terça-feira, 15 de dezembro de 2020

(A)Normalidades!

 

Há uns tempos, fui ao dentista e o tratamento seria demorado. Não que me estivesse a doer muito, mas estar ali de boca aberta aquele tempo todo não era mesmo nada cómodo nem agradável.

Quando me sento naquela cadeira, habitualmente fecho os olhos e só vou ouvindo.

Ora, nesse dia, para além de fechar os olhos, comecei a imaginar que estava sentada na areia num belo e sereno fim de tarde. Um pouco como se faz às vezes no yoga.

Quando o tratamento terminou, o curto diálogo entre mim e o dentista foi mais ou menos este:

- Então, custou muito?

- Nem por isso, senhor doutor, estive na praia!

O dentista, apesar de me conhecer há muitos anos, olhou-me com a surpresa de quem ouve coisas estranhas de quem habitualmente é 'normal'.

Fixei a expressão dele que achei divertida.

Na semana passada, tive de fazer uma ressonância magnética. Para tentar superar aquela ruideira toda naquele túnel, fechei igualmente os olhos e imaginei-me a observar a minha neta na escolinha. 'Via-a' a correr no recreio, sentadinha a desenhar ou a escrever na sala de aula... 

O tempo parecia passar mais depressa.

No final do exame, a técnica, muito simpaticamente, perguntou-me se estava tudo bem.

Eu sorri, disse que sim, mas nada acrescentei, porque o que eu queria era sair dali o mais depressa possível.

 

domingo, 13 de dezembro de 2020

"Raisparta a pandemia", ela dirá.

No verão, passo algum tempo de férias em Mindelo, Vila do Conde. Nas esplanadas pertinho do mar, há um tema que é recorrente: o tempo. Que bom, hoje não há vento. A nortada de ontem foi terrível. Que nevoeiro se formou. Hoje está mais frio do que ontem. Não me lembro de um fim de tarde calmo como o de sábado. Foi um dia sem ver o sol...

Há meses que lá não vou e, se as esplanadas estiverem a funcionar (no café do Fernando há uns pregos deliciosos), o estado do tempo deve continuar na ordem do dia, mais os dados da pandemia, mais o confinamento decretado, mais as diferenças entre o Natal que se aproxima e os anteriores.

E não é só lá, é em todo o sítio onde vamos passando e sempre que falamos com alguém, para além do bom dia ou boa tarde! 

Gosto sempre de ver o mar e olhar a praia, mesmo no inverno. 

Neste momento, estou em casa, como milhões de portugueses; na rua, passa apenas um carro de vez em quando e não se ouvem vozes lá fora. No meio de silêncios, ao pensamento vieram-me imagens de maresia, que distam uns quarenta quilómetros.

O mais certo é as esplanadas em Mindelo estarem fechadas. O mar, esse nunca está.

Nestas tardes de confinamento, a praia pertencerá apenas às gaivotas. E à espuma com ondas. E aos sons das águas invernosas...

Ah! É costume haver uma lojista que deixa a loja ao fim da tarde para fotografar o mar. Nunca a ouvi falar do tempo porque quer aproveitar o tempo e ir a tempo de captar a melhor fotografia. Como deve estar a chover neste momento, olhará o mar através da janela mais alta da casa.

Afinada e confinada, fará contas à vida, mas não deve resistir a fotografar as gaivotas na sua avidez ruidosa. Raisparta a pandemia, ela dirá, enquanto colhe imagens de uma tarde cinzenta e fria. Mas nunca só.

 

sábado, 12 de dezembro de 2020

E hoje esteve sol!


 

Bana - Girassol

Também vou tentar tentar!

 

Maria Keil

Para começar, não gosto nada da palavra culpa, porque me faz lembrar modelos antigos e pesados de educação e religião. No entanto, o seu significado não pode ser posto de lado, como acontece com tanta frequência, desde as pequenas às grandes coisas. Se não gostarmos da palavra, também não há problema porque existem vários sinónimos: falta, erro, falha...

O dia a dia é fértil em desculpabilização. Há uma discussão: não fui eu que comecei. Uma conta não foi paga: outros também não o fazem. O país está mal: a culpa é do governo. Há aumento de casos covid-19: a DGS e os governantes não sabem comunicar. Os contentores do lixo estão a abarrotar: a Câmara devia pôr mais. Não se faz reciclagem: os outros também não fazem. O miúdo tem fracos resultados: os professores não gostam dele. A empresa funciona mal: eles não ligam...

O passa-culpas é constante na política e no mais comum quotidiano. Às vezes, o ser humano põe-se à parte, ficando como espectador que olha unicamente para o palco onde está o outro. 

E o que é certo é que o exemplo é o mais importante e as novas gerações vão adquirindo estas práticas quando, à sua volta, são recorrentes.

 Pode haver caos a muitos níveis, mas, se cada um quiser (e puder, é claro), pode ir tornando o mundo um bocadinho melhor e mais bonito. Também vou tentar tentar.

 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A lista

Há dias, em visita à Dona Redonda  (https://dona-redonda.blogspot.com),

encontrei Palavras daqui e dali  (http://palavrasdaquiedali.blogspot.com).

