quinta-feira, 7 de julho de 2016

Histórias da Clarinha. - os livros

A Clarinha come livros
e começa a roê-los pelos cantinhos
Gosta deles de papel
E que sejam bem durinhos

E a avó diz à Clarinha
Que os livros não são para comer
Mas as histórias bem bonitas
Como é bom ouvi-las ler

E a Clarinha parece perguntar
Embora nada saiba dizer:
Se os meus papás devoram livros
Por que razão não  os posso comer?!

Jardim ou canteiro: eis a questão

Mrs Chloe tinha uma casa
Perto de Londres com um jardim
E nele morava uma roseira
Que tinha espinhos mas não era ruim

No jardim havia cadeiras
Para conviver e conversar
Mas nunca viram ninguém
Que nelas se viesse sentar

Cercavam o jardim arbustos
Que cresciam e cresciam
Pareciam quatro paredes
E o vizinhos nada viam

E ter uma mesa sempre só
No meio de um bonito jardim
Era um crime de lesa-majestade
Para a roseira e para mim

E assim o pé de roseira
Que sozinho no jardim vivia
Dizia que preferia viver em canteiro
A  florir em jardim sem companhia!

sexta-feira, 1 de julho de 2016

O homem que escolhia o banco nos parques

Só ficava em casa nos dias de muita chuva. Nos outros, saía sempre de manhã, caminhava um pouco, comprava uma sanduíche para o almoço e dirigia-se a um parque. Os espaços verdes e arborizados não faltavam em Londres, cidade que considerava sua, pois já lá vivia há mais de quarenta anos. Tinha saído da Irlanda e nunca mais lá tinha voltado. Os dinheiros escasseavam cada vez mais e também a família se foi afastando. Ou de forma definitiva ou de modo incómodo para restabelecer qualquer reencontro.
Habituara-se a passar sozinho a maior parte dos seus dias. E das noites também. Vivia numas águas- furtadas e ficava sempre a olhar o céu até de madrugada através da claraboia.Depois adormecia e a noite parecia passar mais depressa.
Quando saía pela manhã, o dia já ia quase a meio.  Todos os dias escolhia um parque diferente para almoçar. Ficava a olhar os estudantes vindos dos diversos continentes e que comiam alimentos com cheiros exóticos a que já se tinha habituado; os pares de namorados que aproximavam os corpos e sorriam; as pessoas que circulavam sempre a falar ao telemóvel...
Tirava a sanduíche do saco, Dele fazia também sair um jornal e ali ficava longo tempo. E a escolha do banco obedecia sempre a um critério: sentava-se perto de pessoas aparentemente felizes. Ouvia-as falar, sorrir, contar pequenas peripêcias de que saíam sempre vitoriosas. A felicidade dos outros reduzia o seu solitårio infortúnio.
Num dos últimos dias, sentou-se no banco onde  conversava um casal. Ela, carinhosamente, embalava o bebé num carrinho para que não acordasse antes do final da sesta habitual. Falavam das árvorres de Londres cujos nomes andavam a tentar aprender e a reconhecer para mais tarde ensinarem ao filho. Bom motivo para o velho se manter sentado perto do casal.
Também em tempos tinha tentado aprender o nome das árvores de Londres, mas desistira, já nem se lembrava da razão.
Quando o bebé acordou, o casal levantou-se  e partiu, não sem antes dizer um rápido Bye.
No dia seguinte, ao contrário do que era habitual, o velho irlandês não mudou de parque para almoçar. Queria confirmar  o nome das árvores que no dia anterior tinha aprendido. E que tinha escrito no velho jornal. E estava convicto de que não ia desistir. Tal como da vontade de ver o céu noturno através da claraboia da sua casa.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

I ❤️ London

  Poderia enumerar muitas coisas que me agradam em Londres, mas vou referir os canteiros floridos das casas. Retangulares na sua maioria, surgem às janelas, nos muros, no pavimento... E as flores são quase sempre miudinhas e de cores diferentes: azul, violeta, branco, amarelo...
E sob um céu tantas vezes cinzento e tantas vezes chuvoso, desenham-se estes bocadinhos alegres e vivos bem perto de quem por eles passa e de quem junto deles reside. Apetece passar devagar e contemplar os diferentes canteiros, uns mais bem cuidados do que outros, mas coma suave e bela pujança de um clima que torna mais verde o que a natureza assim sempre pintou.
A junção de tantas cores é como a multiplicação  de etnias que coabitam em Londres. Haverá alguém que queira que os canteiros londrinos  tenham uma  só cor? Se assim for, muitas flores morrerão e as que ficarem murcharão porque, ao serem cortadas todas. as outras, as raizes não deixam de ser afetadas.
I ❤️ London nas cores húmidas que a natureza da vida foi acrescentando, dando força e beleza à cidade. Só quem não a ama ou não a conhece  será capaz de o fazer. Ou não passou por ela devagar, como quando se contemplam os seus canteiros.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

BREXIT

 
Baile com máscaras a cair
Restos da União sonhada no passado
Europa fragmentada
Xadrez a exigir novas peças
Indesejado afastamento
Toada triste

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Ainda haverá poema?

Ó meu rico S. João,
Tira-nos deste empate
Ajuda a encontrar a vitória
Para que não fique na memória
Ganhar apenas por resgate

Com ou sem microfone
Que os jogadores não atirem à água
Tantos sonhos tantas crenças
Para resolver desavenças
Que emergem de tanta mágoa

E há muitos poetas que cantam
Os jogadores em campo a lutar
Como se a vida estivesse a seus pés
Com a bola a correr a sete pés
Para a vitória poder alcançar

Meu rico S.João, desculpa
De tanto pedido fazer
Nisto que não são orações
Apenas algumas impressões
De quem poema não sabe fazer

Mas no sábado é que vai ser
Diz o povo com esperança
E assim se esquece a tempestade
Sempre à espera da bonança!



quarta-feira, 22 de junho de 2016

Às 5h de hoje, haverá também poema?

A SELEÇÃO

Poema de Carlos Drummond de Andrade

Vai Rildo, não vai Amarildo?
Vão Pelé e, que bom. Mané,
o menino gaúcho Alcino
e nosso veterano Dino,
Altair, rima de Oldair,
ecoando na ponta: Ivair,
e na quadra do gol: Valdir.
Fábio, o que não pode faltar,
e também não pode Gilmar,
como, entre os santos dos santos,
o patriarca Djalma Santos,
sem esquecer o Djalma Dias
e, entre mil e uma noites, Dias.
Mas se a Comissão não se zanga,
quero ver, em Everton, Manga.
É canhoto, e daí? Fefeu,
quando chuta, nunca perdeu.
A chance que lhe foi roubada,
desta vez a tenha Parada.
Paraná, invicto guerreiro
para guerrear como aqui, lá.
Olhando pró chão, Jairzinho
é como joga legalzinho.
Não abro mão de Nado e Zito,
nem fique o Brito por não dito.
Ditão, é claro, por que não?
e o mineiríssimo Tostão,
o grande Silva, corintiana
glória e mais o áspero Fontana,
Dudu, Edu... e vou juntando
bons nomes ao nome de Orlando,
para chegar até Bellini
em cujas mãos a taça tine.
Célio, Servílio: suaves eles
já completados por Fidélis.
Edson, Denilson e Murilo,
cada um com seu próprio estilo.
Um lugar para Paulo Henrique
enquanto digo a Flávio: fique!
Com Paulo Borges bem na ponta
eu conto, e sei que você conta.
Na lateral, Carlos Alberto
estou certo que vai dar certo.
Acham tampinha Ubirajara?
Valor não se mede por vara.
Até parece de encomenda:
Leônidas, nome que é legenda.
E se Gérson do Botafogo
entra no campo, ganha o jogo.
Não podia esquecer o Lima
e seu chute de muita estima.
Com tudo isso e mais Rinaldo
e o canarinho de Ziraldo,
quarenta e seis, se conto bem
— um time igual eu nunca vi
em Europa, França e Belém —
que barbada seria o Tri,
hein?

(Correio da Manhã, 03-04-1966)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Kisses for United Kingdom


sábado, 18 de junho de 2016

Algumas cores de S. João


Parte da instalação "Gira", no Largo de S. Domingos - Porto

S. João,  és manjerico,
 Alho porro, erva cidreira
E também o martelinho
A dar cor à barulheira!


S. João, na minha infância,
Eu pedia um tostãozinho,
Mas se eu fosse banqueira,
Logo teria um milhãozinho!


O desconcerto do mundo
Na Europa foi instalado;
O rico recebe prémio
E o pobre é castigado!


S. João, isto  vai mal
No reino da Educação.
Haverá liberdade de escolha
Quando é enorme a seleção?

 
E por falar em seleção,
Logo o futebol vem à mente;
Oxalá Portugal aqueça
Para animar cá a gente!

 
E os políticos argumentam
Como se fossem  virgem santinha;
Querem que os lugares aqueçam
Puxando brasa à sua sardinha!


Ó meu rico S. João,
Vou-te fazer um pedido:

Ajuda a encontrar a direção
Neste mundo tão perdido!.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

J'aimerais être là


domingo, 12 de junho de 2016

Des saveurs du Midi


sábado, 11 de junho de 2016

Des couleurs du Midi


sexta-feira, 10 de junho de 2016

France - Le Midi aujourd'hui


Bons sabores artesanais


Stacey Kent - Ces petits riens


terça-feira, 31 de maio de 2016

Liberdade de escolha? De quem?

As escolas que defendem publicamente os contratos de associação têm usado slogans de uma grande emotividade e pouca consistência. Dizem, escrevem, repetem, propalam que deve haver "liberdade de escolha", e muitos põem, de facto, o slogan em prática. Muitos, isto é, direções desses estabelecimentos de ensino..
Ora, não sou nem nunca fui contra o ensino privado, Porém, se existem contratos de associação, com o recurso a dinheiros públicos, não poderão ser aplicados critérios de seleção de alunos como acontece, de forma recorrente e conhecida.
Um dia, um ex-aluno meu, do ensino público, com uma disciplina em atraso no secundário, disse-me que ia mudar de escola, porque tinha sabido de uma vaga num estabelecimento de ensino com contrato de associação. Disse-lhe que o melhor seria não contar com essa vaga. Ele, crente no concerto do mundo, manteve as expectativas. Perdeu-as, contudo, no dia em que contava fazer a inscrição. É que, para além de uma disciplina em atraso, as outras notas eram bastante baixas, o que afetaria, com certeza, o ranking escolar, porque não se antevia sucesso.
 De facto, todos conhecem casos em que a liberdade de escolha é limitada para muitos e abundante sobretudo para a direção dos colégios. Haverá, com certeza, exceções, mas não fazem a regra.
O mar amarelo, que se avistava em Lisboa na última manifestação, era composto por muitas crianças e jovens. Teriam sido consultados, respeitando a sua liberdade de escolha, para lá estarem?
Ontem, um comentador, julgo que Miguel Sousa Tavares, dizia ter desconhecido, até agora, a vasta  dimensão dos apoios do Estado a escolas privadas. Outro comentador, Luís Marques Mendes, por outro lado, dizia, no comentário do últimos domingo na SIC, que o governo devia manter os contratos de associação por mais dois anos, porque também existem muitos outros dinheiros que se gastam! Ora, isto é uma forma, embora displicente, de reconhecer que estes contratos são dispensáveis.
 A defesa da sua manutenção está a tornar-se apenas ideológica.
Outro slogan muito repetido é que o ensino ministrado nos colégios tem mais qualidade. - Imediata - acrescento eu, porque são referidos, com muita frequência, casos de grande sucesso no ensino superior, por parte de alunos que estudaram em escolas públicas.
Sem querer aumentar a cisão entre o ensino público e o privado, porque ambos merecem muito respeito, seria bom que não se perdesse tanto tempo com slogans e tiradas algo irracionais de uma só cor e em proveito próprio ou de um grupo restrito, mas que se agisse com mais sensatez, tendo em conta que "A César o que é de César".
E há tanto a fazer na Educação - tanto em escolas públicas como em privadas, apesar de já tanto se ter feito!

Maresia

         A propósito das afirmações, loucas e desrespeitosas, de José Cid
sobre os transmontanos, e que têm gerado um mar de críticas, 
lembrei-me deste texto
que postei em fevereiro de 2014. 
Partilho-o de novo.
E ando com saudades de ir a Trás-os-Montes, apesar de gostar muito do mar.

Van Gogh
Aqui estou em frente ao mar. Nunca pensei chegar até cá. Há setenta e cinco anos que vivo na minha aldeia de Trás-os-Montes. Lá nasci, lá vivi sempre e é lá que gostaria de morrer.

Quando era pequena, ouvia a minha mãe dizer que, na cidade, havia um mar de gente. E também falava do mar de água que ela dizia ficar muito muito longe. Demorava tanto a dizer a palavra que parece que ainda oiço aquele eco: looooooonnnge. Falava também do grande oceano. 
Senti sempre alguma curiosidade por saber como era o mar tão grande, assim como era o mar de gente. Nunca tive tempo nem oportunidade. Casei muito nova. Tinha a família, o campo, os animais… E também montanhas com neve ou secas pelo sol que pareciam barreiras.
Há muitos anos que os meus filhos saíram da aldeia. Foram abandonando a terra, enquanto se faziam homens. Como todas as outras pessoas mais novas e com força, foram trabalhar para longe e tudo foi morrendo aos poucos. Ficaram os velhos nas casas cada vez mais velhas e escuras. A aldeia, tal como as pessoas, envelheceu. Ficámos todos mais fracos e sós.
Os meus filhos quiseram sempre que eu conhecesse a cidade e que eu visse o mar. Acabei por vir, porque não gosto de dizer não aos meus filhos. Já bastou o tempo em que não lhes podia dar os brinquedos que pediam. O que valia é que gostavam das histórias que eu lhes contava. Olhava à minha volta e logo inventava um continho, como eu gostava de lhes dizer. Lembro-me da história do milho cor-de-rosa, da cereja-brinco-de-princesa, da castanha que gostava de apanhar sol, da geada endiabrada, da bola de trapos que se desfez antes de chegar à baliza…
Agora aqui estou em frente ao mar e só me apetece olhar e ficar calada. A luz é tão forte que mantenho os olhos quase fechados. Parece que estou numa festa, porque posso descansar e ver muita gente a passear. As pessoas não parecem ter pressa. A esta hora, se eu estivesse na minha aldeia, teria de recolher o gado e dar-lhe de comer. E acender o lume. Às vezes nem reparo nas cores do pôr-do-sol. E, no entanto, há turistas que ficam na estalagem que há na aldeia, atraídos pela paisagem do fim do dia, como se fosse íman para os seus olhos.
Agora que estou perto do mar, parece que oiço tudo melhor. E vejo melhor também. O cheiro é fresco e azul. Afinal estou a gostar de ter vindo.
O barulho das gaivotas é que parece agoirento. Parece que chamam ou gritam! Fazem-me lembrar uma rapariga da aldeia que decidiu emigrar. Dizia que não sabia como as pessoas podiam viver encarceradas entre montanhas que escondiam o céu. Algum tempo depois regressou. Deixou crescer os cabelos crespos e punha-se a cantar canções estranhas até de madrugada, à janela. As músicas falavam de um amor infeliz e de segredos nunca contados.
O mar é muito mais largo do que eu pensava. Faz muito barulho e as ondas, quando saltam, são mais altas do que os rochedos. A espuma parece neve no inverno da minha aldeia.
 Quando abro os olhos e vejo este mar cheio de luz, sinto-me pequenina. Parece que me cega. Lembro-me da minha terra que está muito distante. Não quero regressar por enquanto. O mar não pode ser visto a correr. É como os montes. Quem os olha só da estrada não os fica a conhecer nem os guarda na memória.
 Olho para o mar e parece que estou a ver e a ouvir a minha mãe. Ela, uma vez, ensinou-me uma palavra que ouvira de uma senhora da aldeia que tinha livros que lia numa casa à beira-mar. Essa palavra era maresia. Só agora a percebi melhor.
Assim como entendi a voz antiga de minha mãe.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Paisagem que se abre a contínuos olhares!


Uma belíssima ideia!

OFICINA DO LIVRO PARA CRIANÇAS A PARTIR DOS SEIS ANOS

No âmbito da próxima feira do livro “LIVROS NA REITORIA”, nas arcadas da Reitoria da Universidade do Porto, no dia 4/6/2016, vai ser realizada uma “oficina do livro” para crianças a partir dos 6 anos, pelo Serviço Educativo do Museu da Imprensa.
Esta actividade tem o livro como ponto de partida, e as crianças são desafiadas a construir livros através de técnicas simples e versáteis, de uma forma original e divertida, com dobragens e colagens, sendo a decoração e as histórias únicas e pessoais, e da inteira responsabilidade dos jovens criadores/autores.

Recursos humanos Dois monitores por oficina.
Materiais – Fornecidos pelo Museu da Imprensa.
Duração da oficina – 60 minutos (a partir das 16h)
Número máximo de participantes – 20 (vinte).
Preço – 7,50€ (IVA incluído)

DATA LIMITE PARA A INSCRIÇÃO: 27/05/2016
Contacto: 968707303

sábado, 14 de maio de 2016

Dina, Leyla, Cairo, francesinhas...

Ontem, ao fim da tarde, caminhávamos e estávamos quase a chegar à ponte D. Luís, no Porto. Em sentido contrário, vinha uma jovem. Parou junto de nós e perguntou, em inglês, como chegar à rua Santa Catarina. 
Estávamos bem longe para quem anda a pé. Entreolhámo-nos. Como seria o modo mais fácil de lá chegar? Ir pelo túnel? Não, o melhor seria, se ela quisesse, continuara a caminhada, acompanhá-la até ao Cubo e depois indicar-lhe o percurso. Logo aceitou com um sorriso de algum contentamento. Reparei, então, que era morena, magra, cabelo escuro e segurava um telemóvel na mão. Pelo caminho, fomos falando, entrecortando, de vez em quando, a conversa: como se diz em inglês? Se disser em francês, compreende? A little bit!
E, entretanto, chegámos à Ribeira. Os restaurantes, olhando o rio e o Cais de Gaia, ainda estavam quase vazios. Nos bancos, junto ao Douro, alguns casais de namorados pareciam viver a liberdade de tempo amoroso e livre. Bem perto, boiavam dois pequenos barcos.
Fomos caminhando. Qual é o seu país? Egito. Já lá foram? Não, mas conheço pessoas que estiveram lá. E gostaram? Sim, muito. Ela sorri. Acrescento que gostava de visitar o Cairo. Sim? É muito bonito e agora está mais calmo do que há uns cinco anos, continua ela. 
Perguntei-lhe o nome: Dina (talvez Dinah). Em Portugal, há muitas mulheres com esse nome. Sim? - pergunta ela com alguma admiração. E Leyla também? Não, dissemos-lhe. 
A minha filha chama-se Leyla e mostrou o telemóvel com a fotografia dos filhos. Muito bonitos - dissemos nós.
- Os seus filhos são crescidos e ainda é muito nova.
- Não, já tenho 34 anos. E abriu o sorriso moreno. As minhas amigas da minha idade já têm filhos muito mais velhos. Dissemos-lhe que atualmente há muitas mulheres em Portugal que têm filhos muito mais tarde.
E íamos caminhando. Apontámos para as Caves do Cais de Gaia. Não conhecia. Sim, do vinho do Porto já tinha ouvido falar. E depois perguntou por pratos típicos. Tinham-lhe falado de um peixe pequenino. Presumimos que fosse sardinha ou carapau.  Sim, é muito bom. Com arroz de feijão.
Passávamos junto a um restaurante, onde se podia ler que havia francesinhas. Conhece? Não. Quis saber o que havia por baixo do molho.
Chegámos ao Cubo. Parámos. Procurámos o melhor ângulo para se ver bem. E dissemos-lhe: sobe, duas ruas acima, vira à direita, vai ver a Estação de S. Bento, sobe a rua 31 de Janeiro, também à direita, e a rua perpendicular é a rua Santa Catarina. 
Isto tudo com muitos movimentos de mãos para suprir o que não se sabia explicar bem em inglês.
Passe uns bons dias no Porto.
E ela, olhando-nos, disse, em português: Obrigada, com um sorriso mais aberto do que no início.