quarta-feira, 16 de julho de 2025

MEO Deus, ou uma questão de vírgula!


Ontem, liguei para a MEO, a minha operadora de telemóvel, porque me apareceu uma mensagem com uma conta que não reconheci: 123 euros mais iva.

Interroguei-me: será 123  ou 1,23 euros? O que é certo é que aparecia 123 sem qualquer ponto ou vírgula.

O melhor seria telefonar para a MEO. Felizmente não me apareceu a senhora virtual a pedir o assunto do contacto exigindo apenas as palavras programadas e mais nenhuma.

Não, foi voz humana que me atendeu. Voz de homem mal disposto. Expus o assunto. Quis que eu lesse a mensagem recebida. Cumpri o pedido. Perguntou-me se eu tinha a certeza que a mensagem era da MEO e se o número 123 não era 1,23. Repetiu a pergunta com secura. 

A má disposição começou a contagiar-me. Repeti a questão: o custo mencionado na mensagem era de 1,23 ou 123 euros? O que estava escrito era 123 e a mensagem era da MEO, por isso, a operadora é que teria as respostas, e não eu. Se eu soubesse a resposta, não tinha contactado. O funcionário mal disposto continuava mal disposto. Pacatamente, pedi-lhe que tivesse mais paciência, porque a minha dúvida era legítima.

Depois de alguma desconversa, pediu-me para aguardar para ver então o que se passava. Finalmente, depois de algum tempo, comunicou-me que era 1,23 e não 123 euros. Que não tinha a vírgula, mas que eu deveria saber que era 1,23 euros.

Irritada, eu disse apenas obrigada e desliguei, lembrando-me do anúncio: Humaniza-te!


terça-feira, 15 de julho de 2025

No sofá com RGC e NM


Hoje de manhã, apressei-me nas tarefas domésticas para, de tarde, poder ler o livro que comecei há muito tempo e também jornais em atraso. Em papel, chega-me o Expresso, trazido pela minha filha que o compra todas as semanas e que, depois, mo passa para mim.

E o que não perco são as crónicas habituais do suplemento Ideias do semanário. A de Isabela Figueiredo é sempre uma maravilha pela maneira sedutora como escreve e pela bravura que revela também na seleção e desenvolvimento de temas atuais e importantes.

Ora, na mesma página, há outra crónica que não dispenso: a do jornalista e escritor Rodrigo Guedes de Carvalho. Vejo na sua escrita sensibilidade, ternura e vontade de transformar o mundo. Para melhor, é claro. Na crónica de 27 de junho, elege a coragem como ‘uma das mais belas palavras’ e dá o exemplo do cantor brasileiro Ney Matogrosso, que tem ‘a coragem de sermos quem somos, venha quem vier’. 

Em tarde quente e sossegada, há textos e músicas que nos refrescam e descansam. E se neles cabem ‘belas palavras’, ainda melhor.


Voltou o calor

 

Perto do Porto, onde vivo, nem sempre o calor aperta como noutras zonas do país. Talvez por sempre cá ter vivido, prefiro temperaturas mais amenas. Acho até que me daria bem em países mais a norte da Europa, ainda que o sol nem sempre brilhasse como acontece com tanta frequência no nosso país.

Quando está muito calor, penso nas pessoas que vivem em espaços pequenos e muito quentes, o que dificulta a vida e aumenta a solidão, sobretudo dos mais velhos.

E o que é certo é que, pelos dados que existem, não  vamos para melhor, pelo contrário. O aquecimento global vai-nos esturricando o corpo e a alma. E erros fatais continuam a destruir a natureza, apesar de todos os apelos.

 Porém, as crianças e jovens, nas escolas, fazem trabalhos, aparentemente simples, mas fundamentais para que o clima não se canse nem se zangue, como é o caso de plantação de árvores, separação de lixos, reciclagem, criação de pequenas hortas, etc.

