quinta-feira, 19 de junho de 2025

Será possível ainda falar de coisas simples e boas?

 

Hoje levantei-me cedo. O tempo estava fresco e orvalhava, não bastante para regar as plantas. Liguei a água do poço e, daí a nada, estava a regar. Água abundante. Até quando será assim?

Enquanto regava, fui cortando as rosas velhas. Iam caindo junto da raiz - também um modo de fortalecer as vindouras.

Estendi roupa que sempre seco ao sol e ao vento. E reparei nas florzinhas pequeninas e azuis que renasceram. Uma amiga tinha-me dado o vaso há bastante tempo por causa dessas flores que, disse-lhe eu, me faziam lembrar Londres, onde as via em bonitos canteiros. Ela deve ter reparado que me ‘estava a fazer’ à planta e, como é simpática e generosa, deu-me o vaso.  Agora, de novo com as florzinhas bem mimosas, vou tirar uma foto e mandar-lhe. Deve ficar contente por ver que estimei o presente que me deu.

Enquanto escrevia este post,  fui participando num grupo de amigas do WhatsApp. E vários assuntos vieram à baila, como, por exemplo, o último livro de Mário Cláudio, em cujo título entra a palavra cruzeiro. E como as palavras são como as cerejas (tenho comido algumas bem boas!), veio à baila o gosto de fazer um cruzeiro. Eu, não, disse eu de imediato. Sobretudo em mares revoltos! Morreria de medo! O único que fiz foi há muitos anos - um pequeno cruzeiro no Báltico. Ficou-me na memória a serenidade daquele mar naquele fim de tarde. Ainda nem se falava dos horrores e medos por guerras que abalam regiões próximas e vão chegando, por diferentes formas, a todo o mundo.

Por tanta violência que parece aumentar em cada dia, interrogo-me se ainda tem cabimento falar das pequenas alegrias do dia a dia. A resposta é-me dada logo pelos meus botões: são cada vez mais necessárias para que o mundo não fique ainda mais triste!


domingo, 15 de junho de 2025

A roupa

 

Sobre o tema do título, posso dizer que cada vez gosto menos de comprar roupa. Falta-me paciência. Se é pela net, muitas vezes, o tamanho não coincide com o meu; se é na loja, fico cansada e cheia de calor nos provadores.

Por outro lado, abro o meu guarda-fatos e concluo que tenho a roupa de que preciso durante bastante tempo e para diferentes ocasiões. Para quê então acumular mais, gastar mais dinheiro, ocupar mais espaço em casa?

Seja como for, de tempos a tempos, as arrumações vão separando roupas que já não se quer. Fui juntando assim algumas num saco que hoje meti na mala do carro para depositar num contentor. Logo que via algum, parava o carro, tirava o saco e lá tentava rodar o dispositivo para o introduzir, mas nada, porque estava cheio. Ao quarto contentor por onde passei, nem parei o carro porque muitas peças de roupa saíam, avulsas, pelo contentor fora, sem qualquer cuidado ou arrumação.

Moral da história: o saco ficou na mala do carro, à espera de contentor com espaço para o receber e a roupa poder seguir um bom caminho.

Ah, ainda não disse, mas tentei dar essa roupa; agradeceram-me muito, mas a instituição já não tinha espaço para tanta roupa recebida.

Há uns anos, fiz voluntariado numa instituição de pessoas sem abrigo, que recebia todo o tipo de objetos para serem vendidos e, assim, ajudar pessoas em situação de muita necessidade básica. Pois bem, dado o seu volume, muita roupa era vendida ao desbarato e uma grande parte - a que tivesse alguma mazela - voltava para os sacos e ia para reciclar.

Por isso, o excesso de roupa é um problema cada vez maior e mais sério. Doada ou depositada nos contentores próprios, pode ser muito útil para muitas pessoas ou instituições, mas, pelas notícias conhecidas, muita roupa vai parar a países muito pobres, aumentando ainda mais o horror da poluição. 

