domingo, 2 de abril de 2023

Valeu a pena porque a alma não foi pequena

 

Em dezembro, a convite da Direção do Agrupamento de Escolas Dr Manuel Laranjeira, foi a apresentação do livro que escrevemos em coautoria, eu e Maria Clara Miguel, Uma história do João Ratão, Edit. Lugar da Palavra, e ilustrado por Ana Bessa. 

Nesse dia, ficou uma promessa na escola básica de Guetim: alunos e professoras iriam representar a peça e as autoras do texto dramático seriam convidadas.

Claro que o convite logo foi aceite. Com todo o gosto.
E o prometido aconteceu: na manhã do dia 28 de março, estava tudo a postos para a representação. Logo que chegámos à escola, vimos a figura que dá nome ao Agrupamento com uma bela legenda:

 

E um belo painel de apelo à urgentíssima preservação da natureza e ao papel de cada um no mundo em que vivemos.

 

 


O trabalho que nos tinha trazido até à bonita escola de Guetim iria, por certo, motivar mais um bocadinho para a leitura que é também uma forma de salvar o presente e o futuro.
Numa sala, não faltavam adereços nem um nervoso miudinho que se pressentia por parte dos atores ainda nos bastidores.
No espaço maior da escola, meninos de diferentes idades estavam, calmamente, sentadinhos no chão, na companhia de professores, educadoras e funcionárias, à espera da peça, tal como nós.
À frente de todos os espetadores, os belos e coloridos cenários da peça, elaborados pelas crianças com a ajuda da professora de educação visual.

 



E, em breve, docentes, não docentes e alunos estavam em palco para narrarem momentos da história e representarem as personagens do livro que passavam a ter vozes mais vivas porque humanas: os grilos falantes, o João Ratão, o Quinzinho, o burrico Tonico, a Carochinha, a Joaninha, o padre Julião, os pretendentes da Carochinha, etc.

 



E a peça, que decorreu com a alegre vivacidade de todos os atores e intervenientes, acabaria naturalmente em festa. E estávamos felizes ao vermos a dedicação das professoras na preparação do trabalho e o entusiasmo e expressividade das crianças, a partir do livro que escrevemos com a adaptação da história, dita original, do João Ratão.

 


No final, com sorrisos de empatia e de bem receber, esperava-nos um bom cafezinho e um bolo delicioso feito pela funcionária D. Laura.
Quando nos despedimos, nós, as autoras, contentes e motivadas, manifestámos vontade de escrever nova história em conjunto. Haja tempo para que o possamos fazer. Se as crianças gostaram, é porque valeu a pena todo este trabalho partilhado. E aconteceu sobretudo porque a alma da escola não é pequena.


domingo, 26 de março de 2023

Há Céu e Céu!

 

O piano

 

Ontem, a menina, nos seus bonitos sete anos, deu o seu primeiro recital de piano. Os pais, orgulhosos, filmaram e partilharam, felizes, o vídeo da pequena pianista, no seu vestido de saia rodada florida e de grinalda rosada bem visível no cabelo. No início da atuação, a professora de piano, sempre atenta aos pormenores, veio dar um retoque na postura e logo se afastou, discreta, para não perturbar o momento para o qual também tinha carinhosamente trabalhado.

Concentrada e ágil, a menina cumpriu bem a bela missão e, no final, foi  aplaudida.

Em casa, toca piano diariamente, com a ajuda insistente do pai, mas também diariamente diz que não gosta de tocar piano.

Ficou, porém, feliz com o seu primeiro recital. E disse, com a sua voz meiga e olhar azul: - Gostei muito de atuar.

 

 

A conversão

 

Há muito que não ouvia a palavra conversão. Hoje, na TSF, passaram excertos de uma entrevista a Alice Vieira, dizendo-se que a escritora se tinha convertido à religião católica, graças à sua grande amizade com José Tolentino Mendonça.

Esta será uma boa notícia para os católicos nestes dias em que a igreja passa por tantos problemas devido a comportamentos tão censuráveis: dos abusadores de crianças e de quem encobriu os crimes durante tanto tempo, abusando também dos seus poderes e não cumprindo o que é tantas vezes pregado de mãos erguidas e olhos postos no céu.

Felizmente há padres e bispos que vivem a sua vida sacerdotal de forma exemplar não esquecendo que todos os seres humanos, e não só, merecem respeito. Esses vão trabalhando muitas vezes em silêncio para a alegria comum e nunca para o sofrimento de inocentes.

