quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Não tenho paciência!


Tenho cada vez mais paciência para algumas coisas, mas, para outras, tenho cada vez menos. O tempo em que ficava, paciente e silenciosamente, à espera que a minha mãe terminasse a sesta para me ajudar a fazer roupinha para as bonecas já desapareceu no emaranhado dos tempos.

Pois bem, não tenho paciência para quem fala, fala, fala e exibe muitas certezas, só elas espertas e certeiras, tipo descoberta da pólvora. Na certeza de que os outros pouco sabem e andam, coitadinhos, de olhos tapados.

Não tenho paciência para descrições minuciosas, como as da experiência da vida militar, quase sempre em discurso direto ou indireto, que se prolonga por muitos pormenores que se cruzam e dos quais vou desligando, embora permaneça no lugar. O olhar é que se vai perdendo. O que vale é que não o vejo!

Não tenho paciência para textos manuscritos com letra incompreensível. Há muitos muitos anos, no tempo da terrível guerra colonial, uma jovem deixou de ler as cartas do namorado, porque eram longas e quase ilegíveis. Passou a escrever-lhe, ignorando, portanto, o que ele lhe dizia em letra que nunca quis melhorar. Não faltou muito para o namoro acabar. 

Não tenho paciência para quem gere o tempo apenas consoante a sua disponibilidade, sem pensar que os outros podem ter o seu tempo contado.

Não tenho paciência para quem faz longas descrições dos problemas do dia a dia e, quando termina e o interlocutor quer também intervir, logo olha para o relógio, diz que é tarde e vai-se embora. A menos que lhe ocorra outra coisa que passa a desenvolver, como se o tempo tivesse parado.

Não tenho paciência para quem encontra justificação para tudo o que diz e faz e se ofende à mínima palavra que logo julga ofensiva.

E tenho muito mais impaciências. Tantas vezes contidas, embora gostasse de, corajosamente, as revelar mais nalgumas circunstâncias. Trava-me, com certeza, esta ideia: quem nunca mói a paciência dos outros que atire a primeira pedra! Eu não sou de certeza.


terça-feira, 12 de novembro de 2024

Olhando as camélias

 






A propósito de comunicação

 

Tem-se falado bastante das dificuldades de comunicação de duas ministras, atualmente no governo: Margarida Blasco e Ana Paula Martins. As notícias dizem que foi contratada uma empresa de comunicação para as ajudar. E não deve ficar nada barato! Digo eu, que faço contas, mas não entro nestas contas.

A primeira tem optado, em sessões públicas, por ler um texto previamente escrito para não dizer nada que a comprometa ou logo possa ser desmentido,  e a segunda quase nem aparece nem se pronuncia sobre casos, alegadamente de incúria, do seu ministério, como é a mais de uma dezena de mortes, alegadamente também, por atrasos do INEM.

Pois bem, como as coisas da vida - as mais simples e as mais complexas - são como as cerejas, lembrei-me de uma aluna que tive há bastantes anos. Era estudiosa, atenta, assídua, responsável, mas entrava em grande stress se tinha de apresentar trabalhos para a turma. Tinha extrema dificuldade em colocar-se à frente dos colegas, olhá-los e expor as suas ideias. Ficava coradíssima, desviava o olhar, as palavras fugiam-lhe e quase causava dor ver a dor que sentia por falar em público, mesmo quando o público era bem conhecido e restrito.

Terminou o ensino secundário e deixei de a ver. Passados uns anos, encontrei-a já não sei onde, talvez num supermercado. Logo trocámos sorrisos e aproximações. Ela mantinha o seu ar de menina, de cabelos longos e claros.

Então, como estás? E a professora? Continua na escola? E o que fazes?

Então, veio a resposta que, anos antes, eu acharia improvável: tinha seguido a tropa e dava instrução a muitos militares.

E disse-o com firmeza, entusiasmo e sem corar. Eu, que não costumo corar, acho que corei e disse coisas do género: Que maravilha! E gostas? Então, fico muito contente.

