Quando António Leitão Amaro, ministro da presidência, aparece, eu fico, quando posso, a observar as suas palavras e os gestos.
Porquê?
Ele fala pausadamente, dividindo bem as sílabas das palavras, acompanhando o discurso que profere de gestos com as mãos, juntando o polegar ao indicador, mostrando que nada está a escapar à sua equipa de governo e que o caminho tem sido perfeito, como nunca foi. Está implícito, é claro, que os outros é que estragam tudo.
Ele aparece perante as câmaras para apaziguar, explicar, justificar, ‘amar a todos como a nós mesmos’, como numa aula imaginária e bondosa para crianças sentadinhas que se limitam a ouvir e a sorrir. Tudo muito zen, límpido e transparente. Ah, e ‘com sentido de estado’, que é expressão muito usada por quem está no poder e que assume múltiplos sentidos, consoante o momento.
Mas gabo a paciência do jovem ministro e a visível lealdade ao seu líder e a uma causa que, nas suas palavras lentas e quase soletradas, parece não ter mácula. Mas tem, como tudo na vida, corra ela mais depressa ou devagar.
De facto, (tentar) representar bem também estará no rol de quem é político. E se essa capacidade ajudar a pacificar e desenvolver o país, tanto melhor. Ainda que, confesso, às vezes o excesso até dê vontade de rir ou, pelo contrário, não tenha piada nenhuma, se o que se diz é bem diferente do que se faz.
Seja como for, mais vale ser zen do que incendiário como, infelizmente, também os há, dentro e fora do governo. Estes correm depressa para as câmaras de televisão para que, sempre a velocidade cruzeiro, nenhum descontentamento lhes escape e com ele só eles possam ganhar.
É caso para dizer:
Nem tanto ao mar nem tanto à terra, ou seja, nem tão devagar nem tão acelerado. E, sobretudo, que bom seria que os políticos fossem, de facto, mais francos, na prática e não só na teoria, porque são muito importantes na vida de um país.
Mas, às vezes, dá vontade de desligar do que dizem e fazem para ter(mos) momentos verdadeiramente mais zen, no recato (outra palavra atualmente muito usada) da nossa vida do dia a dia.