terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Zezinho, anda dar um beijinho!

 

Domingo, estava eu na ‘minha’ cidade com mar ao fundo, fui a um café com larga esplanada iluminada de sol. Alguns vasos altos,  com abundantes suculentas, delimitavam zonas de passagem.  Entretanto, duas famílias encontram-se. E logo se ouve a mãe de um menino:

- Zezinho, anda dar um beijinho.

E o pai repete  alto e bom som:

- Zezinho, anda dar um beijinho.

E as chamadas do pai e da mãe do Zezinho foram-se ouvindo. Perante a insistência, o menino foi-se escondendo atrás de um vaso. Vendo os pais distraídos a conversar com os amigos, foi-se adelgaçando entre o vaso e o vidro separador e, daí a nada, estava a correr no jardim junto à esplanada.

Assistindo à cena, veio-me à memória o poema ‘Liberdade’ de Fernando Pessoa, a quem roubei o primeiro verso (assinalando-o, como é devido, porque o seu a seu dono). O resto foi para desenhar mais um pouco a engraçada situação:

‘Ai que prazer não cumprir um dever’

De dar beijinhos

Quando se é mandado

Porque a dar beijinhos

Ninguém deve ser obrigado.


domingo, 2 de fevereiro de 2025

Porque hoje é domingo!






sábado, 1 de fevereiro de 2025

Bom sábado!


 


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Consciência (in)tranquila

 

Não me lembro de nenhuma figura política, ao demitir-se de um cargo ou sendo demitida, que não diga que está de consciência tranquila. Um secretário de estado do atual governo, cuja demissão foi conhecida ontem, repetiu, igualmente, que estava de consciência tranquila. 

Esta expressão, com tanto uso e abuso, vai-se tornando vazia do significado que, nestes casos, querem dar, com ar sério e circunspecto. Como se quem a ouve a aceitasse sem pensar ou não tivesse consciência.

E, depois das demissões, chovem até elogios, mas nenhuma referência aos motivos que levaram à cadeira ter ficado vazia. Sobre isso, os governantes nada dizem porque, perante factos, esgotam-se os argumentos que seriam desejáveis.

Esses governantes, tão palavrosos tantas vezes, remetem-se ao silêncio quando as coisas correm mal e ficam-se por uma nota escrita, curta e breve, para a comunicação social sobre o caso e a vida continua. 

Esquecem-se, porém, de que a consciência do comum dos mortais vai ficando intranquila. E triste. Como fria tempestade.


domingo, 26 de janeiro de 2025

Uma imagem/frase para um domingo de chuva!


Bom domingo!



sábado, 25 de janeiro de 2025

É sábado, há sol e músicas assim!


 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Um ingrediente que entrou por engano

 

Sou fã do caderno Ideias do jornal Expresso. Nele, vem uma crónica, que não costumo perder, de Ricardo Dias Felner, com o título sugestivo de ‘O Homem que Comia Tudo’, sobre gastronomia e restaurantes. O cronista parece ser honesto, conhecedor e exigente nas apreciações e nas sugestões que apresenta, falando de todo o tipo de restaurantes e de comidas onde moram bons e consoladores sabores, não necessariamente caros.

Ora, na crónica de 15 de novembro último, com o título “Isaltino e os restaurantes”, a dado momento, o cronista diz:

“Na sequência disso, Isaltino foi para as redes sociais promover alguns dos restaurantes locais que tinham beneficiado dos dinheiros públicos

- sugerindo que os gastos haviam sido em prole da extraordinária gastronomia oeirense, mais do que em prole do seu extraordinário estômago.“

Como se vê neste excerto, o cronista repete a palavra ‘prole’ que é mal utilizada, neste contexto. O que ele quereria escrever era ‘prol’, que significa a favor de, em defesa de, em proveito de...

Por exemplo: Todas as semanas, ele escreve em prol da boa gastronomia.

A palavra 'prole', por sua vez, significa descendência...

Por exemplo: Ao domingo, o casal costuma ir ao restaurante com a sua prole (com os filhos).