E algum tempo depois despedimo-nos. Então, felicidades. Para si, também, professora.

E fiquei a pensar na transformação daquela ex-aluna, que parecia ter vencido a enorme timidez de adolescente. Não sei se teve ajudas, mas desconfio que não. Parecia frágil, mas foi encontrando força que muitos julgavam quase impossível.  Continuará a ser quase anónima, nunca será ministra nem secretária de estado, mas até podia dar uma ajuda. Só que ninguém estaria interessado.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Não sei o que se celebra hoje, mas há sempre o dia para celebrar!

 

Hoje, acordei e levantei-me cedo. Quando tenho empregada, despacho-me mais cedo, para organizar as coisas que quero que ela faça. Por isso, já fui ao quintal apanhar couves e espinafres para sopa e empadão de bacalhau. A Mariana, que é brasileira, chama escondidinho ao empadão. Acho engraçado e sugestivo o  termo e agora uso-o de vez em quando. Ela também já aprendeu muitas palavras do português de Portugal que ela desconhecia. São boas estas trocas num mundo globalizado, embora, infelizmente, alguns líderes mundiais o queiram limitar.

Ah! E que bom é o chá de limão e gengibre que ela faz. Que bom estar gostoso - diz ela, pronunciando as sílabas com gosto e vagar, muito ao jeito brasileiro. 

E hoje, a passear em vai-vem no meu quintal, vi que os dióspiros-maçã estou quase no fim. Apanhei um, porque me sabe bem assim fresco e pouco maduro. E olhei as árvores que, em breve, têm de ser podadas. E a horta que, em muito pouco tempo foi invadida por trevos e mais trevos, amanhã vai ser preparada para receber outras hortaliças. Felizmente tenho quem o faça. Chama-se Alexandre, é simpático e generoso. E precisa de ganhar dinheiro.

Agora, ao meu lado, tenho crónicas do Expresso que quero ler. E um pouco mais do Diário Incontinuo, de Mário Cláudio, que comecei a ler há uns tempos.

Os meus dias vão sendo tranquilos e caseiros. Estou (confio que sim) a recuperar da doença que me surgiu no verão. Ao contrário de muitos amores de verão que depressa acabam, isto demora mais. Mas não faz mal se a vida continua e pode ser celebrada, ainda que as vivências sejam simples. Sem deixarem de ser quentinhas e boas. Como as saborosas castanhas deste outono.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Hoje celebra-se a preguiça!


Ainda muito pequena, ouvia maldizer a preguiça, um dos sete pecados mortais, que a minha mãe enumerava de cor muitas vezes para que o trabalho doméstico, que era obrigatoriamente partilhado pelas filhas (o filho, como era rapaz, não era contemplado!) fosse realizado na hora certa. E o que é certo é que havia o exemplo.
Pois bem, mesmo assim, a preguiça nunca me abandonou, embora qb, acho eu. Agora que estou reformada (reformulada, como digo às vezes por graça) ainda o sinto mais. Raramente estou sem fazer nada, mas aprecio os bocadinhos em que, no sossego da casa, sossego o corpo e o espírito. Costumo acordar cedo, mas não me levanto logo, ficando a desfrutar do bom quentinho que custa abandonar. Também não gosto de pressas nem pressões.
Será isto preguiça? E outros pecadilhos, como não fazer a cama em condições ‘para ficar a arejar’, deixar algumas coisas, que podiam ser feitas hoje, mas que ficam para amanhã, etc, etc, etc.
‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’ e o que eram apenas deveres agora também são direitos. E com conta, peso e medida ajudam a equilibrar o corpo e a mente, na tentativa de harmonia cada vez mais necessária nos dias conturbados que correm. 
Ouvir técnicos a falar do assunto e a validar momentos de preguiça reduz culpabilidades que ficam incrustadas e que demoram a libertar.
De uma coisa não posso abdicar: caminhar mais. Para já, vou ao meu quintal, que é estreito mas comprido, apanho ar e caminho um pouco. ‘Isso é pouco’ - ouvirei eu na próxima consulta no hospital. 
O melhor é vencer então a preguiça e começar hoje a alargar o espaço de caminhada. Bora lá! E assim não oiço esse raspanete que, ao contrário da preguiça, nunca (me) sabe bem.



quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Imaginem quem vai governar!

