terça-feira, 22 de dezembro de 2020
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
Feliz Natal!
Um presépio africano |
Hoje recebi este excerto do último livro de Ondjaki (um dos 'Herdeiros de Saramago', série que está a passar na RTP 1, à segunda-feira à noite).
Obrigada, Idalina, pela partilha deste terno texto natalício.
"[…] isso notava-se era nas casas daqueles que iam à missa:
o presépio com o camarada menino Jesus.
era na casa dos outros o natal, natal-mesmo; nós, nem árvore não tínhamos
isso foi já depois, anos depois
e se não falassem essa palavra eu nem sabia que já tinha chegado o tal de natal.
o que eu gostava mais?
o presépio da casa da tia Tó: simples, bonito de só ver e não tocar os cabritos de barro, uma casinha de madeira e o Jesus, deitado na palha, era um bonequinho de plástico com a pilinha de fora
- mas este menino Jesus fica assim com “os documentos” à mostra?
a avó Nhé olhava de desconfiar
- então ele já nasceu vestido, mãe?
a tia Tó me piscava o olho
- pelo menos um paninho a cobrir
agora, natal do puro panquê, de comer e beber até ficar a arrotar à toa?, era na casa do tio Chico, só que eu sempre só encontrava “as consequências”, como dizia o senhor Osório, os restos da noite anterior
porque na noite de vinte e quatro cada um ficava na sua casa e embora eu ficasse tantas vezes com o tio Chico, o jantar de natal era em casa com os meus pais, talvez no dia seguinte fôssemos então ao tio Chico
aquilo só faltava ter fila
todo o mundo parece que gostava de visitar as consequências do natal do tio Chico, para mim era bom porque ali tinha prenda garantida, para os mais-velhos era mesmo de comer e beber
a casa do tio Chico mandava muita comida naquele tempo"
Ondjaki, O Livro do Deslembramento, Caminho, 2020, pp. 67/68
domingo, 20 de dezembro de 2020
Uma história de Natal - parte 3
Anjolie Ela Menon, nascida em Burnpur, Asansol, Índia, em 1940. |
A trança de Sabina
(...)
De Londres, enorme e húmida caixa de Pandora, foi tirando algumas boas amizades, o amor, a licenciatura... E ia, amorosamente, enviando para a Índia muitas imagens do seu quotidiano através do Skype. Sobretudo para os pais.
Um dia, Sabina pôde anunciar-lhes que ia entrar na especialidade que escolhera: Ginecologia-obstetrícia.
Assim, muitos hojes passaram, muitas estações de metro calcorreou, muitas bibliotecas e cafés frequentou, muitas experiências viu realizadas, muitas teorias ouviu dentro e fora das salas de aula...
Contudo, a trança continuava, longa e escura, mimando as costas morenas de Sabina. Sempre.
Os Diwalis foram-se comemorando - com todas as luzes a celebrar a vitória do bem sobre o mal, durante sucessivos dias festivos. Os Natais foram igualmente vividos. Até que chegou o dia em que Sabina assistiu, sozinha como especialista, ao primeiro parto no UCL Hospital of London.
Era final de uma madrugada. Um bebé demorava a nascer. Por mais que a parteira, pacientemente, insistisse (keep going, keep going...) para que os movimentos da jovem mãe o embalassem, chamando-o à luz do dia, mesmo assim, o nascimento tardava.
Para resolver o problema, entrou na sala de partos uma médica: a doutora Sabina. Aproximou-se serenamente da parturiente, sorriu, analisou, com calma, a situação e, recorrendo aos cuidados certos, foi dizendo:
- Em breve, o bebé verá a luz do dia. Palavras ditas, ouviu-se o desejado chorinho vigoroso. Para todos, uma nova luz que Sabina ajudara a nascer.
"Presença serena
Que a tormenta amansa";
(...)
E, logo a seguir, Sabina colocou a menina recém-nascida no seio da mãe, lembrando-se dos seus pais e de todas as luzes que lhe tinham transmitido até então.
Quando os suspiros sofridos da mãe deram lugar aos sorrisos das sublimadas ou já quase esquecidas dores, saiu do quarto, entrou, silenciosamente, no gabinete e telefonou aos pais. Estavam a celebrar a festa do Diwali. E mais Luz ainda sentiram quando Sabina partilhou a alegria de ter acompanhado, pela primeira vez e como médica de serviço, o nascimento daquele ser tão pequenino e tão completo, que abraçava saudavelmente a luz do dia, procurando alimento e aconchego.
