segunda-feira, 31 de maio de 2021

E se todas as crianças recebessem um livro e houvesse um jardim por perto?


 

O jardim da Clarinha (mas não só!)

 

Foi no quintal que a avó

Fez o jardim da Clarinha

Que não gosta de estar só

Mesmo com tanta florzinha.

 

A Clarinha vive longe,

Só lá vai de quando em vez,

Mas nunca, nunca se esquece

Do jardim que a avó lhe fez.

 

Quando chega de visita

à  família que cá tem,

Quer ver logo o seu jardim,

Dando a sua à mão da mãe.

 

No meio das florzinhas,

Vive um grande e verde sapo,

Um porquinho,  cogumelos

E, de vez em quando, um gato.

 

Mas só o gato é a sério

E vem sem ser convidado,

Brinca tanto no jardim

Que o deixa desarranjado.

 

A avó ralha com o gato,

Zangada pela invasão:

- O jardim é da Clarinha,

Não é de gato ou de cão!

 

A avó gosta de animais

Mas não os quer no jardim;

- É pra Clarinha brincar,

Faça bom tempo ou  ruim!

 

A Clarinha  fica atenta

E, meiguinha, diz à avó:

- Deixa lá, vovó, que assim

O meu jardim não fica só.

 

In Histórias da Clarinha, Editora Lugar da Palavra, 2019 


Ilustradora: Cristina Pinto

 

 Mas agora o jardinzinho

não é só da Clarinha

porque outro priminho tem.

A avó diz que é dos meninos

que são os seus dois amores,

de alegria inspiradores,

cada qual seu maior bem.


Surge-me então a pergunta,

vindo até pensativa:

E se a toda a criança

fosse oferecido um livro,

 e houvesse um jardim por perto?

Seria melhor a vida

e bem maior a esperança 

de o mundo ser mais feliz

e a todos bem mais aberto.

 

domingo, 30 de maio de 2021

Os Anjos...

 

 Ontem, foi o lançamento online desta coletânea. Para além de outras pessoas, os editores tinham-me convidado para o conselho editorial deste livro, convite que aceitei com gosto. Cabia-me também dizer umas palavras. Escrevi o pequeno texto que agora partilho e que não li, porque não pude estar presente na sessão.

Em breve, partilharei também o conto que escrevi e que foi publicado no livro: 'Maria dos Anjos'. Ficará para depois do Dia da Criança, em que outros anjos poderão voar.

 

Nota:

Agradeço os comentários  muitos generosos. Só queria esclarecer que fiz parte do conselho editorial (e não redatorial, como, por lapso, escrevi) só  nesta coletânea. Nada mais. Por isso, é coisa pouca, sem deixar de ser boa, é claro.


Boa noite a todos. Não podendo estar presente por motivos familiares, deixo esta mensagem.

 Agradeço à Editora Lugar da Palavra o convite para fazer parte da equipa editorial da coletânea - Os Anjos na Prosa e na Poesia. Parabéns  aos editores, João Carlos Brito e Ana Bessa, autora também da belíssima capa, e a todos os autores.

Quando, inicialmente, vi a proposta de tema e de título do livro, fiquei logo interessada em participar e curiosa sobre os textos que iriam ser produzidos.

De facto, o tema era inspirador e dava pano para mangas ou, neste caso, dava asas para voos diferentes, em prosa ou em verso.

 Nessa altura, sobre os sentidos da palavra 'anjo', logo me ocorreu a oração matinal ao anjo da guarda que a minha mãe nos ensinava.

 Também me lembrei dos anjos barrocos muito rechonchudos, tal como me vieram à memória crianças pequeninas que não resistiam às graves doenças. Dizíamos, com muita tristeza, serem anjinhos que iam para o céu.

Impossível não me recordar também dos anjinhos nas procissões das festas religiosas, ou da expressão bem menos inocente e tão usada a propósito das pessoas que põem máscaras sem ser a sanitária: tem cara de anjo mas é um demónio.