Logo gostei do título e do conteúdo do blogue.

Pedi autorização para o anexar à minha lista.

Simpaticamente, a Isabel respondeu-me:


"Por mim, esteja à vontade! Só tenho a agradecer:))
O seu já está na minha lista, porque gostei do que por lá vi. De certa forma acho-o um pouco parecido com o meu, nos temas que vai apresentando. Só não consegui foi ser seguidora, pois não vi a lista de seguidores".

 

Ora, desde que criei o blogue, em 2011, nunca a tinha formado, ainda que existisse um pequenino grupo  de seguidores, a quem muito agradeço, no cimo da minha página das estatísticas. 

Obrigada, Isabel, pelo estímulo e assim nasce a lista dos seguidores. Hoje, é o primeiro dia...

Quem quiser juntar-se ao grupo será muito bem-vindo e, desde já, agradeço.

Apesar de bastante simplicidade deste espaço que vou, aos poucos e bastante amadoramente reconstruindo, obrigada também pelas mensagens, pelas visualizações e, sobretudo, por tanta e saborosa partilha.

É muito bom sentir  o pulsar dos dias de tantas pessoas que fazem do mundo um mundo das e para as pessoas.

 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Por falar em casa, ...

 

 ... gosto que esteja organizada, mas nunca consegui ter a casa muito arrumada. Daquelas em que não há nada fora do lugar. 

Na sala, há sempre jornais à espera de mais leitura, livros que aguardam quem os reabra, um caderno que ficou aberto, umas folhas de rascunho que ainda podem ser úteis, umas canetas que só fazem falta quando não estão ali...

Para não falar das almofadas do sofá fora do lugar, da mantinha que ficou por dobrar...

Mas já foi pior quando as minhas filhas eram pequenas.

 Agora, por causa da pandemia, quase ninguém visita ninguém, mas quando nos visitávamos mais e eu não contava com a visita, pedia desculpa por alguma desarrumação.

Quando passar a pandemia, acho que vou deixar de o fazer.  Já bastam os atuais  constrangimentos.


sábado, 5 de dezembro de 2020

Gotas da recente tempestade!


 Obrigada, Vítor, pela fantástica foto!

 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Sugestão de prendinhas doces de Natal

 



Como fiz

 

 Há muitas maneiras de fazer doce de abóbora.

Vou partilhar o modo como fiz. Acho que ficou bem, mas talvez com abóbora um pouco

mais coradinha, fique ainda melhor.

Seja como for, amor e carinho também adoçam os presentes que partilhamos!

 

Pus ao lume abóbora, açúcar, casca de limão, pau de canela


Deixei cozer até a abóbora ficar macia
Juntei amêndoa partida

Deixei cozer mais um pouco e pus em frascos

Voltei-os até arrefecerem para ganharem vácuo

 

Já frios, limpei os frascos, pus etiquetas e decorei-os com o que tinha em casa.

Ah! E juntei-os a outras prendinhas para distribuir. Com desejos de doce Natal!

 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Só sei que...

Dentro de nós!

 

Hoje, enquanto tomava o pequeno almoço, ouvi uma senhora já idosa a falar de como passava o tempo em casa desde o início da pandemia. E, curioso, parecia feliz. Tinha saúde, saía muito pouco, tinha uma pequena horta, fazia crochet e tricot e tinha o seu tempo sempre ocupado.

Achei-lhe piada, porque também gosto de estar em casa e tenho sempre coisas para fazer, para organizar, para tornar um bocadinho mais bonitas; um livro para ler...

Claro que o ideal era fazê-lo sem ser em tempo de pandemia, mas a realidade é o que é e não o que gostaríamos que fosse.

Há muitos anos, passei um mês em casa de um tio emigrante na Alemanha. Ao fim da tarde, não havia quase ninguém na rua. Como era inverno, eu pensava que era do frio. Vim depois a saber que era muito comum as pessoas passarem muito tempo em casa porque tinham diferentes hobbies.

Nós também os temos, é claro, e agora as diferenças entre os países vão-se atenuando.

O nosso clima é mais propício a saídas, mas, se calhar, também é bom olharmos para o que está dentro de casa. E dentro de nós. 

 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Provérbios com dezembro dentro

 

Claude Monet
          

          Ande o frio onde andar, no Natal cá vem parar. 

Se queres um bom alhal, planta-o no mês do Natal. 

 

Em dezembro chuva, em agosto uva. 

 

Quem colhe azeitona antes do Natal deixa metade no olival.

Os dias de Natal são saltos de pardal.


Dezembro frio, calor no estio.

Assim como vires o tempo de Santa Luzia ao Natal, assim estará o ano, mês a mês até ao final.

De outubro a dezembro não busques o pão no mar.

De Santa Luzia ao Natal, ou bom chover ou bom nevar.


Depois de o Menino nascer, é tudo a crescer.


Dezembro molhado, Janeiro geado.

Dezembro quer lenha no lar e pichel a andar.


Do Natal a Santa Luzia cresce um palmo cada dia.

 

Do Natal a São João, seis meses são.

