sábado, 30 de novembro de 2024

Bom sábado!

 



quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Um tema mesmo importante!

Vale a pena ouvir. Há rigor, sensatez e trabalho experiente e informado de ajuda!


 ‘Expresso da manhã

Paulo Baldaia

 https://podcasts.apple.com/pt/podcast/expresso-da-manh%C3%A3/id1536782080 ‘


domingo, 24 de novembro de 2024

Já se ouve o vento!

 Um dia, ao falar com uma vizinha, que agora raramente vejo porque a velhice desafortunada não a deixa descer nem subir escadas e só lhe permite espreitar cá para fora, eu disse-lhe que tinha medo da trovoada. Logo ela retorquiu: Eu só tenho medo do vento.

Pois bem, se habitualmente está recolhida dentro de casa, hoje mais estará com as previsões de muita chuva e rajadas de vento para a região do Porto.

Parece que se chama Bert a tempestade que se aproxima. Se o nome tivesse mais um ‘o’, seria como o do dono da mercearia perto de minha casa e que, simpaticamente, me traz as coisas de que preciso cá a casa e que sempre me diz: Se precisar de alguma coisa, diga; nem que seja só uma, eu venho cá trazer.

O pior é que, em vez de um pacote de feijão, põe dois; em vez de dois lombinhos de bacalhau, põe três!!!! 

Voltando a Bert, o vento continua a soprar e, pelos vistos, ao fim da tarde, chega em força. Ou será que se desvia ou perde vigor? Nunca se sabe. Oxalá que sim, porque me assustam radicalismos, até no tempo que faz.

Seja como for, hoje não abro as janelas e vou carregar o telemóvel, não vá falhar a luz e a beleza de domingo também se apagar. 

E beleza também encontro no podcast ‘A beleza das pequenas coisas’, o mais antigo do Expresso, de Bernardo Mendonça. 

Se falhar a luz, espero poder ouvir, a menos que a chuva e o vento me façam parar tudo o resto. Espero que não, porque precisamos de quem nos lembre o valor da beleza com verdade e sem cinismo.

Bom domingo e que os Céus não escondam a sua beleza, sob forma de tempestade!

sábado, 23 de novembro de 2024

As tranças


Tenho poucas fotografias minhas da minha infância. Tenho pena, mas nas que tenho lá está o cabelo preto, liso, risco ao meio e duas tranças grossas que logo se desfaziam se não fossem presas por elástico. O cabelo, ao contrário de mim, era quase indomável.

E agora vejo como deviam ser bonitas as tranças, que sempre achava que não, porque as das outras raparigas ou eram mais finas ou eram mais claras ou tinham caracóis. Como as da minha irmã. 

Porque será que só valorizamos as coisas passado algum ou muito tempo?! Ou quando já não as temos?

Chegada a adolescência, o grande desejo era cortar as tranças. Davam muito trabalho. Eram coisa de criança. Não condiziam com meias de vidro nem com sapatos de tacão fininho.

O pior era permissão para cortar o cabelo. Nem pensar! E não havia meio de convencer a mãe para a mãe convencer o pai.

Como solução, esperada como provisória, o risco do cabelo passou para o lado e o cabelo das duas tranças uniu-se numa só. Era bonita, mas, naquela altura, não sabia.

Porém, a insistência em cortar o cabelo continuou até que palavras desejadas se fizeram ouvir. Mas só em parte.

- Pronto, podes cortar, mas só um pouco para continuares a fazer a trança. 

Como o desejo era grande e a trança também, sucedeu-se a insistência e o resultado foi de novo:

- Pronto, podes cortar o cabelo, mas só um bocado. 

Passados alguns meses e alguns cortes, já não havia comprimento de cabelo que desse para a trança. Tinha valido a pena!

E o sorriso (vejo agora que era bonito) adolescente abria-se ao espelho que mostrava o escovar do cabelo tão negro que me perguntavam se o pintava. Eu ficava incrédula com a pergunta e encontrava consolo em histórias que falavam de ‘cabelo de ébano’ de uma personagem.

Se calhar, agora não achava piada a essas histórias, mas gosto muito de tranças, tenha o cabelo a cor que tiver.