 

Nesta noite de leitura dos resultados das eleições, as televisões estavam ao rubro, patente que estava o mapa das votações nos Estados Unidos. A maioria dos votos ia caindo  no partido republicano, pintando o quadro a  vermelho.

O azul democrata era tímido e quase marginal.

No início, o candidato republicano falou de fraude, mas logo deixou de o dizer quando viu que era ele o favorito nas urnas. O seu ego, mais alto do que a sua torre em Nova York, subia altíssimo, o que evitava qualquer invenção de queixa.

Conhecidos eram os insultos, mentiras, falcatruas, subornos, misoginia, fuga ao fisco, centralidade em si para resolver os seus problemas com a justiça,  arrogância, ganância pelo poder,  desrespeito… tanta coisa que causa estranheza ao ver tanta gente a votar em pessoa com estes comportamentos.

A candidata Kamala foi recorrentemente ridicularizada por ele. Muitos desses insultos caíam no saco roto da normalização.

Hoje ouvi uma ex-emigrante nos Estados Unidos, durante longos anos, a dizer uma coisa interessante: Muitos eleitores de Trump não leem, rejeitam o contraditório e apenas ouvem o que o seu partido lhes grita e que é apenas o que conhecem.

Oxalá o envelhecimento do candidato vencedor lhe traga maior compostura e menos postura de reality show, que tanto exibe.

Contentes estarão os trumpzinhos que o vão imitando logo que haja palco, como em Portugal também já existe.

Descontentes estarão muito jovens que votaram em Trump. Só que o descontentamento vai demorar algum tempo a chegar. A menos que a normalização de atitudes e linguagem rude e boçal não os traiam ainda mais.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

domingo, 3 de novembro de 2024

O milho da eira

 

Em tardes de outono cheias de sol, como a de hoje, lembra-se da antiga eira da casa das tias, coberta de milho a secar. Ela era uma menina de longas e negras tranças que adorava ‘virar’ o milho, fazendo reguinhos com os pés, trazendo para cima a camada de milho que precisava de mais sol para secar.

Nunca mais esqueceu a sensação do milho quente debaixo dos pés descalços que iam deslizando naquele mar macio sob a luz doce e amarelada de outono.

Agora, da junção das pedras da eira crescem ervas daninhas e os campos de milho deram lugar a outras utilidades mais urbanas.

Mas, na sua memória, a menina, então de longas tranças e batinha costurada pela mãe para não sujar o vestido, continua ainda a voar sobre o milho da eira pintada de tons amarelos.

Esse quadro antigo daria um belo quadro, fosse quem fosse a criança feliz com os pés descalços a abrir pequenos sulcos sobre o milho.

Porém, nunca ninguém o pintou, nem sequer nele reparou, mas todos os anos o outono faz questão de o lembrar.


O Isolino

 

Era um homem discreto, afável, falava pouco e o sorriso era sereno. Sempre o vi junto ao fogão da cozinha de grandes dimensões. Ao centro, havia uma mesa também grande, onde a Comunidade Emaús, então sediada na rua do Almada, no Porto, tinha as refeições. 

A Comunidade era, e continua a ser, constituída por pessoas sem abrigo - designados companheiros - por voluntários e um pequeno grupo de dirigentes.

Ora, o Isolino era voluntário e cozinheiro e administrador da cozinha que sempre mantinha limpa e organizada. A comida que fazia era boa e saborosa. Quando os tachos, ainda a fumegar, estavam prontos para ir à mesa, sorria sem alarde e depois ficava contente se via que a sua comida estava a saber bem.

