terça-feira, 12 de novembro de 2024

A propósito de comunicação

 

Tem-se falado bastante das dificuldades de comunicação de duas ministras, atualmente no governo: Margarida Blasco e Ana Paula Martins. As notícias dizem que foi contratada uma empresa de comunicação para as ajudar. E não deve ficar nada barato! Digo eu, que faço contas, mas não entro nestas contas.

A primeira tem optado, em sessões públicas, por ler um texto previamente escrito para não dizer nada que a comprometa ou logo possa ser desmentido,  e a segunda quase nem aparece nem se pronuncia sobre casos, alegadamente de incúria, do seu ministério, como é a mais de uma dezena de mortes, alegadamente também, por atrasos do INEM.

Pois bem, como as coisas da vida - as mais simples e as mais complexas - são como as cerejas, lembrei-me de uma aluna que tive há bastantes anos. Era estudiosa, atenta, assídua, responsável, mas entrava em grande stress se tinha de apresentar trabalhos para a turma. Tinha extrema dificuldade em colocar-se à frente dos colegas, olhá-los e expor as suas ideias. Ficava coradíssima, desviava o olhar, as palavras fugiam-lhe e quase causava dor ver a dor que sentia por falar em público, mesmo quando o público era bem conhecido e restrito.

Terminou o ensino secundário e deixei de a ver. Passados uns anos, encontrei-a já não sei onde, talvez num supermercado. Logo trocámos sorrisos e aproximações. Ela mantinha o seu ar de menina, de cabelos longos e claros.

Então, como estás? E a professora? Continua na escola? E o que fazes?

Então, veio a resposta que, anos antes, eu acharia improvável: tinha seguido a tropa e dava instrução a muitos militares.

E disse-o com firmeza, entusiasmo e sem corar. Eu, que não costumo corar, acho que corei e disse coisas do género: Que maravilha! E gostas? Então, fico muito contente.

E algum tempo depois despedimo-nos. Então, felicidades. Para si, também, professora.

E fiquei a pensar na transformação daquela ex-aluna, que parecia ter vencido a enorme timidez de adolescente. Não sei se teve ajudas, mas desconfio que não. Parecia frágil, mas foi encontrando força que muitos julgavam quase impossível.  Continuará a ser quase anónima, nunca será ministra nem secretária de estado, mas até podia dar uma ajuda. Só que ninguém estaria interessado.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Não sei o que se celebra hoje, mas há sempre o dia para celebrar!

 

Hoje, acordei e levantei-me cedo. Quando tenho empregada, despacho-me mais cedo, para organizar as coisas que quero que ela faça. Por isso, já fui ao quintal apanhar couves e espinafres para sopa e empadão de bacalhau. A Mariana, que é brasileira, chama escondidinho ao empadão. Acho engraçado e sugestivo o  termo e agora uso-o de vez em quando. Ela também já aprendeu muitas palavras do português de Portugal que ela desconhecia. São boas estas trocas num mundo globalizado, embora, infelizmente, alguns líderes mundiais o queiram limitar.

Ah! E que bom é o chá de limão e gengibre que ela faz. Que bom estar gostoso - diz ela, pronunciando as sílabas com gosto e vagar, muito ao jeito brasileiro. 

E hoje, a passear em vai-vem no meu quintal, vi que os dióspiros-maçã estou quase no fim. Apanhei um, porque me sabe bem assim fresco e pouco maduro. E olhei as árvores que, em breve, têm de ser podadas. E a horta que, em muito pouco tempo foi invadida por trevos e mais trevos, amanhã vai ser preparada para receber outras hortaliças. Felizmente tenho quem o faça. Chama-se Alexandre, é simpático e generoso. E precisa de ganhar dinheiro.

Agora, ao meu lado, tenho crónicas do Expresso que quero ler. E um pouco mais do Diário Incontinuo, de Mário Cláudio, que comecei a ler há uns tempos.

Os meus dias vão sendo tranquilos e caseiros. Estou (confio que sim) a recuperar da doença que me surgiu no verão. Ao contrário de muitos amores de verão que depressa acabam, isto demora mais. Mas não faz mal se a vida continua e pode ser celebrada, ainda que as vivências sejam simples. Sem deixarem de ser quentinhas e boas. Como as saborosas castanhas deste outono.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Hoje celebra-se a preguiça!


