quarta-feira, 27 de setembro de 2017
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Também o tempo estava outonal
São sempre bonitas e variadas estas festas ao ar livre em Serralves.
Por isso, as pessoas de diferentes gerações aderem em massa.
Ontem, pelo meio da tarde, veio uma chuva constante e miúda. Em pouco mais de uma hora, Serralves ficou quase deserto.
No prado, mantiveram-se umas tendas com crianças que, abrigadas e acompanhadas de monitores, continuavam a aprender a reciclar, a pintar...
Não muito longe, uns fornos continuavam acesos e fumegantes, preparados para o pão para as bifanas, que era suposto servir até às 19 h.
Tal como na história de olhar o copo meio cheio ou meio vazio, felizmente cheguei pelas quatro horas e ainda deu tempo para ouvir um pouco de história infantil, musicada e muito bem contada (1ª e 2ª fotos); olhar o prado bem animado, com muitas barraquinhas, onde havia castanhas assadas e café, ver as hortinhas e as abóboras colhidas e alinhadas; ouvir os animais que vivem na quinta; ver muitas crianças deliciadas a brincar com a palha cortada (ai como a Clarinha também gostaria!); olhar as árvores tingidas de tons avermelhados e amarelos, passar pelos grandes cogumelos, espalhados pela quinta, feitos com materiais reciclados, assistir a uma instalação com uma jovem que se movimentava e exprimia utilizando uma pequenina casa de madeira colocada sob as árvores...
E chegou a chuva - que é mesmo muito necessária, mas que, no momento, não vinha a calhar. Não era muita mas molhava mesmo!
Pois, não se pode ter tudo!
domingo, 24 de setembro de 2017
Os dois irmãos
Pont de Moret, 1893, Alfred Sysley |
Casaram. Tiveram filhos. Tiveram netos. Mantiveram, porém, o aperto, embora diferente. Era a língua. Era a lonjura. Era a solidão. Era a precariedade do trabalho. Era a saúde que já tinha falhado várias vezes.
Foi sobretudo a pós-reforma. Para onde iriam se regressassem a Portugal? Tinham-se mantido ambos nos países de acolhimento, como se o tempo fosse eterno e a vida se mantivesse intacta.
Foi sobretudo a pós-reforma. Para onde iriam se regressassem a Portugal? Tinham-se mantido ambos nos países de acolhimento, como se o tempo fosse eterno e a vida se mantivesse intacta.
Os dias continuavam e os obstáculos não lhes matavam os sonhos.
Um deles, o mais novo, fazia exercício físico que o tirava de casa todos os dias.
E dizia com um sorriso sonoro e prolongado, a pedir elogio e reconhecimento: Estou a trabalhar para a maratona.
O mais velho persistia ligado ao seu amor pela vida, mas entristecia pelos ciúmes da mulher. Que lhe roubavam carinhos e sorrisos.
E desabafava como quando namoravam: eu amo-a tanto!
E isto passava-se em dois países europeus diferentes. Separados por montanhas, cidades e muitas realidades, umas diversas, outras semelhantes.
Separados sempre tinham estado os dois irmãos.
Aproximava-os a idade: um ia fazer oitenta e oito anos, o outro tinha festejado mais um.
sábado, 23 de setembro de 2017
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Vou seguir o conselho
"Já
ouviu falar em virtuosismo na música? Se não sabe o que é, ouça este
disco sem palavras, só sons. Fica-se reconciliado com a vida. Algumas
faixas vai reconhecê-las sem dificuldade, embora vestidas com outras
roupagens – El Dia Que Me Quieras, Adiós Noñino – outras vão
surpreendê-lo tanto que não vai cansar-se de as ouvir."
Nicolau Santos, Expresso Curto de hoje, 22 set.
Nicolau Santos, Expresso Curto de hoje, 22 set.
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
"Identidade" - Muitas fases da lua
Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento.
Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a cada grito.
Mas como as inscrições nas penedias
Têm maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.
Miguel Torga, in Penas do Purgatório
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
terça-feira, 19 de setembro de 2017
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
domingo, 17 de setembro de 2017
"Grão de Mar"
Sementes de mar
Grãos de navegar
Partir
Só de imaginar, eu vi
Água de aguardar
Onda a me levar
E eu quase fui feliz
Mas nos longes onde andei
Nada de achar
Mar que semeei, perdi
A flor do sertão caiu
Pedra de plantar
Rosa que não há
Não dá
Não dói, nem diz
E o mar ficou lá no sertão
E o meu sertão em nenhum lugar
Como o amor que eu nunca encontrei
Mas existe em mim
Mas nos longes onde andei
Nada de achar
Mar que semeei, perdi
A flor do sertão caiu
Pedra de plantar
Rosa que não há
Não dá
Não dói, nem diz
E o mar ficou lá no sertão
E o meu sertão em nenhum lugar
Como o amor que eu nunca encontrei
Mas existe em mim
sábado, 16 de setembro de 2017
Metade ou inteiro?
Metade
Oswaldo Montenegro
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também
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