terça-feira, 19 de maio de 2020

COMPOTA DE AMEIXAS COM CHÁ E CHEIROS


 Já não é a primeira vez que partilho, aqui, esta "receita". 
Na verdade, nunca a fiz. Interessou-me mais pelo sabor da escrita do texto,
 apesar da sua simplicidade, do que a compota em si. 
Quando tiver ameixas no meu quintal, tentarei fazê-la.
Mas, claro, não a ofereço à vizinha. Se ela não gostar de ameixas.
 
Ingredientes:

500 g de ameixas frescas e maduras

Um bule de chá com açúcar

Quatro colheres, das de sopa, de rum

Algum tempo, muito afeto

Acessórios essenciais: uma cesta, ervas aromáticas, um bloco, uma caneta, luz do Sol

Se tiver quintal, percorra-o pela manhã. Lá pelo meio de uma manhã de Sol. Esqueça as ervas daninhas e tudo o que houver de mais rasteiro. Os olhos devem ser levantados para além da sua cabeça, junto das ameixoeiras. Use as duas mãos que ajudarão na procura de ameixas rijas e maduras. Não importa a tonalidade. Podem ser brancas, rosadas ou vermelhas. Tenha consigo uma cesta. No fundo, pode pôr hortelã-pimenta, alecrim, manjericão, lúcia-lima, erva cidreira… Colha os frutos ainda com algumas folhas. Utilize uma tesoura pequena de poda. Usada mas não enferrujada.
Se não tiver árvores de fruto, procure as ameixas num mercado tradicional. Se a vendedeira quiser aldrabar no preço, é por uma boa causa. Porém, não deixe de regatear. E de escolher os frutos bem frescos, perfumados, coloridos.
Chegando à cozinha, ponha a cesta – mesmo que vá ao mercado, prefira-a ao saco de plástico – sobre a mesa. Olhe com atençao as cores e os aromas. Pode até fotografar e registar, por escrito, as suas impressões, porque a memória muitas vezes é curta; as imagens amontoam-se, esbatem-se, apagam-se.
Utilize um bloco que tenha comprado numa viagem com momentos de luminosa descoberta. Ponha-o sobre a mesa e vá escrevendo frases soltas. Poderá reutilizá-las, recortando-as e colando-as no frasco. Evite tapar os frutos.
Não desligue o telefone nem o ponha em silêncio. Se alguém telefonar, partilhe o momento.
Lave depois as ameixas, já sem pé nem folhas. Faça-o numa vasilha grande, sem pressa, mexendo os frutos delicada e amorosamente.
Ao lado, tenha outra vasilha. Antiga de preferência. Que lhe traga boas recordações de alguém que gostava de si, que se preocupava consigo, que lhe mostrava sempre um sorriso e que também contava histórias doces.
Misture e ajeite bem as ameixas nessa vasilha. Sobre elas, deite devagar o chá. Use um bule que viu sobre a mesa em dias de festa ou em momentos felizes. Cubra todas as ameixas, independentemente da forma ou do conteúdo. Ponha a tigela num sítio fresco e tranquilo da cozinha. Dê-lhe espaço e visibilidade. Vá à arca e procure uma toalha de estopa ou de linho. Pode ser grossa e enrugada. Aconchegue-a sob a malga. Deixe repousar durante a tarde e a noite. Aproveite o silêncio aromatizado para escrever mais longamente.
No dia seguinte, levante-se cedo. Abra a janela. Espreguice-se, esquecendo que a vizinha é madrugadora e curiosa. 

Já na cozinha, escorra as ameixas e passe-as para uma compoteira transparente. O rum irá para o lume com um pouco de açúcar e a calda que ficou. Logo que tome ponto, deite-a sobre as ameixas, deixando macerar duas horas. Coloque a compoteira num sítio onde dê o Sol. Vá rodando o frasco para iluminar todos os frutos e poder observá-los melhor na sua unidade e diferença. Saboreie o momento. Guarde a cesta (não de esqueça de higienizar a superfície).
Por fim, ofereça ervas aromáticas à vizinha. Ela disse um dia que não gostava de ameixas.




Verduras, cheiros e flores!


segunda-feira, 18 de maio de 2020

Hoje é o recomeço de muitas das nossas vidas!


Hoje reabrem muitos serviços como escolas, museus, cafés, restaurantes e muitos mais.
Ontem, num grupo de amigos, também de Whatsapp, repetia-se: bom recomeço! Neste caso, de aulas do ensino secundário, após longo tempo de aulas à distância, nem sempre fáceis devido a falhas técnicas e ao afastamento do(s) interlocutor(es).
De facto, muitos professores e alunos vão reencontrar-se hoje, assim como muitos outros trabalhadores vão rever muitos clientes e amigos. A máscara usada por todos não impedirá um brilhozinho nos olhos em muitos momentos.
Vai haver histórias bonitas e outras menos bonitas para contar, porque, infelizmente, em muitos setores, houve pessoas que não resistiram ao Covid 19.
Hoje é o recomeço de muitas das nossas vidas: desde os mais pequeninos aos idosos que estão em lares, podendo já receber visitas, ainda que com as obrigatórias restrições.
Dezoito de maio de 2020: dia de recomeço de muitas atividades que preenchem e enriquecem a nossa vida.
Porém, cada dia que passa, em casa ou fora dela, não é ele sempre um recomeço?

domingo, 17 de maio de 2020

Um filme real e humano à Nanni Moretti

Já vi e gostei.
Está disponível no site Medeia filmes quarentena cinéfila até às 12 h da próxima 3a f, dia 19 de maio.

Bom filme!

