que me chamaram à cozinha ainda a manhã não tinha acordado. E lá estava ele, o menino Jesus, de cabelinho aos caracóis, a pôr o presente na botinha: um molhinho de chocolates pequeninos, atado por uma fitinha, e um guarda-chuvinha também de chocolate. Já não me lembro das cores, mas do Menino Jesus e dos seus caracóis, sim. Hoje, passados tantos e tantos Natais, ainda acho que foi verdade!

FELIZ NATAL!


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O mistério e a chaminé


Esta pequena história foi igualmente publicada na coletânea Lugares e Palavras do Natal, 
Editora Lugar da Palavra.

Para a escrever, inspirei-me no meu neto que, desde o Natal passado, espreita, de vez em quando, para dentro da chaminé.


 Era quase Natal e Pedrinho, entusiasmado, via vezes sem conta o Pai Natal. Encontrava-o na escolinha, nas ruas, nas lojas… e sempre diferente. Às vezes, era gordo; outras, magrinho; outras, assim-assim, mas sempre com barbas brancas, óculos pequeninos e ar sorridente.

Um dia, numa festinha, onde estava com os pais, ouviu alguém dizer que o Pai Natal não traz presentes para todos os meninos. Ficou pensativo e perguntou porquê, mas a pessoa mudou logo de assunto.

Mistério! - Pensou Pedrinho, que tinha aprendido essa palavra há pouco tempo. E logo perguntou à mãe se era verdade que nem todos os meninos recebem prendas do Pai Natal, mas a mãe pediu-lhe silêncio porque um grupo ia tocar violino.

Quando terminou o momento musical, saíram apressados para a casa da avó, onde toda a família ia passar o Natal.

- E a Clarinha também vem? - Perguntou o menino.

- Sim, claro, e podes brincar mais tempo com ela.

Pedrinho ficou muito feliz com a vinda da prima, que morava num país distante, e pensou que podia então pôr-lhe aquela pergunta, porque ela era mais velha, sabia muitas coisas e tinha mais tempo que os adultos.

Ao chegarem à sala da casa da avó, aproveitou para lembrar à mãe o carro de bombeiros que tinha pedido ao Pai Natal.

- Vamos ver, disse a mãe, se o Pai Natal e o presente cabem na chaminé.

Uns dias antes do Natal, chegou a Clarinha, que tinha escrito uma carta ao Pai Natal, sem esquecer de lhe agradecer o presente que esperava.

Nessa tarde, enquanto brincavam, Clarinha contou ao primo que gostava de ter pedido ao Pai Natal presentes para todos os meninos, mas o papel da carta não chegava para escrever tudo. Foi então que Pedrinho se lembrou da pergunta que tinha ficado sem resposta. E Clarinha disse com os olhinhos azuis a brilhar:

- Vamos então escrever outra carta ao Pai Natal para lhe pedir presentes para todos as crianças, porque eu também já sei que muitas não recebem nada. Eu escrevo e tu fazes os desenhos.

À noite, na véspera de Natal, Pedrinho e Clarinha puseram um banquinho para o Pai Natal descansar quando descesse da chaminé - que estava limpa e apagadinha. Numa mesa pequena mesmo ao lado, ficou um pratinho com bolachas, uma cenoura e um copo de leite.  Ah! E a carta de ambos, com letra redondinha e desenhos bonitos.

Ao acordar, os dois meninos, ainda em pijama, foram a correr ver os presentes e ficaram muito contentes. Para mais, o Pai Natal tinha levado a carta e comido o lanchinho, para recuperar forças.

E, para surpresa da Clarinha, a primeira coisa que Pedrinho fez foi pôr a sua cabecinha ruiva dentro da chaminé - que estava limpa e apagada, como já vos disse - vendo-o a olhar para cima até onde podia, com ar misterioso. Sorriu-lhe como menina mais velha e compreensiva de mistérios que também sentia.

A partir desse dia, quando  Pedrinho estava a brincar junto da lareira da avó, espreitava de vez em quando, sempre curioso. E pensava:  Mistério! Tanto mistério!