 

A Maria do Céu

Nunca foi minha aluna, mas os professores da turma falavam dela. Era estudante do secundário, muito aplicada, muito comunicativa, gostava de participar em diferentes atividades da escola e queria ser advogada. Trabalharia muito para o conseguir, porque os pais tinham de fazer grandes sacrifícios para poderem pagar os estudos. Apoiavam-na em tudo para que conseguisse ser o que sonhava. E louvavam os professores que também a ajudavam. A vida sorria como o céu na terra.

      Maria era também muito bonita e saudável. Só que surgiu um pequeno problema cardíaco, de pouca monta, mas que exigia uma intervenção cirúrgica. Uma coisa rápida e simples, dizia o médico. Em breve, poderia retomar as aulas e a sua vida de jovem promissora. 

      Porém, no hospital, durante a operação, que seria pequena e corriqueira, as coisas correram mal. Muito mal. Como ninguém imaginou. Uns aparelhos não foram devidamente ligados e utilizados. Com esta anomalia, a Maria ficou paralisada e dependente a cem por cento. Para sempre. O hospital não reconheceu o erro, o assunto vai-se arrastando em tribunal, as ajudas são só algumas, a mãe, a principal e permanente cuidadora, faz tudo o que lhe é possível, com os fracos recursos de que dispõe, mas Céu só o vê no nome da sua menina e na maior alegria que seria ouvir uma palavra dita por ela, o que não acontece desde que saiu do hospital há mais de cinco anos.

Quando  entrou para a sala de operações, a Maria levava todos os sonhos de uma jovem que queria viver feliz e ser advogada; quando de lá saiu, o céu dos sonhos tinha-lhe desabado, não deixando sequer antever uma nuvem de esperança.


quinta-feira, 23 de março de 2023

Uma manhã feliz no meio de fadas também reais

 

A convite da professora bibliotecária Carmen Santos, do Agrupamento de Escolas de António Nobre, no Porto, eu e a Cristina Pinto, a ilustradora de As fadas do bosque das cores e das estórias (Editorial Novembro), fomos quarta-feira, dia 22 de março, à escola do primeiro ciclo de Montebello apresentar este nosso livro.

Dispostos numa mesa a árvore da amizade, as sete fadas, o livro, os marcadores, pequenas fadinhas, papel para ilustração, etc, uma professora disse com um largo sorriso e uma voz bem sonora sobre o grupo que estava para chegar:

- A minha turma é um espetáculo! 

- A professora também é, disse depois um miúdo.

A manhã prometia. Foram entrando dois grupos de alunos do segundo ano. Depois do intervalo, viriam mais duas turmas do quarto ano. 

Os quatro grupos eram formados por meninos e meninas nascidos em vários continentes e que ali estavam juntos a aprender e a viver os seus plenos direitos e deveres. Tal como os ramos da árvore que ali estava eram fortalecidos por troncos diferentes e próximos.


Já com os alunos e professores dentro da sala grande, nós, autora e ilustradora, contextualizámos a história, desta vez, com a ajuda de um 'bosque' de árvores penduradas, recortadas de jornais e revistas e, naturalmente, das sete fadas, bem visíveis nas suas diferentes cores.

Seguiu-se uma leitura de excertos do livro, feita por ambas de forma partilhada. Foi muito bom ver os meninos e meninas atentos ao texto e dizerem que tinham gostado.

E logo alguns bracitos se foram levantando para perguntas e respostas, nas quais foram referidos valores, lembrados também por eles próprios, como a amizade, a solidariedade, a união, o respeito pelo ambiente, etc.

E chegou o momento de os meninos desenharem a sua fada para depois ser pendurada, juntando-se às árvores do bosque, sobre o olhar orgulhoso dos seus autores.



Enquanto desenhavam, um menino perguntou:

- Posso desenhar um fado? 

Com o mesmo afeto, dissemos que sim, é claro.

A propósito, no corredor contíguo à sala, havia uma bela e útil colagem com junção de  afetos.

Em conversa com os professores que acompanhavam os seus alunos, falou-se das dificuldades atuais mas também das alegrias com os sucessos dos seus alunos, por exemplo, em língua portuguesa, uma vez que muitos provinham de países diferentes. 

Vimos trabalhos como os que uma professora tinha gravado com satisfação  no telemóvel, com retratos do poeta António Nobre, feitos na aula aproveitando restos de café. E também ouvimos de uma professora de voz meiga que muitos meninos e meninas gostam de ler e de ouvir histórias, o que trouxe ainda mais luz ao encontro.

À saída da escola, vários dos alunos que tinham estado connosco na atividade vieram abraçar-nos.

Para nós, foi mesmo uma manhã feliz no meio de fadas também reais. Oxalá que a alegria tenha sido partilhada.