Isolino fez este trabalho durante longos anos, dedicando o seu tempo livre à Instituição.

Soube há pouco do falecimento deste homem pacato, persistente, solidário, sábio confecionador de sabores e alimentos. 

Apesar da sábia dedicação, Isolino nunca abriu nem abrirá telejornais, mas deixa a sua marca.  Para muitos também um porto de abrigo.


sábado, 2 de novembro de 2024

Nova (a)normalidade?


Se o pouco que digo sobre mim puder ser útil a alguém, melhor.

Desculpem a ausência durante todos estes dias. Tenho estado doente e, como acontece muitas vezes, fragilidade chama outras fragilidades do nosso corpo. No entanto, espero em breve poder dizer que estou bem e que o que lá vai lá vai! 
Quando fiquei doente, o médico, muito competente e simpático, do SNS, disse-me: ‘ocupe a sua cabeça’. Embora tenha lido pouco e escrito ainda menos, tenho ouvido e visto programas que me interessam, escutado podcasts com os quais aprendo muito e tenho feito alguns trabalhos de mãos para o Natal. E os dias, no geral, têm sido tranquilos. Felizmente!

Vamos agora ao que interessa e que puxei para título?
Todos nós recordamos o ‘Novo normal’, resultante da pandemia da covid 19, isto é, das novas práticas que fomos adotando porque a nossa vida muda com a mudança da realidade.
Pois bem, outro  ‘novo normal’ parece estar a impor-se e, desta vez, pelos insultos de políticos e que estão a ser adotados por imitadores populistas, aos quais Portugal não escapa.
É estranho não se estranhar quando se ouvem insultos como burro, imbecil, etc., vindos de alguém, por exemplo, que quer governar um país  dos mais importantes do mundo e que tem tantos apoiantes indiferentes às palavras insultuosas que são proferidas em comícios, etc. como se fosse tudo natural.
E o pior é que o chorrilho de insultos está a ser normalizado, o que é muito mau, sobretudo para as novas gerações que passam a não ter balizas nem referências. Vai-se espalhando a ideia de que liberdade é dizer e fazer tudo o que vem à cabeça.
Continuo a achar que a Vida é Bela, mas há quem a estrague cada vez mais, sobretudo  por ganância de poder.
É caso para dizer: Isto não é normal!

sábado, 19 de outubro de 2024

Em busca do documento perdido

 

Embora esteja quase tudo informatizado, muitas vezes precisamos de documentos em papel. É o que me está a acontecer por estes dias. Preciso de um documento que não encontro.

Não sou muito organizada, mas o suficiente para, habitualmente, saber onde estão as coisas, porque costumo pô-las em sítio certo. (Nem sempre, é claro). Pois bem, não encontro o documento de que preciso. Tiro as pastas da gaveta, abro as pastas, folheio a papelada, vejo o tema das folhas, separo as que foram lá parar mas deviam estar noutras capas, encontro tudo e mais alguma coisa, mas o documento que procuro é que não.

E logo me lembro da minha mãe que andava muitas vezes à procura ou do porta-moedas, ou do bilhete de identidade, ou de uma folhinha da vida de um santo que venerava… e a minha mãe sofria com isso, dizendo que estava a ficar sem memória. Tentávamos consolá-la dizendo que acontece a toda a gente e uma neta chegou a dar-lhe algumas instruções para que tal não acontecesse. Se bem me lembro foi que devia sempre pôr as coisas no sítio certo e não as deixar noutros lugares.

Porém, o documento que procuro estará no sítio certo, apesar de não o encontrar. Ou será que não está? Já duvido.

Apetece-me pensar que haverá uma solução e que o documento, apesar de ser importante para mim, não é caso de vida ou de morte, mas não vou desistir de procurar o fugitivo no meio das papeladas. Lamentarei o tempo que vou perder, mas será ganho se o encontrar, embora duvide que haja o desejado encontro.