Assim, vemos que até uma simples letra pode fazer a diferença. E de que maneira. É como uma bela sobremesa com um ingrediente que entrou por engano!


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Na caixa 29


Ontem à tarde, estava sol e ela resolveu sair. Assim, sempre mexia um pouco mais as pernas e não ficava tanto tempo no sofá a dormitar e a ver a Tânia ou a Júlia ou o Goucha. Iria ao Centro Comercial, que ficava perto de casa. Podia até encontrar alguém conhecido e conversar. Ou mulher ou homem também com sinais de solidão que olhassem para ela e lhe dirigissem, amigavelmente, a palavra e até a convidassem a sentar um pouco ou até a tomar um café. Que mal tinha? Mal era ficar sempre em casa a ver e ouvir histórias tristes que lhe aumentavam a solidão e a tristeza.

Pois bem, limpou a pele, pôs creme, pó de arroz e desenhou o traço negro nos olhos o mais direitinho possível. Tinha de realçar o melhor de si. Daí a pouco tempo, estava no Centro Comercial. Olhou à sua volta. Bastantes pessoas sozinhas. Mulheres sobretudo. Teriam saído com os mesmos propósitos que ela: ter um pouco de companhia que as alegrasse. Apetecia-lhe esboçar um sorriso a ver se alguém lhe sorria também, mas algumas pessoas estavam era fixadas no telemóvel ou nos seus pensamentos.

Através dos vidros largos, via-se o estádio do Dragão, e entrava uma luz imensa e boa. Foi percorrendo o átrio. Apeteceu-lhe um café pingado. Aproximou-se do bar. Duas jovens funcionárias falavam de uma colega, reproduzindo o que ela tinha dito e o que lhe tinham respondido. 

Ficou algum tempo a ouvir com agrado, para mais uma das raparigas era brasileira e sempre gostara da doçura daquele sotaque. Finalmente, deram conta que tinham uma cliente à espera. Pediu o pingo bem quentinho. Coisas de velhos, pensou ela sobre o que elas teriam pensado. Apetecia-lhe meter conversa, mas as jovens tinham recomeçado a história de há pouco. Sentou- se a uma mesa, aquecendo as mãos na chávena, e olhava quem passava, quase sempre com ar sério, embora em passo vagaroso. Deixou-se ficar algum tempo. 

Mesmo com o risco bem acentuado dos olhos, parecia invisível a quem passava e com quem se cruzava no largo e luminoso átrio do centro comercial. O melhor era ir comprar pão e regressar a casa. Daí a pouco, começaria a escurecer e a ficar frio. Assim fez.

No Continente, a fila para pagamento era grande. Atrás de si, estava outra mulher. Teria a sua idade. Ambas tinham poucas compras. Cabiam-lhes nas mãos. Entretanto, foi chamada para a caixa 29 e logo a vizinha de fila também, o que foi motivo de conversa:

- Continuo atrás da senhora.

- É verdade. Hoje a fila está demorada.

- Há poucas caixas a funcionar. Nem é costume.

- Devia haver uma caixa para quem compra poucas coisas.

- E está-me a custar estar aqui. Dói-me tanto uma perna.

- Oh, isso é que é pior!

E já fora da caixa de pagamento:

- Então adeus e as melhoras.

E saiu a pensar que, da próxima vez que viesse ao Centro Comercial, poderia encontrar a vizinha de fila, ir ter com ela e perguntar-lhe se estava melhor. E haveria motivo de conversa.


sábado, 18 de janeiro de 2025

Tenho uma filha emigrante


Quando a minha filha mais nova rumou, sozinha, a Londres para prosseguir estudos, ainda não sabia que ficaria a viver lá e que encontraria, por si, condições profissionais que aqui não tinha. Apesar de ela não ser muito dada a queixas e lamentos, pelo menos o inicio da sua vida naquela grande cidade não deve ter sido fácil. Teve de ser muito organizada, trabalhadora e muito corajosa. Acho que, se eu estivesse no lugar dela, não teria nem metade dessas capacidades.