 Pode ser que as faça à minha neta quando cá vier pelo Natal. Quando lhe contei que, na idade dela, tinha cabelo longo, muito preto e duas tranças grossas, ela sorriu, ajustando a bandolete que ajuda a prender o cabelo forte e castanho-claro. Um lindo cabelo que não gosta de cortar.



quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Bonanza no Café Paris ou o relax de sábado à noite

 

Quando eu era muito nova, os dias da semana eram cheios de trabalho. O meu pai trabalhava arduamente na oficina ao lado da nossa casa e a minha mãe ajudava-o no que podia ser feito dentro de casa. A vida doméstica era gerida por ela e levada a cabo, em grande parte, por mim e pela minha irmã. 

Chegado o fim de semana, o afã semanal diminuía e, ao sábado à noite, ouvíamos o Serão para Trabalhadores. Julgo que era este o nome do programa de rádio da então Emissora Nacional. O meu pai era o mais entusiasta quando ouvia as canções que lhe tocavam o coração. Tornava-se um ser mais leve e feliz do que o trabalhador frenético dos dias da semana. O aparelho que tínhamos era Nordmend, se não me engano, e julgo que ainda existe. Vejo agora que era um bonito exemplar, como são muitos rádios antigos.

Entretanto, chegou a televisão. Podia-se, magicamente, ver a imagem e não apenas ouvir o som da rádio. Não se falava de outra coisa, mas poucos a traziam para casa. Nós só a tivemos mais tarde. Era um luxo e a vida não estava para luxos. Julgo que o meu pai gostaria de ver os artistas que apenas ouvíamos na rádio e que tanto lhe alegravam e amenizavam a expressão. Também a minha mãe gostaria de a ter para ver as cerimónias de Fátima no 13 de Maio. Eu e os meus irmãos também, mas a vontade dos mais novos ainda não tinha entrado no calendário.

Pois bem, muito se falava do Bonanza, da família desta série, das aventuras, dos saloons, do Joe, das diferenças entre os irmãos… Então, também queríamos ver. E, andando talvez um quilómetro, lá íamos nós ao sábado à noite com o meu pai ao café Paris ver o Bonanza. Chegávamos mais cedo, sentávamo-nos à mesa e esperávamos pelo episódio, como se fosse um filme premiado com muitos óscares. Ou o momento imperdível da semana para atenuar a dureza dos dias de trabalho.

Quando a música do genérico se fazia ouvir, tudo o resto se calava. Durante o filme, os olhares estavam todos postos no écran e as reações ao desenrolar da história eram emotivas e ruidosas como num jogo de futebol. Eu e a minha irmã mais presas ao televisor ficávamos quando aparecia o belo e simpático Joe. Quando o episódio terminava, regressávamos a casa, talvez a pensar já no sábado seguinte.

Passado algum tempo, os meus pais compraram um televisor. Podíamos, finalmente, ver o Bonanza em casa e também  teatro e programas de variedades com o Jorge Alves, etc. Tudo tantas vezes entrecortado por um chafariz a atirar água em tempo interminável, com a legenda ‘O programa segue dentro de momentos’. E como era canal único, ficávamos à espera, mas bem diferente de quando aguardávamos mais um episódio do Bonanza no café Paris.


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

As crianças

 

Ontem, vi o começo de uma notícia sobre a criança cuja ama foi filmada a dar-lhe banho de água fria. Pelos vistos, batia-lhe no rabo ao mesmo tempo. Quando ouvi o choro aflito e sem defesa do bebé, logo mudei de canal. Confesso que aquele choro me perturbou, ficou-me na cabeça e entristeceu-me a noite. 

Haver coragem para filmar uma cena assim? Seria por vingança ou posterior acusação? Ter coragem para assistir a tal cenário, sabendo que um ser indefeso estava em sofrimento não justifica o ato, na minha opinião. Mais justo seria retirar de imediato a criança das mãos da mulher que a maltratava. 

Por toda a parte, há crianças que sofrem. E que sofrem muito. E não devia ser assim.

São crianças quase andrajosas de Gaza cujas imagens nos entram em casa no dia a dia. E todas aquelas que não vemos, mas que sabemos que existem e que sofrem.

São as crianças que chegam em barcos cheios e periclitantes sobre as ondas e, como já aconteceu, morrem na praia.

São as que sofrem violações e outras formas tremendas de violência, expostas a situações de terror e morte perante a indiferença, tantas vezes, de governantes poderosos do mundo que, com todas as armas e bagagens, não se desviam nem um milímetro da ambição de salvar apenas a sua própria pele.

