O chapéu da senhora japonesa
A senhora
japonesa entrou no comboio. Os passageiros vinham quase todos do aeroporto e
seguravam malas. Algumas, muito grandes, quase barravam a passagem no corredor
da carruagem. Era primavera, o tempo ia frio e as roupas eram escuras.
A
senhora japonesa vestia um fato claro e trazia um chapeuzinho de palhinha
branca com um raminho de flores num dos lados. Nas mãos, segurava uma pequena
carteira e um telemóvel com rosadas
flores de cerejeira na capa.
Uma
das malas bateu-lhe ligeiramente no pé. Sorriu, desviou-o e adormeceu, deixando cair o rosto
redondinho. Que parecia dar lugar ao redondo chapeuzinho.
A
menina e o varão
A
carruagem do metro ia quase vazia. Nela entrou uma mulher jovem com uma menina
alta, na fronteira de menina pequena para menina grande. A mulher jovem, que
devia ser a mãe, ficou de pé, sempre a escrever no telemóvel. Nunca desviou o
olhar do ecrã.
A
menina, apoiando-se no varão da carruagem, começou a dançar inclinando a cabeça
para trás. Rodava e a saia rodada também parecia dançar à volta das pernas
altas e esguias.
Não
sei se era loucura ou vontade de não desperdiçar nenhum momento de liberdade.
Dá-me
a tua mão
Era
domingo. A família da menina foi almoçar fora. Escolheu um pub descontraído,
como são quase todos em Londres. O sunday roast não era muito caro, sem deixar
de ser bom.
As
mesas de madeira foram-se enchendo de famílias.
Enquanto
os adultos comiam ainda, algumas crianças já corriam entre as mesas. Foi quando
se ouviu uma menina dizer para um menino com quem brincava: "Dá-me a tua mão".
Quando
a família da menina saiu do pub, a família do menino ainda ficou. Os meninos deram uma
abracinho de despedida e as famílias trocaram sorrisos como se todos dessem as
mãos.