sexta-feira, 28 de agosto de 2015

As raposas da noite

Quando a noite sossega, as raposas aproximam-se das casas e atacam os sacos de lixo.
Em West Hampstead, é como em qualquer outro lugar perto de parques. As raposas vêm à procura de alimento. Apesar do lixo ser colocado em contentores à entrada de cada casa, as raposas atiram-se aos sacos mal fechados. É um-ver-se-te-avias. Se o silêncio noturno é perturbado por qualquer ruído, ou passos de algum retardatário ou notívago, elas fogem, regressando à madrugada vazia dos parques.
Quando, em casa,  falamos delas, vêm-me à memória os livrinhos que o meu pai nos comprava, na feira do livro do Porto. Eram estórias quase sempre com lobos à mistura.
Há noites em que as raposas parecem lutar pelos restos de comida. Os seus gritos assemelham-se a gatos assanhados a arranhar os descansados silêncios. 
Mais satisfeitas, regressam aos parques, dando, durante o dia, o lugar a quem procura a luz. 
Talvez seja um modo de se fazer natural justiça.

O jardinzinho de Londres



Eu ficava bastante tempo a olhar para o jardinzinho que se via da janela do apartamento.

No meio do espaço retangular, ficava uma mesa oval e algumas cadeiras de encosto. À volta, encadeavam-se arbustos volumosamente verdes. Num dos lados, erguia-se uma roseira vermelho-fogo, donde proliferavam rosas em botão, abertas, de pétalas caídas...

Nunca vi ninguém nesse pequeno jardim. Não sei se por ser agosto ou apesar de ser agosto. Sob o céu de Londres - tantas vezes enevoado, tantas vezes chuvoso -, as rosas continuavam a florir.

Era verão e nada nem ninguém as impedia. They were free  in their beauty.

Rosa Linda



Cheguei, de metro, à estação do Dragão, no Porto. Pensava que logo haveria táxis, mas enganei-me: não vi  táxi nenhum. Passava uma mulher jovem. Perguntei-lhe onde poderia arranjar um táxi. Disse-me, com um sorriso: um pouco mais acima, mas como a mala é grande, se quiser, posso chamar o meu marido que é taxista.
Disse-lhe que sim. Pegou no telefone e referiu a situação. Luís, o marido, logo mandou um táxi. Ela disse que esperava comigo porque, assim, seria melhor o reconhecimento. E falámos. Era de Gondomar. O tempo tinha estado mauzito para ir à praia. Mas, felizmente, o mar não fica longe...
E o táxi chegou. Agradeci-lhe a simpatia (embora sabendo que ter arranjado uma cliente para o táxi também lhe tinha dado jeito).
Perguntei-lhe o nome. Rosalinda.
 Então, foi uma Rosa Linda que me apareceu na hora certa.
E ela abriu ainda mais o sorriso.
Lembrei-me de uma ideia de Mia Couto: há menos pessoas más do que muitas vezes  se julga.    
Ainda bem.



Cores de Londres


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Londres - alguns olhares





domingo, 2 de agosto de 2015

As amoras


Josefa de Óbidos
O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Sophia de Mello Breyner 

Também numa toalha se escreve/borda poesia!



sexta-feira, 31 de julho de 2015

Boas cores de verão!

Zínias

Para um verão sereno


Melody Gardot

quarta-feira, 29 de julho de 2015

INTERTEXTO


Primeiro levaram os negros 
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho o meu emprego
Também não me importei

Agora estão a levar-me
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
                                                         Bertold Brecht

Enviado pelo Clube das Histórias