sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dúvida


A dona Margarida
Gostava tanto de flores
Que as ouvia como a ninguém
Porque da sua vida
Eram os principais amores

Conhecia-as por dentro e por fora
Desde a raiz à flor
Por isso se aproximava delas
Como dos filhos a mãe
Falando-lhes com amor

As flores de dona Margarida
Cresciam sempre viçosas
Eram todas bem tratadas
Desde as mais pequeninas
Até às perfumadas rosas

E toda a sua vida
Regou, podou e à raiz terra juntou
E se lhe perguntassem
“Por favor, dona Margarida,
Qual a maior beleza que Deus criou?”

Olhando as flores
Sentindo que precisavam de água
Pelos olhos a resposta logo se pressentia
Mas para evitar dissabores
E não causar qualquer mágoa
“As pessoas, claro”, responderia!


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O caixilho



O dia do casamento foi esplendoroso. A chegada da noiva, no seu vestido alva e longamente bordado, fez esquecer a longa espera dos convidados. Os pés deixaram de doer pelo aperto dos sapatos altos e as gravatas já não pediam o alongamento do pescoço em busca de algum alívio.
Belo casal. Belas fotografias tiradas dentro e fora da igreja. O que era difícil era escolher a mais bela pela luz e pela captação dos sorridentes momentos.
A mãe da noiva gostou tanto de uma fotografia que resolveu encaixilhá-la e oferecê-la ao casal. Ficaria num lugar bem visível da casa.
Os dias passaram, os meses também e já se contavam três anos de casamento. Três anos é pouco tempo, mas é muito quando se fecham todos os sorrisos e desaparecem os motivos para uma espera compensadora.
Como as discussões não abrandavam nem as palavras se adoçavam, o casal optou pela separação. O melhor era cada um seguir a sua vida e para isso era preciso que os teres e haveres fossem divididos. Alguns foram devolvidos à procedência.
Assim sendo, um dos primeiros objetos a ser retirado da casa foi a fotografia. Nem mais. Ele iria levá-la já a casa da ex-sogra, que a tinha emoldurado e oferecido. Como a senhora não estava em casa, o ex-genro deixou o objeto. Esteve para escrever e juntar um bilhete, mas não o fez, porque disse, de viva voz, ao ex-sogro que, atendendo à separação, gostaria de devolver a oferta. Que não levassem a mal, mas nenhum dos dois queria guardar a fotografia e não queriam destruí-la.
Três dias passaram. Ao abrir o mail, o ex-genro viu uma mensagem da ex-sogra, onde se lia que aceitava a devolução da fotografia, porém, fazia questão de uma coisa importante: ele tinha de lhe pagar o dinheiro que tinha gasto no caixilho!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O sobe-e-desce na Feira do livro do Porto



         Sábado à noite, fui à Feira do Livro, no Porto, este ano nos jardins do Palácio de Cristal. O arvoredo cria um bom cenário para o passeio entre os stands de livros. Mas não só. Também há um stand de vinhos a copo; outro de francesinhas, comeres e beberes que podem ser consumidos em tempo sossegadamente sentado e conversado, saboreado junto a mesas pequenas onde ardem velas tranquilas. Mesmo ao pé, rasga-se a paisagem e surgem, luminosas, as linhas da marginal do Douro e da ponte da Arrábida.
Na Biblioteca Almeida Garrett, era tempo para ouvir e aplaudir CHULLAGE – em poético e criativo rapp com voz e música a convocar rimas atuais.
Mas até agora – dirá quem me acompanhou até aqui – qual a razão do título?
Ora aqui vai então: para se ver os livros, para serem olhados, tocados, folheados, existem uns estrados junto aos stands. Os estrados são descontínuos, o que implica saltar de um para outro ou descer para logo voltar a subir.
Comentários que ouvi dos vendedores de livros:
- “No próximo ano, terá de ser diferente. Quem vem de cadeira de rodas não consegue chegar aos livros”.
- “Espero que não haja nenhuma queda com tanta subida e descida”.
-“Que ginástica é pedida às pessoas!”
E este bem português:
- “Podia ser pior, podia ser pior!”
Malgré tout, vale a pena visitar a Feira do Livro que decorre nos Jardins do Palácio de Cristal, de 5 a 21 de setembro. Há “Debates”, “Festival de spoken word”, “Dos livros no cinema”, “Animação” e muito mais em passeio acompanhado pelo cheiro colorido dos livros.
Mas, por favor, quem de direito, corte na altura dos stands dos livros e não gaste dinheiro nos estrados. Em tempo de cortes, poderia haver poupança e não se poupava no acesso mais fácil de todos aos livros. Não é para isso que os livros estão expostos na Feira?
Assim, podia ser melhor, podia ser melhor!