 

domingo, 15 de dezembro de 2024

Viagem até ao Natal



Esta história, quase toda real, foi publicada, este ano, 
no livro Lugares e Palavras de Natal, Editora Lugar da Palavra


Dezembro estava a correr, tal como novembro e outubro haviam corrido. Com vários outonos a interligar-se, surgiu uma viagem inesperada, a fazer o mais recatadamente possível, com duração prevista de três meses. Apesar de longa, aceitou-a de bom grado e foi dando os passos necessários para que os percursos fossem amenos, para ela e para quem com ela viajava.

Nos anos anteriores, e antes que chegasse dezembro, já costumava ter prontos os presentes para a família (mesmo havendo o divertido ‘amigo secreto’) e para amigos.  Há muito que deixara de gostar de ir às lojas em alturas do Natal. Se lá entrasse várias semanas antes das Festas, nem saberia o que escolher pela profusão de coisas nas prateleiras; se fosse quase nas vésperas, o frenesim de pessoas a vasculhar o que restava tirava-lhe a motivação. Fazendo ela própria os presentes, podia também ir ao encontro de quem os iria receber.

Contudo, neste Natal, tudo seria diferente pela viagem em curso. No entanto, as ideias para os presentes continuavam-lhe na cabeça, mas, feito, visto e palpável, permanecia apenas o início de uns trabalhos em tecido e em crochet, na cestinha, que se mantinha sossegada e onde se misturavam os novelos, as agulhas, a tesoura… Ah, e também lá estava o livro que andava a ler. Até a leitura não tinha avançado, como bem mostrava o marcador que parecia colado às mesmas páginas. E tal não acontecia por falta de tempo, mas por serem cansativos bastantes dias da viagem.

E pensava como eram bons os Natais na velha casa de A-Ver-O-Rio em que a família sempre se reunia. Como todos juntos eram numerosos, as panelas para a ceia tinham de ser grandes. Para a canja, para as batatas, para o bacalhau, para as hortaliças, para o molho de Natal - prevendo-se sempre o saboroso farrapo velho do dia seguinte.

Numa mesa ao canto da sala, as sobremesas exalavam o perfume consolador e natalício da canela, vindo de iguarias que cada um ia trazendo: rabanadas, aletria, bolinhos de abóbora, bolo-rei…

Mas era na cozinha que reinava a peça capital: o fogão a lenha, que o patriarca da casa antigamente mandou instalar para aquecer a alma e o coração da amada matriarca, cujos gostos gostava de satisfazer.

Como o fogão era aceso quase só pelo Natal, às vezes, parecia adormecido por alguma inabilidade ou falta de lenha ou por esta ter sido guardada ainda húmida; noutras ocasiões, parecia um dragão ardentemente enfurecido, fazendo saltar água a ferver pela boca das panelas…  Eram momentos de algum embaraço e aflição, mas que passavam a peripécia contada com graça, quando já estavam todos sentados para a ceia e as travessas a fumegar sobre a mesa farta, alegre e ruidosa. E ainda mais pela festiva vozearia das crianças, ansiosas pela brincadeira e pela abertura das prendas.

Fazia-lhe falta o Natal em família, apesar da trabalheira desses dias. Vivê-lo-ia, este ano, à distância daquele espaço familiar bonançoso, mas fechado por causa do frio, do vento e da chuva. Estaria próxima só em pensamento, porque não poderia interromper a viagem até ao desejado bom porto, que esperava encontrar logo a seguir ao Natal, para, em 2025, poder estar de novo à volta do fogão de lenha e à mesa com toda a família.

E, até lá, revigorada e com tempo, concluiria os presentes que tinha apenas começado. E terminaria a leitura do livro. E leria mais. E escreveria mais. E sorriria mais. E viveria mais.

Olhou o relógio. Estava na hora. Tomou banho, lavou o cabelo - que continuava forte, mas que se tornara mais fino - hidratou bem o corpo, vestiu o seu vestido preferido, pôs os brincos com a pedra a condizer, usou o perfume de que mais gostava, bebeu um copo de água, viu-se ao espelho e sorriu à imagem que via.

Estava próximo o final previsto da viagem, iniciada três meses antes. E saiu, com alegre e firme esperança, para o seu último tratamento.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Solarengo ou soalheiro? Eis a questão.