Possam frutificar estas sementes que tantas pessoas vão lançando para que o calor excessivo não traga tantos males como incêndios e seca e tantos outros.

A propósito, vou beber um copo de água. 


segunda-feira, 14 de julho de 2025

Les Bonbons, de Jacques Brel (hoje no Expresso Curto)!



‘Les portugaises’ e o 14 de Julho



Em França, quando se fala de ostras, também são referidas ‘Les portugaises’, cujo nome tem a ver com a antiga importação desses bivalves por portugueses. Isto fiquei a saber num estágio para professores de francês em que participei há muitos anos, num mês de julho, em Bordéus. Com outras colegas, visitei vários viveiros de ostras da região, com vista a um trabalho que realizámos. Também pudemos saborear algumas, é claro. Ao todo, éramos um grupo de uma dezena de professoras portuguesas e os colegas dos outros países também diriam ‘Les portugaises’ referindo-se a nós e atendendo ao nosso país de origem, porque as palavras são ricas em diferentes sentidos.

Ora, durante esse estágio, pudemos também assistir à festa nacional francesa do 14 de Julho, em que se celebra a tomada da Bastilha, em 1789, fortaleza e prisão, símbolo do absolutismo monárquico, espaço que deu lugar à atual Praça da Bastilha.


Nessa data, fundamental para a França e importante para nós vivê-la como experiência, lá fomos todas alegremente para a rua participar da Festa Nacional Francesa e comemorar a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, símbolos da Revolução Francesa. Impossível esquecer essa Festa.
Oxalá que o 14 de Julho seja sempre celebrado em feliz Liberdade.


Nota: Imagens da net

domingo, 13 de julho de 2025

Bom domingo de verão!













sábado, 12 de julho de 2025

O filme que já era e uma crónica que chegou

 

Para o meu leitor (ou leitora, não sei) que, com alguma razão, me apontou preguiça por não publicar há alguns dias!


Há muito que não ia ao cinema. Um grupo de amigas convidou-me e logo disse que sim. E acrescentei: desta vez não vou dar nega.

O filme escolhido foi uma comédia divertida francesa. Como pede o verão e o tempo (com coisas tão sinistras) que vivemos. E também havia, felizmente, coisas boas para festejar, para além da amizade.

O filme era às 13,30. Chegámos um pouco apressadas à bilheteira do Alameda. Pois, mas o filme já não estava em exibição! Não teve saída - disse o jovem funcionário do outro lado do balcão. Ai o preconceito dos filmes franceses - dissemos nós.

Olhámos o painel dos filmes - ou não nos interessavam ou o horário não nos convinha. E se fôssemos à Arcádia tomar alguma coisa e pôr a conversa em dia?! Foi o que fizemos e que bem que soube! 

E da conversa, que é como as cerejas, resultou também o envio, no dia seguinte, desta crónica de Elena Ferrante (obrigada, Idalina!) de que gostei muito e que agora também partilho. Oxalá gostem também.


«Medos                                                                                     27 de Janeiro de 2018

 

