quarta-feira, 4 de novembro de 2015

90 mil euros por mês?



Acabo der ouvir num telejornal - uma notícia TVI, disse o jornalista - que Ricardo Salgado vai passar a ganhar 90 mil euros por mês.
E agora digo eu: e vai rir-se cada vez mais dos portugueses, achando-os, por certo, uns parolos e uns imbecis porque a grande maioria nem uma parte do que ele vai ganhar num mês é capaz de amealhar durante toda uma vida.
Nem tem amigos como ele, desde presidentes da República, candidatos a Presidentes da República, ministros da República, Conselheiros da República, empresários, jornalistas, dentro e fora da sua família... Tudo gente bem comportada que se cala porque quem se manifesta é arruaceiro e eles são defensores dos bons e brandos costumes.
O nosso país é fraco em relação aos corruptos. Quanto mais refinados são, como Ricardo Salgado, de mais benesses usufruem.
E logo penso: e os jovens, que lição tiram disto tudo?
Pode haver discursos sobre as novas gerações, podem usar-se as mais belas citações, mas o que fica são estes maus exemplos e um país que fala, fala, fala, mas permite estes gritantes desaforos. No dia em que, mais uma vez, os "Lesados do BES" vieram para a rua porque continuam a não ver o seu dinheiro, torna-se público um salário escandaloso, uma vez que premeia um dos homens que muito mal fez ao país.
E o pior é o triste desamparo de milhões de portugueses pela escassez de bons exemplos a nível social e político.
Se eu fosse bem mais nova, emigrava - para não ter de levar com tantos sorrisos cínicos que tanto prejudicam o país e se arvoram em modelos patrióticos, pondo máscara em cima de máscara.
E os jovens? Volto a perguntar. Talvez pelo estado a que chegou o país, nem querem ouvir falar destas coisas, preferindo os jogos de computador.
Eles, tantas vezes desmotivados, continuarão a jogar sozinhos nos seus quartos ou à noite entre colegas; os velhos corruptos, esses continuarão a desenvolver outros jogos de forma cada vez mais hábil, porque aprenderam e ensinaram que assim se podem ganhar facilmente 90 mil euros por mês.




terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uma aventura no onze...



Resultado de imagem para Autocarros da Gondomarense - nº 11
              Este conto foi escrito, no ano transato, por uma aluna da ESG que participou do concurso "Uma história com números dentro".
Parabéns à autora e à professora que a motivou.

Não te esqueças, Lara, que este ano o tema é 
"Uma história com música dentro"!


     Na minha pequena cidade (como em muitas outras) os autocarros são identificados por um número. E é assim que as pessoas os nomeiam. “ Vou apanhar o treze; o duzentos nunca mais chega; por favor, pode dizer-me se o seiscentos e um já passou?”. 
     Mas o autocarro número onze é especial. É nele que eu faço as minhas viagens para a escola. É nele que eu ponho a conversa em dia com os meus amigos, especialmente com a Cláudia, que viaja sempre comigo. É nele que fico a par de tudo o que se passa à minha volta. É nele que me divirto, ouvindo e contando anedotas. É nele que, às vezes, também choro, quando sei de alguma notícia mais triste. Enfim, uma parte da minha vida é aqui passada.
       O onze parte todos os dias às 7:50 de Gens e chega ao Souto por volta das 8:25 da manhã. Este autocarro, que todos os dias é conduzido pelo Sr. Carlos, já faz parte do meu quotidiano e do das pessoas que viajam nele. As conversas são sempre as mesmas. Os senhores vão à frente na converseta com o senhor Carlos, sobre o Benfica; as senhoras costumam sentar-se a meio do autocarro e geralmente falam sobre a vida dos seus vizinhos; os jovens vêm sempre atrás a ouvir as suas músicas e falar sobre as novidades do Facebook. E, assim, todos os dias vai correndo a nossa viagem.
         Naquela manhã fria de Inverno, eu e a minha amiga Cláudia seguíamos, como habitualmente, no nosso autocarro. Junto ao Sr. Carlos, os homens discutiam o último jogo do Benfica: se tinha sido penálti ou não, se o árbitro devia ter mostrado o cartão vermelho, enfim, aquelas discussões depois de um jogo e que não levam a conclusão nenhuma; a meio do autocarro, as senhoras tagarelavam e punham toda a gente ao corrente das zangas das vizinhas, dos arrufos das comadres… Lá atrás, alheias a todas estas conversas, eu e a Cláudia  falávamos da escola, dos amigos, das novidades que circulavam nas redes socias…
         De repente sentimos que algo estava a perturbar o percurso habitual do onze. Pensámos que teria a ver com alguma discussão mais acesa. Primeiro, ouvimos um barulho muito estranho, depois o senhor Carlos, muito apressadamente, parou a viatura para ver o que se passava.
      Na cozinha, eu e a Cláudia, como conversávamos animadamente, só demos conta quando já o autocarro tinha parado mesmo. O senhor Carlos viu que o motor estava em chamas e já tinha pedido a toda a gente para sair, mas como nós estávamos tão distraídas, não ouvimos a ordem dada pelo motorista.
          Fumo e mais fumo! Era a única coisa que nós víamos, quando, já tarde, nos inteirámos da situação. Tentámos sair, mas o fumo era tanto que não conseguíamos ver nada para chegar à porta do onze. Já todos os passageiros estavam cá fora, e havia muita gente que se tinha juntado para ver o espetáculo. Eu e a Cláudia estávamos aflitas. Então, um amigo nosso, o Leo, veio ajudar-nos a sair. Mal saímos, uma chama enorme apropriou-se do nosso autocarro. Com tal aparato, fiquei paralisada e não consegui reagir. Entrei completamente em pânico e fui assistida pelos bombeiros.
        Entretanto, a Cláudia já tinha ligado para o meu pai. Ele apareceu pouco depois. Conseguiu acalmar-me e levou-nos a tomar o pequeno-almoço. Já mais calmas, da janela da pastelaria “ Doce Sabor”, víamos uma grande nuvem de fumo, muitos bombeiros e ambulâncias para assistir os passageiros.
       Depois de tudo mais sereno, o meu pai levou-nos à escola. Contámos à nossa turma e aos nossos professores a nossa aventura. Eles acharam engraçado. Claro! Depois de tudo ter passado, até eu achei divertido. Mas com este episódio aprendi que devemos ir atentos ao que se passa à nossa volta. Se não estivéssemos a brincar, não teríamos ficado lá dentro. Correu tudo bem, mas podia não ter sido assim.
        No dia seguinte, eu e a Cláudia apanhámos o onze à mesma hora de sempre. Fomos para a cozinha, como habitualmente. Junto ao Sr. Carlos, os homens discutiam o mesmo jogo do Benfica
(ainda não tinham chegado a nenhuma conclusão sobre o penálti); as mulheres falavam de uma vizinha que tinha deixado o marido; lá atrás eu e a Cláudia conversávamos sobre as novidades do Facebook… Mas a todos estes assuntos acrescentava-se, agora, mais um: a aventura no onze. 