E, nesta linha de pensamento, vem o livro de Camilo Castelo Branco, A queda de um anjo cuja história se aplica na perfeição a tantas figuras públicas atuais. Ou a figura aterradora da 'tecedeira de anjos' do romance O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós.

Como já temos a coletânea nas nossas mãos, podemos encontrar os diferentes modos como todos os autores recriaram o tema. Aqui reside a beleza da diversidade humana presente  numa coletânea.

Desculpem-me se me alonguei, se não correspondi às expectativas e também pela minha ausência, mas não me mandem para o inferno, porque só  gosto da terra e do céu. Por isso, destaco as palavras de José Saramago, transcritas na capa da nossa coletânea: 'o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer'.

Muito obrigada e continuação de um bom encontro. Muita saúde e que todos se sintam felizes com a escrita e com a leitura.

 29 de maio 2021

sábado, 29 de maio de 2021

Elas eram três

 

Elas eram três irmãs e a casa onde viviam valia por várias. Porque era grande, velha, muito exigente de cuidados. Queixava-se, rangendo, de quase tudo. Do chão ao teto. Elas ouviam o ranger e tentavam repará-lo. Quando deixaram de ouvir bem, sentiam as dores da casa que se juntavam às dores dos seus corpos que iam envelhecendo e entorpecendo. Quando as forças estavam mais intactas, às vezes ficavam com sobrinhos-netos que eram  muitos porque a família era grande. Puseram até um baloiço para eles se entreterem. Para além de verem os coelhos, os pintos, correrem na eira, plantarem uma alface...

As três repartiam as tarefas de casa: a cozinha, as roupas, as limpezas, os vasos do pátio, o telheiro, a horta... Só uma conduzia o carro verde e pequeno. Ele era as compras, ele era a farmácia, ele era levar as irmãs à igreja ou ao médico... Que nada faltasse em casa. E que não lhe faltassem estas saídas para tomar um café e ver gente e saber o que se passava e dizer umas graças e ouvir uma anedota... e vir refrescada para casa, a que, por graça, dizia parecer um convento.

No tempo em que não havia os serviços de saúde atuais, enquanto as mãos estavam firmes,  dava injeções a quem lhe pedia. Lá ia ela a qualquer hora com a caixinha das injeções, o frasco do álcool e os fósforos para desinfetar a seringa pelo fogo.

Porém, pela falta de saúde, teve de deixar de conduzir, o que lhe encurtou o prazo para a viagem final.

Ontem, a que em tempos nunca parava, a que saía mais e era mais conhecida pela enérgica alegria, partiu. Foi a última das irmãs daquela casa.

Hoje eu falava dela. E logo ouvi: Oh, que tristeza. Ela deixava-nos andar no baloiço. Era uma alegria. Oh, que tristeza.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Ontem vi uma gaivota

 

Ontem vi uma gaivota

numa rua a passear,

não parecia andar perdida

mas até mui divertida

em Espinho visitar.


Eu comia um croissant

quando vi a tal turista

no passeio a saltitar;

não pude fotografar

mas ficou-me aquela vista.


De repente, o que vejo?

A gaivotinha a parar.

E fiquei surpreendida:

estaria exaurida

a ponto de não voar?

 

Mas estava escorreita

e  saudável parecia;

não  havia então razão,

só se fosse de emoção

por tudo aquilo que via.

 

E foi quando concluí

por que ela pararia:

que frescura de verdade!

Viera em  liberdade

em busca da peixaria!

 


quinta-feira, 27 de maio de 2021

Maresias, batatas, cebolas, gavetas, escolinha...

 

Hoje de manhã fui a Espinho, uma cidade bonita, geométrica e com mar ao fundo.  Enquanto conduzia, iam-me surgindo ideias. Umas iam ficando nas bermas da estrada, outras foram saborosas, ainda que simples, enquanto duraram. Matéria para um post - pensava eu. E já não sei a que propósito, pensei nas minhas viagens a Londres que deixei de fazer com a pandemia.

