Após uma sessão no Planetário,
desafiei os meus alunos do 10º ano a escreverem
um poema, uma história... com o título
"Se as estrelas falassem".
Este foi um dos textos que li e gostei.
E assim vão nascendo novas estrelas.
|
Van Gogh |
Para mim, elas falam.
Aqueles pontinhos brilhantes, reluzentes, que todas as noites nos visitam, que
nunca nos abandonam na imensidão da noite têm, tal como nós, vida. Vejo-as como
seres maravilhosos e amigos. Falam de uma forma especial que só elas entendem
e, como são tão pequeninas, não as conseguimos ouvir. Mas será que são
todas iguais?
Há muito tempo, havia
uma menina, Carolina. Todas as tardes, após o lanche e realizados os trabalhos
da escola, saía de casa, ao final da tarde, dirigia-se ao campo, airoso e
preenchido com camélias, que ficava em frente à sua casa, cor de palha, e
esperava pelo cair da noite. Ela não perdia um dia para falar com a estrelinha,
que sobressaía no luar da noite.
Ensinava-lhe o que
aprendera na escola e esta, encantada com as maravilhas que Carolina lhe trazia
todas as noites, ficava ali, encantada com cada palavra que a menina lhe dizia.
Depois, chegava a hora da rapariguinha ir dormir e a reluzente estrelinha
cantava uma canção para esta adormecer.
Certo dia, Carolina
estava, como habitualmente, no campo à espera da sua amiguinha, mas ela não
aparecia. Começou a ficar preocupada e, chegada a hora de se deitar, nada mais
lhe restou do que ir para a cama. Nessa noite, não dormiu, pois faltava-lhe a
canção que a sua companheira lhe costumava cantar, com aquela voz fina, mas
delicada.
Acontecera que, devido
à poluição que se fazia sentir naquela época, todas as estrelas do céu
começaram a ficar doentes e, como tal, deixaram de aparecer. Agora o céu
encontrava-se escuro e andar pelas ruas tornara-se assustador. Não demorou
muito para que a frágil menina se apercebesse da situação e, como sabia que se
isto continuasse, o mundo se ia tornar vazio, como a imensidão do espaço,
decidiu colocar “mãos à obra”!
Na manhã seguinte, foi
a primeira a acordar e, eufórica e incontrolável, foi falar com o pai. Era
alto, elegante e de olhos cor de mel. Contou-lhe o que se estava a passar
e pediu-lhe para lhe explicar melhor a situação, visto que ela ainda era
pequenina e não percebia tudo o que a senhora da televisão dizia. Após a
conversa, saíram os dois apressadamente de casa, pois a hora da rapariguinha
regressar à escola aproximava-se. Pelo caminho, magicou e encheu a sua cabeça
com ideias que iria expor à sua turma para travar o que se estava a passar,
pois se continuasse, ia pôr muitas vidas em risco e já sentia falta da sua
estrelinha.
À entrada da escola,
reparou nas crianças que andavam cabisbaixas, como se algo de terrível tivesse
acontecido. Estariam elas a rebaixar-se por esta desgraça sem sequer lutarem
contra ela? Iriam desistir assim tão facilmente? Carolina tinha agora trabalho
a dobrar! Tinha de, urgentemente, alterar as mentalidades que a rodeavam!
Após ter entrado na
sala de aula, discursou perante os colegas, dizendo:
“- Isto assim não pode
continuar! Já não falo com a minha estrelinha há muito tempo! Tenho saudades
dela, mas preciso da vossa ajuda para ela poder vir ter comigo novamente. Ela
está doente. Preciso que me ajudem a acabar com a poluição que se faz sentir.”
“- Claro, Carolina.
Sabes que podes contar connosco, estamos do teu lado!”.
Logo após ter ouvido
estas palavras, uma alegria renasceu dentro dela. Apressou-se a ir buscar
cartazes de diferentes cores, marcadores pretos e, com a ajuda das restantes
crianças, não hesitou em pôr “mãos à obra”!
Os cartazes que
prepararam tinham escritas pequenas mensagens que visavam a diminuição do lixo
que vagueava pela atmosfera. Não demoraram a espalhar os mesmos pelas ruas da
cidade e pelos cafés mais frequentados.
Com este simples
gesto, as pessoas ficaram conscientes da situação e começaram a adotar medidas
saudáveis para o ambiente. Este começou a ficar melhor e, em poucos dias, o céu
começou a surgir, de novo, brilhante. Carolina correu para o local onde
costumava encontrar-se com a sua companheira, mas ela não aparecia. Desanimada,
decidiu voltar para casa. Levantou-se e, cabisbaixa, caminhava em direção ao
seu lar, quando, de repente, ouviu uma vozinha que lhe disse:
“- Ias embora sem me
contares o que aprendeste de novo na escola? Assim também não tens direito a
uma canção para adormeceres!”
Carolina não
acreditava! Soltou um sorriso e ficou ali, horas a fio, a conversar com a sua
amiga. E, para não fugir à “praxe”, ao deitar-se, ouviu a mesma fina voz de
sempre que a fez cair num sono profundo.
Daniela Figueiredo, 10.º ano