É muito frequente ouvir-se que o dia está solarengo. Apesar de sol estar na palavra, também lá está solar e que lhe dá o significado.

Portanto, a palavra solarengo diz respeito a solar ou casa senhorial. Por exemplo: 

A casa deve ser muito cara pelo seu aspeto luxuoso e solarengo.

No Douro, não faltam casas antigas e solarengas.

Ora, se falamos do sol, a palavra é outra: soalheiro. Por exemplo:

O dia de hoje não deve ser soalheiro como os anteriores: prevê-se chuva.

Gosto dos dias soalheiros de outono, sobretudo da luz do sol ao fim da tarde.


Aproveitemos, então, os dias soalheiros desta época natalícia e que o sol nos  ilumine a todos, dentro e fora das nossas casas.

Há pessoas com dinheiro que passam o Natal em belas casas solarengas que se transformaram em turismo de habitação.

Concluindo: que as nossas casas, mesmo não sendo solarengas, sejam alegres e soalheiras




quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Frio ou o calor bom da Esperança?

 

Os dias têm ido frios. E turbulentos. E desconfiados. E inseguros. Na politica, no futebol… Parece nada escapar no mundo. Mesmo assim, continuamos a festejar o Natal, a alindar as nossas casas, a querer trocar presentes, porque o desejo de paz e harmonia faz parte do ser humano e a esperança não lhe é indiferente. Hoje as notícias referem uma menina de onze anos que se salvou no Mediterrâneo quando o barco naufragou e todos os outros refugiados morreram. Será um sinal de esperança para tantas crianças que morrem nas guerras que a ambição desenfreada provoca?


Fazer um tratamento prolongado para vencer uma doença pode ser assustador, mas também uma boa tábua de salvação. Graças aos avanços da ciência, à formação de técnicos e especialistas, há muitos casos de sucesso. Felizmente. Há tempos, uma médica disse para uma doente que passou os setenta anos e tinha tido um tumor maligno: Está tudo bem, mas, durante cinco anos, terá de fazer exames regularmente. A doente, que, segundo a especialista era agora ex-doente, respondeu bem humorada: Então, depois, posso morrer saudável! Riram-se ambas, o que também é sinal de esperança.


Está frio. O Natal aproxima-se. A casa vai encher-se e os netos serão os nossos meninos Jesus. E sou daquelas pessoas que gostam que tudo esteja preparado e nada falte, embora falte sempre alguma coisa à última hora. E chamei um trolha para pintar um teto. Ai, meu Deus, que trabalheira tirar tudo, cobrir tudo, limpar tudo, voltar a arrumar tudo! Foi da maneira que me despojei de algumas coisas que aqui só ocupavam espaço e que a outras pessoas podem ser úteis. Felizmente tenho tido forças porque estou  também retratada no texto anterior. E recuperar a saúde é um sinal maravilhoso de esperança.

Bom tempo de Natal para todos. Com Saúde, Paz e Alegrias. E que não falte o calor bom da Esperança!


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Por falar em pequenas coisas, mas (que acho) bonitas!


… fiz esta almofada e bonequinhas com fuxicos. É fácil, exige paciência qb, dá para aproveitar bocadinhos de tecido e é bom vê-los nascer das nossas mãos quando, à noite, apetece o sofá. Para quem gosta, é claro! Eu por acaso gosto






Tanta coisa bonita!

 

Ontem, passei por uma escola do primeiro ciclo em cujas grades estavam pendurados muitos Pais Natais, feitos, criativamente, com garrafões de água vazios e outros materiais reutilizados e que ganharam uma vida diferente. Desta forma mais artística, também não foram para o lixo, tantas vezes sem o cuidado da separação.

Ora, o gosto de mostrar à comunidade muitos trabalhos feitos pelas crianças e jovens é bonito e motivador. E um bom exemplo para esta quadra natalícia em que o amor pelos outros assume maior relevo, mas também pelo ambiente e natureza.

