quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A palavra ao Clube das Histórias



Ainda há espaço para a alegria?
O ano que agora começa não vai ser propriamente um tempo festivo. Por isso, poderá parecer ao leitor que este tema é uma dolorosa provocação. Mas não é: falo muito a sério.
A alegria é um sentimento sem o qual os humanos não podem viver. Mesmo na noite mais escura, em que a dor, o sofrimento e o choro encharcam a nossa alma, se não encontrarmos um espaçozinho para a verdadeira alegria, dificilmente suportaremos tal situação.
É claro que há várias formas de alegria e nem todas produzem esse efeito libertador.
Há a alegria de aviário, que não tem consistência, usa-se quando a circunstância a exige, mas não tem nada por detrás. É como a carne dos frangos produzidos em série, obrigados a crescer à pressão, com um sabor sem sabor, filhos de hormonas e antibióticos insossos.
Há a alegria industrializada, que estrondeia nas vielas da noite, alimentada a combustíveis etílicos ou a passas que não são de uva. É hoje muito estimada por industriais legais de drogas ilegais que se alimentam da sua distribuição bem lucrativa e muito desejada, porque gera euforias momentâneas a quem as usa e lhe dá bravata para tomar atitudes das quais, em estado sóbrio, se envergonharia.
Há a alegria amarela, que se espelha num sorriso dessa cor, para disfarçar uma desilusão ou vir em socorro da vítima de uma qualquer partida de colegas ou da vida. Por detrás está a frustração que se quer esconder e se possível ignorar.
Há a alegria «de café» que, na sua ambiguidade, tanto pode ser um ato de superficialidade balofa como uma genuína manifestação de contentamento, que reforça as relações interpessoais.
Há a alegria franca que ressoa na gargalhada cristalina. Brota do fundo da nossa dimensão lúdica e ajuda a suportar com estoicismo angústias e medos que a vida nos põe a cada curva.
Há a alegria interior que faz «pouco ruído» mas sempre se pode encontrar na limpidez de um olhar tão transparente que chega ao fundo da alma. O olho é o espelho da alma. Quantos doentes, às vezes em estado quase terminal, continuam a irradiar um olhar sereno, a apresentar uma face risonha, a iluminar os que estão à sua volta.
Só esta alegria é capaz de ultrapassar as maiores dificuldades. Não se trata de uma alegria exterior que disfarça a amargura nem de uma alegria hipócrita que pensa enganar a dura realidade, fugindo ou ignorando-a. É, antes, a alegria dos fortes, que aceitam que a vida é feita de tempos felizes e tempos dolorosos e que uns e outros têm de ser vividos com serenidade, a alegria que evita angústias doentias ou euforias alienantes.
Esta alegria nasce do fundo de nós próprios, do facto de estarmos vivos, de acreditarmos em nós próprios, de nos reconhecermos «pessoas», sujeitos livres e conscientes da Vida e da História.
Neste ano vamos precisar muito de aprender a viver e a expressar esta alegria.
É necessário expressá-la para nos ajudarmos a nós mesmos e também para contagiar os que vivem perto de nós. Em tempos de crise, a alegria pode ser e é uma forma privilegiada de ajuda aos outros.
José Dias da Silva

Caros Leitores,
 
O Projeto Clube das Histórias: Abrir as portas ao sonho e à reflexão, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa não só em Portugal como também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a sua continuidade, foi constituída uma equipa pedagógica formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que têm a seu cargo a seleção, preparação e envio gratuito de uma história semanal por correio eletrónico.
O Clube das Histórias visa assim promover a literacia, contribuindo para o gosto pela leitura de pequenos contos que podem fazer a diferença no mundo de hoje, contos esses que convidam não só a refletir como a sonhar…. As histórias, que são selecionadas em função do conteúdo ético e simbólico, permitindo deste modo uma reflexão sobre os princípios fundamentais da sociedade atual, abordam temas relacionados com as vivências individuais e coletivas, e transmitem valores como a solidariedade, a justiça, a generosidade, o amor, o respeito por si próprio e pelos outros, a delicadeza, a responsabilidade, entre muitos outros.
 
Pode visitar o nosso blogue http://contadoresdestorias.wordpress.com onde irá encontrar histórias sobre os mais diversos temas, atividades pedagógicas múltiplas e textos de reflexão.
E é sempre com muito gosto que lhe enviamos gratuitamente, em cada semana, histórias que o farão sorrir e pensar…
BOAS LEITURAS!
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
 
 


sábado, 25 de janeiro de 2014

Onde é que já ouvi isto?



