Ontem à tarde, na Assembleia da República - conhecida pela Casa da Democracia - discutia-se o Orçamento de Estado e todos estavam zangados, chateados, mal humorados, afinados, furiosos, exaltados…
Nas intervenções dos governantes e deputados, era quem mais queria evidenciar o seu trabalho e maldizer, criticar, desprezar, anular as pretensões e palavras dos outros.
Uma guerrilha teimosa e feia, uma crispação nada exemplar. Cada um atirava palavras duras, culpabilizadoras, jogando ao ataque e à defesa ao mesmo tempo. Enquanto isso, os sobrolhos carregados faziam prever que quando não há entendimento, não há orçamento. Tudo irrevogável.
E tudo se encaminhava para um virar de costas nas negociações - um namoro conflituoso que terminava com ofensas na praça pública que assistia à prolongada e grande gritaria. Não, o casamento não era possível e no ar, e na AR, pressentia-se o fechar do pano de uma longa novela, enquanto se apregoava: ‘Está tudo terminado entre nós.’
Eis senão quando, passadas umas duas horas, o casamento entre o casal desavindo voltava a ser possível, o incêndio das palavras abrandava e o diálogo aproximava-se da porta para entrar.
Que bom - disseram uns, o país não aguenta com tantas eleições em tão pouco tempo.
É preciso esperar - diziam outros mais prudentes - porque os noivos ainda não contaram a história toda e podem afastar-se outra vez.
Enquanto isto, e também por causa disto, o país vai-se mantendo tristonho, zangado e crispado. Ah, e de sobrolho carregado.
Se eu fosse nova, emigrava. Só vinha cá de vez em quando. Para não desaprender de ser feliz.