A manhã abria-se, então, à luz de um dia claro desse mês de outubro, coincidindo com a festa das luzes no país natal de Sabina. E com a sua vinda para Londres havia já alguns anos.
Uma nova vida começava. Sabina tornar-se-ia ainda mais sábia, por isso, ainda mais serena.
Com o tempo, uns fios brancos começaram a clarear a trança que continuava densa e longa. Eram luzes dos seus Diwalis - ou Natais - que celebrava através de cada bebé que ajudava a nascer e, por isso, a encontrar a luz.
Como se olhasse uma trança de estrelas que, reconhecia, a tinha guiado desde a infância.
Maria Dolores Garrido
Publicado em Lugares e palavras de Natal, Editora Lugar da Palavra, 2015
Nota:
Há uns anos, visitei Jaipur, na Índia.
Há cinco anos, assisti ao nascimento da minha neta, em Londres, no UCL Hospital of London. A médica de serviço era indiana, muito meiga, e tinha uma longa trança.
Não soube sequer o nome dela, mas em breve entraria nesta história, chamando-se Sabina e vindo de Jaipur!
sábado, 19 de dezembro de 2020
Uma história (com algumas coisas que vi e ouvi) de Natal - parte 2
Anjolie Ela Menon (pintora indiana) |
A trança de Sabina
(...)
Sabina partiu da sua cidade de Jaipur num dia do mês de outubro em que se festejava o Diwali - festa de todas as luzes e a que muitos Cristãos chamam o Natal indiano.
Rumo ao aeroporto, Sabina, em silêncio, olhava, com os seus olhos aveludados e negros, as ruas ladeadas de barraquinhas com vistosas iguarias, os cestos de malmequeres amarelos, o sari brilhante da mãe e o fato claro e largo de linho do pai. Escutava o frenético apitar dos carros, o som ronceiro dos motociclos, o pedalar arrastado e contínuo dos magros condutores de riquexó, a vozearia alegre dos transeuntes que ziguezagueavam, com ousada confiança, através do caos colorido dos lugares.
Os familiares e amigos achavam estranho que Sabina abandonasse a cidade em plena celebração da festa de todas as luzes e de todos os cintilantes fogos de artifício. Sabina concluíra que a decisão não era errada porque todos os dias se iluminam de novas luzes e não apenas nas datas indicados no calendário. Para além disso, as aulas iriam começar na UCL Medical School e Sabina queria a todas assistir desde o início.
Horas depois, chegava a Londres - cidade onde, aos seus olhos, iam chovendo todas as culturas e etnias. Sabina viera só, mas instalou-se, com outros estudantes, numa rua de nome Pandora. A cidade seria, pois, uma enorme caixa que, pouco a pouco, Sabina abriria para conhecer melhor o que ela continha.
Todas as manhãs, Sabina apanhava o metro para a Universidade, saindo na estação de Euston - onde sempre se ouve música clássica. Na travessia até à rua, concentrava-se naquele belo ritual de início de muitas manhãs e de regresso a casa, tantas vezes cansado.
Sabina ia-se adaptando à nova cidade, embora se lembrasse muitas vezes da família, dos amigos, do sol, da luz, dos cheiros e sabores da casa dos pais, das cores intensas das ruas e mercados de Jaipur... Essas eram razões para não cortar a trança. Ligava-a à sua cidade natal e ao seu país que, devagar, revia em muitos momentos, embora o seu propósito de concluir o curso nunca esmorecesse.
Se Camões a tivesse conhecido, também lhe teria dedicado, por certo, alguns dos seus versos
"Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha";
(...)
Continua
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
Uma história (onde nem tudo foi inventado) de Natal - parte 1
Pintura de Anjolie Ela Menon (India, 1940) |
A trança de Sabina
Muito sabia Sabina já antes de entrar na escola primária.
E o que sabia Sabina muito se devia aos pais que, ao longo da vida, muito tinham aprendido, tendo muita paciência para lhe explicarem o mundo que via crescer à sua volta, enquanto ela crescia também. Deles nunca Sabina tinha ouvido:
- Está calada, porque não percebes nada do assunto.
Pelo contrário, gostavam de perguntar, de responder e que Sabina também perguntasse e respondesse. Sempre lhe diziam que os adultos sabem muitas coisas, mas acrescentavam que as crianças vão igualmente acumulando montinhos de ideias e de conhecimentos que, juntos, se agigantam como uma montanha dos Himalaias.
E foi assim que Sabina se habituou a olhar, a questionar, a observar, sendo sempre uma das melhores alunas da escola. Gostava muito de aprender, de saber mais, mas não pretendia ser a melhor de todos. Numas áreas seria, noutras não - como sempre lhe tinham dito os pais.