E, nesta época, vêm ao de cima talentos e habilidades de imensas pessoas de todas as idades na elaboração de objetos, por exemplo, para presentes. Nas feirinhas de Natal, o artesanato tem um lugar de destaque. E são pessoas anónimas que, quase sempre, fazem esses trabalhos, embelezando o mundo e alegrando os que estão próximos com o que as suas mãos produzem e as ideias vão ditando.

Numa época em que a cada passo surgem problemas e conflitos, deparamos com imensos e diversos objetos cuja beleza e simplicidade saltam aos nossos olhos. Não fazem esquecer as agruras do mundo em que vivemos, mas ajudam a acreditar num mundo melhor e mais solidário, em que cada um, amorosamente, mostra e partilha um pouco do que sabe.


A beleza de todas as cores

 




domingo, 8 de dezembro de 2024

Que a beleza nunca se acabe!

 


sábado, 30 de novembro de 2024

Bom sábado!

 



quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Um tema mesmo importante!

Vale a pena ouvir. Há rigor, sensatez e trabalho experiente e informado de ajuda!


 ‘Expresso da manhã

Paulo Baldaia

 https://podcasts.apple.com/pt/podcast/expresso-da-manh%C3%A3/id1536782080 ‘


domingo, 24 de novembro de 2024

Já se ouve o vento!

 Um dia, ao falar com uma vizinha, que agora raramente vejo porque a velhice desafortunada não a deixa descer nem subir escadas e só lhe permite espreitar cá para fora, eu disse-lhe que tinha medo da trovoada. Logo ela retorquiu: Eu só tenho medo do vento.

Pois bem, se habitualmente está recolhida dentro de casa, hoje mais estará com as previsões de muita chuva e rajadas de vento para a região do Porto.

Parece que se chama Bert a tempestade que se aproxima. Se o nome tivesse mais um ‘o’, seria como o do dono da mercearia perto de minha casa e que, simpaticamente, me traz as coisas de que preciso cá a casa e que sempre me diz: Se precisar de alguma coisa, diga; nem que seja só uma, eu venho cá trazer.

O pior é que, em vez de um pacote de feijão, põe dois; em vez de dois lombinhos de bacalhau, põe três!!!! 

Voltando a Bert, o vento continua a soprar e, pelos vistos, ao fim da tarde, chega em força. Ou será que se desvia ou perde vigor? Nunca se sabe. Oxalá que sim, porque me assustam radicalismos, até no tempo que faz.

Seja como for, hoje não abro as janelas e vou carregar o telemóvel, não vá falhar a luz e a beleza de domingo também se apagar. 

E beleza também encontro no podcast ‘A beleza das pequenas coisas’, o mais antigo do Expresso, de Bernardo Mendonça. 

Se falhar a luz, espero poder ouvir, a menos que a chuva e o vento me façam parar tudo o resto. Espero que não, porque precisamos de quem nos lembre o valor da beleza com verdade e sem cinismo.

Bom domingo e que os Céus não escondam a sua beleza, sob forma de tempestade!

sábado, 23 de novembro de 2024

As tranças


Tenho poucas fotografias minhas da minha infância. Tenho pena, mas nas que tenho lá está o cabelo preto, liso, risco ao meio e duas tranças grossas que logo se desfaziam se não fossem presas por elástico. O cabelo, ao contrário de mim, era quase indomável.

E agora vejo como deviam ser bonitas as tranças, que sempre achava que não, porque as das outras raparigas ou eram mais finas ou eram mais claras ou tinham caracóis. Como as da minha irmã. 

Porque será que só valorizamos as coisas passado algum ou muito tempo?! Ou quando já não as temos?

Chegada a adolescência, o grande desejo era cortar as tranças. Davam muito trabalho. Eram coisa de criança. Não condiziam com meias de vidro nem com sapatos de tacão fininho.

O pior era permissão para cortar o cabelo. Nem pensar! E não havia meio de convencer a mãe para a mãe convencer o pai.

Como solução, esperada como provisória, o risco do cabelo passou para o lado e o cabelo das duas tranças uniu-se numa só. Era bonita, mas, naquela altura, não sabia.

Porém, a insistência em cortar o cabelo continuou até que palavras desejadas se fizeram ouvir. Mas só em parte.

- Pronto, podes cortar, mas só um pouco para continuares a fazer a trança. 