Mãe, como a compreendo. Desculpe de só agora o dizer desta maneira.


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Belas cores de outono em Kew Gardens - Londres

 





quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Vou mudar, sim, quero mudar!

 

Sempre que posso, acompanho as noticias do dia, isto é, dos dias, porque se repetem e prolongam até à exaustão. E muito se tem falado ultimamente  de corrupção no BES que tanta gente lesou; de corrupção no Futebol em proveito de alguns dos dirigentes; de mentiras na política...

E só me refiro a dentro de portas.

Às vezes, oiço políticos e comentadores sobre esses assuntos e satisfaz-me haver, quase sempre, mas nem sempre, contraditório, o que é um bom sinal de democracia. No entanto, há líderes políticos que se refugiam no silêncio, recusando responder a perguntas, ou que preferem o retrógrado pensamento único ou que tiram sempre mentiras da cartola.

Seguindo as notícias que se repetem e pouco se alteram ao longo do dia, as horas escoam-se facilmente, as irritações vêm à flor da pele, e a tristeza aumenta por faltarem exemplos bons e estimulantes a seguir. Pode até vir a pergunta: o que aproveitei com este diálogo tantas vezes de surdos ou de palavras sobrepostas que perturbam o entendimento do discurso?

Quando hoje abri as janelas e vi o sol a espreitar por entre nuvens, pensei que tenho de mudar o modo como passo bastante tempo. Tenho livros importantes que quero ler, podcasts de que gosto muito de ouvir e com os quais posso aprender, plantas que esperam que as mime e ajude a crescer...

Interrogo-me como persistem comportamentos de figuras públicas que entristecem tanta gente. Nem chego a perceber se o fazem sabendo bem o que fazem sem se importarem nada com isso, ou se a ambição de poder é tanta que julgam navegar acima de tudo e de todos. Para não dizer que consideram talvez que os cidadãos anónimos são parvos.

Hoje comecei a impor-me mais disciplina neste âmbito: apaguei a televisão, li as primeiras páginas de um livro que uma amiga me emprestou, vou agora ao meu quintal apanhar ar e colher dióspiros... O resto virá, como veio esta vontade de prestar mais atenção ao que existe e não exige comando. E já não é sem tempo.

E que bom seria se valesse a pena! E que houvesse motivos para acreditarmos mais e para confirmarmos mais. Mas, por este andar, a procissão ainda está muito longe.


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

‘Lugares e Palavras de Natal: convite’

 Partilho aqui o regulamento para a escrita de um conto de Natal - enviado pela Editora Lugar da Palavra.

Boas escritas!

‘LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME XIII

Coletânea de poemas e contos 2024
 
Este Natal chegamos ao Volume 13! E continuamos a contar consigo! Participe na maior antologia de textos de Natal de língua portuguesa!
 
REGULAMENTO
1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 30 de outubro de 2024.
2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos paraeditora@lugardapalavra.pt
3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).
4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).
5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.
6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.
7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.
8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.
9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, emwww.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.
10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.
11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.
12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo-lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.
13. Será constituído um Conselho Editorial.
14. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.
15. Os casos omissos serão resolvidos pela organização.’

domingo, 13 de outubro de 2024

Como será este domingo?

 

Bom dia, desde já, e bom domingo.

Mas como será o dia, podemos perguntar, embora as respostas se embrulhem sempre no mistério que se vai desvendando, enquanto as horas passam. Às vezes, com doçura, outras com agrura. Mas a vida é mesmo assim e, mesmo assim, pode ser - e ótimo seria que fosse para todos - incomparavelmente bela.

Mas há tantas questões que surgem como, por exemplo:

Haverá mais acusações de mentiras a soprar-nos aos ouvidos e a entristecer os nossos olhos?

Continuarão a impor-se as imagens das guerras em que as pessoas que sobrevivem desesperam indefesas? Em que os lugares de legitimo e necessário abrigo são amontoados de destroços?