Quando chegava à estação de comboio e via a minha filha e a minha neta à minha espera, era como se chegasse a uma casa que não era a minha, mas que era como se fosse a minha casa. Daí a umas horas, já tinha tomado nota de coisas a comprar para cozinhar. Para uma tuga como eu, era quase impossível ter só uma ou duas batatas ou apenas uma ou duas cebolas. E logo eu: filha, vou ao supermercado. E lá vinha eu carregadinha, a pé, é claro, porque a facilidade dos transportes dispensa-lhes o carro, com batatas, cebolas, alhos, mais fruta, etc.

 E quando me apanhava sozinha em casa - na época, não havia teletrabalho e a Clarinha ia para a escolinha cedo - punha-me a arrumar prateleiras e gavetas. Quando contava isto às minhas amigas, diziam-me: fazes isso porque ela é tua filha, se fosse nora, não fazias.

E às 15.30, lá estava eu diante da porta alta e resistente da escola primária. Estivesse sol ou a chover, esperávamos todos cá fora pela hora certa em que o portão se abria para irmos buscar as nossas crianças. Mais todas do que todos. De cores de pele diferentes, umas com o cabelo descoberto, muitas com ele escondido nos lenços que os prendiam. E, em breve, estava eu junto da sala, a espreitar para ver a minha boneca, já que os meninos esperavam que a professora, à porta, os chamasse. E lá vinha ela a correr até mim, porque aos 4/5 anos, raramente se caminha e quase sempre se corre.

E assim cheguei às ruas geométricas de Espinho com as suas obras que nunca mais acabam e afixam placas com imensos desvios. Para além da maresia, há bons espaços com cheiro a boa maré de livros: uma Bertrand com muita luz e simpatia; uma biblioteca onde queria ter ido hoje, mas não fui. Faltou-me tempo. Como faltavam as batatas e as cebolas  em Londres, sem faltar a vontade de lá voltar.


terça-feira, 25 de maio de 2021

Uma nova hera

A casa sempre havia sido uma paixão. Nela tinha nascido e vivido. Era de granito firme e  sossegado, tinha um frondoso jardim e um quintal que não era grande mas enorme em fertilidade. E o rio corria sempre ao alcance da sua vista.

Os pais, em tempos, quiseram casá-lo com uma rapariga que eles conheciam desde menina. E, apesar de já não ser nada menina, toda a gente a tratava desse modo. A menina isto, a menina aquilo. E a voz e o jeito de sorrir dela era mesmo de menina.

Para fazer a vontade aos pais e por estar em idade muito mais do que casadoira, ele começou a fazer-lhe a corte. Ela sorria-lhe, mas quando ele lhe queria fazer uns mimos diferentes daqueles a que ela estava habituada, adeus ou até logo. Tinha uma novena, tinha de preparar o retiro, tinha de ir à missa, era a hora do terço, tinha de preparar uma leitura ou um  peditório, etc.

Ele começou a cansar-se de não lhe poder dar os mimos desejados nem dela receber os mimos esperados. E os mimos acabaram, mesmo sem terem começado. Era da maneira que podia passar os domingos como queria: ir correr pelos montes ou pelos passadiços junto ao mar. 

Quando os pais morreram, ele ficou a morar sozinho na casa. Como já estava reformado, todos os dias tinha flores para plantar, ervas para arrancar, relva para cortar, ramos para podar, etc. A casa estava sempre num brinco e, para a aprimorar ainda mais, mandou fazer um grande azulejo com a sua fotografia, de todas a melhor e mais bonita. Achava um primor vê-la na parede com mais sol.

Um dia, nesses passeios de domingo, que manteve porque a vida tinha de continuar, conheceu um amor, um grande amor, o seu maior amor. Era como se já se conhecessem desde o tempo em que o amor é amor. E o cupido acertou de tal maneira que foi ficando na casa de seu amor para do amor estar mais próximo. Fica só hoje. Só mais esta noite. Amanhã é domingo e podemos correr juntos, etc etc etc. E os dias foram passando, as semanas e até os meses.

