Quando eu era miúda, a palavra inferno dava para muita coisa. Bastava fazer uma asneirita que se ouvia logo: olha que vais para o inferno! O inferno era muito mostrado como lugar para onde iam os maus (e tantas vezes as asneiritas eram tão pequeninas!). Assim, os bons iam para o céu e os que tinham pecadilhos não muito grandes iam para o purgatório, à espera de entrada no reino celestial.
Com o tempo, felizmente, essa distinção e sobretudo o lugar de fogo e de eterno castigo foram desaparecendo da catequese, homilias, etc. porque a educação e interação pelo medo nunca trouxeram bem a ninguém. Mas, se desapareceu a ideia desse lugar tenebroso e sem redenção, vivemos na terra muitos infernos nos dias que correm. E de que maneira! Por estes dias, os incêndios são um inferno avassalador que destrói tudo por onde passa e a que bombeiros e populações dão luta, embora o fogo seja o elo mais forte, ajudado pelo vento e calor. As pessoas e as terras atingidas são muitas vezes as mais desprotegidas e esquecidas porque são poucos os votos que garantem.
Outro inferno atual que muitas imagens, nomeadamente de fotojornalistas, mostram ao mundo são de pessoas que morrem à fome em Gaza. Vemos, através delas, vidas humanas reduzidas a quase esqueletos. O olhar de sofrimento comove e revolta. As imagens terríveis da fome extrema em Gaza - cruel genocídio - têm proliferado em muitos jornais e revistas, alertando, juntamente com muitas instituições, para o que lá se passa, perante muita e longa indiferença de governantes de muitos países. Que não conhecem nem querem conhecer de perto o inferno de tantas vidas indefesas, porque têm sempre os mais variados paraísos à sua disposição. Que os servem e dos quais não querem deixar de se servir.
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