Felizmente, há crianças felizes, apesar do caos que vai grassando em muitas frentes, mas não podemos esquecer as que têm fome, sede e que vivem sem conhecer o direito mais que devido de ir à escola, de brincar, de viver em paz e sem bombas a rebentar-lhes a vida e a dos familiares que as deixam sós.

Fernando Pessoa disse que ‘o melhor do mundo são as crianças ‘. O pior é que milhões delas conhecem sobretudo o que o mundo tem de pior para lhes dar.


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Idade: 100 anos; Filhos: 5; Ordem para visitar!


Há muito tempo viúva, reza que do marido não terá tido muitas saudades, porque dele não ouvia nunca  palavras cor-de-rosa; para si, ficavam as mais cinzentas ou agrestes. Ou geladas como ventos de inverno.

Não assistiu, portanto, ao centenário da mulher, mas a festa fez-se a preceito. Como ela sempre desejara e programara. Queria os filhos, as noras, os genros, os netos e os bisnetos perto de si. Haveria um bolo bonito e grande e mais uns miminhos doces que lhe tinham oferecido e que queria que todos saboreassem. E, no meio da mesa, uma jarra com flores do jardim. Não as queria compradas porque são caras e vêm de outros países quando as tinha em casa bonitas e mais naturais.

Não haveria refeição completa. Não queria a casa em desalinho nem vê-los a lavar e a arrumar a loiça. Fazia 100 anos e o lugar deles era perto de si. Com tempo e livres de outros afazeres. Se Deus continuava a dar-lhe o dom de falar, de ver e de ouvir, tinha que desfrutar dessas dádivas que, desde pequena, tinha  aprendido a amar e a respeitar.

Estava feliz com todos os que tanto amava à sua volta. Sorria, fazia perguntas, contava peripécias do passado, queria saber projetos de futuro…

Sentia-se uma árvore criadora de fortes e maravilhosos ramos que lhe davam segurança, alegria e a faziam acreditar no futuro. E um pedido irrompeu, em modo decidido de ordem:

- A partir de agora, quero que vocês, meus filhos, me venham visitar todos os dias. 

- Temos de vir todos, mãe, mesmo ao sábado e ao domingo?

 - Porque não? Estão todos reformados, por isso não têm horários a cumprir. E organizem-se para não virem todos ao mesmo tempo. Quero poder falar à vontade com cada um.

- E nós  também temos de vir, perguntou, timidamente, um bisneto.

- Claro que não! Acham que eu não conheço o mundo? Vocês, os novos, têm o tempo muito preenchido e ainda bem que assim é. Estão a construir o vosso futuro.


E o pedido/ordem foi cumprido, depois de feito um pequeno calendário de visitas para não haver coincidências. Agora, que a matriarca está prestes a fazer 101 anos, ninguém sabe se novo pedido surgirá. Talvez se fique pela confirmação da visita diária dos filhos. Uma das noras, habitualmente bem humorada, já disse: uma coisa é certa; continua a ordem para visitar!


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Não tenho paciência!


Tenho cada vez mais paciência para algumas coisas, mas, para outras, tenho cada vez menos. O tempo em que ficava, paciente e silenciosamente, à espera que a minha mãe terminasse a sesta para me ajudar a fazer roupinha para as bonecas já desapareceu no emaranhado dos tempos.

Pois bem, não tenho paciência para quem fala, fala, fala e exibe muitas certezas, só elas espertas e certeiras, tipo descoberta da pólvora. Na certeza de que os outros pouco sabem e andam, coitadinhos, de olhos tapados.

Não tenho paciência para descrições minuciosas, como as da experiência da vida militar, quase sempre em discurso direto ou indireto, que se prolonga por muitos pormenores que se cruzam e dos quais vou desligando, embora permaneça no lugar. O olhar é que se vai perdendo. O que vale é que não o vejo!

Não tenho paciência para textos manuscritos com letra incompreensível. Há muitos muitos anos, no tempo da terrível guerra colonial, uma jovem deixou de ler as cartas do namorado, porque eram longas e quase ilegíveis. Passou a escrever-lhe, ignorando, portanto, o que ele lhe dizia em letra que nunca quis melhorar. Não faltou muito para o namoro acabar. 

