No aeroporto de Gatwick, entrei no comboio para Londres. Como não devo ter
seguido bem as instruções da minha filha, tive de mudar de comboio em St
Pancreas até chegar ao meu destino.
Na carruagem, seguia uma senhora de meia
idade, que lia um jornal inglês, num lugar perto do meu. Depois de o comboio
ter percorrido uma longa distância, e como não eram anunciadas as paragens
seguintes, perguntei-lhe se St Pancreas ficava ainda longe. Disse-me que não
sabia, porque era da ilha de Jersey e também conhecia mal a linha.
A carruagem ia quase vazia e prestava-se, portanto, a
algum diálogo. Daí a nada, a senhora de Jersey contava, em voz suave e
discreta, que vinha visitar a filha que trabalhava em Londres. Tal como eu,
acrescentei. Talvez já não volte a Jersey, disse ela. Tal como a minha não
voltará facilmente a Portugal, disse eu.
Numa das paragens seguintes, entrou outro passageiro.
Fiz-lhe a mesma pergunta. Atento, disse-me que faltavam ainda três
paragens. Acrescentou que eu logo a veria porque era uma estação muito grande.
Quando saí do comboio, a minha filha estava à minha
espera. Muitos abraços, beijos, palavras doces...
A senhora de Jersey tinha seguido viagem e estaria pouco
depois, por certo, com a filha e com os netos.
Eu ainda não era avó, mas tinha vindo a Londres para
receber a primeira neta. Sê bem-vinda. Welcome. Ainda tive de esperar
uns dias.
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