Veremos mais tempestades a impor-se na fúria de tanto desmazelo ambiental?

E não ficariam por aqui as questões. Mesmo por ser domingo.

Sejamos felizes no que pudermos. Pode ser que outros também o sejam e, embora em círculo pequeno, é sempre bom quando o dia fica melhor.

Mais uma vez, bom domingo!


sábado, 12 de outubro de 2024

Já pensando no Natal

 



A bonequinha foi feita de fuchicos, feitos com pedacinhos de tecido - que, às vezes, temos em casa.



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

É quase inverno, mas ainda falo de verão

 

Escrevi estes versos, no verão do ano passado, após um breve internamento de  urgência num hospital de Londres. 

Tinha lá ido visitar a família e festejar os meus anos.


 

Parabéns!

 

- Feliz aniversário, Maria!

- Ah! Então, como souberam?

- Vimos a data na ficha

E colegas nos disseram.

 

- Eu nunca nunca pensei

Vir hoje ao hospital;

Foi preciosa a vossa ajuda

Neste meu súbito mal.

 

- Sob estas nuvens de Londres,

Nós queremos trabalhar,

Pra todos serem felizes,

Com saúde e bem-estar.

 

- Vim do meu país de sol,

Pequeno mas com beleza,

Pra visitar minha neta

Que, juntamente com meu neto,

São minha grande riqueza.

 

- Noutros países nascemos,

Terras de eterno verão,

De cores várias e dimensão,

Mas grande pobreza lá temos.

 

 

- Também portugueses emigram

Para a vida melhorar;

Tantas vezes o esquecemos

Em vez de sempre o lembrar.

 

- Muito difícil é viver

Com a pele de cor diferente;

Ter coragem de partir

Enobrece a forte gente.

 

- Obrigada pelo bolo

Com velinha e doçura;

Para vós, mil parabéns

Pelo saber e ternura!

 

O texto juntou-se a outros mais da coletânia Mimos de...,
publicada pela Editora Lugar da Palavra.

sábado, 5 de outubro de 2024

A Portinha

 

Há nomes na nossa vida que passam a ter um sentido próprio para quem os usa. Adotamo-los sem os questionar. É o caso da Portinha.

A Portinha era um terreno que as minhas tias tinham fora, mas perto da casa de lavoura onde sempre moraram enquanto viveram. 

Logo que se entrava na Portinha, havia uma ramada e um enorme castanheiro. Por esta altura do ano, havia a vindima. A nós, os mais pequenos, cabia apanhar do chão os pequenos cachos (dizíamos gaipas) de uvas que iam ficando para trás e estavam ao nosso alcance ou caíam ao chão para serem aproveitados.

Queríamos era apanhar os cachos a sério, subindo ao escadote e usando tesoura de poda,  mas era o tempo em que o querer de criança era como a parra da uva: pouco interessava para o efeito.

Ora, a limitar este espaço havia um muro que terminava com uma entrada para a horta, onde havia diferente hortaliças - nesta altura também havia nabos com rama alta e muito verde -, flores para o cemitério, onde estavam os antepassados -, e um grande espaço de erva onde a roupa era posta a corar. Se havia sol e estava calor, era regada devagar com um regador, para que ficasse mais limpa e branquinha. E havia muitas vezes umas toalhinhas pequenas de felpo que eram regadas para que as manchas saíssem. Só mais tarde lhes conheci a função e desvendou-se o mistério.

Lembro-me muitas vezes da Portinha que deixei de ver desde que as minhas tias faleceram e deixei de ir à velha casa.

Feliz ou infelizmente, não sou muito saudosa, mas estou grata (palavra muito usada atualmente e oxalá não se gaste) por ter tido essas experiências até à minha adolescência. 

Nem sei se a Portinha ainda existe, porque foi construído um viaduto nas imediações, espaços desportivos e uma estrada onde se pode caminhar.

São boas as portinhas que a vida nos vai abrindo, nem que sejam como pequenos cachos de uvas que vamos agarrando para que não desapareçam no chão.


sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Andamos todos zangados?