Ainda muito pequena, ouvia maldizer a preguiça, um dos sete pecados mortais, que a minha mãe enumerava de cor muitas vezes para que o trabalho doméstico, que era obrigatoriamente partilhado pelas filhas (o filho, como era rapaz, não era contemplado!) fosse realizado na hora certa. E o que é certo é que havia o exemplo.
Pois bem, mesmo assim, a preguiça nunca me abandonou, embora qb, acho eu. Agora que estou reformada (reformulada, como digo às vezes por graça) ainda o sinto mais. Raramente estou sem fazer nada, mas aprecio os bocadinhos em que, no sossego da casa, sossego o corpo e o espírito. Costumo acordar cedo, mas não me levanto logo, ficando a desfrutar do bom quentinho que custa abandonar. Também não gosto de pressas nem pressões.
Será isto preguiça? E outros pecadilhos, como não fazer a cama em condições ‘para ficar a arejar’, deixar algumas coisas, que podiam ser feitas hoje, mas que ficam para amanhã, etc, etc, etc.
‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’ e o que eram apenas deveres agora também são direitos. E com conta, peso e medida ajudam a equilibrar o corpo e a mente, na tentativa de harmonia cada vez mais necessária nos dias conturbados que correm. 
Ouvir técnicos a falar do assunto e a validar momentos de preguiça reduz culpabilidades que ficam incrustadas e que demoram a libertar.
De uma coisa não posso abdicar: caminhar mais. Para já, vou ao meu quintal, que é estreito mas comprido, apanho ar e caminho um pouco. ‘Isso é pouco’ - ouvirei eu na próxima consulta no hospital. 
O melhor é vencer então a preguiça e começar hoje a alargar o espaço de caminhada. Bora lá! E assim não oiço esse raspanete que, ao contrário da preguiça, nunca (me) sabe bem.



quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Imaginem quem vai governar!

 

Nesta noite de leitura dos resultados das eleições, as televisões estavam ao rubro, patente que estava o mapa das votações nos Estados Unidos. A maioria dos votos ia caindo  no partido republicano, pintando o quadro a  vermelho.

O azul democrata era tímido e quase marginal.

No início, o candidato republicano falou de fraude, mas logo deixou de o dizer quando viu que era ele o favorito nas urnas. O seu ego, mais alto do que a sua torre em Nova York, subia altíssimo, o que evitava qualquer invenção de queixa.

Conhecidos eram os insultos, mentiras, falcatruas, subornos, misoginia, fuga ao fisco, centralidade em si para resolver os seus problemas com a justiça,  arrogância, ganância pelo poder,  desrespeito… tanta coisa que causa estranheza ao ver tanta gente a votar em pessoa com estes comportamentos.

A candidata Kamala foi recorrentemente ridicularizada por ele. Muitos desses insultos caíam no saco roto da normalização.

Hoje ouvi uma ex-emigrante nos Estados Unidos, durante longos anos, a dizer uma coisa interessante: Muitos eleitores de Trump não leem, rejeitam o contraditório e apenas ouvem o que o seu partido lhes grita e que é apenas o que conhecem.

Oxalá o envelhecimento do candidato vencedor lhe traga maior compostura e menos postura de reality show, que tanto exibe.

Contentes estarão os trumpzinhos que o vão imitando logo que haja palco, como em Portugal também já existe.

Descontentes estarão muito jovens que votaram em Trump. Só que o descontentamento vai demorar algum tempo a chegar. A menos que a normalização de atitudes e linguagem rude e boçal não os traiam ainda mais.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

domingo, 3 de novembro de 2024

O milho da eira

 

Em tardes de outono cheias de sol, como a de hoje, lembra-se da antiga eira da casa das tias, coberta de milho a secar. Ela era uma menina de longas e negras tranças que adorava ‘virar’ o milho, fazendo reguinhos com os pés, trazendo para cima a camada de milho que precisava de mais sol para secar.

