Tal como com outras raparigas, a minha autoconfiança à
medida que ia crescendo praticamente não existia. Duvidava das minhas
capacidades, tinha pouca fé no meu potencial e questionava o meu valor pessoal.
Se tinha boas notas, acreditava que era apenas por sorte. Embora fizesse amigos
com facilidade, preocupava-me que, uma vez que as pessoas me conhecessem, as
amizades não perdurassem. E se as coisas corriam bem, pensava apenas que estava
no sítio certo no momento certo. Rejeitava mesmo elogios e cumprimentos.
As escolhas que fiz refletiam a imagem que tinha de
mim própria. Ainda adolescente, senti-me atraída por um homem com a mesma baixa
estima. Apesar do seu temperamento violento e de um relacionamento extremamente
complicado durante o namoro, decidi casar com ele. Ainda me lembro do meu pai a
sussurrar-me ao ouvido antes de me acompanhar ao altar “Ainda não é tarde
demais, Sue. Podes mudar de ideias. ” A minha família sabia o erro terrível que
eu estava a cometer. Umas semanas depois, também eu.
A violência física durou vários meses. Sobrevivi a
ferimentos graves, estava coberta de pisaduras a maior parte de tempo e tive
que ser hospitalizada em inúmeras ocasiões. A minha vida tornou-se uma mancha
obscura de sirenes da polícia, relatórios médicos e presenças da família nos
tribunais. No entanto, eu voltava sempre para aquela relação, na esperança de
que as coisas pudessem melhorar.
Depois das nossas duas meninas terem nascido, houve
alturas em que tudo o que me ajudava a superar mais aquela noite era ter
aqueles bracinhos rechonchudos à volta do meu pescoço, as bochechas gorduchas
esmagadas contra as minhas e aquelas deliciosas vozinhas infantis a dizer “Está
tudo bem, Mamã. Tudo vai ficar bem.” Mas eu sabia que não ia ficar bem. Tinha
mudanças a fazer – se não por mim, pelo menos para proteger as minhas filhas.
Então algo aconteceu que me deu coragem para mudar.
Consegui, no âmbito do meu trabalho, participar numa série de seminários sobre
desenvolvimento profissional. Num deles,
uma oradora falou sobre “tornar os sonhos realidade”.
O que era muito difícil para mim – até mesmo sonhar com um futuro melhor! Mas
algo naquela mensagem me tocou.
Ela pediu-nos que tivéssemos em conta duas questões importantes:
“Se pudessem ser, fazer, ou possuir algo, fosse ele o que fosse, sabendo à
partida que seria impossível falhar, o que escolheriam? E se pudessem construir
a vossa vida ideal, o que teriam a coragem de sonhar?” Naquele momento, a minha
vida começou a mudar. Comecei a sonhar.
Imaginei-me a ter coragem de mudar com as crianças
para um apartamento só nosso. Começar de novo! Visualizei uma vida melhor para
as minhas filhas e para mim. Sonhei em ser uma oradora motivacional para poder
inspirar as pessoas do mesmo modo que a orientadora do seminário me tinha
inspirado. Vi-me a escrever a minha própria história para dar coragem a outros.
Assim sendo, continuei a construir a imagem visual do meu novo sucesso.
Visualizei-me a usar um fato muito profissional de cor vermelha, uma pasta de
couro na mão e a apanhar um avião. E nisto já extrapolava bastante, uma vez que
nessa altura não tinha sequer dinheiro para o fato…
No entanto, eu sabia que era importante preencher o
meu sonho com detalhes alusivos aos meus cinco sentidos. Por isso, fui a uma
loja de artigos em couro e pus-me ao espelho com uma pasta na mão. Como é que
aquilo ficaria, como é que eu me sentiria? Qual seria o cheiro do couro?
Experimentei alguns fatos vermelhos e até encontrei a imagem de uma mulher com
um, transportando uma pasta e entrando num avião. Pendurei a imagem num sítio
onde a pudesse ver todos os dias. Ajudava-me a manter o sonho vivo.
E rapidamente as mudanças chegaram.
Mudei-me com as crianças para um pequeno apartamento.
Com apenas 77€ por semana, comíamos muita manteiga de amendoim e
deslocávamo-nos num velho carro. Mas, pela primeira vez na vida, sentíamo-nos
livres e em segurança. Eu empenhava-me ao máximo na minha carreira de
vendedora, sempre concentrada no meu “sonho impossível.”
Então, um dia, atendi o telefone, e a voz do outro
lado pediu-me que falasse na conferência anual da companhia a realizar em
breve. Aceitei e o meu discurso foi um sucesso. Isto levou-me a uma série de
promoções, e acabei coordenadora de vendas a nível nacional. Atualmente,
promovo a minha própria equipa de oradores motivacionais e viajo por imensos
países à volta do mundo. O meu “sonho impossível” tornou-se realidade!
Acredito que todo o sucesso começa quando abres as
tuas ASAS – quando acreditas no teu valor, confias no teu íntimo, cuidas
de ti, tens um objetivo e delineias uma estratégia pessoal. E, nesse momento,
os sonhos impossíveis tornam-se realidade.
Sue Augustine
J. Canfield, M. V.
Hansen, J. R. Hawthorne, M. Shimoff
Chicken Soup for the
Woman’s Soul
Health Communications, 1996
(Tradução e adaptação)