quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Momentos Zen

A casa era pequena. Mas com várias janelas. E claraboias. Era uma casa com muita luz
A claridade da manhã entrava muito cedo  e o dia na casa também começava cedo.
Só temporariamente estava naquela casa dos arredores de Londres e gostava de chegar cedo à cozinha. Fechava a porta para não se ouvir barulho e fazia logo café que tomava numa caneca de florzinhas azuis que tirava, com cuidado e devagarinho, do armário.
E escrevia pequeninos textos quase sem história mas que eram importantes para a sua história.
Quando a casa acordava, a porta da cozinha abria-se e entravam novas luzes. Não havia tanto tempo para observar a luz que estrava livremente pela janela, mas o Céu continuava a brilhar.

domingo, 14 de agosto de 2016

S. Francisco ao natural (Yosemite Park)


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cores musicais

Nunca o detestei nem os apreciei tanto!

Pois, como quase tudo pode tocar a todos, os incêndios ontem estiveram próximos da zona onde moro. Um cenário de horror a escassas centenas de metros. E bem mais suave do que nos sítios em que os moradores aflitos veem o fogo a entrar-lhes em casa devastando tudo.
Para além da mão humana, que por loucura ajudou a atear o fogo, o vento tem sido um dos principais inimigos. E hoje sopra outra vez e de que maneira. Espalha as chamas, o fumo, o incontrolável terror. Nunca o detestei tanto.
Na tarde de ontem, as sirenes dos carros dos bombeiros ouviam-se com frequência, um helicóptero penetrava no fumo escuro do ar para apagar as chamas devoradoras. O INEM transportava  pessoas que precisavam de assistência hospitalar. 
Nunca apreciei tanto os bombeiros e as pessoas que ajudam a combater os fogos. Devem andar exaustos e não param de trabalhar  para que as populações fiquem mais sossegadas.
Enquanto uns loucos e o vento descontrolado não as desassossegam.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O mal e o bem

Turner . 1835
Pelas notícias, vamos vendo que muitos dos incêndios são provocados por mão humana e por atos individuais. Assim, um tresloucado momento de loucura leva, de repente, à perda de vidas humanas, de bens materiais e, logo, ao sofrimento e desespero.
Hoje de manhã cedo, regando a horta, senti (se calhar, de forma egoísta) como é bom ter água e não ver incêndios por perto. No entanto, o céu carregava-se de nuvens de fumo, as sirenes faziam-se ouvir e o vento, que parecia refrescante, seria o menos desejado nas zonas em que bombeiros e populações combatem arduamente as chamas.
Se atos de maldade ou de inconsciência se repercutem assim, por que não acontece o mesmo quando se pratica o bem?

Reflexos da Luz


terça-feira, 9 de agosto de 2016

Fascinante

Contagiante

Comovente

Emocionante

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Cerveja da Califórnia e bolas de sabão

Chegou serena, segura e sorridente. A saia preta quase lhe cobria os pés. O rosto era muito branco, os olhos azuis e o cabelo escorrido e claro. Contrariava bastante a imagem que se tem da mulher americana. Ah; era magra e de estatura média.
Como tinha de vir em viagem de trabalho a Londres, aproveitou para visitar familiares em  Portugal.
Logo aprendeu a dizer palavras como obrigada e sim, pronunciadas com sorridente convicção.
Ficou a conhecer locais que são referência para quem visita o Porto pela primeira vez: a ponte D. Luís para uma ida às caves, uma viagem de teleférico  para ver de cima o nosso "Porto sentido", a subida no funicular dos Guindais, os Clérigos, a rua das Flores, a livraria Lello, etc.
Tudo a interessava e era motivo de olhar atento.
Num dos últimos fins de tarde, foi buscar um aparelhinho simples de plástico e pôs-se a fazer balões para os mais pequeninos da família. Era vê-los a correr e a levantar os bracitos para apanhar as redondas e efémeras transparências.
À  noite, a família bebeu cerveja da Califórnia que recebera como presente. "Sabe a café". "É boa assim fresquinha". "É pena ser tão forte"...
E todos conversaram em inglês sobre a cerveja e não só. Até sobre o desejo de que Trump não  ganhasse as eleições.
No dia seguinte, partiu de novo rumo a Londres donde seguiria para a Califórnia.
Vestia de novo a saia comprida preta.
Em três dias, deixava uma imagem de simpática verdade, de sincera simplicidade, de sábia inclusão no mundo que se vai atravessando, tantas vezes com os prazeres simples de beber um copo de cerveja ou de ver as crianças a correr atrás de bolas de sabão.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Nunca é tarde!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Nossa!!! Casa???