Nunca mais esqueceu a sensação do milho quente debaixo dos pés descalços que iam deslizando naquele mar macio sob a luz doce e amarelada de outono.

Agora, da junção das pedras da eira crescem ervas daninhas e os campos de milho deram lugar a outras utilidades mais urbanas.

Mas, na sua memória, a menina, então de longas tranças e batinha costurada pela mãe para não sujar o vestido, continua ainda a voar sobre o milho da eira pintada de tons amarelos.

Esse quadro antigo daria um belo quadro, fosse quem fosse a criança feliz com os pés descalços a abrir pequenos sulcos sobre o milho.

Porém, nunca ninguém o pintou, nem sequer nele reparou, mas todos os anos o outono faz questão de o lembrar.


O Isolino

 

Era um homem discreto, afável, falava pouco e o sorriso era sereno. Sempre o vi junto ao fogão da cozinha de grandes dimensões. Ao centro, havia uma mesa também grande, onde a Comunidade Emaús, então sediada na rua do Almada, no Porto, tinha as refeições. 

A Comunidade era, e continua a ser, constituída por pessoas sem abrigo - designados companheiros - por voluntários e um pequeno grupo de dirigentes.

Ora, o Isolino era voluntário e cozinheiro e administrador da cozinha que sempre mantinha limpa e organizada. A comida que fazia era boa e saborosa. Quando os tachos, ainda a fumegar, estavam prontos para ir à mesa, sorria sem alarde e depois ficava contente se via que a sua comida estava a saber bem.

Isolino fez este trabalho durante longos anos, dedicando o seu tempo livre à Instituição.

Soube há pouco do falecimento deste homem pacato, persistente, solidário, sábio confecionador de sabores e alimentos. 

Apesar da sábia dedicação, Isolino nunca abriu nem abrirá telejornais, mas deixa a sua marca.  Para muitos também um porto de abrigo.


sábado, 2 de novembro de 2024

Nova (a)normalidade?


Se o pouco que digo sobre mim puder ser útil a alguém, melhor.

Desculpem a ausência durante todos estes dias. Tenho estado doente e, como acontece muitas vezes, fragilidade chama outras fragilidades do nosso corpo. No entanto, espero em breve poder dizer que estou bem e que o que lá vai lá vai! 
Quando fiquei doente, o médico, muito competente e simpático, do SNS, disse-me: ‘ocupe a sua cabeça’. Embora tenha lido pouco e escrito ainda menos, tenho ouvido e visto programas que me interessam, escutado podcasts com os quais aprendo muito e tenho feito alguns trabalhos de mãos para o Natal. E os dias, no geral, têm sido tranquilos. Felizmente!

Vamos agora ao que interessa e que puxei para título?
Todos nós recordamos o ‘Novo normal’, resultante da pandemia da covid 19, isto é, das novas práticas que fomos adotando porque a nossa vida muda com a mudança da realidade.
Pois bem, outro  ‘novo normal’ parece estar a impor-se e, desta vez, pelos insultos de políticos e que estão a ser adotados por imitadores populistas, aos quais Portugal não escapa.
É estranho não se estranhar quando se ouvem insultos como burro, imbecil, etc., vindos de alguém, por exemplo, que quer governar um país  dos mais importantes do mundo e que tem tantos apoiantes indiferentes às palavras insultuosas que são proferidas em comícios, etc. como se fosse tudo natural.
E o pior é que o chorrilho de insultos está a ser normalizado, o que é muito mau, sobretudo para as novas gerações que passam a não ter balizas nem referências. Vai-se espalhando a ideia de que liberdade é dizer e fazer tudo o que vem à cabeça.
Continuo a achar que a Vida é Bela, mas há quem a estrague cada vez mais, sobretudo  por ganância de poder.
É caso para dizer: Isto não é normal!

sábado, 19 de outubro de 2024

Em busca do documento perdido

 

Embora esteja quase tudo informatizado, muitas vezes precisamos de documentos em papel. É o que me está a acontecer por estes dias. Preciso de um documento que não encontro.