Não sou corajosa. Tenho medo sobretudo de qualquer coisa que rasteje, e acima de tudo de cobras. Tenho medo das aranhas, dos carunchos, das melgas e até das moscas. Tenho medo das alturas e, portanto, dos elevadores, dos teleféricos, dos aviões. Tenho medo da própria terra onde assentamos os pés quando imagino que poderia escancarar-se ou, devido a uma avaria imprevista no mecanismo universal, como na lengalenga que recitávamos em pequenas enquanto fazíamos uma roda (a roda a girar, o mundo a tombar, tomba tomba o chão, todos para o chão – como me aterrorizavam estas palavras). Tenho medo de todos os seres humanos quando se tornam violentos: tenho-lhes medo se berram, se insultam, se ostentam desprezo, cacetes, correntes, armas brancas ou de fogo, bombas atómicas. E contudo em rapariga, em todas as ocasiões em eu era preciso ser-se destemida, eu obrigava-me a ser destemida. Depressa me habituei a temer menos os perigos reais ou imaginários e mais, muito mais, o momento em que os outros ou as outras reagiam como eu, paralisada, não conseguia reagir. Assim, as minhas amigas gritavam por causa de uma aranha? Pois bem, eu vencia a minha repulsa e matava-a. O homem que eu amava propunha-me férias na montanha com os seus inevitáveis voos de teleférico? Eu ficava a escorrer suor, mas lá ia. Uma vez, com uma pá e uma vassoura, aos gritos, pus fora uma cobra que o gato me trouxera para debaixo da cama. E, se alguém ameaça as minhas filhas, a mim, qualquer ser humano, qualquer animal não agressivo, venço a vontade de fugir. A opinião corrente é que quem age como eu tenazmente me treinei a reagir tem verdadeira coragem, a coragem que consiste precisamente em vencer o medo. Mas não estou de acordo. Nós, as pessoas timoratas-combativas, pomos acima de todos os nossos medos o medo de perdermos a estima por nós próprias. Atribuímo-nos imodestamente um valor muito grande e, para não termos de nos confrontar com uma imagem degradada de nós próprias, somos capazes seja do que for. Em suma, repelimos os medos não por altruísmo, mas por egoísmo. E, por isso, devo reconhecê-lo, tenho medo de mim. Sei desde já há algum tempo que posso exceder-me e portanto estou a tentar atenuar as reacções agressivas a que me forcei desde pequena. Estou a aprender a aceitar o medo, e até mesmo a mostrá-lo com autoironia. Comecei a fazê-lo quando compreendi que as minhas filhas se assustavam se me viam defendê-las com exagerado ardor de perigos pequenos, grandes, imaginários. Talvez devamos ter acima de tudo medo da fúria das pessoas aterradas.»

                                               Ferrante, Elena, A Invenção Ocasional, 2019, Relógio D´Água, pp. 13-14.


sexta-feira, 4 de julho de 2025

E viviam aqui tão perto!


Apesar de morar a curta distância dos dois irmãos que faleceram no terrível acidente de carro, não os conhecia pessoalmente. Pelo que se sabe, não procuravam a fama por dá cá aquela palha, mas, antes, a construíram com o seu trabalho diário e constante.
Os louvores têm sido imensos sobretudo a Diogo Jota, que começou no futebol de Gondomar, tal como o irmão, e, em menos de uma dezena de anos, chegou ao Liverpool. Também os meios de comunicação britânicos o elogiam pelo ser humano que sempre foi e pelo excelente desempenho no futebol.
É bom perceber que ainda se sabe reconhecer o talento, o trabalho e a honestidade de quem merece. Porém, os elogios chovem sobretudo depois da morte. Oxalá que estes dois jovens  tenham ouvido em vida uma grande parte desses elogios que hoje são partilhados.
Os dois jovens vão  fazer muita falta à família e ao mundo - porque bons exemplos, seja a que nível for, são cada vez mais necessários. 
A sua terrível morte mostra mais um caso de desconcerto do mundo.
 Amanhã,  sábado, a Gondomar vão chegar muitas figuras conhecidas pelo seu papel na política, no desporto, etc. Possam algumas dessas pessoas aprender com a vida exemplar destes dois rapazes que, sem vaidade nem estratagemas, se tornaram uma boa referência para todas as idades, nomeadamente para os jovens.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Coisas de verão

 

Levantei-me cedo para regar o jardim e a horta, mas deixei a horta para logo à tardinha (gosto muito desta palavra). Desliguei a torneira porque, apesar de pouco passar das oito da manhã, já corava de calor e as moscas andavam, doidas ou aflitas, não sei,  em meu redor, o que detesto. Mas gosto de ver as plantas refrescadas, já que nós andamos cheios de calor. E a zona onde vivo nem se pode queixar muito, em relação a regiões que se tornaram tórridas por estes dias - muito difíceis para muitas pessoas. Para juntar a outras dificuldades.