Em Mindelo, há uns bons quinze anos, quem tinha casa numa das ruas da parte Norte podia ver o mar de vários ângulos, se tivesse uma varanda.  De repente, num verão, o mar tinha desaparecido da vista dos moradores daquela rua porque nas dunas foram construídas duas grandes casas. Um grande desconsolo para quem gostava de olhar o mar a qualquer hora. 
Logo que ficaram prontas, as casas passaram a ter vozes de crianças e adultos. Também têm direito, diziam uns; escusavam era de ter invadido as dunas, comentavam outros.
Enquanto novas, as casas abriam-se sempre no verão e pressentia-se a alegre ligação ao mar que ondeava bem próximo. 
O tempo foi passando e as casas foram-se fechando, mesmo nos claros dias de verão sem vento nem neblina.
Como os muros são altos, não se vê o desgaste ferrugento que o tempo vai deixando, mas não é difícil prevê-lo. 
Para quê terem-se ocupado as dunas se estão vazias e húmidas as casas?
Um dia, apareceu uma placa numa dessas varandas que dizia; "A nossa casa".
Quem lá passa interroga-se se são as dunas, o mar ou uma casa rente ao abandono de quem a construiu e em breve a deixou.Talvez um porto mais seguro para quem deriva por muitos mares.
Um brasileiro, ao olhar a placa no edifício sobre as dunas, talvez dissesse: Nossa!!! Casa??

domingo, 31 de julho de 2016

Uma questão de cor?

Há muito tempo, ouvi um professor universitário, especialista em Linguística, referir que se recusava dizer "vinho verde" quando ia a um restaurante, uma vez que era do Norte. Preferia dizer "binho berde". Os alunos que assistiam à conferência fixaram a afirmação e, de vez em quando, lá vinham eles com a referência ao "binho berde", o que era um bom pretexto para ouvirem falar da variação e mudança a nível linguístico, ou seja, a variação tem a ver com a pronúncia ou outras diferenças vocabulares que emergem das diversas regiões e a mudança diz respeito à evolução da língua com a introdução, por exemplo, de novos vocábulos ou expressões, etc.

Como o vinho verde é bastante apreciado, e também por pessoas fora de Portugal, um familiar de portugueses, chegando a Portugal, logo quis comprar o referido vinho. Como não conhecia bem o produto, viu no rótulo que era vinho verde e comprou. Para um almoço de família, levou uma das garrafas e, antes do almoço, apressou-se a abri-la para ir provando o vinho e dando-o a provar também.
Deitou um pouco no copo e estranhou a cor. Logo perguntou: 
- O vinho verde também pode ser vermelho? 
Houve alguns risos, enquanto alguém lhe explicava o sentido de vinho verde.
 E, por certo, que também o brasileiro, durante a explicação,  ouviu dizer "binho berde", que num era bermelho mas tinto, carago!

domingo, 24 de julho de 2016

Li e reli - em domingo quente e repousado

 Na sua crónica da Revista do Expresso, de 16 de julho, 
à qual deu o título "O verbo repousar",
José Tolentino de Mendonça escreve:
"Mas o repouso, o verdadeiro repouso, é uma daquelas experiências
que nos abrem ao espantoso espetáculo da vida.
Esse que comparece no poema de Emily Dickinson":

"Como se eu pedisse uma simples Esmola,
E na minha mão maravilhada
Um Estrangeiro depusesse um reino,
E eu ficasse de boca aberta -
Como se perguntasse ao Oriente
Se tem uma Manhã para me dar -
E ele abrindo os seus Diques de púrpura,
Me despedaçasse com a Madrugada!"


Emily Dickinson


1830-1886

Happy End ??