Não sou muito organizada, mas o suficiente para, habitualmente, saber onde estão as coisas, porque costumo pô-las em sítio certo. (Nem sempre, é claro). Pois bem, não encontro o documento de que preciso. Tiro as pastas da gaveta, abro as pastas, folheio a papelada, vejo o tema das folhas, separo as que foram lá parar mas deviam estar noutras capas, encontro tudo e mais alguma coisa, mas o documento que procuro é que não.

E logo me lembro da minha mãe que andava muitas vezes à procura ou do porta-moedas, ou do bilhete de identidade, ou de uma folhinha da vida de um santo que venerava… e a minha mãe sofria com isso, dizendo que estava a ficar sem memória. Tentávamos consolá-la dizendo que acontece a toda a gente e uma neta chegou a dar-lhe algumas instruções para que tal não acontecesse. Se bem me lembro foi que devia sempre pôr as coisas no sítio certo e não as deixar noutros lugares.

Porém, o documento que procuro estará no sítio certo, apesar de não o encontrar. Ou será que não está? Já duvido.

Apetece-me pensar que haverá uma solução e que o documento, apesar de ser importante para mim, não é caso de vida ou de morte, mas não vou desistir de procurar o fugitivo no meio das papeladas. Lamentarei o tempo que vou perder, mas será ganho se o encontrar, embora duvide que haja o desejado encontro.

Mãe, como a compreendo. Desculpe de só agora o dizer desta maneira.


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Belas cores de outono em Kew Gardens - Londres

 





quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Vou mudar, sim, quero mudar!

 

Sempre que posso, acompanho as noticias do dia, isto é, dos dias, porque se repetem e prolongam até à exaustão. E muito se tem falado ultimamente  de corrupção no BES que tanta gente lesou; de corrupção no Futebol em proveito de alguns dos dirigentes; de mentiras na política...

E só me refiro a dentro de portas.

Às vezes, oiço políticos e comentadores sobre esses assuntos e satisfaz-me haver, quase sempre, mas nem sempre, contraditório, o que é um bom sinal de democracia. No entanto, há líderes políticos que se refugiam no silêncio, recusando responder a perguntas, ou que preferem o retrógrado pensamento único ou que tiram sempre mentiras da cartola.

Seguindo as notícias que se repetem e pouco se alteram ao longo do dia, as horas escoam-se facilmente, as irritações vêm à flor da pele, e a tristeza aumenta por faltarem exemplos bons e estimulantes a seguir. Pode até vir a pergunta: o que aproveitei com este diálogo tantas vezes de surdos ou de palavras sobrepostas que perturbam o entendimento do discurso?

Quando hoje abri as janelas e vi o sol a espreitar por entre nuvens, pensei que tenho de mudar o modo como passo bastante tempo. Tenho livros importantes que quero ler, podcasts de que gosto muito de ouvir e com os quais posso aprender, plantas que esperam que as mime e ajude a crescer...

Interrogo-me como persistem comportamentos de figuras públicas que entristecem tanta gente. Nem chego a perceber se o fazem sabendo bem o que fazem sem se importarem nada com isso, ou se a ambição de poder é tanta que julgam navegar acima de tudo e de todos. Para não dizer que consideram talvez que os cidadãos anónimos são parvos.

Hoje comecei a impor-me mais disciplina neste âmbito: apaguei a televisão, li as primeiras páginas de um livro que uma amiga me emprestou, vou agora ao meu quintal apanhar ar e colher dióspiros... O resto virá, como veio esta vontade de prestar mais atenção ao que existe e não exige comando. E já não é sem tempo.

E que bom seria se valesse a pena! E que houvesse motivos para acreditarmos mais e para confirmarmos mais. Mas, por este andar, a procissão ainda está muito longe.


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

‘Lugares e Palavras de Natal: convite’

 Partilho aqui o regulamento para a escrita de um conto de Natal - enviado pela Editora Lugar da Palavra.

Boas escritas!

‘LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME XIII

Coletânea de poemas e contos 2024
 
Este Natal chegamos ao Volume 13! E continuamos a contar consigo! Participe na maior antologia de textos de Natal de língua portuguesa!
 