Andava a regar e vi que na caixa do correio havia várias cartas: impostos que vou ter de pagar. Como faço sempre, é claro. E sempre penso e desejo: que sejam por uma boa causa, mas ao pensamento vem-me sempre também: porque é que tanta gente que ganha rios de dinheiro paga pouco ou até nem paga nada? Que raio é este desconcerto do mundo que se alarga pelo mundo fora e também no nosso país?! 

Nasci em julho. Há dois anos, também  em julho, tive de ser operada de urgência em Londres, onde estava em visita à minha filha, e para festejarmos, juntas, o meu aniversário. No ano passado, no mesmo mês, fiquei bastante doente e fui operada em agosto. Diz-se que não há duas sem três!!! Como agora há tanta coisa às avessas, espero que não!

No meu quintal, tenho ameixas quase maduras e limões que, de tão robustos, até caem ao chão. Em breve vou ter aqui em casa a minha neta que vive em Londres. Ela adora ir ao quintal colher o que houver e pôr numa cestinha. Ao vê-la, apetece-me sempre tirar-lhe fotografia, mas, mesmo que não o faça, a imagem bela fica-me na memória. 


Bom dia de verão: se possível com mais frescura e alguma maresia (outra palavra de que gosto muito).


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Já chegou o São João


Já chegou o S. João,

Sem vontade de sorrir;

Deve estar preocupado

Com tanta guerra pra vir!


S. João, alegre e santo,

De tanta coisa és um ás;

Dá juízo a quem mal governa

Já que o mundo é incapaz!


Meu querido S. João,

Escreve nos manjericos 

Que a paz vai ser possível,

Mas, para longe os mafarricos!


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Será possível ainda falar de coisas simples e boas?

 

Hoje levantei-me cedo. O tempo estava fresco e orvalhava, não bastante para regar as plantas. Liguei a água do poço e, daí a nada, estava a regar. Água abundante. Até quando será assim?

Enquanto regava, fui cortando as rosas velhas. Iam caindo junto da raiz - também um modo de fortalecer as vindouras.

Estendi roupa que sempre seco ao sol e ao vento. E reparei nas florzinhas pequeninas e azuis que renasceram. Uma amiga tinha-me dado o vaso há bastante tempo por causa dessas flores que, disse-lhe eu, me faziam lembrar Londres, onde as via em bonitos canteiros. Ela deve ter reparado que me ‘estava a fazer’ à planta e, como é simpática e generosa, deu-me o vaso.  Agora, de novo com as florzinhas bem mimosas, vou tirar uma foto e mandar-lhe. Deve ficar contente por ver que estimei o presente que me deu.

Enquanto escrevia este post,  fui participando num grupo de amigas do WhatsApp. E vários assuntos vieram à baila, como, por exemplo, o último livro de Mário Cláudio, em cujo título entra a palavra cruzeiro. E como as palavras são como as cerejas (tenho comido algumas bem boas!), veio à baila o gosto de fazer um cruzeiro. Eu, não, disse eu de imediato. Sobretudo em mares revoltos! Morreria de medo! O único que fiz foi há muitos anos - um pequeno cruzeiro no Báltico. Ficou-me na memória a serenidade daquele mar naquele fim de tarde. Ainda nem se falava dos horrores e medos por guerras que abalam regiões próximas e vão chegando, por diferentes formas, a todo o mundo.

Por tanta violência que parece aumentar em cada dia, interrogo-me se ainda tem cabimento falar das pequenas alegrias do dia a dia. A resposta é-me dada logo pelos meus botões: são cada vez mais necessárias para que o mundo não fique ainda mais triste!


domingo, 15 de junho de 2025

A roupa

 

Sobre o tema do título, posso dizer que cada vez gosto menos de comprar roupa. Falta-me paciência. Se é pela net, muitas vezes, o tamanho não coincide com o meu; se é na loja, fico cansada e cheia de calor nos provadores.