Não tenho paciência para quem gere o tempo apenas consoante a sua disponibilidade, sem pensar que os outros podem ter o seu tempo contado.

Não tenho paciência para quem faz longas descrições dos problemas do dia a dia e, quando termina e o interlocutor quer também intervir, logo olha para o relógio, diz que é tarde e vai-se embora. A menos que lhe ocorra outra coisa que passa a desenvolver, como se o tempo tivesse parado.

Não tenho paciência para quem encontra justificação para tudo o que diz e faz e se ofende à mínima palavra que logo julga ofensiva.

E tenho muito mais impaciências. Tantas vezes contidas, embora gostasse de, corajosamente, as revelar mais nalgumas circunstâncias. Trava-me, com certeza, esta ideia: quem nunca mói a paciência dos outros que atire a primeira pedra! Eu não sou de certeza.


terça-feira, 12 de novembro de 2024

Olhando as camélias

 






A propósito de comunicação

 

Tem-se falado bastante das dificuldades de comunicação de duas ministras, atualmente no governo: Margarida Blasco e Ana Paula Martins. As notícias dizem que foi contratada uma empresa de comunicação para as ajudar. E não deve ficar nada barato! Digo eu, que faço contas, mas não entro nestas contas.

A primeira tem optado, em sessões públicas, por ler um texto previamente escrito para não dizer nada que a comprometa ou logo possa ser desmentido,  e a segunda quase nem aparece nem se pronuncia sobre casos, alegadamente de incúria, do seu ministério, como é a mais de uma dezena de mortes, alegadamente também, por atrasos do INEM.

Pois bem, como as coisas da vida - as mais simples e as mais complexas - são como as cerejas, lembrei-me de uma aluna que tive há bastantes anos. Era estudiosa, atenta, assídua, responsável, mas entrava em grande stress se tinha de apresentar trabalhos para a turma. Tinha extrema dificuldade em colocar-se à frente dos colegas, olhá-los e expor as suas ideias. Ficava coradíssima, desviava o olhar, as palavras fugiam-lhe e quase causava dor ver a dor que sentia por falar em público, mesmo quando o público era bem conhecido e restrito.

Terminou o ensino secundário e deixei de a ver. Passados uns anos, encontrei-a já não sei onde, talvez num supermercado. Logo trocámos sorrisos e aproximações. Ela mantinha o seu ar de menina, de cabelos longos e claros.

Então, como estás? E a professora? Continua na escola? E o que fazes?

Então, veio a resposta que, anos antes, eu acharia improvável: tinha seguido a tropa e dava instrução a muitos militares.

E disse-o com firmeza, entusiasmo e sem corar. Eu, que não costumo corar, acho que corei e disse coisas do género: Que maravilha! E gostas? Então, fico muito contente.

E algum tempo depois despedimo-nos. Então, felicidades. Para si, também, professora.

E fiquei a pensar na transformação daquela ex-aluna, que parecia ter vencido a enorme timidez de adolescente. Não sei se teve ajudas, mas desconfio que não. Parecia frágil, mas foi encontrando força que muitos julgavam quase impossível.  Continuará a ser quase anónima, nunca será ministra nem secretária de estado, mas até podia dar uma ajuda. Só que ninguém estaria interessado.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Não sei o que se celebra hoje, mas há sempre o dia para celebrar!

 

Hoje, acordei e levantei-me cedo. Quando tenho empregada, despacho-me mais cedo, para organizar as coisas que quero que ela faça. Por isso, já fui ao quintal apanhar couves e espinafres para sopa e empadão de bacalhau. A Mariana, que é brasileira, chama escondidinho ao empadão. Acho engraçado e sugestivo o  termo e agora uso-o de vez em quando. Ela também já aprendeu muitas palavras do português de Portugal que ela desconhecia. São boas estas trocas num mundo globalizado, embora, infelizmente, alguns líderes mundiais o queiram limitar.

Ah! E que bom é o chá de limão e gengibre que ela faz. Que bom estar gostoso - diz ela, pronunciando as sílabas com gosto e vagar, muito ao jeito brasileiro. 