Sabina nascera em Jaipur, cidade - à qual muitos associam a cor rosa - da Índia, que faz fronteira com o Paquistão, Nepal, Bangladesh.... Estas e muitas outras coisas já muito cedo Sabina sabia.
A jovem crescia sábia e serenamente, com a sua trança que juntava, ondeando-o, o farto cabelo escuro. Tal como era hábito de muitas outras meninas e mulheres indianas.
Quando Sabina acabou o ensino secundário, quis inscrever-se numa Universidade inglesa. Pretendia saber mais, ter acesso a outras experiências e conhecimentos. E viajou até Londres com as poupanças dos pais para a formação da filha. Sempre deles ouvira que a Educação é o melhor investimento.
Continua
quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
Rio Grande - postal dos correios
Neste Natal do 'nosso confinamento',
a música também pode desconfinar o pensamento e algumas memórias.
Em tempos também mandei postais de Natal...
... mas agora, tal como muitas pessoas, é raro fazê-lo.
Felizmente, há quem ainda os escreva, carinhosamente, todos os anos, pela sua própria mão.
Obrigada, Dulce.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
Beethoven - Sinfonia No. 6 (Proms 2012) ou Sinfonia Pastoral
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
(A)Normalidades!
Há uns tempos, fui ao dentista e o tratamento seria demorado. Não que me estivesse a doer muito, mas estar ali de boca aberta aquele tempo todo não era mesmo nada cómodo nem agradável.
Quando me sento naquela cadeira, habitualmente fecho os olhos e só vou ouvindo.
Ora, nesse dia, para além de fechar os olhos, comecei a imaginar que estava sentada na areia num belo e sereno fim de tarde. Um pouco como se faz às vezes no yoga.
Quando o tratamento terminou, o curto diálogo entre mim e o dentista foi mais ou menos este:
- Então, custou muito?
- Nem por isso, senhor doutor, estive na praia!
O dentista, apesar de me conhecer há muitos anos, olhou-me com a surpresa de quem ouve coisas estranhas de quem habitualmente é 'normal'.
Fixei a expressão dele que achei divertida.
Na semana passada, tive de fazer uma ressonância magnética. Para tentar superar aquela ruideira toda naquele túnel, fechei igualmente os olhos e imaginei-me a observar a minha neta na escolinha. 'Via-a' a correr no recreio, sentadinha a desenhar ou a escrever na sala de aula...
O tempo parecia passar mais depressa.
No final do exame, a técnica, muito simpaticamente, perguntou-me se estava tudo bem.
Eu sorri, disse que sim, mas nada acrescentei, porque o que eu queria era sair dali o mais depressa possível.
domingo, 13 de dezembro de 2020
"Raisparta a pandemia", ela dirá.
No verão, passo algum tempo de férias em Mindelo, Vila do Conde. Nas esplanadas pertinho do mar, há um tema que é recorrente: o tempo. Que bom, hoje não há vento. A nortada de ontem foi terrível. Que nevoeiro se formou. Hoje está mais frio do que ontem. Não me lembro de um fim de tarde calmo como o de sábado. Foi um dia sem ver o sol...
Há meses que lá não vou e, se as esplanadas estiverem a funcionar (no café do Fernando há uns pregos deliciosos), o estado do tempo deve continuar na ordem do dia, mais os dados da pandemia, mais o confinamento decretado, mais as diferenças entre o Natal que se aproxima e os anteriores.
E não é só lá, é em todo o sítio onde vamos passando e sempre que falamos com alguém, para além do bom dia ou boa tarde!
Gosto sempre de ver o mar e olhar a praia, mesmo no inverno.
Neste momento, estou em casa, como milhões de portugueses; na rua, passa apenas um carro de vez em quando e não se ouvem vozes lá fora. No meio de silêncios, ao pensamento vieram-me imagens de maresia, que distam uns quarenta quilómetros.
O mais certo é as esplanadas em Mindelo estarem fechadas. O mar, esse nunca está.
Nestas tardes de confinamento, a praia pertencerá apenas às gaivotas. E à espuma com ondas. E aos sons das águas invernosas...
Ah! É costume haver uma lojista que deixa a loja ao fim da tarde para fotografar o mar. Nunca a ouvi falar do tempo porque quer aproveitar o tempo e ir a tempo de captar a melhor fotografia. Como deve estar a chover neste momento, olhará o mar através da janela mais alta da casa.