Como o desejo era grande e a trança também, sucedeu-se a insistência e o resultado foi de novo:

- Pronto, podes cortar o cabelo, mas só um bocado. 

Passados alguns meses e alguns cortes, já não havia comprimento de cabelo que desse para a trança. Tinha valido a pena!

E o sorriso (vejo agora que era bonito) adolescente abria-se ao espelho que mostrava o escovar do cabelo tão negro que me perguntavam se o pintava. Eu ficava incrédula com a pergunta e encontrava consolo em histórias que falavam de ‘cabelo de ébano’ de uma personagem.

Se calhar, agora não achava piada a essas histórias, mas gosto muito de tranças, tenha o cabelo a cor que tiver.

 Pode ser que as faça à minha neta quando cá vier pelo Natal. Quando lhe contei que, na idade dela, tinha cabelo longo, muito preto e duas tranças grossas, ela sorriu, ajustando a bandolete que ajuda a prender o cabelo forte e castanho-claro. Um lindo cabelo que não gosta de cortar.



quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Bonanza no Café Paris ou o relax de sábado à noite

 

Quando eu era muito nova, os dias da semana eram cheios de trabalho. O meu pai trabalhava arduamente na oficina ao lado da nossa casa e a minha mãe ajudava-o no que podia ser feito dentro de casa. A vida doméstica era gerida por ela e levada a cabo, em grande parte, por mim e pela minha irmã. 

Chegado o fim de semana, o afã semanal diminuía e, ao sábado à noite, ouvíamos o Serão para Trabalhadores. Julgo que era este o nome do programa de rádio da então Emissora Nacional. O meu pai era o mais entusiasta quando ouvia as canções que lhe tocavam o coração. Tornava-se um ser mais leve e feliz do que o trabalhador frenético dos dias da semana. O aparelho que tínhamos era Nordmend, se não me engano, e julgo que ainda existe. Vejo agora que era um bonito exemplar, como são muitos rádios antigos.

Entretanto, chegou a televisão. Podia-se, magicamente, ver a imagem e não apenas ouvir o som da rádio. Não se falava de outra coisa, mas poucos a traziam para casa. Nós só a tivemos mais tarde. Era um luxo e a vida não estava para luxos. Julgo que o meu pai gostaria de ver os artistas que apenas ouvíamos na rádio e que tanto lhe alegravam e amenizavam a expressão. Também a minha mãe gostaria de a ter para ver as cerimónias de Fátima no 13 de Maio. Eu e os meus irmãos também, mas a vontade dos mais novos ainda não tinha entrado no calendário.

Pois bem, muito se falava do Bonanza, da família desta série, das aventuras, dos saloons, do Joe, das diferenças entre os irmãos… Então, também queríamos ver. E, andando talvez um quilómetro, lá íamos nós ao sábado à noite com o meu pai ao café Paris ver o Bonanza. Chegávamos mais cedo, sentávamo-nos à mesa e esperávamos pelo episódio, como se fosse um filme premiado com muitos óscares. Ou o momento imperdível da semana para atenuar a dureza dos dias de trabalho.

Quando a música do genérico se fazia ouvir, tudo o resto se calava. Durante o filme, os olhares estavam todos postos no écran e as reações ao desenrolar da história eram emotivas e ruidosas como num jogo de futebol. Eu e a minha irmã mais presas ao televisor ficávamos quando aparecia o belo e simpático Joe. Quando o episódio terminava, regressávamos a casa, talvez a pensar já no sábado seguinte.

Passado algum tempo, os meus pais compraram um televisor. Podíamos, finalmente, ver o Bonanza em casa e também  teatro e programas de variedades com o Jorge Alves, etc. Tudo tantas vezes entrecortado por um chafariz a atirar água em tempo interminável, com a legenda ‘O programa segue dentro de momentos’. E como era canal único, ficávamos à espera, mas bem diferente de quando aguardávamos mais um episódio do Bonanza no café Paris.