Quando há moderação nas compras, sabe melhor comprar uma roupa nova, como o vestido para casamento que comprei e que já está na cruzeta - no cabide, como se diz mais para o sul do país.


quinta-feira, 12 de junho de 2025

‘Para pior já basta assim’


 Fui assinante do jornal Expresso durante um par de anos e continuo a ler este semanário. Habitualmente, a minha filha compra-o ao sábado e na semana seguinte vem até mim. E há, atualmente, o suplemento Ideias que não dispenso, sobretudo pelas crónicas.

Pois bem, cancelei a assinatura há coisa de um ano. Estava tão irritada que também queria deixar de receber o Expresso Curto, que recebo, sem pagar, todas as manhãs, e que acho muito bom.

Ora, o  que me levou ao cancelamento da assinatura do jornal foi o destaque - na minha opinião, é claro - que era dado a André Ventura. Ele era título gordo de primeira página, ele era fotos enormes, etc. Julgo não errar se disser que não havia edição do semanário em que o A.V. não fosse uma das principais figuras e notícias.  A favor ou contra, lá estava ele a marcar o seu território que lhe era dado nas páginas principais.

Acho que agora o jornal - que continua a ser de referência - já está mais moderado quanto a essa opção. E ainda bem, porque o tempo também traz ensinamentos. Espero que vários leitores tenham também reagido.

As televisões, porém, continuam a andar atrás do Sr Ventura. Logo que ele se aproxime de um microfone, lá estão as televisões. Um dos exemplos mais ridículos foi quando Ventura se sentiu mal na campanha eleitoral e as televisões, julgo que sem exceção, o seguiram incessantemente até às consultas no centro de saúde. Mesmo depois de se saber que a má disposição não era grave.

É que isto das audiências deve envolver muito dinheiro que as televisões não querem perder.

A comunicação social - fundamental para a informação e formação dos cidadãos - terá de refrear muitos ímpetos. E nós, leitores, ouvintes, telespectadores também, mostrando o nosso desagrado por certos exageros que só contribuem para a desinformação. E para a normalização de casos muito graves de violência, vindos de grupos extremistas.

Quanto à selva das redes sociais mais comuns, nem me pronuncio, porque não as uso. Para ‘pior já basta assim’.

terça-feira, 10 de junho de 2025

Hoje, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades

 

Neste dia, os elogios à seleção portuguesa  ainda se ouvem. E ainda bem, apesar das incontáveis fortunas que o futebol mobiliza.

A vitória veio também do trabalho persistente e do esforço para vencer e isso é bom, não só pela alegria coletiva (e tanto precisamos dela!), mas também porque dá exemplos às novas gerações. Muitas figuras públicas são conhecidas de todos não porque ajudam a Humanidade, mas pelo que fazem para manipular os outros e assim aumentarem o seu poder. Por isso, bons e estimulantes exemplos são bem-vindos.

Camões, que viveu no século XVI, não foi indiferente a temas que ainda persistem de forma notória: ambição, vaidade, falsidade…

Daqui a pouco, nos discursos públicos e políticos, surgirão, por certo, citações de versos do nosso Épico. Mais valia não os encaixarem tanto neste Dia e dar mais relevo à cultura no dia a dia.

Julgo que as cerimónias públicas deste 10 de Junho começam às 10,30. Gostava de ver e ouvir  sobretudo Lidia Jorge, personalidade que muito aprecio e de quem já li alguns livros.

Vejamos se as cerimónias públicas serão uma mais-valia para todos, dentro e fora do país. Nem que fosse um grão de areia.

E vejamos se os estrondos ou pesados silêncios diários, que lembram tanto desconcerto do mundo’ de que Camões também falou, se atenuam um pouco, mas deve ser difícil pelo que se vê e escuta.

Hoje, aqui pelo Norte, também se prevê muito estrondo de trovoada. Pudesse, no final de tantas tempestades, vir a bonança. De que o mundo tanto precisa.


domingo, 8 de junho de 2025

As motas de água e o jogo quase a começar


Hoje, domingo, fui almoçar com a família a um restaurante à beira-rio. O céu estava azul quase por completo e, por cima das nossas cabeças, havia redes finas para que as glicínias não nos caíssem no prato. Se fosse no cabelo, não fazia mal; era sinal de casamento feliz entre o verão e a alegria.