E hoje, a passear em vai-vem no meu quintal, vi que os dióspiros-maçã estou quase no fim. Apanhei um, porque me sabe bem assim fresco e pouco maduro. E olhei as árvores que, em breve, têm de ser podadas. E a horta que, em muito pouco tempo foi invadida por trevos e mais trevos, amanhã vai ser preparada para receber outras hortaliças. Felizmente tenho quem o faça. Chama-se Alexandre, é simpático e generoso. E precisa de ganhar dinheiro.

Agora, ao meu lado, tenho crónicas do Expresso que quero ler. E um pouco mais do Diário Incontinuo, de Mário Cláudio, que comecei a ler há uns tempos.

Os meus dias vão sendo tranquilos e caseiros. Estou (confio que sim) a recuperar da doença que me surgiu no verão. Ao contrário de muitos amores de verão que depressa acabam, isto demora mais. Mas não faz mal se a vida continua e pode ser celebrada, ainda que as vivências sejam simples. Sem deixarem de ser quentinhas e boas. Como as saborosas castanhas deste outono.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Hoje celebra-se a preguiça!


Ainda muito pequena, ouvia maldizer a preguiça, um dos sete pecados mortais, que a minha mãe enumerava de cor muitas vezes para que o trabalho doméstico, que era obrigatoriamente partilhado pelas filhas (o filho, como era rapaz, não era contemplado!) fosse realizado na hora certa. E o que é certo é que havia o exemplo.
Pois bem, mesmo assim, a preguiça nunca me abandonou, embora qb, acho eu. Agora que estou reformada (reformulada, como digo às vezes por graça) ainda o sinto mais. Raramente estou sem fazer nada, mas aprecio os bocadinhos em que, no sossego da casa, sossego o corpo e o espírito. Costumo acordar cedo, mas não me levanto logo, ficando a desfrutar do bom quentinho que custa abandonar. Também não gosto de pressas nem pressões.
Será isto preguiça? E outros pecadilhos, como não fazer a cama em condições ‘para ficar a arejar’, deixar algumas coisas, que podiam ser feitas hoje, mas que ficam para amanhã, etc, etc, etc.
‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’ e o que eram apenas deveres agora também são direitos. E com conta, peso e medida ajudam a equilibrar o corpo e a mente, na tentativa de harmonia cada vez mais necessária nos dias conturbados que correm. 
Ouvir técnicos a falar do assunto e a validar momentos de preguiça reduz culpabilidades que ficam incrustadas e que demoram a libertar.
De uma coisa não posso abdicar: caminhar mais. Para já, vou ao meu quintal, que é estreito mas comprido, apanho ar e caminho um pouco. ‘Isso é pouco’ - ouvirei eu na próxima consulta no hospital. 
O melhor é vencer então a preguiça e começar hoje a alargar o espaço de caminhada. Bora lá! E assim não oiço esse raspanete que, ao contrário da preguiça, nunca (me) sabe bem.



quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Imaginem quem vai governar!

 

Nesta noite de leitura dos resultados das eleições, as televisões estavam ao rubro, patente que estava o mapa das votações nos Estados Unidos. A maioria dos votos ia caindo  no partido republicano, pintando o quadro a  vermelho.

O azul democrata era tímido e quase marginal.

No início, o candidato republicano falou de fraude, mas logo deixou de o dizer quando viu que era ele o favorito nas urnas. O seu ego, mais alto do que a sua torre em Nova York, subia altíssimo, o que evitava qualquer invenção de queixa.

Conhecidos eram os insultos, mentiras, falcatruas, subornos, misoginia, fuga ao fisco, centralidade em si para resolver os seus problemas com a justiça,  arrogância, ganância pelo poder,  desrespeito… tanta coisa que causa estranheza ao ver tanta gente a votar em pessoa com estes comportamentos.

A candidata Kamala foi recorrentemente ridicularizada por ele. Muitos desses insultos caíam no saco roto da normalização.

Hoje ouvi uma ex-emigrante nos Estados Unidos, durante longos anos, a dizer uma coisa interessante: Muitos eleitores de Trump não leem, rejeitam o contraditório e apenas ouvem o que o seu partido lhes grita e que é apenas o que conhecem.

Oxalá o envelhecimento do candidato vencedor lhe traga maior compostura e menos postura de reality show, que tanto exibe.

Contentes estarão os trumpzinhos que o vão imitando logo que haja palco, como em Portugal também já existe.