Pseudónimo-LS96
Lara Soares, 11.12


sábado, 31 de outubro de 2015

Uma canção com um belo café dentro


Obrigada, D.R., pelo teu e-mail com este texto e com belíssimas imagens.
Gostava bem de conhecer (ter conhecido) este local, beber um chocolate quente, olhar a neve, ouvir boa música, ler um livro, estar em boa companhia... tudo bem melhor, de facto, do que falar de muitos/as políticos/as!!

"Esta é uma daquelas histórias que daria um bom romance ou um excelente filme.

Há mais de cinquenta anos, o lendário cantor francês Gilbert Bécaud visitou Moscovo. Quando voltou a Paris,  escreveu a canção Nathalie e dedicou-a à sua guia russa.

A canção diz qualquer coisa como "Caminhávamos à volta de Moscovo, visitando a Praça Vermelha, tu dizias-me que tinhas aprendido coisas sobre Lenine e a Revolução, mas eu só desejava que estivéssemos no café Pushkin, a olhar a neve lá fora, a beber chocolate quente e a falar sobre algo completamente diferente..."

A canção tornou-se incrivelmente popular em França e os turistas franceses, que iam a Moscovo, tentavam encontrar o famoso café Pushkin.

Mas nunca o conseguiram encontrar, uma vez que só existia como fantasia poética na canção de Bécaud.

Em 1999, esta fantasia poética tornou-se realidade quando um artista franco-russo, Andrei Dellos, e Andrei Mákhov abriram o café Pushkin numa mansão barroca histórica na rua Tverskoy.

E o mais fantástico desta história? Bécaud, o cantor que tudo inspirou, cantou Nathalie na inauguração do café-restaurante".

 

domingo, 25 de outubro de 2015

Crianças com livros


 
Ontem, a  Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, era um espaço feliz. Apesar de alguma chuva, o anfiteatro encheu-se de crianças, pais, educadores, amantes dos livros...
E alegrava ver crianças, aparentemente com hábitos de leitura,  a entrar no edifício com um livro na mão, à espera de um autógrafo e, talvez, de um olhar sorridente da autora, que conheceram através das histórias.
E o auditório manteve-se interessado ao longo de duas horas que não foram longas.
Luísa Ducla Soares, respondendo a questões, falou da sua vida e da sua obra. Trabalhou no Ministério da Educação (lendo muitas cartas com erros de ortografia e uma grande parte com pedidos, disse com humor); na Biblioteca Nacional, também muito inspiradora para a escrita dos seus livros.
Falou afetuosamente da família, dos colegas de escrita (teve, ao seu lado, o escritor António Torrado, durante uma boa parte da sessão); reconheceu o trabalho dos educadores e professores do primeiro ciclo, revelou boa disposição e um grande amor pelas várias dimensões da vida (talvez uma grande razão da sua alegria e jovialidade, direi eu)..
E referiu dois esteios fundamentais para a sua escrita, vindos da sua infância: a professora primária que reconheceu o valor dos seus textos, e o pai que lhe contava histórias, que lhe lia poesia, que partilhava com ela lengalengas, etc.
Em tempo de tantas cisões e crispações, presenciar um número tão grande de crianças, acompanhadas por adultos, a aderir ao mundo maravilhoso dos livros talvez ajude a acreditar num mundo melhor. Mesmo que ainda não maravilhoso.
A presença do grupo dos Gambozinos foi um feliz exemplo do imenso trabalho que muitas pessoas realizam à volta dos livros e da arte. 
Por isso, ontem, a Biblioteca Almeida Garrett não podia deixar de ser um espaço feliz.