Mas a lembrança da casa que fora o seu berço não o abandonava. Como estará tudo? Deve estar uma selva. Parece que a casa é mais importante do que eu - dizia o seu amor. Claro que não - respondia com amor. E tinha pena de o seu amor não conhecer a casa. Muitas vezes o seu amor prometera ir ver a casa, mas, chegando o dia, sugeria nova corrida ou um petisco como ele nunca provara. Ainda bem que o seu amor, quando se dispunha a falar dela, o aconselhava a nunca vender a casa.

Um dia, mesmo sem querer contrariar o seu amor, trocou-lhe as voltas e, sem nada lhe dizer, foi em corrida até à sua casa. Já não podia mais. Tinha de ver como estava. Quando chegou, nem queria acreditar, as ervas daninhas cresciam por toda a parte e em plena liberdade. E que desgosto ver uma hera que havia trepado pela parede e já lhe cobria parte do retrato. Nem teve coragem de entrar. Pôs-se a caminho da casa do seu amor. Ia desnorteado, meio zonzo e nem ouviu a buzina do carro que o atropelou. Morreu poucas horas depois.

Na mesma semana, o amor, que fora o seu amor, veio conhecer a casa. E foi amor à primeira vista. Tinha era de cortar a erva. E plantar uma nova hera para cobrir todo o retrato. Sempre ficava mais barato do que mandar tirá-lo da parede.

 

segunda-feira, 24 de maio de 2021

domingo, 23 de maio de 2021

Hoje tomei a primeira dose da vacina. 'Voilà'

 
Pelo telefone, avisaram-me da minha vez para tomar a vacina: Multiusos de Gondomar, às 11.30 deste domingo.
Aceita?
Claro que aceito. Posso saber qual é a vacina?
Isso não sei.
Ok, muito obrigada.
 
Cheguei ao Multiusos à espera de uma grande 'turma ex-covid', porque, entretanto, soube de outros casos de pessoas que foram infetadas, como eu, e também chamadas. E assim aconteceu, mas tudo calmo, apesar de haver muita gente. Tinha vestido uma blusa sem manga para tornar mais fácil o ato e desejando que a seringa entrasse rápido e não em perfuração lenta, como às vezes parece na televisão.
 
E tudo decorreu como gosto: espaço para o necessário distanciamento, boa organização, simpatia, pouco tempo de espera. 'Uma boa linha de montagem', como disse um amigo que lá encontrei.
 
Tomei a Astrazeneca que não era, de modo algum, a minha preferida, mas a que hoje estava destinada aos maiores de sessenta. E só uma toma. Indaguei. O motivo era eu já ter tido covid.
 
Hoje vou estar com o meu neto, um novo amor que nasceu há dois meses. Não deve ser nada científico, mas não é que já me sinto um pouco mais segura para me aproximar um pouco mais dele?!
E como vi ontem à noite Barbara Pravi no festival da canção, apetece-me repetir: voilà! 
 
Gostei de ouvir esta música francesa (sempre tive um fraquinho pela música em língua francesa), se calhar, por ser mais sóbria e não com aquele aparato histriónico de quase todos os grupos. Se calhar, por me fazer lembrar a pequena mas gigante Edith Piaf ou o imenso Jacques Brel. Se calhar, pela cantora ter um sorriso cheio de expressividade e de encantamento. Sei lá. Os portugueses também estiveram bem. E é sempre bom falar de amor. 'Voilà'.

sábado, 22 de maio de 2021

Isto de se ser amadora tem destas coisas!

 

Peço desculpa aos meus amigos bloggers, mas, por um erro de reformatação, perdi o endereço de alguns blogues e são todos muito importantes para mim.

Se repararem nas faltas, foi apenas por falta minha. Coisas de amadora. Ao querer aprimorar, acabei por estragar.

Logo que possa, vou recuperá-los e reformular a lista. Fiquei triste e a todos peço imensa desculpa.

Já agora, obrigada pelas vossas visitas e comentários amigos. 

É muito bom estarmos juntos.

Um abraço e bom fim de semana.