'Margherita é uma realizadora em plena rodagem de um filme cujo protagonista é um famoso actor americano. Às questões artísticas que enfrenta juntam-se angústias de ordem pessoal: a sua mãe encontra-se no hospital e a sua filha em plena crise adolescente. O seu irmão, por sua vez mantém-se como uma constante na sua vida. Conseguirá Margherita estar à altura de todos os problemas familiares e artísticos que enfrenta?'

“Um filme tremendamente inteligente e encantador.”
Peter Bradshaw, The Guardian

“Simples e sensível, sem deslizes.”
Jacques Morice, Télérama




sexta-feira, 15 de maio de 2020

Já vi e gostei


O resumo que se pode ler na apresentação do filme que está disponível na Medeia filmes quarentena cinéfila até às 12 h de amanhã, sábado:

'Após a morte da mãe adoptiva, Hortense, uma jovem negra de 27 anos, decide encontrar a sua mãe biológica. Quando finalmente se encontram, Hortense fica espantada ao descobrir que a mãe, Cynthia, é branca e tem uma filha de 20 anos. No início, Cynthia fica perturbada ao ver a filha que havia esquecido há muito tempo. Contudo, mais tarde, decide desenvolver um relacionamento profundo (...).'



'Dans une famille...'

Postal enviado pelo Clube das Histórias 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Quem...

Quem maltrata as crianças
Quem as humilha
Quem lhes rouba a confiança
Quem as culpabiliza sempre
Quem lhes fecha os sorrisos
Quem as agride
Quem lhes provoca medo
Quem as insulta
Quem as impede de brincar
Quem não as protege
Quem não as ouve
Quem não as acarinha
Quem não as quer compreender
Quem não cria expectativas
Quem sobre elas descarrega as suas fúrias ...
   Vai escurecendo o dia claro
          que brilhava na inocência das primeiras fotografias!
   Vai cavando uma tenebrosa linha vermelha
          com o sarcasmo  cobarde dos assassinos de sonhos!


Era uma vez...

Era uma vez um conto de fadas. Estávamos
na terra do sonho; o castelo tinha torres
que chegavam à luz; e a noite quente do verão
entrava pelas janelas e tapava-nos num aconchego de mãe.
Neste sonho, não havia
nem ogres nem lobos maus; e um barco
branco esperava por nós, no porto da cidade
para nos levar para o oriente onde o sol
nunca se põe. Nenhum de nós queria acordar
para nunca se esquecer deste sonho; e mesmo que
acordássemos, não iríamos abrir os olhos,
para não ver o que nos esperava, ao sair
do casulo dos sonhos. Mas se acordássemos,
e abríssemos os olhos, e víssemos que tínhamos
saído da noite para entrar no dia, que já não é
um conto de fadas, podíamos dizer
uns aos outros: “Este é o sonho de onde temos de acordar,
para voltar ao conto de fadas
onde a noite nunca se põe.”
Nuno Júdice



terça-feira, 12 de maio de 2020

A caixa mágica ou avó à distância!

Uma avó a viver em Portugal.
Uma neta de quase cinco anos a viver em Londres.
Um pai e uma mãe com muito teletrabalho.
Uma pandemia que impede viagens e aproximações.
Muitas saudades.
Um pedido-sugestão: 
- Mãe, não queres entreter a Clarinha pelo skype? Ela ficava contente, tu também e nós podíamos trabalhar um bocadinho.

Pois bem, por que não? 
E a primeira ideia para a primeira sessão de avó à distância foi juntar alguns objetos numa caixa. A tal caixa mágica.

A avó à distância contará em breve como foi.





sexta-feira, 8 de maio de 2020

Um livro fascinante


Hoje acabei de ler este livro de Javier Marías, autor nascido em Madrid em 1951.
Nos dias que correm, mesmo em tempo de pandemia, não é fácil ter vontade de ler um romance de quase quinhentas páginas. Porém, Berta Isla, publicado em 2018, tem um ritmo de escrita e de enredo que não deixa arrumar o livro à espera de melhores dias. Não falta mistério, equívocos a seu tempo desvendados, reflexões sobre a vida, sobre  as relações amorosas e muitos outros temas que se encadeiam de forma magistral e com grande vivacidade de linguagem e de situações, que surpreendem o leitor.
Conta-se a história de um homem e de uma mulher, nascidos em Madrid, que se amam desde muito novos. Casam e têm dois filhos. Ela é professora de Literatura, ele é agente secreto, vivendo este uma vida dupla e de longas ausências, nunca explicadas a ninguém, nem mesmo a Berta. Também é secreta a razão de ter começado a função de infiltrado.
Berta tem o seu trabalho, tem os filhos e tem constantes dúvidas sobre se e quando o marido vai regressar, assim como sobre as ações  a que está ligado e que têm base no Reino Unido.
A história inicia-se nos finais dos anos sessenta e vem até aos nossos dias. 
Javier Marías leva-nos, a nós leitores, através da narrativa, por acontecimentos marcantes do século: Franquismo,  Queda do muro de Berlim, Guerra das Malvinas...
As duas personagens principais, Berta e Tomás, são extraordinárias. Ela, porque é inteligente, culta,  alegre, decidida; ele, por razões mais obscuras: é misterioso, opaco, multifacetado, 'sempre a passar por quem não era'.
O que acabo de dizer é apenas uma grão de areia do mundo que o autor construiu neste livro. Só o consegue um escritor que tem a força e arte de narrar como Javier Marías.
Já tinha prometido a mim própria não comprar mais livros sem ler os que estão em espera.
Contudo, se vir algum de Javier Marías, não vou resistir. Mais do que ser um autor premiadíssimo em Espanha, logo me lembrarei de Berta Isla, um livro fascinante.

Obrigada, Idalina, por me teres permitido conhecer 
este autor através desta obra.