REGULAMENTO
1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 30 de outubro de 2024.
2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos paraeditora@lugardapalavra.pt
3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).
4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).
5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.
6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.
7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.
8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.
9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, emwww.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.
10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.
11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.
12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo-lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.
13. Será constituído um Conselho Editorial.
14. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.
15. Os casos omissos serão resolvidos pela organização.’

domingo, 13 de outubro de 2024

Como será este domingo?

 

Bom dia, desde já, e bom domingo.

Mas como será o dia, podemos perguntar, embora as respostas se embrulhem sempre no mistério que se vai desvendando, enquanto as horas passam. Às vezes, com doçura, outras com agrura. Mas a vida é mesmo assim e, mesmo assim, pode ser - e ótimo seria que fosse para todos - incomparavelmente bela.

Mas há tantas questões que surgem como, por exemplo:

Haverá mais acusações de mentiras a soprar-nos aos ouvidos e a entristecer os nossos olhos?

Continuarão a impor-se as imagens das guerras em que as pessoas que sobrevivem desesperam indefesas? Em que os lugares de legitimo e necessário abrigo são amontoados de destroços?

Veremos mais tempestades a impor-se na fúria de tanto desmazelo ambiental?

E não ficariam por aqui as questões. Mesmo por ser domingo.

Sejamos felizes no que pudermos. Pode ser que outros também o sejam e, embora em círculo pequeno, é sempre bom quando o dia fica melhor.

Mais uma vez, bom domingo!


sábado, 12 de outubro de 2024

Já pensando no Natal

 



A bonequinha foi feita de fuchicos, feitos com pedacinhos de tecido - que, às vezes, temos em casa.



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

É quase inverno, mas ainda falo de verão

 

Escrevi estes versos, no verão do ano passado, após um breve internamento de  urgência num hospital de Londres. 

Tinha lá ido visitar a família e festejar os meus anos.


 

Parabéns!

 

- Feliz aniversário, Maria!

- Ah! Então, como souberam?

- Vimos a data na ficha

E colegas nos disseram.

 

- Eu nunca nunca pensei

Vir hoje ao hospital;

Foi preciosa a vossa ajuda

Neste meu súbito mal.

 

- Sob estas nuvens de Londres,

Nós queremos trabalhar,

Pra todos serem felizes,

Com saúde e bem-estar.

 

- Vim do meu país de sol,

Pequeno mas com beleza,

Pra visitar minha neta

Que, juntamente com meu neto,

São minha grande riqueza.

 

- Noutros países nascemos,

Terras de eterno verão,

De cores várias e dimensão,

Mas grande pobreza lá temos.

 

 

- Também portugueses emigram

Para a vida melhorar;

Tantas vezes o esquecemos

Em vez de sempre o lembrar.

 

- Muito difícil é viver

Com a pele de cor diferente;

Ter coragem de partir

Enobrece a forte gente.

 

- Obrigada pelo bolo

Com velinha e doçura;

Para vós, mil parabéns

Pelo saber e ternura!

 

O texto juntou-se a outros mais da coletânia Mimos de...,
publicada pela Editora Lugar da Palavra.

sábado, 5 de outubro de 2024

A Portinha

 

Há nomes na nossa vida que passam a ter um sentido próprio para quem os usa. Adotamo-los sem os questionar. É o caso da Portinha.

A Portinha era um terreno que as minhas tias tinham fora, mas perto da casa de lavoura onde sempre moraram enquanto viveram. 

Logo que se entrava na Portinha, havia uma ramada e um enorme castanheiro. Por esta altura do ano, havia a vindima. A nós, os mais pequenos, cabia apanhar do chão os pequenos cachos (dizíamos gaipas) de uvas que iam ficando para trás e estavam ao nosso alcance ou caíam ao chão para serem aproveitados.

Queríamos era apanhar os cachos a sério, subindo ao escadote e usando tesoura de poda,  mas era o tempo em que o querer de criança era como a parra da uva: pouco interessava para o efeito.

Ora, a limitar este espaço havia um muro que terminava com uma entrada para a horta, onde havia diferente hortaliças - nesta altura também havia nabos com rama alta e muito verde -, flores para o cemitério, onde estavam os antepassados -, e um grande espaço de erva onde a roupa era posta a corar. Se havia sol e estava calor, era regada devagar com um regador, para que ficasse mais limpa e branquinha. E havia muitas vezes umas toalhinhas pequenas de felpo que eram regadas para que as manchas saíssem. Só mais tarde lhes conheci a função e desvendou-se o mistério.

