Há uns tempos, fui ao dentista e o tratamento seria demorado. Não que me estivesse a doer muito, mas estar ali de boca aberta aquele tempo todo não era mesmo nada cómodo nem agradável.
Quando me sento naquela cadeira, habitualmente fecho os olhos e só vou ouvindo.
Ora, nesse dia, para além de fechar os olhos, comecei a imaginar que estava sentada na areia num belo e sereno fim de tarde. Um pouco como se faz às vezes no yoga.
Quando o tratamento terminou, o curto diálogo entre mim e o dentista foi mais ou menos este:
- Então, custou muito?
- Nem por isso, senhor doutor, estive na praia!
O dentista, apesar de me conhecer há muitos anos, olhou-me com a surpresa de quem ouve coisas estranhas de quem habitualmente é 'normal'.
Fixei a expressão dele que achei divertida.
Na semana passada, tive de fazer uma ressonância magnética. Para tentar superar aquela ruideira toda naquele túnel, fechei igualmente os olhos e imaginei-me a observar a minha neta na escolinha. 'Via-a' a correr no recreio, sentadinha a desenhar ou a escrever na sala de aula...
O tempo parecia passar mais depressa.
No final do exame, a técnica, muito simpaticamente, perguntou-me se estava tudo bem.
Eu sorri, disse que sim, mas nada acrescentei, porque o que eu queria era sair dali o mais depressa possível.