Descontentes estarão muito jovens que votaram em Trump. Só que o descontentamento vai demorar algum tempo a chegar. A menos que a normalização de atitudes e linguagem rude e boçal não os traiam ainda mais.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

domingo, 3 de novembro de 2024

O milho da eira

 

Em tardes de outono cheias de sol, como a de hoje, lembra-se da antiga eira da casa das tias, coberta de milho a secar. Ela era uma menina de longas e negras tranças que adorava ‘virar’ o milho, fazendo reguinhos com os pés, trazendo para cima a camada de milho que precisava de mais sol para secar.

Nunca mais esqueceu a sensação do milho quente debaixo dos pés descalços que iam deslizando naquele mar macio sob a luz doce e amarelada de outono.

Agora, da junção das pedras da eira crescem ervas daninhas e os campos de milho deram lugar a outras utilidades mais urbanas.

Mas, na sua memória, a menina, então de longas tranças e batinha costurada pela mãe para não sujar o vestido, continua ainda a voar sobre o milho da eira pintada de tons amarelos.

Esse quadro antigo daria um belo quadro, fosse quem fosse a criança feliz com os pés descalços a abrir pequenos sulcos sobre o milho.

Porém, nunca ninguém o pintou, nem sequer nele reparou, mas todos os anos o outono faz questão de o lembrar.


O Isolino

 

Era um homem discreto, afável, falava pouco e o sorriso era sereno. Sempre o vi junto ao fogão da cozinha de grandes dimensões. Ao centro, havia uma mesa também grande, onde a Comunidade Emaús, então sediada na rua do Almada, no Porto, tinha as refeições. 

A Comunidade era, e continua a ser, constituída por pessoas sem abrigo - designados companheiros - por voluntários e um pequeno grupo de dirigentes.

Ora, o Isolino era voluntário e cozinheiro e administrador da cozinha que sempre mantinha limpa e organizada. A comida que fazia era boa e saborosa. Quando os tachos, ainda a fumegar, estavam prontos para ir à mesa, sorria sem alarde e depois ficava contente se via que a sua comida estava a saber bem.

Isolino fez este trabalho durante longos anos, dedicando o seu tempo livre à Instituição.

Soube há pouco do falecimento deste homem pacato, persistente, solidário, sábio confecionador de sabores e alimentos. 

Apesar da sábia dedicação, Isolino nunca abriu nem abrirá telejornais, mas deixa a sua marca.  Para muitos também um porto de abrigo.


sábado, 2 de novembro de 2024

Nova (a)normalidade?


Se o pouco que digo sobre mim puder ser útil a alguém, melhor.

Desculpem a ausência durante todos estes dias. Tenho estado doente e, como acontece muitas vezes, fragilidade chama outras fragilidades do nosso corpo. No entanto, espero em breve poder dizer que estou bem e que o que lá vai lá vai! 
Quando fiquei doente, o médico, muito competente e simpático, do SNS, disse-me: ‘ocupe a sua cabeça’. Embora tenha lido pouco e escrito ainda menos, tenho ouvido e visto programas que me interessam, escutado podcasts com os quais aprendo muito e tenho feito alguns trabalhos de mãos para o Natal. E os dias, no geral, têm sido tranquilos. Felizmente!

Vamos agora ao que interessa e que puxei para título?
Todos nós recordamos o ‘Novo normal’, resultante da pandemia da covid 19, isto é, das novas práticas que fomos adotando porque a nossa vida muda com a mudança da realidade.
Pois bem, outro  ‘novo normal’ parece estar a impor-se e, desta vez, pelos insultos de políticos e que estão a ser adotados por imitadores populistas, aos quais Portugal não escapa.
É estranho não se estranhar quando se ouvem insultos como burro, imbecil, etc., vindos de alguém, por exemplo, que quer governar um país  dos mais importantes do mundo e que tem tantos apoiantes indiferentes às palavras insultuosas que são proferidas em comícios, etc. como se fosse tudo natural.
E o pior é que o chorrilho de insultos está a ser normalizado, o que é muito mau, sobretudo para as novas gerações que passam a não ter balizas nem referências. Vai-se espalhando a ideia de que liberdade é dizer e fazer tudo o que vem à cabeça.
Continuo a achar que a Vida é Bela, mas há quem a estrague cada vez mais, sobretudo  por ganância de poder.
É caso para dizer: Isto não é normal!