Por outro lado, abro o meu guarda-fatos e concluo que tenho a roupa de que preciso durante bastante tempo e para diferentes ocasiões. Para quê então acumular mais, gastar mais dinheiro, ocupar mais espaço em casa?

Seja como for, de tempos a tempos, as arrumações vão separando roupas que já não se quer. Fui juntando assim algumas num saco que hoje meti na mala do carro para depositar num contentor. Logo que via algum, parava o carro, tirava o saco e lá tentava rodar o dispositivo para o introduzir, mas nada, porque estava cheio. Ao quarto contentor por onde passei, nem parei o carro porque muitas peças de roupa saíam, avulsas, pelo contentor fora, sem qualquer cuidado ou arrumação.

Moral da história: o saco ficou na mala do carro, à espera de contentor com espaço para o receber e a roupa poder seguir um bom caminho.

Ah, ainda não disse, mas tentei dar essa roupa; agradeceram-me muito, mas a instituição já não tinha espaço para tanta roupa recebida.

Há uns anos, fiz voluntariado numa instituição de pessoas sem abrigo, que recebia todo o tipo de objetos para serem vendidos e, assim, ajudar pessoas em situação de muita necessidade básica. Pois bem, dado o seu volume, muita roupa era vendida ao desbarato e uma grande parte - a que tivesse alguma mazela - voltava para os sacos e ia para reciclar.

Por isso, o excesso de roupa é um problema cada vez maior e mais sério. Doada ou depositada nos contentores próprios, pode ser muito útil para muitas pessoas ou instituições, mas, pelas notícias conhecidas, muita roupa vai parar a países muito pobres, aumentando ainda mais o horror da poluição. 

Quando há moderação nas compras, sabe melhor comprar uma roupa nova, como o vestido para casamento que comprei e que já está na cruzeta - no cabide, como se diz mais para o sul do país.


quinta-feira, 12 de junho de 2025

‘Para pior já basta assim’


 Fui assinante do jornal Expresso durante um par de anos e continuo a ler este semanário. Habitualmente, a minha filha compra-o ao sábado e na semana seguinte vem até mim. E há, atualmente, o suplemento Ideias que não dispenso, sobretudo pelas crónicas.

Pois bem, cancelei a assinatura há coisa de um ano. Estava tão irritada que também queria deixar de receber o Expresso Curto, que recebo, sem pagar, todas as manhãs, e que acho muito bom.

Ora, o  que me levou ao cancelamento da assinatura do jornal foi o destaque - na minha opinião, é claro - que era dado a André Ventura. Ele era título gordo de primeira página, ele era fotos enormes, etc. Julgo não errar se disser que não havia edição do semanário em que o A.V. não fosse uma das principais figuras e notícias.  A favor ou contra, lá estava ele a marcar o seu território que lhe era dado nas páginas principais.

Acho que agora o jornal - que continua a ser de referência - já está mais moderado quanto a essa opção. E ainda bem, porque o tempo também traz ensinamentos. Espero que vários leitores tenham também reagido.

As televisões, porém, continuam a andar atrás do Sr Ventura. Logo que ele se aproxime de um microfone, lá estão as televisões. Um dos exemplos mais ridículos foi quando Ventura se sentiu mal na campanha eleitoral e as televisões, julgo que sem exceção, o seguiram incessantemente até às consultas no centro de saúde. Mesmo depois de se saber que a má disposição não era grave.

É que isto das audiências deve envolver muito dinheiro que as televisões não querem perder.

A comunicação social - fundamental para a informação e formação dos cidadãos - terá de refrear muitos ímpetos. E nós, leitores, ouvintes, telespectadores também, mostrando o nosso desagrado por certos exageros que só contribuem para a desinformação. E para a normalização de casos muito graves de violência, vindos de grupos extremistas.

Quanto à selva das redes sociais mais comuns, nem me pronuncio, porque não as uso. Para ‘pior já basta assim’.

terça-feira, 10 de junho de 2025

Hoje, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades

 

Neste dia, os elogios à seleção portuguesa  ainda se ouvem. E ainda bem, apesar das incontáveis fortunas que o futebol mobiliza.