Já à mesa, e olhando o estreito mas comprido areal do outro lado do rio, muita gente desfrutava da água e do sol. Mas, se procuravam o calor no corpo e o silêncio na alma, pelo menos este seria interrompido. 

 Umas três motas de água não cessavam de fazer manobras aos esses e aos saltos. E, para que as sensações fossem ainda mais vibrantes, procuravam as ondas que os barcos grandes deixavam atrás de si, para que a mota subisse da água e caísse de repente na ondulação mais apelativa.

Isto durou o tempo todo em que estivemos no restaurante, incluindo a espera pelo polvo com filetes do mesmo. Ouvindo todos aqueles motores e choques na água, eu disse para o meu neto: Não gosto de motas de água, fazem muito barulho e assustam os peixinhos!

Ele, nos seus bonitos e vivos quatro anos, que não o deixam ainda pronunciar os erres, disse: Eu adoio poque adoio andá depessa!

Sorri e imaginei que se ouvisse as motas de água no seu continuo rodopio barulhento, durante toda a tarde, não acharia piada nenhuma. E, se pudesse, não andaria depressa, mas escapava-me de lá o mais depressa possível.

Como é habitual, saltando de assunto em assunto, em conversa amena, lá chegou o polvo e estava bom, tanto o que vinha dentro,  como o que vinha fora do arroz. 

Embora o polvo seja um molusco e não um peixe, a pouco menos de uma hora do jogo Portugal-Espanha, gostaria que Portugal jogasse como peixe dentro de água. E ganhasse, é claro, mas sem fazer o alarde que fazem as motas dentro de água. A menos que seja depois de golos vencedores.


quarta-feira, 4 de junho de 2025

Amanhecer


Hoje, quando abri a janela, chuviscava. Uma espécie de orvalhada ligada aos santos populares que se festejam em breve. A minha intenção era ir cedo regar a horta, mas já não fui, embora os espinafres, as couves e os alhos franceses apenas tenham sido refrescados na pele e não na raiz.

Ontem, vi um réptil bem perto de uma porta da minha casa. Não lhe conheci a forma. Não era sardanisca (essas conheço-as bem porque, leves e fugidias, moram nas redondezas dos vasos e nos canteiros), nem sardão, nem salamandra... O que seria, então, perguntava-me eu, intrigada e assustada. Fui à net: era uma osga. Como o dr Google sabe tudo, fiquei a saber que eram inofensivas e que têm até a vantagem de comer insetos, como moscas e mosquitos. Uma amiga disse-me, descontraída, que as via por toda a parte em Timor. Outra chamou-lhe 'bichinho que faz parte do ecossistema'. Eu queria era certificar-me que não me tinha entrado em casa. Ao fim da tarde, vi-a encostadinha a um canto da parede exterior mas perto da porta. Hoje, quando acordei, fui ver se lá continuava. Não estava. Pelo sim pelo não, fechei a porta. Onde estará a osga, pergunto-me eu. Daqui a pouco, vou varrer folhas do pátio e já sei que vou estar sempre a olhar para as paredes!



Enquanto tomava o pequeno almoço, de café com leite e pão com compota de mirtilo, que fiz há dias, lembrei-me das palavras que ouvi um dia destes: 'Desde que foi despedida do trabalho, não quer sair de casa e não quer falar com ninguém'. E pensei que a solidão não afeta só os mais velhos. Fazemos pouco, incluindo-me também nesse número, para ajudar pessoas que precisam e que vivem perto de nós. Não se sabe o que fazer, nem há tempo e sobretudo não haverá vontade, porque pensamos nos problemas que também se agarram a nós. Como osgas. Que nem sempre desaparecem.

Quando passo junto de alguns jardins públicos da zona onde moro, fico muito agradada por ver flores de muitas cores que estão a ser plantadas. E não só jardins, mas rotundas, à volta de chafarizes, etc. Porém, o meu lado crítico logo me diz: vê-se que as eleições estão à porta! Mas, de facto, é um regalo ver espaços públicos bem tratados. Oxalá continuem assim. Mesmo depois de setembro!


Há muito que amanheceu! 

                       Um bom dia para todos!