 

 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

E hoje morreu Eduardo Lourenço!



 

Partilho o endereço de uma entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Eduardo Lourenço e a um grande amigo do Filósofo, Pensador, Escritor..., José Augusto França.

Vale a pena ler, apesar de a entrevista já ter algum tempo. 

Pela mão da jornalista, ficamos a conhecer uma boa parte da vida, da obra de ambos, da cultura portuguesa e europeia que os dois intelectuais conheceram de perto, nomeadamente Eduardo Lourenço - um Homem aberto ao Mundo, à Curiosidade, ao Conhecimento, à Literatura, ao Humanismo...

 

https://anabelamotaribeiro.pt/eduardo-lourenco-e-jose-augusto-franca-148866

Hoje, nasce dezembro!

 

Ana Manso (N. Lisboa, 1984)

"(...) 

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
(...) "

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Retribuições

 

Tenho há muito tempo esta toalha e gosto de olhar para os seus dois lados.

Obrigada, Noémia, por tantas mensagens que já bordaste.

Oxalá continues a fazê-lo.



domingo, 29 de novembro de 2020

Felizmente, há tanta coisa bonita desconfinada!

 

Lurdes Castro

Quando, pela manhã, abri as janelas, entrou em casa a luz do sol - que, felizmente, hoje está desconfinado. 

Uma amiga ligou-me e falámos de muitas coisas das nossas vidas quotidianas, de livros que temos partilhado, dos filhos, do Natal que, este ano, será diferente...  Que bom termos amigos e podermos falar, aproveitando todos os meios de que dispomos.

Outra amiga enviou-me um poema que escreveu (vou partilhá-lo aqui um dia destes). Li-o e reli-o, como faço quando gosto muito de um texto. E que bom haver poemas, músicas, blogues, livros, pessoas de quem gostamos...

Liguei para a Bertrand para encomendar um livro para a Clarinha. Um livro em português com ilustrações de meninos portugueses para que, em Londres, ela veja palavras portuguesas, desenhos portugueses, para além das palavras em português que ouve diariamente da mãe. Não, perto ou à distância, o amor não está confinado. E, felizmente, há o skype, o facetime... Não é a mesma coisa, mas é alguma coisa.

Aproxima-se mais uma tarde de confinamento. Que todos, independentemente da idade mais ou menos avançada, possamos aceder a coisas simples e boas que, felizmente, não estão confinadas.

 

sábado, 28 de novembro de 2020

Poetas das nossas vidas!

Desculpem! Vou falar da minha mãe

 

Nos encontros ou festinhas familiares, há sempre o 'momento de poesia', em que a minha mãe é a protagonista, porque, da família, é a única que sabe muitos versos de cor. E o que é mais curioso é que os aprendeu há mais de oitenta anos na escola primária. Com a D. Berta, 'a minha professora', como gosta de frisar. 

Antes de começar a recitar os versos, acedendo ao nosso pedido, refere sempre que são simples, que já são muito antigos e outras modéstias, mas logo se concentra e diz o poema que escolhe ou que lhe sugerimos, pronunciando muito bem todas as palavras, todas as rimas, todas as sílabas.

A minha mãe não é dada a falar de prazeres, mas, quando está a dizer versos, vemos que é prazer o que está a sentir.

Quando termina um poema, todos aplaudem e pedem mais. Ela enumera outras modéstias, como não ter  estudos, mas logo se lembra de outro poema. Pode ser 'A balada da neve', um poema sobre o monte Crasto, outro sobre o fabrico do linho, outro sobre as regiões de Portugal... O rol é muito extenso e sempre fiel às tradições.

Todos nós, de cada vez que a ouvimos, nos extasiamos com os inúmeros poemas que guarda tão bem na caixinha da memória.

O meu pai, que não era muito dado a elogios caseiros, ouvia-a sempre embevecido, o que também era muito bonito.

Há um poema, cujo autor desconheço, que, nessas ocasiões, ouvimos da minha mãe, dando entoação aos pontos bem humorados, mas sem nunca perder o fio à meada das palavras, como em todos os outros que aprendeu há mais de oitenta anos e que nunca esqueceu.


"Os velhos

Numa aldeia distante,

isto em tempos já passados,

viviam alegremente

dois velhinhos bem casados.

 

A mulher e o companheiro

diziam, juntos, os dois:

Se tu morreres primeiro,

morrerei logo depois!

 

Nisto, uma pancada forte

na porta se fez ouvir.

- Quem é? Perguntam.

- É a morte.

Quero entrar; venham abrir.

 

- Diacho, diz o marido,

como há de isto agora ser?

Tenho aqui um pé dorido;

vai lá tu abrir, mulher.

 

Mas ela logo se queixa:

-Valha-me Nosso Senhor,

este flato não me deixa;

Vai lá tu, fazes favor.

 

Nisto, a morte enfadada

Investiu pelo postigo

E, entrando na pousada,

Levou os velhos consigo!"

 

 (Encontrei esta narrativa, com algumas diferenças, em

http://www.ffam.pt/docs.asp?id_menu=135

Dizem ser uma 'fábula polaca').

sexta-feira, 27 de novembro de 2020