Por isso, toca-me diretamente o tema, e, sendo Portugal um país de forte emigração, considero desumana a forma como muitos imigrantes e muitos dos seus filhos, mesmo já  nascidos no nosso país, são tratados. Chocam-me expressões como: ‘vão para a terra deles’, ‘encostem-nos à parede’..., expressões gritadas e repetidas até na Assembleia da República. Haverá exceções, mas, quando as pessoas decidem migrar, fazem sacrifícios na busca de uma vida melhor a que têm direito.

Há crimes? Há excessos? Há vícios? Existem, com certeza, como há em todas as comunidades. Porém, recorrentemente, ter-se a pele mais escura, ser-se pobre e ser-se estrangeiro acentuam desconfianças e medos, mesmo que não haja evidências de comportamentos desviantes.

Um dos argumentos por cá apresentados é que os imigrantes roubam o trabalho a muitos cidadãos, o que retira riqueza ao país.

Londres ou outra grande cidade, incluindo as portuguesas, não empobrecem com os imigrantes que acolhem. Pelo contrário, eles contribuem até para a riqueza do país pelo seu trabalho nas obras, na restauração,  em serviços públicos, etc.

Porque são então tantos imigrantes vilipendiados e associados, aleatoriamente, à criminalidade? A este propósito, o diretor da polícia judiciária Portuguesa afirma que são perceções e desinformação que levam à ligação  imigração-criminalidade e não o que acontece de facto.

Por isso, quem não quer esclarecer mas apenas espalhar a confusão usa e abusa de microfones que lhes estendem, alterando o poder da realidade e buscando a realidade do seu próprio poder.

Em Londres, passar-se-á o mesmo, porque o fenómeno é geral. Lá, a minha filha e tantas outras pessoas, vindas de diferentes países, trabalham e interagem, pacificamente, procurando fazer o melhor possível. Na escola da minha neta, há meninos e meninas de diferentes proveniências e cores de pele,  o que para eles é normal. Muitos adultos poderiam aprender com estes exemplos, contudo, a ambição desmedida provoca grande surdez e cegueira.

Oxalá que muito trabalho feito por tanta gente, nos mais diferentes setores, no seu país ou noutros de acolhimento, se vá dando a conhecer mais e melhor, para bem da humanidade. Ainda que os microfones estejam deles demasiado  afastados.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

‘Se senta, se tenta’


Havia um restaurante no Porto  (não sei se existe ainda), com o nome que pus em título. Lembrei-me dele a propósito de um aniversariante muito próximo que, ao fazer setenta anos, sentiu um peso a cair-lhe em cima como pedras de muro que desaba. Dado ao humor e a tornar mais leves coisas mais pesadas da vida, os setenta anos fizeram-no pensar mais profundamente nos outros e na vida.

Parece que ficou diferente - comentava quem o observava. E não era difícil ler-lhe o pensamento. Quando acenderam as velas para lhe cantarem os parabéns, lembrou-se dos aniversários da sua infância que passavam sem doces nem parabéns. Quando os convidados foram embora, ajudou a arrumar a loiça e foi-se deitar.

No dia seguinte, escreveu num grupo do whatsapp : A vida continua. Viva a Vida!

E saiu para trabalhar, como fazia há muitas dezenas de anos. Sentando-se, como habitualmente, disse para si que, se se senta, se tenta a pôr em prática as palavras que partilhou logo pela manhã do dia seguinte a fazer setenta anos.


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Bom Dia!

 



domingo, 12 de janeiro de 2025

O (meu) olhar e (ainda) um almoço de Natal!


Há muitos anos, um colega de trabalho disse-me, amigavelmente, que o meu olhar era muito avaliativo. Nunca mais me esqueci e, na altura, desagradou-me, confesso. Não pelas palavras que acabava de ouvir, mas sobretudo porque verifiquei que era verdade. A confirmá-lo bastava ver algumas fotografias. E o pior é que ainda não aprendi a corrigir. Raios! A gente aprende (que remédio!) tanta coisa e outra tanta não consegue corrigir!