Lembro-me muitas vezes da Portinha que deixei de ver desde que as minhas tias faleceram e deixei de ir à velha casa.

Feliz ou infelizmente, não sou muito saudosa, mas estou grata (palavra muito usada atualmente e oxalá não se gaste) por ter tido essas experiências até à minha adolescência. 

Nem sei se a Portinha ainda existe, porque foi construído um viaduto nas imediações, espaços desportivos e uma estrada onde se pode caminhar.

São boas as portinhas que a vida nos vai abrindo, nem que sejam como pequenos cachos de uvas que vamos agarrando para que não desapareçam no chão.


sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Andamos todos zangados?

 

Ontem à tarde, na Assembleia da República - conhecida pela Casa da Democracia - discutia-se o Orçamento de Estado e todos estavam zangados, chateados, mal humorados, afinados, furiosos, exaltados…

Nas intervenções dos governantes e deputados, era quem mais queria evidenciar o seu trabalho e maldizer, criticar, desprezar, anular as pretensões e palavras dos outros. 

Uma guerrilha teimosa e feia, uma crispação nada exemplar. Cada um atirava palavras duras, culpabilizadoras, jogando ao ataque e à defesa ao mesmo tempo. Enquanto isso, os sobrolhos carregados faziam prever que quando não  há entendimento, não há orçamento. Tudo irrevogável.

E tudo se encaminhava para um virar de costas nas negociações - um namoro conflituoso que terminava com ofensas na praça pública que assistia à prolongada e grande gritaria. Não, o casamento não era possível e no ar, e na AR, pressentia-se o fechar do pano de uma longa novela, enquanto se apregoava: ‘Está tudo terminado entre nós.’

Eis senão quando, passadas umas duas horas, o casamento entre o casal desavindo voltava a ser possível, o incêndio das palavras abrandava e o diálogo aproximava-se da porta para entrar.

Que bom - disseram uns, o país não aguenta com tantas eleições em tão pouco tempo.

É preciso esperar - diziam outros mais prudentes -  porque os noivos ainda não contaram a história toda e podem afastar-se outra vez.

Enquanto isto, e também por causa disto, o país vai-se mantendo tristonho, zangado e crispado. Ah, e de sobrolho carregado.

Se eu fosse nova, emigrava. Só vinha cá de vez em quando. Para não desaprender de ser feliz.


quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O ministro zen?



Quando António Leitão Amaro, ministro da presidência, aparece, eu fico, quando posso, a observar as suas palavras e os gestos. 

Porquê?

Ele fala pausadamente, dividindo bem as sílabas das palavras, acompanhando o discurso que profere de gestos com as mãos, juntando o polegar ao indicador, mostrando que nada está a escapar à sua equipa de governo e que o caminho tem sido perfeito, como nunca foi. Está implícito, é claro, que os outros é que estragam tudo.

Ele aparece perante as câmaras para apaziguar, explicar, justificar, ‘amar a todos como a nós mesmos’, como numa aula imaginária e bondosa para crianças sentadinhas que se limitam a ouvir e a sorrir. Tudo muito zen, límpido e transparente. Ah, e ‘com sentido de estado’, que é expressão muito usada por quem está no poder e que assume múltiplos sentidos, consoante o momento.

Mas gabo a paciência do jovem ministro e a visível lealdade ao seu líder e a uma causa que, nas suas palavras lentas e quase soletradas, parece não ter mácula. Mas tem, como tudo na vida, corra ela mais depressa ou devagar.

De facto, (tentar) representar bem também estará no rol de quem é político. E se essa capacidade ajudar a pacificar e desenvolver o país, tanto melhor. Ainda que, confesso, às vezes o excesso até dê vontade de rir ou, pelo contrário,  não tenha piada nenhuma, se o que se diz é bem diferente do que se faz.

Seja como for, mais vale ser zen do que incendiário como, infelizmente, também os há, dentro e fora do governo. Estes correm depressa para as câmaras de televisão para que, sempre a velocidade cruzeiro, nenhum descontentamento lhes escape e com ele só eles possam ganhar.

