Imagens da belíssima exposição dinamizada pelo grupo de História
na ESG (Escola Secundária de Gondomar)
Obrigada, AC, pelas fotos
A avaliar pelo que vi, li e ouvi, o 25 de Abril foi
abordado, com mais tempo, nas escolas. Felizmente. As exposições, debates, saraus, visitas, trabalhos... também ajudaram.
Se calhar, um pequeno conteúdo ficou por lecionar ou
rever, mas o diálogo com as crianças e jovens sobre este assunto vale(u) mais
do que mil discursos, com ou sem cravos ao peito.
Uma menina de nove anos respondia a uma questão, mais ou
menos assim, do manual: “Como se sentiria o cravo na mão de tantas pessoas
reunidas?”
A menina escreveu: “O cravo sentiria-se triste porque deixava a terra dele”. Passado um
bocadinho, corrigiu: “…sentir-se-ia triste porque deixava a terra dele”. E
pouco depois (as palavras são mesmo impulsionadoras!) acrescentou: “… mas
também contente porque via as pessoas felizes”.
No diálogo que travei com os meus alunos (do 10º e 12º
ano), partilharam-se algumas ideias que eles tinham colhido de conversas com os
pais ou avós, de poemas ou outros textos alusivos à data, de pesquisa ou
reflexão sobre alguns dos temas mais recorrentes, etc.
E eles referiram quase sempre o testemunho dos avós,
porque os pais eram ainda crianças quando ocorreu o 25 de Abril de 1974 - a mãe
de uma das alunas ainda não tinha nascido.
Eis algumas das ideias apresentadas:
- O meu avô ficou só com a 2ª classe para trabalhar e
ajudar os pais. Teve muita pena porque queria continuar a estudar. Ficou sempre
com esse desgosto.
- O meu avô esteve em Angola na guerra colonial e gostou,
porque não ficou ferido e foi uma maneira de viajar e conhecer outras terras.
- Os meus avós passavam fome. Eles dizem que agora há
muita gente que tem pouco de comer, mas naquela altura a miséria era maior.
- O meu avô pertencia à Legião Nacional. Um dia o
Salazar cumprimentou-o e ele ficou muito contente.
- A minha avó emigrou clandestina para França com cinco
filhos pela mão e não sabia ler nem escrever. Foi muito difícil.
- O meu avô andou na guerra colonial e, durante vários
anos, se ouvisse foguetes, ficava transtornado, porque se lembrava logo dos
amigos que morreram em combate ou quando as minas rebentavam.
- Antigamente havia mais respeito nas escolas.
- Com a censura, as pessoas sabiam só uma parte do que se
passava.
- Muito pouca gente sabia ler, o que interessava aos
ditadores, porque assim o povo não tinha instrução e não se revoltava.
- Há muitas pessoas que não sabem aproveitar a liberdade
que têm.
- O 25 de Abril trouxe direitos e deveres, mas muita
gente só fala dos direitos.
- A PIDE prendia pessoas só porque tinham opiniões
diferentes do Governo.
...
E eu, que vivi o antes 25 de Abril, pude dar
achegas.
Num dos pontos do diálogo, lembro-me de ter dito aos
alunos:
- Já imaginaram que esta conversa não seria possível
antes do 25 de Abril?
E eles, que nasceram em tempo de Liberdade, não
responderam logo. Para eles, tal hipótese seria impensável. Ainda bem.