sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"Daqui a bocado é noite"

Picasso
Quando eu era menina, ouvia a minha mãe dizer com frequência: "Vamos lá que daqui a bocado é noite". Como na infância e juventude o tempo passa a  uma velocidade mais lenta e saboreada, eu não entendia muito bem a mensagem tantas vezes seriamente repetida. Como era possível cair a noite quando a luz do dia se abria ainda tão alta e clara? 
Depois, a idade foi amadurecendo. Vieram as crianças, o trabalho, os afazeres vários, os sonhos, os desejos, alguns projetos. E, na correria dos dias, compreendia melhor a mensagem antiga de minha mãe: "Daqui a bocado é noite".
E as crianças iam viajando na idade que sempre amadurece. Também elas com trabalho (felizmente!), com afazeres vários, com sonhos, com desejos, com projetos...  Só que não oiço dizer "daqui a bocado é noite". 
O ritmo e o aproveitamento dos dias alargou-se. Mau era se assim não fosse. Aqui no norte de Portugal, pelas seis horas, do tempo a que chamamos tarde, já é noite. Em Londres, pelas quatro da tarde, já o céu escurece. E o sol esteja ou não escondido, há muita coisa ainda a fazer. No meu caso, trabalhos para corrigir, aulas para preparar, relatórios a fazer, (tantos) prazos apertados a cumprir, mails para ver... E ainda (felizmente!) alguns sonhos, alguns desejos de caminhar por outros pequenos que também alimentam a alma dos dias.
Enquanto a vida vai passando a uma grande velocidade.
E quando nos damos conta, vemos que "Daqui a bocado é noite".

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