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

As crianças

 

Ontem, vi o começo de uma notícia sobre a criança cuja ama foi filmada a dar-lhe banho de água fria. Pelos vistos, batia-lhe no rabo ao mesmo tempo. Quando ouvi o choro aflito e sem defesa do bebé, logo mudei de canal. Confesso que aquele choro me perturbou, ficou-me na cabeça e entristeceu-me a noite. 

Haver coragem para filmar uma cena assim? Seria por vingança ou posterior acusação? Ter coragem para assistir a tal cenário, sabendo que um ser indefeso estava em sofrimento não justifica o ato, na minha opinião. Mais justo seria retirar de imediato a criança das mãos da mulher que a maltratava. 

Por toda a parte, há crianças que sofrem. E que sofrem muito. E não devia ser assim.

São crianças quase andrajosas de Gaza cujas imagens nos entram em casa no dia a dia. E todas aquelas que não vemos, mas que sabemos que existem e que sofrem.

São as crianças que chegam em barcos cheios e periclitantes sobre as ondas e, como já aconteceu, morrem na praia.

São as que sofrem violações e outras formas tremendas de violência, expostas a situações de terror e morte perante a indiferença, tantas vezes, de governantes poderosos do mundo que, com todas as armas e bagagens, não se desviam nem um milímetro da ambição de salvar apenas a sua própria pele.

Felizmente, há crianças felizes, apesar do caos que vai grassando em muitas frentes, mas não podemos esquecer as que têm fome, sede e que vivem sem conhecer o direito mais que devido de ir à escola, de brincar, de viver em paz e sem bombas a rebentar-lhes a vida e a dos familiares que as deixam sós.

Fernando Pessoa disse que ‘o melhor do mundo são as crianças ‘. O pior é que milhões delas conhecem sobretudo o que o mundo tem de pior para lhes dar.


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Idade: 100 anos; Filhos: 5; Ordem para visitar!


Há muito tempo viúva, reza que do marido não terá tido muitas saudades, porque dele não ouvia nunca  palavras cor-de-rosa; para si, ficavam as mais cinzentas ou agrestes. Ou geladas como ventos de inverno.

Não assistiu, portanto, ao centenário da mulher, mas a festa fez-se a preceito. Como ela sempre desejara e programara. Queria os filhos, as noras, os genros, os netos e os bisnetos perto de si. Haveria um bolo bonito e grande e mais uns miminhos doces que lhe tinham oferecido e que queria que todos saboreassem. E, no meio da mesa, uma jarra com flores do jardim. Não as queria compradas porque são caras e vêm de outros países quando as tinha em casa bonitas e mais naturais.

Não haveria refeição completa. Não queria a casa em desalinho nem vê-los a lavar e a arrumar a loiça. Fazia 100 anos e o lugar deles era perto de si. Com tempo e livres de outros afazeres. Se Deus continuava a dar-lhe o dom de falar, de ver e de ouvir, tinha que desfrutar dessas dádivas que, desde pequena, tinha  aprendido a amar e a respeitar.

Estava feliz com todos os que tanto amava à sua volta. Sorria, fazia perguntas, contava peripécias do passado, queria saber projetos de futuro…

Sentia-se uma árvore criadora de fortes e maravilhosos ramos que lhe davam segurança, alegria e a faziam acreditar no futuro. E um pedido irrompeu, em modo decidido de ordem:

- A partir de agora, quero que vocês, meus filhos, me venham visitar todos os dias. 

- Temos de vir todos, mãe, mesmo ao sábado e ao domingo?

 - Porque não? Estão todos reformados, por isso não têm horários a cumprir. E organizem-se para não virem todos ao mesmo tempo. Quero poder falar à vontade com cada um.

- E nós  também temos de vir, perguntou, timidamente, um bisneto.

- Claro que não! Acham que eu não conheço o mundo? Vocês, os novos, têm o tempo muito preenchido e ainda bem que assim é. Estão a construir o vosso futuro.


E o pedido/ordem foi cumprido, depois de feito um pequeno calendário de visitas para não haver coincidências. Agora, que a matriarca está prestes a fazer 101 anos, ninguém sabe se novo pedido surgirá. Talvez se fique pela confirmação da visita diária dos filhos. Uma das noras, habitualmente bem humorada, já disse: uma coisa é certa; continua a ordem para visitar!