sábado, 23 de abril de 2016

O mundo seria mais triste sem livros nem flores!


 Washington Maguetas

Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis

     Picasso
Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga



                                                              Verónica França
Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Menez                   

Retrato de uma princesa desconhecida

      Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
 Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
      Para que a sua espinha fosse tão direita
         E ela usasse a cabeça tão erguida
    Com uma tão simples claridade sobre a testa
 Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
     De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
     Servindo sucessivas gerações de príncipes
         Ainda um pouco toscos e grosseiros
            Ávidos cruéis e fraudulentos

         Foi um imenso desperdiçar de gente
        Para que ela fosse aquela perfeição
           Solitária exilada sem destino

                             Sophia de Mello Breyner Andresen

                                                                                                   Pantónio
Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago


 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

VIVA!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

sábado, 16 de abril de 2016

Cores no nevoeiro

Mondim de Basto - hoje

Inverno com primavera dentro



Primavera com inverno dentro

Se fosse possível, convidava-o para almoçar!


Este é um filme de que me recordo com muita frequência. Vi-o há uns bons vinte anos na ESG, trazido por um crítico de cinema e também professor no Instituto Politécnico do Porto: Dr José Coutinho e Castro.
Através de amigos comuns, ele começou a vir à escola, periodicamente, para falar de cinema. Trazia os filmes - ainda em VHS - que conservava religiosamente. Não gostava de os emprestar nem que deles se fizesse cópia. Tinha medo que houvesse danos, o que prejudicaria a qualidade das imagens.
Os filmes que trazia eram quase sempre desconhecidos do grande público e acreditava que a educação também se faz através do cinema. 
Nem sempre os filmes agradavam aos alunos - bem mais habituados a cenas barulhentas com muitos choques à mistura. Não tenho grandes ecos do efeito dessas sessões, mas bem gostaria que tivessem deixado boas memórias em muitos jovens que a elas assistiram. Estou convencida que sim.
Hoje, estando eu a fazer o almoço - perfeitamente trivial - lembrei-me deste filme que tem imagens celestiais provocadas pelo saborear dos alimentos. Mesmo pessoas de grande austeridade, que parecem renunciar aos doces prazeres da terra, não escapam às delícias da mesa quando  combinadas e confecionadas na perfeição, como acontece na história.
Estou a fazer carne assada com batatas, o que exige pouco talento. Espero que os meus pais - para quem também estou a cozinhar - possam encontrar prazer na comida que neste momento preparo.
Para compensar a simplicidade da minha mesa, irei ver de novo este filme e voltarei atrás, com certeza, para rever algumas imagens que mostram como quase se chega ao céu através de alimentos.
Tenho pena que o Dr José Coutinho e Castro já não esteja entre nós. Talvez o convidasse para almoçar em minha casa. E eu, que habitualmente não gosto de pedir nada em troca, poderia sugerir-lhe que trouxesse o filme com a imagem perfeita e, se possível, legendado em português.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Conquista



Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in Cântico do Homem

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Poemas do Sr Ministro






Romance de Nós
Estou à beira do mar,
estou à beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que não vi.
Tudo em nós foi naufrágio,
não quisemos saber:
fizemos nosso adágio
do que não pôde ser.
Que resta do amor
a quem é como nós?
Envergonha-me pôr
em verso: «somos sós;
sós como amanhecer
às avessas do mundo;
sós como podem ser
as areias no fundo;
somos sós e sabê-lo
é negar o pronome
que de nós fez novelo
e por nós se consome».

Luis Filipe Castro Mendes, in
"Modos de Música"

Das Palavras

As palavras mais simples
foram as que te dei;
o amor não sabe outras,
só estas fazem lei.
As palavras de uso
mais comum e vulgar
são as que amor conhece.
Com elas nos pensamos;
é nelas que tememos
desacertos, enganos;
se nelas triunfamos,
já delas nos perdemos.
Com palavras vulgares
se diz o mal de amor,
seu riso, seu espelho,
o que fica da dor.
E todos os mistérios
que se fazem promessa
e se perdem nos versos
e dos corpos nasceram
são aqui cerimónia
evidente e secreta
nas mais simples palavras
que conhece o poeta.

Luis Filipe Castro Mendes, in

"Os Amantes Obscuros"