Ontem, o dia de Páscoa foi muito fixe. Almocámos em
família e depois recebemos o Compasso em casa dos meus tios.
Vimos - como é costume em casa dos meus tios quando a
família se reúne - cassettes de quando os meus primos e as minhas irmãs eram
pequenos. Na praia de Mindelo, nas festas de anos. Quase sempre em férias - que
é do que eu gosto. Foi então que começámos a ouvir as campainhas do compasso
dlim dlam dlim dlam e disseram todos: Vem aí o compasso.
Daí a nada, a mesa estava sem louça suja. Só ficaram
bolos e amêndoas. O meu tio abriu a porta toda e um grupo de homens entrou. Um
trazia uma cruz, outro tinha um saquinho para as ofertas, outro vinha com umas
folhas e imagens e os outros já não sei porque começaram todos a falar e eu
distraí-me.
Toda a gente se conhecia e um deles perguntou quem lia a
oração. Todos se viraram para a minha tia brasileira. Um depois disse assim:
Muito bem; assim, a leitura é em língua mais doce.
A gente gosta tanto de ouvir os brasileiros a falar. Não
sei é por que é que eles não nos entendem muitas vezes. Uma vez, a minha irmã
mais velha foi ao Rio de Janeiro, falou português e responderam-lhe em
italiano. E falavam todos a mesma língua. Que esquisito.
Antes de saírem, a minha tia perguntou se queriam
amêndoas. Eles disseram que não porque agora não há crianças na rua, como
antigamente.
Depois, fomos ao Monte Crasto, porque a minha avó tinha
saudades de lá ir.
A minha avó tem quase noventa anos e sabe muitos versos.
Começa a dizer os poemas sem nunca se enganar nem se esquecer. Então, quando
estávamos todos sentados, o meu avô disse todo orgulhoso: ó mulher, diz os
versos que sabes sobre o Monte Crasto. E ela disse-os logo. E ainda antes
contou: Um dia, quando eu era pequena, a minha tia Ana chegou a casa com uns
versos de uma amiga dela de Quintela, aqui em Gondomar. Era uma senhora muito
sábia, que gostava muito de ler e de fazer versos. Perguntou quem queria ficar
com a folhinha. Eu quero, tia, disse eu.
E disse os versos que tinha aprendido há mais de oitenta
anos.
Eu acho que vou aprender nem que seja algumas quadras,
porque não sei versos de cor. Não vou conseguir é saber tantos como a minha
avó.
Um abracinho, querido diário
Mariana