Este texto tem circulado nas redes sociais. 
Por achar que conta uma verdade muitas vezes desconhecida, 
também o partilho
"A vida dos médicos privilegiados
Sou médica interna. Sou médica daquelas que demoram muito. Não entupo urgências, porque não trabalho lá, mas deve estar muita gente à minha espera, na sala onde se espera. De certeza que pensam que sou “estagiária”. Não tenho carro, vivo numa casa alugada, pago as contas (às vezes em atraso). Trabalho, estudo, vivo em constante preocupação porque tenho que estudar mais, tenho de fazer relatórios e posters e apresentações. Vivo entre exames, artigos científicos e isso sim, trabalho, muito trabalho. Ao meu lado estão outros médicos internos. Raramente adoecem.. estão lá, ganham o mesmo que eu. Estou motivada, mas menos motivada, estou lá, mas às vezes penso que devia estar noutro sítio. Às vezes chego ao fim do mês à justa. No talão diz 1800… acho…, mas chega bastante menos à conta na CGD. Não sou especialmente ambiciosa. Nem especialmente poupadora nem gastadora. Compro roupa na Zara e móveis no IKEA (dos baratos). Tenho o apartamento alugado meio vazio, mas não faz mal porque passo lá pouco tempo. Tenho uma secretária de 1,50m de largura no trabalho, que está sempre muito cheia. Tenho o novo corretor ortográfico no computador, mas irrita-me. Vou à pagina da  Ryanair quando estou pensar em férias. Mas cada vez penso menos. Não tenho animais de estimação, mas gosto de animais de estimação.  De manhã acordo mais tarde do que devia, mas chego a horas ao trabalho. Vou a pé, porque vivo na baixa (isso deve ser um luxo). Estou inscrita num ginásio ao qual raramente consigo ir. Cada vez que abro o facebook vejo salários de políticos aos quais não sei atribuir significado. Depois vejo salários de médicos que não conheço. Às vezes leio os comentários das pessoas revoltadas com o que ganham os médicos, com o bem que vivem. Eu devo ser da classe privilegiada, porque sou médica. Não tenho carro, não tenho casa própria, não tenho um iphone, porque me parece excessivamente caro. Ganho 1200 euros. Tenho 30 anos. Matei-me a estudar na faculdade, tenho o trabalho em dia, mas não sou lá muito inteligente porque me esqueci de pagar a conta da edp. Na sexta-feira cheguei às 21:00 a casa (devia ter saído às 18:00) e tinham-me cortado a luz. Tenho de me organizar melhor. Na televisão não falam dos sacrifícios, não dizem que fiquei horas a mais a fazer o trabalho que estava a menos, porque sou lenta talvez… Deve ser isso. Não fui para a night porque estava esgotada. Dormir é uma das minhas grandes prioridades. Não vou muito ao cinema, nem vou aos eventos culturais de que gostaria. Não viajo muito, nem vou jantar a restaurantes caros. Sou médica… é verdade. Médica interna,  jovem inexperiente. Daqueles que entopem urgências e custam muito dinheiro ao estado porque estão em formação… Deve ser melhor para os recém-assistentes que estão à espera do contrato para a semana há um ano… Ao longo do internato que vejo passar… só vejo as coisas piorar. Mas estou muito motivada, amanhã vou trabalhar".
Ana Cátia Morais

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Portugal à vista?



No aeroporto, em dia de muita chuva e de muito inverno, muitas famílias despediam-se de jovens que partiam para países da Europa ou de outros continentes, onde tinham encontrado trabalho. Muitos seguravam apenas uma pequena mala, porque o low-cost assim o exige e a contagem dos dinheiros também ajuda a contar uma história mais feliz.
E outras regras tiveram de aprender a cumprir, porque muitos haviam partido sós e, mesmo em grupo, cada um teve de se adaptar a novos hábitos e a outras solidões.
Muitos transportavam o computador, onde armazenavam teses e artigos, no desejo sonhado de publicação.
Havia lágrimas em muitos rostos e pedidos de “quando chegares, dá notícias” e conselhos: “não te esqueças de pôr as alheiras no frigorífico”, “protege-te do frio”… Uma das mães ainda disse: “tem cuidado a atravessar a rua!”. Como se a sua menina não tivesse trinta anos!
Do lado de cá do vidro, todos esperavam pelo aceno repetido e atento dos que partiam, depois do check-in, e antes da descida das escadas rolantes a caminho do avião.
Quando os familiares regressavam aos carros, tinham menos palavras para dizer e reparavam mais no frio e na chuva. Mas também se lhes adivinhavam sorrisos nos rostos por saberem que os filhos tinham sido acolhidos por outros países e valorizados por outras gentes.
E assim se vão redescobrindo novas terras e novos mares.
Até quando tão desejados e sem Portugal à vista?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"O Édipo do Bolhão"



Ontem, dia 22 de janeiro, o ator António Capelo esteve na Biblioteca Municipal de Gondomar, para falar de Rei Édipo de Sófocles, numa sessão integrada na Comunidade de Leitores.
Lembro-me muito bem de o ter visto, há uns dois anos, no Teatro do Bolhão (na antiga escola Almeida Garret), como protagonista desta tragédia. Ficou-me a imensa força de um ator em palco, dando vida à inesgotável sede do autoconhecimento.
Para além do que ensinou sobre a peça, anunciou, com visível alegria, que o Teatro do Bolhão iria regressar ao Palácio, na rua Formosa, perto do mercado do Bolhão. O Rei Édipo de Sófocles irá ser a primeira peça representada nas novas instalações.
Vi-o a assinar, talvez com orgulho, talvez com irónica emoção: “O Édipo do Bolhão”.
Bem visto, sim, senhor!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Olhar (d)a gaivota