Afinada e confinada, fará contas à vida, mas não deve resistir a fotografar as gaivotas na sua avidez ruidosa. Raisparta a pandemia, ela dirá, enquanto colhe imagens de uma tarde cinzenta e fria. Mas nunca só.
sábado, 12 de dezembro de 2020
Também vou tentar tentar!
Maria Keil |
Para começar, não gosto nada da palavra culpa, porque me faz lembrar modelos antigos e pesados de educação e religião. No entanto, o seu significado não pode ser posto de lado, como acontece com tanta frequência, desde as pequenas às grandes coisas. Se não gostarmos da palavra, também não há problema porque existem vários sinónimos: falta, erro, falha...
O dia a dia é fértil em desculpabilização. Há uma discussão: não fui eu que comecei. Uma conta não foi paga: outros também não o fazem. O país está mal: a culpa é do governo. Há aumento de casos covid-19: a DGS e os governantes não sabem comunicar. Os contentores do lixo estão a abarrotar: a Câmara devia pôr mais. Não se faz reciclagem: os outros também não fazem. O miúdo tem fracos resultados: os professores não gostam dele. A empresa funciona mal: eles não ligam...
O passa-culpas é constante na política e no mais comum quotidiano. Às vezes, o ser humano põe-se à parte, ficando como espectador que olha unicamente para o palco onde está o outro.
E o que é certo é que o exemplo é o mais importante e as novas gerações vão adquirindo estas práticas quando, à sua volta, são recorrentes.
Pode haver caos a muitos níveis, mas, se cada um quiser (e puder, é claro), pode ir tornando o mundo um bocadinho melhor e mais bonito. Também vou tentar tentar.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
A lista
Há dias, em visita à Dona Redonda (https://dona-redonda.blogspot.com),
encontrei Palavras daqui e dali (http://palavrasdaquiedali.blogspot.com).
Logo gostei do título e do conteúdo do blogue.
Pedi autorização para o anexar à minha lista.
Simpaticamente, a Isabel respondeu-me:
"Por mim, esteja à vontade! Só tenho a agradecer:))
O
seu já está na minha lista, porque gostei do que por lá vi. De certa forma acho-o um pouco parecido com o meu, nos temas que vai
apresentando. Só não consegui foi ser seguidora, pois não vi a lista de
seguidores".
Ora, desde que criei o blogue, em 2011, nunca a tinha formado, ainda que existisse um pequenino grupo de seguidores, a quem muito agradeço, no cimo da minha página das estatísticas.
Obrigada, Isabel, pelo estímulo e assim nasce a lista dos seguidores. Hoje, é o primeiro dia...
Quem quiser juntar-se ao grupo será muito bem-vindo e, desde já, agradeço.
Apesar de bastante simplicidade deste espaço que vou, aos poucos e bastante amadoramente reconstruindo, obrigada também pelas mensagens, pelas visualizações e, sobretudo, por tanta e saborosa partilha.
É muito bom sentir o pulsar dos dias de tantas pessoas que fazem do mundo um mundo das e para as pessoas.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
Por falar em casa, ...
... gosto que esteja organizada, mas nunca consegui ter a casa muito arrumada. Daquelas em que não há nada fora do lugar.
Na sala, há sempre jornais à espera de mais leitura, livros que aguardam quem os reabra, um caderno que ficou aberto, umas folhas de rascunho que ainda podem ser úteis, umas canetas que só fazem falta quando não estão ali...
Para não falar das almofadas do sofá fora do lugar, da mantinha que ficou por dobrar...
Mas já foi pior quando as minhas filhas eram pequenas.
Agora, por causa da pandemia, quase ninguém visita ninguém, mas quando nos visitávamos mais e eu não contava com a visita, pedia desculpa por alguma desarrumação.
Quando passar a pandemia, acho que vou deixar de o fazer. Já bastam os atuais constrangimentos.
sábado, 5 de dezembro de 2020
sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
Como fiz
Há muitas maneiras de fazer doce de abóbora.
Vou partilhar o modo como fiz. Acho que ficou bem, mas talvez com abóbora um pouco
mais coradinha, fique ainda melhor.
Seja como for, amor e carinho também adoçam os presentes que partilhamos!
Pus ao lume abóbora, açúcar, casca de limão, pau de canela |
Juntei amêndoa partida |
Deixei cozer mais um pouco e pus em frascos |
Voltei-os até arrefecerem para ganharem vácuo |
Já frios, limpei os frascos, pus etiquetas e decorei-os com o que tinha em casa.
Ah! E juntei-os a outras prendinhas para distribuir. Com desejos de doce Natal!