AOS MEUS ALUNOS DO 12º 1 E 12º 3 da ESG
Bom dia, meninos, ou Bom dia a todos – eram as saudações habituais.
Às vezes, não começava logo a aula porque havia mochilas ainda por abrir, conversas que continuavam mesmo que mais rápidas, nem todos estavam sentados, um ou outro tinha-se esquecido do manual, um ou outro pedia uma caneta, um ou outro vinha falar comigo pelas mais diversas razões…
E assim se passaram três anos. Chegaram à sala de aula ainda mais meninos, no décimo ano, e concluíram o 12º já quase adultos. Durante os três anos, houve paixões, ilusões, desilusões, meigas palavras olhadas e sorridentes, palavras frias em olhar desviado, sonhos partilhados, segredos incontidos …
Sonhos  estridentes de quem sempre ouviu elogios pela graça e beleza física; mais silenciosos de quem se habituou a sentir-se menos bafejado pela natureza; apenas pressentidos de quem tudo parecia guardar; de quem sorria muito mas que às vezes chegava ou partia de rosto fechado para a caixa das lágrimas não se abrir…
Ó professora, ando baralhada, não sei que curso hei de escolher. Ajude-me. Isto é muito complicado.
E tantas insistências: atenção, meninos, erros de pontuação, ortográficos ou de acentuação cada um desconta um ponto em exame e olhem que os erros sintáticos descontam dois. E os argumentos têm de mostrar, de forma clara, que vocês têm consciência do mundo à vossa volta. Concentrem-se, organizem o vosso tempo e estudem mostrando o que valem…
Tantas e diferentes reações fui ouvindo a propósito, por exemplo, das obras estudadas: “Adorei o Memorial do Convento. É mesmo fixe. Li-o em quatro dias”. “Nunca li um livro. Eu tenho os resumos”. “Afinal, estou a perceber e a gostar”. “Demora muito tempo a ler e tenho de estudar para o teste”. “Ainda não comecei, mas você vai ver que vou ler” (Não digas você!! Como deves dizer??)
Meninos, os exames estão à porta, não se preocupem tanto com a Festa de Finalistas. Há tempo para tudo.
E chegou a noite tão esperada do baile de Finalistas. Ao fim da tarde, iam chegando à quinta como príncipes e princesas de contos de encantar. Obrigada, foi a minha avó que fez o meu vestido. Era da minha mãe; só o mandei arranjar. Tive de comprar outro, porque o que eu tinha encomendado não chegou a tempo. Obrigada, também gosto muito e as pulseiras foram feitas pela minha mãe. Tenho os pés a doer, mas não quero tirar os sapatos…
E logo a seguir os exames. Não se preocupe, professora, vou tirar vinte!!
Pouco tempo depois: oh, estou triste, contava ter mais, correu-me tão bem! Estou contente, mas vou tentar subir na segunda fase! Nem contava ter tanto! Acabei o 12º ano que era o que eu queria! Tive positiva, afinal pus algumas vírgulas no lugar! Correu bem, já estava a contar com boa nota!…
Sim, meninos, de uma maneira geral, estou contente com o vosso desempenho. Claro que queria ainda melhores notas. No entanto, as duas turmas ficaram acima da média nacional. Parabéns e, de certeza, que reconhecem/reconhecerão que vale(u) a pena o esforço. Vocês foram as últimas turmas que ajudei a preparar para exame. Obrigada a todos pelo happy end que me proporcionaram.
Um grande xi-coração e que o futuro vos traga muitas alegrias.

sábado, 23 de julho de 2016

Carrossel

Quando olho a minha neta
Vida nova parece começar

Após dezenas de anos
Sempre sempre a trabalhar

Desejo o essencial
E bastante tranquilidade
Sem muita da correria
De discutível validade

Os vídeos infantis
E também tantas canções
Não sabia que me trariam
Tão calmas emoções

E os livros tão bonitos
Com palavras necessárias
E os desenhos e cores
De um mundo de formas várias


O soninho e o choro
Tudo parece natural
E ajudam a perceber
O que é fundamental

Tudo nisto a Clarinha
Parece ter um papel:
Fazer a vida rodar
Como mágico carrossel!

À exceção de Clarinha

Lembrou-se de uma Clarinha da sua infância. Tinha rosto redondinho, muito claro, tal como era o cabelo aos caracóis.
Clarinha morava numa casa onde cresciam rosas de muitas cores. Nunca brincava sozinha no jardim. Acompanhava-a sempre uma empregada que envergava um vestido azul e um avental, também azul, aos quadradinhos. A sua função era impedir que Clarinha se picasse nos espinhos das rosas ou que caísse para não ferir os joelhinhos de pele tão clara e macia. Também lhe ajeitava sempre o chapéu  para que o sol não a molestasse.
Com as amigas, a mãe de Clarinha repetia e repetia o seu nome, no diminutivo, mas que muito lhe aumentava as palavras que lhe saíam do coração.
Hoje, o jardim de Clarinha ainda continua, talvez com menos flores. Há muito que Clarinha saiu de casa, porque cresceu mais do que as rosas do seu jardim e ganhou asas como os pássaros que, enternecida, olhava pela janela.
Clarinha vive agora numa cidade fria do Norte. Nos aniversários dos pais, oferece-lhes sempre um ramo de rosas. Diz que são as suas flores de eleição. Como chega quase à noite e parte logo de manhã, nem repara que as do jardim têm mais cor e perfume.
De vez em quando, vem uma velhinha muito velhinha visitar os pais de Clarinha, também já muito velhinhos. É a empregada de antigamente e que agora se veste quase sempre de escuro. Tomam chá nas velhas e fininhas chávenas de porcelana e nunca falam do passado. À exceção de Clarinha.

Is it the end of love???

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Verão!

Seria hediondo fotografá-los. Porém, a beleza captada não o seria.  A cena, para mim, não era habitual. Se calhar, é comum, mas nunca a tinha visto na realidade, nem pintada em quadro, nem escrita em poema.
Os dois descansavam numa rua movimentada de Londres, onde passavam ruidosos e vibrantes turistas. Como se o efémero feliz se tornasse mais duradouro!
Eram duas pessoas; não sei se dois homens ou um homem e uma mulher.  Os dois, alheados dos demais, pareciam dormir. Um estava estendido no chão, com a cabeça no colo do outro. Uma das mãos, ladeando o rosto, segurava, firme, a mão do seu par.
Uma cena carinhosa - não fosse o infortúnio de serem dois sem-abrigo. Apesar da tocada ligação numa tarde quente de um domingo de verão em Londres.
Seria hediondo fotografá-los. A beleza captada talvez não o fosse!