"Conta-me histórias
A atividade
dos mais novos aumenta quando ouvem histórias de embalar, garante um estudo
científico
Ler aos filhos desde cedo foi sempre um conselho dos
pediatros. Há quem recomende a leitura desde os seis meses do bebé. Em
setembro, a revista norte-americana "Pediatrics" publicou um estudo
que registou imagens de ressonâncias magnéticas da atividade cerebral das
crianças de 3 a 5 anos, enquanto ouviam histórias para a sua idade. Percebeu-se
que havia diferenças na ativação cerebral entre crianças a quem liam de vez em
quando e as que viviam em casas com muitos livros, em qua a leitura era
habitual. A ativação era significativamente maior numa região do hemisfério
esquerdo do cérebro, chamada córtex, de associação parietal temporal-occipital,
que está relacionada com a
"integração multissensorial que integra som e estimulação visual",
explica o autor principal do estudo, John S. Hutton, Investigador do Centro
Médico Hospitalar Infantil de Cincinatti, EUA.
Crescer com livros, ler em voz alta para as crianças são atos
que ajudam ao desenvolvimento da linguagem e ao sucesso escolar, está
comprovado. Para o psicólogo clínico Eduardo Sá, este estudo científico não é
"completamente surpreendente". " A grande novidade são as provas
imagiológicas da forma como estimulamos o cérebro que se torna mais versátil e
mais capaz de transformar mais imagens em palavras.". Por outro lado,
destaca, "é importante que se perceba que a relação é o grande arquiteto
do sistema nervoso, através do modo como estimula áreas cerebrais. E, em função
duma estimulação coerente e constante, cria redes sinápticas estáveis que
passam a ser o nosso software". Ou seja, o
"software" adquire-se e desenvolve-se e não é um "equipamento
de base" da natureza humana, como, por vezes, tantos dos que têm uma visão
estritamente biológica do desenvolvimento e da vida psíquica são levados a
"insinuar". Para o psicólogo, "estes dados permitem-nos perceber
que, por falta da estimulação indispensável, muitas crianças acumulam danos,
que as limitam vida fora, sem que aqueles que lhes fazem mal sejam severamente
punidos. Sejam eles pais negligentes ou tribunais e serviços da segurança
social que permitem que crianças muito pequenas estejam institucionalizadas
para além daquilo que a lei permite, sem que ninguém se preocupe pela falta de
um estímulo personalizado, sereno e amigo do conhecimento", alerta.
"O sistema nervoso funciona como um músculo que precisa de ser estimulado,
sob o risco de, ao não suceder assim, atrofiar". Além do mais, porque o
acesso à palavra nos permite vestir em palavras aquilo que sentimos, crianças
que melhor verbalizam podem tornar-se mais felizes". Por fim, as histórias
de embalar. "As histórias juntam imagens e palavras, ajudam a pensar.
Crianças que mais precocemente acedem às histórias são mais aptas para a
matemática, para a língua materna, para a representação e para a relação. Mais
histórias significa crianças mais saudáveis e crianças mais inteligentes",
termina,"
Katya Delimbeuf, in Expresso, 10 de outubro 2015
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