segunda-feira, 25 de abril de 2016

Trova do Vento que Passa


Acabei de ouvir a notícia e fiquei contente

Manuel Alegre recebe Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores

Manuel Alegre recebe de Associação Portuguesa de Escritores o Prémio Vida Literária 2015/1016. A cerimónia decorre no salão nobre da sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa.

Um poema que M. A. escreveu

Trova do Vento que Passa

Para António Portugal

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi meu poema na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(Portugal à flor das águas)
vi minha trova florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre, in 'Praça da Canção"

domingo, 24 de abril de 2016

Sempre

25-5-1974,in República, n. 15446 / 2ª série, p.

Celebração

Alice Jorge e Júlio Pomar

O Dia da Liberdade
25 de Abril
Este dia é um canteiro
com flores todo o ano
e veleiros lá ao largo
navegando a todo o pano.
E assim se lembra outro dia febril
que em tempos mudou a história
numa madrugada de Abril,
quando os meninos de hoje
ainda não tinham nascido
e a nossa liberdade
era um fruto prometido,
tantas vezes proibido,
que tinha o sabor secreto
da esperança e do afeto
e dos amigos todos juntos
debaixo do mesmo tecto.


José Jorge Letria in O livro dos dias

Papa Wemba - 24 April: the last dance with him!

Jules Shungu Wembadio Pene Kikumba (14 June 1949 – 24 April 2016), more commonly known by his stage name Papa Wemba, was a Congolese musician, known for working in the Congolese rumba (later known as soukous) genre. He was one of Africa's most popular musicians of the period and prominent in world music. He has been dubbed the "King of Rumba". He suffered a seizure while performing in Abidjan, Ivory Coast and died on 24 April 2016.
https://en.wikipedia.org/wiki/Papa_Wemba

Não deixem(os) secar a Árvore da Liberdade!

 

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'

sábado, 23 de abril de 2016

Um convite da Poetria, no Porto

Bem junto à mini-livraria Poetria será inaugurada uma micro-galeria de arte, no próximo 25 de Abril, a partir das 15 até às 19h.

É uma "VITRINE para a liberdade", com belas obras dentro, das mais diversas formas de arte - pintura, escultura, design, ilustração, fotografia, colagem, bordado... -, de artistas reconhecidos ou em início de carreiras promissoras.

Outras artes acompanharão a festa, tais como música, performance, gastronomia.

Outra forma de festejar o 25 de Abril.

Espero-vos lá.

POETRIA

O mundo seria mais triste sem livros nem flores!


 Washington Maguetas

Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis

     Picasso
Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga



                                                              Verónica França
Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Menez                   

Retrato de uma princesa desconhecida

      Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
 Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
      Para que a sua espinha fosse tão direita
         E ela usasse a cabeça tão erguida
    Com uma tão simples claridade sobre a testa
 Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
     De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
     Servindo sucessivas gerações de príncipes
         Ainda um pouco toscos e grosseiros
            Ávidos cruéis e fraudulentos

         Foi um imenso desperdiçar de gente
        Para que ela fosse aquela perfeição
           Solitária exilada sem destino

                             Sophia de Mello Breyner Andresen

                                                                                                   Pantónio
Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago