terça-feira, 23 de junho de 2015

Ó meu rico S. João...

S. João - Museu Machado de Castro - Coimbra


Ó meu rico S. João
Se puderes passa por cá
As mentiras são tamanhas
Que tens de vir e já

A verdade anda escondida
Por quem a sabe guardar
Uns alimentam a mentira
Outros sabem-na rodear

Ó meu rico S. João
A gente assim não se entende
Só o que uns fazem é bom
Mas a gente não compreende

Uns dizem que ela é dos outros
Sacudindo toda a culpa
E os que cometem mais erros
Nem sequer pedem desculpa

Nem tudo está mal é verdade
Mas desata alguns dos nós
O que pode ser de nós
Com tão feia falsidade?!





segunda-feira, 22 de junho de 2015

Marrakech - ontem


domingo, 21 de junho de 2015

Poetas ligados a Coimbra



Ajuda

Porque o amor é simples,
Vale a pena colhê-lo.
Nasce em qualquer degredo,
Cria-se em qualquer chão.
Anda, não tenhas medo!
Não deixes sem amor o coração!

Miguel Torga, in Diário (1945)


Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa. 

Manuel António Pina, in Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. 
Calma é Apenas um Pouco Tarde




Pérola solta
Sem que eu a esperasse,
Rolou aquela lágrima
No frio e na aridez da minha face.
Rolou devagarinho...,
Até à minha boca abriu caminho.
Sede! o que eu tenho é sede!
Recolhi-a nos lábios e bebi-a.
Como numa parede
Rejuvenesce a flor que a manhã orvalhou,
Na boca me cantou,
Breve como essa lágrima,
Esta breve elegia.
                             José Régio

 


FLORES PARA COIMBRA
Que mil flores desabrochem. Que mil flores
(outras nenhumas) onde amores fenecem
que mil flores floresçam onde só dores
florescem.

Que mil flores desabrochem. Que mil espadas
(outras nenhumas não)
onde mil flores com espadas são cortadas
que mil espadas floresçam em cada mão.

Que mil espadas floresçam
onde só penas são.
Antes que amores feneçam
mil flores desabrochem. E outras nenhumas não.


                                                                    Manuel Alegre