É caso para dizer:

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, ou seja, nem tão devagar nem tão acelerado. E, sobretudo, que bom seria que os políticos fossem, de facto, mais francos, na prática e não só na teoria, porque são muito importantes na vida de um país.

Mas, às vezes, dá vontade de desligar do que dizem e fazem para ter(mos) momentos verdadeiramente mais zen, no recato (outra palavra atualmente muito usada) da nossa vida do dia a dia.


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Com franqueza!

 

Há governantes que repetem sistematicamente chavões como ‘sejamos francos’. Ora, é fácil concluir que se precisam de repetir tanto que estão a usar a franqueza, é porque mentem mais do que deviam ou tomam para si apenas o lado da verdade que no momento mais interessa. Muitos políticos parecem estar demasiado habituados a estes filtros da verdade, consoante o momento e o interesse, manipulando e pretendendo puxar muitas pessoas para o seu lado, ou melhor, cativando votos que, em qualquer altura, podem ser necessários.

Bem fora da cena política, que os media mostram e tantas vezes exploram também consoante a sua linha editorial, conheço  alguém que, em meia dúzia de frases, usa sempre a expressão ‘sou sincera’. Pelo que se conhece, a realidade é por ela alterada com frequência e sempre a seu favor.  Observar esse comportamento chega a ter graça, mas quem está a ser visado não achará  piada nenhuma.

Antigamente faziam-se juras para garantir que a verdade estava bem viva e presente. Não sei se estão a cair em desuso, porque não as oiço tanto. Quando eu era miúda, até em pleno jogo da macaca, lá saíam juras e logo se ouvia em resposta: quem muito jura muito mente.

Também se diz que ‘a mentira tem perna curta’, mas, com perna curta ou perna longa, ela nasce e corre em demasiadas direções. E há mentiras que são ditas e postas a circular de tal modo que se confundem com verdades que influenciam e tornam tudo mais opaco, ainda que se proclame a transparência.

Não é por se apregoar a franqueza que ela existe, pelo contrário, leva até à descrença e à desconfiança, porque mais importante do que dizê-la é praticá-la, por pessoas anónimas como eu, ou por figuras públicas que marcam rumos do país.

Porém, muita da prática atual encaixa-se num pequeno provérbio: ‘Bem prega frei Tomás, olha para o que diz e não para o que faz’.


segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Porque hoje é 2a feira

 

Estou sentada no hall de entrada. Pela janela entra a luz do sol. Apetece-me dizer um lugar comum ainda que verdadeiro: hoje está sol, mas amanhã não se sabe. E o melhor será aproveitá-lo (embora nesta fase da minha vida tenha de redobrar os cuidados com o sol). Aliás, nunca se sabe o que pode acontecer no dia seguinte. Esse é um dos mistérios da vida. E talvez um dos seus encantos,  embora tantas vezes inquietantes. E desafiantes,  como agora se diz muito.

A minha cadela vai ladrando lá fora, reagindo a quem passa na rua. Se vir outros animais, a reação é maior. Não sei se é alegria ou é pena de a visão ser passageira. Quando ela me ouve na cozinha, aproxima-se da porta e fica longo tempo sentada junto à soleira da porta. E vêm-me à memória imagens da minha infância: eu ficava junto do quarto da minha mãe, enquanto ela dormia a sesta, à espera de restinhos de panos  para eu fazer roupa para as bonecas. A paciência era grande e o tempo mais comprido.

O que trará a semana que hoje começa? O orçamento de estado terá fumo branco? As guerras continuarão a matar e a causar pânico em tantos seres indefesos e sem culpa nenhuma das nuvens de fumo negro que sobrevoam os céus e sufocam as cidades? Que notícias felizes cada um de nós receberá? O que acontecerá que pode causar tristeza? Tanta incógnita e tanta descoberta pelo caminho dos dias!

Que pequenas coisas podem revelar que o ser humano é mais humano se houver mais verdade e mais beleza?

Sê bem-vinda, 2a f. Vem feliz e formosa para todos, ainda que insegura!