A vitória veio também do trabalho persistente e do esforço para vencer e isso é bom, não só pela alegria coletiva (e tanto precisamos dela!), mas também porque dá exemplos às novas gerações. Muitas figuras públicas são conhecidas de todos não porque ajudam a Humanidade, mas pelo que fazem para manipular os outros e assim aumentarem o seu poder. Por isso, bons e estimulantes exemplos são bem-vindos.

Camões, que viveu no século XVI, não foi indiferente a temas que ainda persistem de forma notória: ambição, vaidade, falsidade…

Daqui a pouco, nos discursos públicos e políticos, surgirão, por certo, citações de versos do nosso Épico. Mais valia não os encaixarem tanto neste Dia e dar mais relevo à cultura no dia a dia.

Julgo que as cerimónias públicas deste 10 de Junho começam às 10,30. Gostava de ver e ouvir  sobretudo Lidia Jorge, personalidade que muito aprecio e de quem já li alguns livros.

Vejamos se as cerimónias públicas serão uma mais-valia para todos, dentro e fora do país. Nem que fosse um grão de areia.

E vejamos se os estrondos ou pesados silêncios diários, que lembram tanto desconcerto do mundo’ de que Camões também falou, se atenuam um pouco, mas deve ser difícil pelo que se vê e escuta.

Hoje, aqui pelo Norte, também se prevê muito estrondo de trovoada. Pudesse, no final de tantas tempestades, vir a bonança. De que o mundo tanto precisa.


domingo, 8 de junho de 2025

As motas de água e o jogo quase a começar


Hoje, domingo, fui almoçar com a família a um restaurante à beira-rio. O céu estava azul quase por completo e, por cima das nossas cabeças, havia redes finas para que as glicínias não nos caíssem no prato. Se fosse no cabelo, não fazia mal; era sinal de casamento feliz entre o verão e a alegria.

Já à mesa, e olhando o estreito mas comprido areal do outro lado do rio, muita gente desfrutava da água e do sol. Mas, se procuravam o calor no corpo e o silêncio na alma, pelo menos este seria interrompido. 

 Umas três motas de água não cessavam de fazer manobras aos esses e aos saltos. E, para que as sensações fossem ainda mais vibrantes, procuravam as ondas que os barcos grandes deixavam atrás de si, para que a mota subisse da água e caísse de repente na ondulação mais apelativa.

Isto durou o tempo todo em que estivemos no restaurante, incluindo a espera pelo polvo com filetes do mesmo. Ouvindo todos aqueles motores e choques na água, eu disse para o meu neto: Não gosto de motas de água, fazem muito barulho e assustam os peixinhos!

Ele, nos seus bonitos e vivos quatro anos, que não o deixam ainda pronunciar os erres, disse: Eu adoio poque adoio andá depessa!

Sorri e imaginei que se ouvisse as motas de água no seu continuo rodopio barulhento, durante toda a tarde, não acharia piada nenhuma. E, se pudesse, não andaria depressa, mas escapava-me de lá o mais depressa possível.

Como é habitual, saltando de assunto em assunto, em conversa amena, lá chegou o polvo e estava bom, tanto o que vinha dentro,  como o que vinha fora do arroz. 

Embora o polvo seja um molusco e não um peixe, a pouco menos de uma hora do jogo Portugal-Espanha, gostaria que Portugal jogasse como peixe dentro de água. E ganhasse, é claro, mas sem fazer o alarde que fazem as motas dentro de água. A menos que seja depois de golos vencedores.


quarta-feira, 4 de junho de 2025

Amanhecer


Hoje, quando abri a janela, chuviscava. Uma espécie de orvalhada ligada aos santos populares que se festejam em breve. A minha intenção era ir cedo regar a horta, mas já não fui, embora os espinafres, as couves e os alhos franceses apenas tenham sido refrescados na pele e não na raiz.

