quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

'EXPRESSO curto' mas certeiro!

“Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda”
Marquês de Maricá 

Esta citação vem a propósito das eleições de hoje no Reino Unido. Quem sairá vencedor? Dizem as sondagens que o atual primeiro ministro é pouco confiável porque, 'apesar de culto, é um farsante'.
No entanto, prevê-se que nele votem sobretudo os maiores de 65 anos e as pessoas que habitam longe das grandes cidades, o que pode ser o bastante para uma vitória.

O que se passa no mundo para que governantes pouco fiáveis saiam vencedores em eleições democráticas?
A máxima que inicia o  Expresso Curto de hoje dá  uma das possíveis respostas.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Conversa sobre um banco improvável ou talvez não!

- Que achas pôr aqui um banco?
- Acho bem e o sítio é bom.
- Dás crédito, então, à minha ideia?
- Claro! E será um banco com valor bem parado.
- Bem descansado, diria eu.
- Vou ver se arranjo, então, um banquinho engraçado para o Pai Natal.
- Como não acendemos a lareira, pode ficar lá dentro.
- Um banquinho para o Pai Natal descansar um pouco.
- A Clarinha vai adorar.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Não roubemos as cores à Natureza!

Obrigada, amigos, por partilharem estas e outras fotos 
em que a Natureza chama! 
Precisa bem de ser acarinhada!


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

'Eu queria ser Pai Natal'

Eu queria ser Pai Natal
e ter um carro com renas
para pousar nos telhados
mesmo ao pé das antenas.

Descia com o meu saco
ao longo da chaminé,
carregado de brinquedos
e roupas, pé ante pé.

Em cada casa trocava
um sonho por um presente.
Que profissão mais bonita
Fazer a gente contente.
Luísa Ducla Soares
Poemas da Mentira e da Verdade
Lisboa, Livros Horizonte, 1999



domingo, 1 de dezembro de 2019

Conversa sem fantasias

- Mãe, sabes que a Clarinha acredita no Pai Natal.
- Que bom. Quando eu tinha quatro anos também acreditava que as prendas eram trazidas pelo Menino Jesus.
- No Natal, a Clarinha vai pôr um sapatinho na chaminé e, quando acordar, vai ver o presente do Pai Natal.
- Que bonito. Vai ficar tão feliz. Quero ver a reação dela.
- Mas não lhe podes dizer a verdade nem te podes rir.
- Achas?
- Acho.
- Também acho que não tenho uma doença rara nas avós que é serem desmancha-fantasias!



Como seria bom haver 'universal consoada'!

 

Natal, e não Dezembro

 Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira, in 'Cancioneiro de Natal'

sábado, 30 de novembro de 2019

Joan Baez - No nos moveran

Conversa em rede

- Fico angustiada ao ver casas já decoradas com a árvore de Natal.
- Não fiques. Dezembro só começa amanhã.
- O pior são as dezenas e dezenas de testes para corrigir.
- Pensa no momento da entrega e na libertação.
- Logo a seguir vêm mais trabalhos e parece que nunca há libertação.
- Existe, sim, ainda que breve, e enquanto dura...



Natal com corações e flores de papel!


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

"Fala do Homem Nascido" (1972) "Calçada de Carriche" (versão original) ...

Ainda há tantas 'Luísas'!

Calçada de Carriche
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

António Gedeão - Poesias Completas (1956-1967)

domingo, 24 de novembro de 2019

Apesar de todas as inquietações, tenham(os) um domingo sereno!


Obrigada, IA, por este post e por tantos e tão bons do teu blogue
 'Bem-Vindos ao Paraíso'!

sábado, 23 de novembro de 2019

JP Simões - Inquietação

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Inquietação - Camané e Dead Combo

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Camané - "Porta Aberta"

José Mário Branco - Queixa das Almas Jovens Censuradas

Outono no ar e na terra


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Turbulência(s)


Há tempos, uma amiga ofereceu-me este livro. Como é gentil, disse-me que, quando o viu, se lembrou de mim porque às vezes conto pequenas peripécias das minhas idas a Londres, incluindo nos aviões.
De facto, a turbulência continua a assustar-me e, como se aproximava nova viagem a Londres, só agora o li. E gostei. E pude verificar que nem só de turbulência de avião se trata.
Quando comecei a ler Turbulência, de 117 páginas e dividido em doze curtos capítulos, logo me pareceu ser de um autor jovem. A escrita é seca, descarnada, embora as tensões e sentimentos humanos estejam bem presentes.
As personagens deslocam-se de avião ou por motivos familiares, ou profissionais, ou amorosos..., havendo turbulências várias na hora da partida, de chegada ou quando se vivem os momentos esperados aos quais se juntam boas e más surpresas.
As viagens acontecem entre diferentes continentes.
A narrativa começa e termina em Londres. São estas as poéticas palavras do fim:
'Caminharam até à paragem de autocarro de Westbourne Grove. As nuvens moviam-se no céu, o sol ia e vinha e, quando chegaram à esquina, o vento espalhou as flores de todas as árvores da rua'.


David Szalay nasceu em 1974 no Canadá, vive na Grã-Bretanha, frequentou a Universidade de Oxford, está traduzido em 15 países e em 2018 foi finalista do Man Booker Prize.

Pode haver momentos felizes como estes?

Como habitualmente, levantei-me cedo e, também como é habitual, fiz e tomei o pequeno almoço. Tinha pão fatiado, compota feita por mim e pude saborear tudo devagar, enquanto ouvia as notícias.
E senti que o momento era feliz. E eu também. Para mais, está previsto sol a brilhar durante todo o dia.
Mas logo vieram algumas questões: 
O que valem estes pequenos momentos de prazer perante tempos intermináveis de contestação e violência como em Hong Kong, em Paris, em diferentes países da América do sul...
... perante incontáveis mentiras de poderosos governantes cujo ego é tão grande que lhes retira o respeito pela Humanidade?
O que vale o prazer de um pequeno almoço de café com leite, pão escuro com compota caseira se tantos confrontos se repetem e tantas dúvidas ficam por explicar?
Que bom seria que não fossem habituais.





quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A senhora do supermercado

De todas as vezes que fui ao supermercado, perto do centro de Londres, vi a mesma funcionária, de uns cinquenta anos, muito branca e de cabelo pintado de loiro.
Ela sempre me chamou a atenção por estar sempre a comunicar com os colegas ou com os clientes. A voz dela ouve-se bem e também os sorrisos e gargalhadas, mas sem nunca parar a tarefa que está a executar.
Se ela fosse mais nova, eu diria que começara há pouco a trabalhar, mas, pelo relacionamento com todos, vê-se que já lá está há muito.
Um dia em que esteja silenciosa, não faltará quem lhe pergunte se está doente. Se não estiver, será mais um motivo para desatar a rir.