Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
Luís de Camões (Faleceu, em Lisboa, em 1580)
"endecha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/endecha [consultado em 09-06-2021].
(Endecha - composição poética melancólica, geralmente em versos de 5 ou 6 sílabas métricas)
A propósito das endechas, gostava que lessem aqui os comentários esclarecedores de Vítor Oliveira.
Julgo que assim o assunto fica mais claro e correto.
Obrigada.
Obrigada, Vítor.
(Recordo que Vítor Oliveira é também o autor do blogue Carruagem 23)
"endecha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/endecha [consultado em 09-06-2021].
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gado que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis,
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.