Ora, tenho um grupo de amigos de longa data que se reúne sempre antes ou depois do Natal. Pois bem, ontem foi o dia do almoço natalício,  não fosse o Natal ‘quando o homem ou a mulher) quiser’. Sempre animado e divertido o nosso encontro, trocamos presentes, partilhamos petiscos e, à boa maneira de quem gosta uns dos outros e se conhece bem, há conversas que se cruzam, que se sobrepõem e que acabam em risota. E as fotos tiradas lá vão fixando alguns momentos.

Vendo algumas agora, lá me salta à vista o tal meu olhar bastante avaliativo que, mais uma vez, confirmo. E digo para mim: raios! Não gosto nada!

Mas foi uma tarde bem passada entre amigos - é a avaliação que faço. Tenho pena é do tal olhar avaliativo. Nem sempre, é claro. E é o que vale para as boas amizades continuarem a valer.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Quantos deles leram um livro do princípio ao fim?

Hoje, debaixo de intensa chuva, os restos mortais de Eça de Queirós, que faleceu em Paris no ano de 1900, foram trasladados de um cemitério de Baião, perto da Casa de Tormes, para o Panteão Nacional, em Lisboa.

A urna, sobre uma charrete puxada a cavalos, percorria a estrada sem ninguém a ver nem a aplaudir, tanta era a água que do céu caía. O cenário era digno de  filme triste mas belo, que dispensaria legendas, mas não o silêncio.

À hora prevista, na igreja de Santa Engrácia, reuniam-se governantes, familiares do grande escritor e muitas figuras públicas convidadas para prestarem homenagem ao homem que foi cônsul, escritor, jornalista…

Segui a cerimónia pela televisão, ouvindo os discursos, a música, a leitura de textos de diversas obras do autor, nomeadamente Os Maias, O Primo Basílio,  O crime do Padre Amaro, A Cidade e as Serras. E também As Farpas, obra escrita com Ramalho Ortigão.

Achei uma ótima ideia lerem excertos de livros do autor e os palestrantes lembrarem que a leitura das obras é a melhor homenagem que se pode fazer a quem as produziu, neste caso, de forma prodigiosa.

Ora, nestas diferentes obras literárias, há uma forte - sem ultrapassar linhas vermelhas, como agora se diz - crítica (construtiva) ao Portugal da época, havendo a caracterização de personagens, com traços, curiosamente, muito semelhantes a figuras públicas atuais, fazendo rir o leitor pelo humor e ironia. Nisto também o escritor foi genial. 

E, enquanto, decorria a homenagem, ia-me perguntando: quantos políticos atuais leram um livro de Eça de Queirós, do princípio ao fim? 

É que, com as obras do autor homenageado, também se aprende muito sobre o mundo em que vivemos. E sobre o mundo em que seria melhor viver.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

A travessa cavalinho e a festa dos Reis



Tenho esta travessa há muitos anos. Trouxe-a de casa dos meus pais. Vive agora pendurada numa parede. Sempre que a olho, vejo-a na mesa da minha infância, com batatas, bacalhau e hortaliças a fumegar, no tempo em que se festejava o Dia de Reis. A comemoração não era bem como a do Natal, mas não faltava a aletria nem o leite-creme nem as rabanadas, tudo feito ao fim da tarde para ser saboreado  ainda quentinho.
Agora, que eu saiba, poucas pessoas, no nosso país, festejam os Reis Magos - Belchior, Gaspar e Baltasar - vindos do Oriente e que, seguindo a sua estrela, se deslocaram até Belém para visitarem e oferecerem ouro, incenso e mirra a Jesus, recém-nascido.
Atualmente muito se fala do Oriente por guerras e conflitos que alastram, destroem e matam. Que bom seria que terminassem como termina agora a época de Natal.
A partir de hoje, arrumam-se presépios, árvores e enfeites de uns dias natalícios, dos quais ficaram boas ou más memórias. Às vezes, são objetos que trazem ao de cima muitas recordações. Como acontece com esta velhinha travessa que já cavalgou décadas. Não fosse ela uma travessa cavalinho.