 

Ontem à tarde, na Assembleia da República - conhecida pela Casa da Democracia - discutia-se o Orçamento de Estado e todos estavam zangados, chateados, mal humorados, afinados, furiosos, exaltados…

Nas intervenções dos governantes e deputados, era quem mais queria evidenciar o seu trabalho e maldizer, criticar, desprezar, anular as pretensões e palavras dos outros. 

Uma guerrilha teimosa e feia, uma crispação nada exemplar. Cada um atirava palavras duras, culpabilizadoras, jogando ao ataque e à defesa ao mesmo tempo. Enquanto isso, os sobrolhos carregados faziam prever que quando não  há entendimento, não há orçamento. Tudo irrevogável.

E tudo se encaminhava para um virar de costas nas negociações - um namoro conflituoso que terminava com ofensas na praça pública que assistia à prolongada e grande gritaria. Não, o casamento não era possível e no ar, e na AR, pressentia-se o fechar do pano de uma longa novela, enquanto se apregoava: ‘Está tudo terminado entre nós.’

Eis senão quando, passadas umas duas horas, o casamento entre o casal desavindo voltava a ser possível, o incêndio das palavras abrandava e o diálogo aproximava-se da porta para entrar.

Que bom - disseram uns, o país não aguenta com tantas eleições em tão pouco tempo.

É preciso esperar - diziam outros mais prudentes -  porque os noivos ainda não contaram a história toda e podem afastar-se outra vez.

Enquanto isto, e também por causa disto, o país vai-se mantendo tristonho, zangado e crispado. Ah, e de sobrolho carregado.

Se eu fosse nova, emigrava. Só vinha cá de vez em quando. Para não desaprender de ser feliz.


quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O ministro zen?



Quando António Leitão Amaro, ministro da presidência, aparece, eu fico, quando posso, a observar as suas palavras e os gestos. 

Porquê?

Ele fala pausadamente, dividindo bem as sílabas das palavras, acompanhando o discurso que profere de gestos com as mãos, juntando o polegar ao indicador, mostrando que nada está a escapar à sua equipa de governo e que o caminho tem sido perfeito, como nunca foi. Está implícito, é claro, que os outros é que estragam tudo.

Ele aparece perante as câmaras para apaziguar, explicar, justificar, ‘amar a todos como a nós mesmos’, como numa aula imaginária e bondosa para crianças sentadinhas que se limitam a ouvir e a sorrir. Tudo muito zen, límpido e transparente. Ah, e ‘com sentido de estado’, que é expressão muito usada por quem está no poder e que assume múltiplos sentidos, consoante o momento.

Mas gabo a paciência do jovem ministro e a visível lealdade ao seu líder e a uma causa que, nas suas palavras lentas e quase soletradas, parece não ter mácula. Mas tem, como tudo na vida, corra ela mais depressa ou devagar.

De facto, (tentar) representar bem também estará no rol de quem é político. E se essa capacidade ajudar a pacificar e desenvolver o país, tanto melhor. Ainda que, confesso, às vezes o excesso até dê vontade de rir ou, pelo contrário,  não tenha piada nenhuma, se o que se diz é bem diferente do que se faz.

Seja como for, mais vale ser zen do que incendiário como, infelizmente, também os há, dentro e fora do governo. Estes correm depressa para as câmaras de televisão para que, sempre a velocidade cruzeiro, nenhum descontentamento lhes escape e com ele só eles possam ganhar.

É caso para dizer:

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, ou seja, nem tão devagar nem tão acelerado. E, sobretudo, que bom seria que os políticos fossem, de facto, mais francos, na prática e não só na teoria, porque são muito importantes na vida de um país.

Mas, às vezes, dá vontade de desligar do que dizem e fazem para ter(mos) momentos verdadeiramente mais zen, no recato (outra palavra atualmente muito usada) da nossa vida do dia a dia.