sexta-feira, 21 de abril de 2023

Perguntas guardadas. E não só.

 

Fomos a uma escola do primeiro ciclo, nas Antas. Levávamos uma atividade que incluía o desenho, o recorte e a leitura. Porém, no grupo dos meninos do segundo ano nasceram, espontaneamente, muitas perguntas, sobretudo sobre as ilustrações do livro.


Queriam saber quem fez a capa, como tínhamos escolhido as letras, como é que se faz um livro, se demora muito tempo a fazer os desenhos e muitas, muitas mais. Ver aqueles meninos com os bracitos no ar a perguntar, a querer saber, a ser curiosos parecia o melhor de tudo.

E como as questões incidiam mais sobre as ilustrações e a parte gráfica, puxei a brasa à minha sardinha e se, tal como tinha sido referido pela ilustradora, para desenhar como se quer é preciso desenhar muito, também para escrever uma história é preciso ler e escrever muito. Com paciência e com amor.

E logo mais perguntas: escreves a lápis primeiro? Tens computador? Já escreveste outras histórias? E mais bracitos no ar. E mais e mais perguntas. E outras tantas respostas.

E a atividade era como a procissão: ainda ia no adro. E uma turma tinha o tempo contado porque ao início da tarde havia uma visita de estudo.

Foi quando uma das professores interveio e em voz bem alta e doce disse:

- Para já, vamos guardar as outras perguntas no coração.  

Os meninos ouviram com livre atenção e fizeram silêncio. E, naturalmente, também guardei o momento no coração.


6 comentários:

  1. Excelente a curiosidade dos miúdos e se calhar (como eu faria na idade deles e não faço agora por vergonha) ligaram mais à forma do que ao conteúdo, contra, talvez, a expectativa das coordenadoras.

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    1. Sim, habitualmente, os miúdos não têm preconceitos a que muitos de nós fomos habituados. Felizmente. E isso é maravilhoso numa época em que se diz que pouca coisa lhes interessa, para além do que veem nos ipads, etc.
      Mas o interesse deles também nos motivou muito, só que queríamos que a atividade se realizasse. Ninguém gosta de frustrar expetativas. Oxalá isso tenha acontecido.
      Bom fim de tarde.
      Por cá tem chovido toda a tarde, o que também é muito bom para a horta.

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  2. Também concordo e, quando surge espontaneamente, é muito bom.
    feliz fim de semana também. Obrigada.

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  3. Que professora tão espectacular. Nunca me lembraria tal afirmação. Mas, se mal pergunte, para que se guarda no coração uma pergunta? Por gostarmos dela? Ou da resposta? Ou para a não esquecermos já que o afecto é dínamo da memória. Mas para que se guarda uma pergunta para a qual não houve resposta? Dá que pensar.

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  4. Também achei o máximo a atitude da professora. Posteriormente, poderiam colocar as perguntas. Na verdade, não houve tempo para perguntas e respostas em grande grupo, mas, enquanto faziam o trabalho prático - desenhar, pintar e recortar uma fadinha para ser colocada na sala - iam perguntando e nós íamos respondendo. Eram de facto meninos que estavam habituados a questionar para saberem mais. Maravilha.

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