Quero ir ao encontro de alguém, mas não de encontro a qualquer coisa!


Por todo o lado, incluindo na comunicação social, ouvimos as expressões 

Ao encontro de 

De encontro a

Ambas existem, mas o seu significado é bem diferente, apesar de serem usadas, por distração ou desconhecimento, como se o significado fosse o mesmo.

Se vamos ter com alguém ou concordamos com certas ideias, vamos ao encontro dessa pessoa ou dessas formas de pensar ou agir, como, por exemplo:

'Fui ao encontro dos  meus amigos, como tínhamos combinado.

'Ele é generoso e vai sempre ao encontro das necessidades dos outros


Porém, ir de encontro a significa esbarrar, ir contra qualquer coisa, como, por exemplo:

'A criança ia a correr tanto que foi de encontro ao muro.


Num mundo de tantos choques e tantos desencontros, saibamos então distinguir:

. ir ao encontro de - satisfazer, dar resposta, aproximar-se de alguém ou de ideias, sem choque físico.

. ir de encontro a - colidir, chocar


Acrescento, então:

Hoje vou ao encontro de uma pessoa amiga. Espero não escorregar na rampa do café e ir de encontro à  porta de entrada.


Que este Dia de Reis de 2025 vá ao encontro dos desejos de cada um e que os políticos não vão, mais uma vez, de encontro às ideias de todos os adversários, mesmo que sejam boas para o país.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Olhemo-nos uns aos outros!

 Primeiro (não) olhar

A menina era uma boa aluna. Raramente se queixava dos professores. Havia, porém, uma professora que dirigia quase sempre o seu olhar para o melhor aluno à sua disciplina, o que não era confortável. A professora parecia querer ter o seu aval do que dizia e do modo como agia. Os outros alunos sentiam-no e, claro, a adolescente que era boa aluna à disciplina, mas talvez nem tanto como o colega de turma, também. Passados alguns anos, a professora e a ex-aluna encontraram-se por acaso. Reconheceram-se, falaram do tempo de escola, a professora elogiou-a, desejou-lhe muitas e bem merecidas felicidades. E, curioso, passado tanto tempo, a imagem do não olhar na sala de aula não deixou de dizer presente. 


Segundo (não) olhar

A mãe foi ao médico com a filha. Era a mãe que precisava da consulta. A filha, já adulta, levaria o carro e faria companhia à mãe. A consulta era num hospital particular para a marcação ser mais rápida, apesar de ambas não dispensarem e reconhecerem toda a importância do SNS. Após a consulta, o médico, que parecia apressado e com pouca paciência, comunicou o diagnóstico. Fê-lo, olhando apenas a filha, como se a pessoa mais velha, a principal interessada e, felizmente, na posse de todas as suas faculdades, não estivesse ali. E ia pensando que o ato médico é também um ato de comunicação. Cada vez mais. O olhar com empatia pode melhorar muita coisa. A falta dele pode estragar muita coisa também. 


Terceiro (não) olhar

A visitante chegou ao pequeno museu no país estrangeiro. Estava feliz, porque já há muito tempo queria conhecer aquele espaço, onde tinha vivido um grande poeta. À hora marcada, havia quatro pessoas para a visita guiada. Três delas eram falantes da língua do país e uma vinha de fora. O guia, um jovem estudante, bem informado sobre todo o espólio do museu, ia dialogando com os visitantes. Ou melhor, com todos menos com a visitante que não dominava a língua daquele país. O seu olhar ia, portanto, ao encontro daqueles que o entendiam por completo. A visitante olhava-o para compreender melhor a sua mensagem e ficar mais informada, mas o olhar não lhe era retribuído, com alguma tristeza sua. Terminada a visita, a visitante saiu. O guia estava distraído, mas a senhora, que estava junto dos objetos à venda, sorriu-lhe e desejou-lhe bom dia. Até ali, a visitante tinha prometido a si própria que não voltaria, mas, depois daquela saudação empática, talvez voltasse um dia. 


FELIZ ANO NOVO!