Ontem, vi um réptil bem perto de uma porta da minha casa. Não lhe conheci a forma. Não era sardanisca (essas conheço-as bem porque, leves e fugidias, moram nas redondezas dos vasos e nos canteiros), nem sardão, nem salamandra... O que seria, então, perguntava-me eu, intrigada e assustada. Fui à net: era uma osga. Como o dr Google sabe tudo, fiquei a saber que eram inofensivas e que têm até a vantagem de comer insetos, como moscas e mosquitos. Uma amiga disse-me, descontraída, que as via por toda a parte em Timor. Outra chamou-lhe 'bichinho que faz parte do ecossistema'. Eu queria era certificar-me que não me tinha entrado em casa. Ao fim da tarde, vi-a encostadinha a um canto da parede exterior mas perto da porta. Hoje, quando acordei, fui ver se lá continuava. Não estava. Pelo sim pelo não, fechei a porta. Onde estará a osga, pergunto-me eu. Daqui a pouco, vou varrer folhas do pátio e já sei que vou estar sempre a olhar para as paredes!



Enquanto tomava o pequeno almoço, de café com leite e pão com compota de mirtilo, que fiz há dias, lembrei-me das palavras que ouvi um dia destes: 'Desde que foi despedida do trabalho, não quer sair de casa e não quer falar com ninguém'. E pensei que a solidão não afeta só os mais velhos. Fazemos pouco, incluindo-me também nesse número, para ajudar pessoas que precisam e que vivem perto de nós. Não se sabe o que fazer, nem há tempo e sobretudo não haverá vontade, porque pensamos nos problemas que também se agarram a nós. Como osgas. Que nem sempre desaparecem.

Quando passo junto de alguns jardins públicos da zona onde moro, fico muito agradada por ver flores de muitas cores que estão a ser plantadas. E não só jardins, mas rotundas, à volta de chafarizes, etc. Porém, o meu lado crítico logo me diz: vê-se que as eleições estão à porta! Mas, de facto, é um regalo ver espaços públicos bem tratados. Oxalá continuem assim. Mesmo depois de setembro!


Há muito que amanheceu! 

                       Um bom dia para todos!


domingo, 25 de maio de 2025

As filas


Não, não vou falar das filas de imigrantes que esperaram ao sol do dia e ao frio da noite para acederem a um carimbo legalizador da sua vida em Portugal. Também não vou falar das filas que se vão formando para o jogo da Taça de Portugal de hoje à tarde no Jambor que se vestirá de verde e de vermelho.

 Pois bem, falo das filas na estrada em tardes de domingo. Muitas delas rumo à beira-mar, ou ao centro comercial, ou ao café do costume para a meia de leite espumosa com torrada a escorrer de manteiga…

Parece que o relógio toca à mesma hora para todos que, com paciência ou já com falta dela, continuam na estrada em marcha, tantas vezes lenta. E não venha a falta de estacionamento estragar ainda mais a tarde!

O tempo que se previa retemperador de energias passa a ser de nervoso nada miudinho e de frias respostas tortas. 

E novas filas haverá no regresso, porque o relógio continua a tocar à mesma hora para quem foi de carro e de carro vai regressar. 

Raisparta! Mais valia termos ficado em casa - dirão muitos. Porém, no domingo seguinte, a cena repete-se noutras direções que parecem combinadas.

Em dias de tanta solidão, as filas poderão dizer que queremos ir ao encontro uns dos outros? Porém, não será a solução, porque os rostos de quem vai dentro dos carros não parecem muito felizes!

Bom domingo para todos! Com palavras boas e  quentinhas, como o pão que se vende em filas a esta hora!


sexta-feira, 23 de maio de 2025

Assuntos chatos e beijos à passarinhos!


Enquanto fazia o caminho para a ‘minha cidade com mar ao fundo’, ia pensando no motivo desagradável que lá me levava: desleixo de um condomínio que não cumpre os seus deveres.

Como era quase hora do almoço, pensei num pequeno prazer antes de tratar da coisa chata. Estacionei o carro e, coisa boa!, na rua em que tinha lugar não se pagava. E rumei à outra coisa boa: almoçar num restaurante vegetariano com ambiente agradável e uma senhora muito afável a compor os tabuleiros. Comi devagar e deliciada, sem pensar na coisa chata que teria em breve de enfrentar.

Como estava muito perto da Biblioteca Municipal, fui lá tomar um café no pequeno bar, junto da porta que dá para o exterior onde oliveiras dão sombra e calma.

Dentro do balcão, um funcionário mal disposto dizia a uma cliente que ela o desestabilizava, como acontecia todos os dias. Ela vociferava baixinho e foi-se sentar sob as oliveiras.

Pedi o café, tomei-o e não tive vontade de dizer obrigada e boa tarde quando saí.

Como ainda não estava na hora de expediente para tratar do assunto desagradável, sentei-me num dos sofás do espaço de leitura. Havia apenas um jovem no computador e eu. Depois, chegou um homem velho com o jornal, e depois outro, e a seguir outro, e outro…

Eu era a única mulher e a única pessoa desconhecida naquele pequeno concílio que se cumprimentava e logo enterrava os olhos no jornal.

Olhei o relógio: estava na hora de ir tratar do assunto chato. Deixei a bíblioteca  e atravessei o jardim com mesas convidativas. Numa, duas jovens comiam e conversavam; noutra um par de namorados dava beijinhos como passarinhos felizes e tranquilos.

Como se a vida fosse um frondoso e lindo jardim, ou condomínio competente e honesto, onde todas as pessoas fossem afáveis como a senhora do restaurante. E não houvesse assuntos chatos para tratar!


terça-feira, 20 de maio de 2025

'Segue o teu destino'



'Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver
só.

Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe
a vida.

Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.'

Odes de Ricardo Reis - Heterónimo de Fernando Pessoa, 1916 

 





domingo, 18 de maio de 2025

E o segundo lugar vai para… as televisões!


Estou sentada no sofá e à minha frente está a televisão desligada. Desliguei-a quando ouvi as projeções da Universidade Católica, no canal 1.

Chocou-me ver Montenegro não ser nada penalizado por comportamentos nada éticos e pela habilidade espertalhona de se vitimizar e usar de toda a lábia para fugir aos assuntos que o comprometem. Tudo em proveito próprio. 

E a tática até lhe valeu a pena porque teve um prémio! Ao longo da campanha, foi levado em ombros e ao colo, como se fosse um poço solidário de virtudes.

O que se passa com tantos portugueses que se deixam enganar com manobras egocêntricas e vaidosas?

E que exemplos estamos a dar às crianças e aos jovens?  E os professores, coitados, terão cada vez mais a vida dificultada.

E o Ventura ter tantos votos também me chocou. Nem parece verdade! Assim se normaliza o ódio, o vício, o desrespeito, a mentira, a farsa, etc.

E, perante os episódios de desmaios recentes, as televisões, todas em simultâneo, correram atrás dele e da ambulância que o levou a fazer exames médicos, mas que nada de mal foi encontrado. Isto durante horas, assim como mostraram ao pormenor os pensos que não retirou da mão e do braço para se fazer de coitadinho.. Ele brinca com coisas sérias, chorando lágrimas de crocodilo e exibindo até a pulseira do hospital.

O tempo que as televisões dedicaram a este indivíduo, neste caso e em tantos outros, seria cómico se não fosse tão trágico.

Tinha razão quem disse que uma televisão pode fazer um presidente. No pé em que as coisas estão, tudo é possível.

Andamos sempre a correr como as televisões atrás da ambulância do Ventura. Neste momento, ele estará a rir de quem lhe deu tanta ventura, isto é, mais poder  e muita audiência! 

E a farsa continua!